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Academia Brasileira de Ciências lança documento em defesa de oceanos

Praia do Forte (BA) - O Projeto Tamar comemora 33 anos com a soltura do filhote de número 15 milhões simbolizando o número de tartaruguinhas soltas no mar desde a criação do projeto (Projeto Tamar/Abr)
Reprou­ção: © Divulgação/Projeto Tamar

ABC propõe criação de instituto nacional para pesquisa oceânica


Publi­ca­do em 20/07/2021 — 19:48 Por Ala­na Gan­dra — Repór­ter da Agên­cia Bra­sil — Rio de Janei­ro

Em con­jun­to com mais de 140 aca­de­mi­as, a Aca­de­mia Bra­si­lei­ra de Ciên­ci­as (ABC) refor­çou hoje (20) a neces­si­da­de de pro­te­ger o oce­a­no como meio de pro­te­ger a pró­pria vida na Ter­ra. A ins­ti­tui­ção lan­çou docu­men­to em defe­sa dos oce­a­nos, em apoio à Déca­da da Ciên­cia Oceâ­ni­ca para o Desen­vol­vi­men­to Sus­ten­tá­vel, decla­ra­da pela Orga­ni­za­ção das Nações Uni­das (ONU) para o perío­do de 2021 a 2030.

Entre as prin­ci­pais reco­men­da­ções do docu­men­to está a cri­a­ção de um ins­ti­tu­to naci­o­nal que coor­de­ne as ati­vi­da­des cien­tí­fi­cas rela­ti­vas à pes­qui­sa oceâ­ni­ca, pro­mo­ven­do a coo­pe­ra­ção inter­na­ci­o­nal e sub­si­di­an­do as polí­ti­cas públi­cas sobre o oce­a­no, visan­do o desen­vol­vi­men­to cien­tí­fi­co e tec­no­ló­gi­co do Bra­sil. Na ava­li­a­ção do pro­fes­sor Luiz Dru­de, da Uni­ver­si­da­de Fede­ral do Cea­rá (UFC), coor­de­na­dor do docu­men­to, é pre­ci­so cri­ar uma gran­de ins­ti­tui­ção em pes­qui­sa oce­a­no­grá­fi­ca no Bra­sil para fazer a gover­nan­ça da rede oce­a­no­grá­fi­ca, “para colo­car o Bra­sil como um player inter­na­ci­o­nal nes­se assun­to”.

Para o pre­si­den­te da ABC, Luiz Davi­do­vi­ch, o Bra­sil pre­ci­sa fazer a sua par­te, pro­te­gen­do o mar que banha o lito­ral naci­o­nal “con­tra ati­vi­da­des pre­da­tó­ri­as que redu­zem sua rica bio­di­ver­si­da­de e pre­ju­di­cam seus ser­vi­ços ecos­sis­tê­mi­cos. Essa é a nos­sa Amazô­nia Azul, fon­te de rique­za para o Bra­sil, a ser explo­ra­da de for­ma sus­ten­tá­vel, de acor­do com a evi­dên­cia cien­tí­fi­ca”, mani­fes­tou.

Mudança

Luiz Dru­de lem­brou que o mun­do está no limi­ar de uma gigan­tes­ca mudan­ça pla­ne­tá­ria, que tem sido, até ago­ra, desa­ce­le­ra­da devi­do à exis­tên­cia dos oce­a­nos. Des­ta­cou, porém, que gran­de par­te do oce­a­no glo­bal está ame­a­ça­da pelas ati­vi­da­des huma­nas que ele­vam o grau de des­trui­ção dos oce­a­nos. Entre as ame­a­ças, citou a aci­di­fi­ca­ção, a deso­xi­ge­na­ção, polui­ção, aque­ci­men­to, aumen­to do nível do mar, frequên­cia de even­tos cli­má­ti­cos extre­mos e a explo­ra­ção insus­ten­tá­vel dos recur­sos mari­nhos.

De acor­do com a ABC, com acú­mu­lo de nutri­en­tes, polu­en­tes orgâ­ni­cos, metais pesa­dos e plás­ti­cos, o oce­a­no vem sen­do asso­la­do pela con­ta­mi­na­ção ambi­en­tal, que repre­sen­ta uma ame­a­ça à eco­no­mia e à saú­de públi­ca. A con­ta­mi­na­ção por mer­cú­rio do oce­a­no glo­bal cons­ti­tui ame­a­ça dire­ta à segu­ran­ça ali­men­tar, expôs Luiz Dru­de.

Entre as reco­men­da­ções da ABC refe­ren­tes às metas da ciên­cia oceâ­ni­ca para o desen­vol­vi­men­to sus­ten­tá­vel estão evi­tar, miti­gar ou com­pen­sar impac­tos nega­ti­vos sobre o ambi­en­te mari­nho, por meio da ado­ção de ações cien­ti­fi­ca­men­te emba­sa­das e voca­ci­o­na­das para o bem-estar da huma­ni­da­de; pla­ne­jar, imple­men­tar e dar esca­la a ações, inclu­si­ve na esfe­ra legal, que redu­zam a inten­si­da­de do impac­to ambi­en­tal nega­ti­vo sobre os ecos­sis­te­mas cos­tei­ro e mari­nho, com ênfa­se nas mudan­ças cli­má­ti­cas e na polui­ção mari­nha.

Resposta

O pro­fes­sor emé­ri­to do Ins­ti­tu­to Oce­a­no­grá­fi­co da Uni­ver­si­da­de de São Pau­lo (USP), Edmo Cam­pos, dis­se que a res­pos­ta para a per­gun­ta se ain­da dá tem­po de rever­ter o aque­ci­men­to glo­bal só virá por meio de inves­ti­ga­ções con­ti­nu­a­das por perío­dos lon­gos, com cola­bo­ra­ção inter­na­ci­o­nal e que não podem depen­der só de indi­ví­du­os. “As mudan­ças cli­má­ti­cas na Antár­ti­ca já estão atin­gin­do regiões abis­sais, o que não é uma boa notí­cia”, exem­pli­fi­cou.

Cam­pos afir­mou que as ações huma­nas estão pro­du­zin­do um aque­ci­men­to glo­bal que está levan­do o pla­ne­ta a pas­sar de uma tem­pe­ra­tu­ra média ame­na para uma situ­a­ção de gran­de ins­ta­bi­li­da­de que pode levar para um novo cli­ma. Se a taxa de aumen­to da tem­pe­ra­tu­ra con­ti­nu­ar como na atu­a­li­da­de, no ano de 2100, a tem­pe­ra­tu­ra média glo­bal será a mai­or regis­tra­da nos últi­mos 10 milhões de anos, adver­tiu. Acres­cen­tou que se con­ti­nu­a­rem as emis­sões de gases de efei­to estu­fa, o resul­ta­do pode ser a trans­for­ma­ção do pla­ne­ta em uma “Ter­ra estu­fa”, onde as tem­pe­ra­tu­ras serão mui­to supe­ri­o­res às de hoje. A alter­na­ti­va, segun­do o pro­fes­sor da USP, é a soci­e­da­de tomar medi­das que esta­bi­li­zem o cli­ma em um pata­mar mais ame­no.

Para Edmo Cam­pos, a solu­ção está nos oce­a­nos, que con­se­guem ate­nu­ar as alte­ra­ções do cli­ma. Cam­pos infor­mou que o oce­a­no glo­bal tem absor­vi­do mais de 90% do exces­so de calor inje­ta­do na atmos­fe­ra des­de a Revo­lu­ção Indus­tri­al.

Amazônia Azul

O almi­ran­te de esqua­dra Ilques Bar­bo­sa focou sua apre­sen­ta­ção na Amazô­nia Azul, ter­ri­tó­rio marí­ti­mo bra­si­lei­ro de 3,6 milhões de quilô­me­tros qua­dra­dos, regis­tra­do como zona econô­mi­ca exclu­si­va (ZEE), e sua impor­tân­cia para a sobre­vi­vên­cia e pros­pe­ri­da­de do Bra­sil. O pre­si­den­te da ABC, Luiz Davi­do­vi­ch, lem­brou que a Amazô­nia Azul tem uma exten­são com­pa­rá­vel ao tama­nho do ter­ri­tó­rio naci­o­nal. “É um bio­ma extre­ma­men­te impor­tan­te, de onde vem petró­leo, pei­xes e mui­to mais. São uma bio­di­ver­si­da­de e rique­za fan­tás­ti­cas que podem ser­vir, por exem­plo, para insu­mos de novos medi­ca­men­tos. Mas para isso, nós pre­ci­sa­mos cui­dar”, sali­en­tou.

Na par­te econô­mi­ca, em espe­ci­al, o almi­ran­te citou alguns pro­ble­mas, entre os quais a pes­ca pre­da­tó­ria, que pre­ju­di­ca os oce­a­nos e os pes­ca­do­res arte­sa­nais; os cabos sub­ma­ri­nos que ligam o Bra­sil aos gran­des cen­tros do mun­do; e a neces­si­da­de de apri­mo­rar a qua­li­da­de da água. O almi­ran­te acre­di­ta que a pes­ca cor­re­ta e as ener­gi­as reno­vá­veis podem con­tri­buir para a sobre­vi­vên­cia dos oce­a­nos e a pros­pe­ri­da­de das popu­la­ções do Bra­sil e do mun­do. Para isso, asse­gu­rou que “a ciên­cia é vital, tan­to a ciên­cia bási­ca como a ciên­cia apli­ca­da”.

Ilques Bar­bo­sa acen­tu­ou tam­bém a impor­tân­cia da Asso­ci­a­ção do ‘Clus­ter’ Tec­no­ló­gi­co Naval para con­tri­buir com a agen­da da déca­da dos oce­a­nos da ONU. Essa asso­ci­a­ção é for­ma­da pelas empre­sas Nuclep, Con­dor, Emge­pron e Ama­zul. A asso­ci­a­ção obje­ti­va a pro­mo­ção do mer­ca­do inter­no, capa­ci­ta­ção e for­ma­ção, ino­va­ção e tec­no­lo­gia, valo­ri­za­ção do mer­ca­do local e enca­de­a­men­to pro­du­ti­vo entre peque­nas, médi­as e gran­des empre­sas. Além dis­so, pro­cu­ra mobi­li­zar as sete cida­des no entor­no da Baía de Gua­na­ba­ra (Rio, Nite­rói, Magé, Duque de Caxi­as, São Gon­ça­lo, Gua­pi­mi­rim e Ita­bo­raí), com o esta­do do Rio e a União, para cri­ar meca­nis­mos e pos­si­bi­li­tar ações em prol do desen­vol­vi­men­to da indús­tria marí­ti­ma como um todo. Ilques Bar­bo­sa afir­mou que o ‘clus­ter’ está se desen­vol­ven­do para a cons­tru­ção de elos para uma eco­no­mia “mais azul”.

O docu­men­to da ABC sali­en­ta tam­bém a capa­ci­ta­ção na cri­a­ção de equi­pa­men­tos e insu­mos essen­ci­ais ao desen­vol­vi­men­to da pes­qui­sa mari­nha; a neces­si­da­de de apri­mo­ra­men­to na regu­la­men­ta­ção da explo­ra­ção de recur­sos natu­rais mari­nhos; pro­mo­ção da cul­tu­ra oceâ­ni­ca e a par­ti­ci­pa­ção ati­va da soci­e­da­de no pro­ces­so de for­mu­la­ção e imple­men­ta­ção de polí­ti­cas públi­cas, de for­ma a ampli­ar o reco­nhe­ci­men­to da impor­tân­cia do oce­a­no e suas vul­ne­ra­bi­li­da­des, entre outras medi­das.

Edi­ção: Clau­dia Felc­zak

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