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Acesso à saúde é mais difícil para pessoas LGBTQIA+ acima de 50 anos

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Estudo revela que situação existe tanto na rede privada quanto no SUS


Pub­li­ca­do em 21/04/2023 — 08:30 Por Lety­cia Bond — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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Estu­do rev­ela que pes­soas com idade a par­tir de 50 anos que per­tencem à comu­nidade LGBTQIA+ têm atendi­men­to de saúde pior do que a parcela de mes­ma faixa etária que não faz parte desse grupo. A situ­ação é a mes­ma tan­to na redes pri­va­da quan­to no Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS), rev­ela estu­do de pesquisadores do Hos­pi­tal Albert Ein­stein, da Fac­ul­dade de Med­i­c­i­na da Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP e Uni­ver­si­dade de São Cae­tano do Sul, pub­li­ca­do na revista cien­tí­fi­ca Clin­ics.

Os pesquisadores desta­cam que 31% do grupo LGBTQIA+ estão na pior faixa de aces­so à saúde no país, enquan­to a pro­porção entre a pop­u­lação que não está nesse grupo é de 18%. Para chegar aos resul­ta­dos, a equipe anal­isou as respostas de 6.693 pes­soas de todo o Brasil em um ques­tionário online, que pôde ser preenchi­do anon­i­ma­mente. Ao todo, 1.332 dos par­tic­i­pantes se iden­ti­ficaram como LGBTQIA+.

Com a com­para­ção de respostas, obser­vou-se que 74% das mul­heres het­eros­sex­u­ais relataram ter feito pelo menos uma mamo­grafia na vida. Ao mes­mo tem­po, a pro­porção de mul­heres com iden­ti­dade de gênero ou ori­en­tação sex­u­al que as encaixa na sigla LGBTQIA+ era de ape­nas 40%, o que evi­den­cia a dis­pari­dade em relação aos cuida­dos com a saúde e pode indicar ain­da difi­cul­dades, por parte desse grupo de realizar exam­es.

Desnív­el semel­hante pode ser obser­va­do em out­ro dado: o de triagem pre­ven­ti­va para câncer de colo de útero, entre pes­soas que se iden­ti­fi­cam como mul­heres cis­gênero. A por­cent­agem de het­eros­sex­u­ais que real­i­zou o exame foi de 73%, con­tra 39% de LGBTQIA+.

Quan­to ao exame pre­ven­ti­vo de câncer de intesti­no, tam­bém entre mul­heres cis­gênero, a dis­crepân­cia é menor, mas existe. No total, 57% de mul­heres afir­maram ter feito o exame em algum momen­to, número que cai para 50% entre as LGBTQIA+.

Segun­do os autores do tra­bal­ho, um dado rel­e­vante é que mais da metade (53%) do grupo não acred­i­ta, ou não sabe, que os médi­cos saibam lidar com as par­tic­u­lar­i­dades de sua saúde. Além dis­so, 34% dos que respon­der­am ao ques­tionário acred­i­tam que os profis­sion­ais que os aten­der­am não con­heci­am sua iden­ti­dade de gênero ou ori­en­tação sex­u­al, fato que pode mostrar como há assun­tos rel­e­vantes para o diag­nós­ti­co e o trata­men­to que ain­da são tabu.

“A par­tir do momen­to em que a gente con­hece essa real­i­dade, reforça a importân­cia de elim­i­nar as desigual­dades, as bar­reiras de aces­so”, afir­ma Mil­ton Crenitte, um dos autores da pesquisa e geri­atra do Hos­pi­tal Israeli­ta Albert Ein­stein. O hos­pi­tal já desen­volve pro­to­co­los e ações especí­fi­cas para os pacientes LGBTQIA+, des­de a cri­ação do Grupo Médi­co Assis­ten­cial volta­do a esse públi­co.

Para Crenitte, um dos equívo­cos que mais influ­en­ci­am a for­ma como os profis­sion­ais de saúde encar­am especi­fi­ca­mente esse grupo é lim­i­tar os cuida­dos a infecções sex­ual­mente trans­mis­síveis (ISTs), o que se expli­ca pelo estig­ma da déca­da de 1980, quan­do teve iní­cio o esterótipo que asso­ciou homos­sex­u­al­i­dade ao HIV, que per­manece até hoje, de cer­to modo.

“Muitas vezes, a saúde LGBT foi trata­da ape­nas nas políti­cas de pre­venção ao HIV e a out­ras ISTs. Então, o que acho que a geri­a­tria tem para con­tribuir nes­sa seara do envel­hec­i­men­to LGBTQIA+ é enten­der que vai além dis­so. É pre­ciso acol­her essas pes­soas, faz­er com que elas entrem nos nos­sos cenários de práti­ca, nos nos­sos serviços de saúde, para tratar pressão alta, dia­betes, faz­er ativi­dade físi­ca, tratar de saúde men­tal e tam­bém falar de HIV e aids”, diz o geri­atra.

Crenitte desta­ca que um fato impor­tante, hoje em dia, no cenário do HIV é que a ciên­cia mudou muito e avançou muito no trata­men­to. “Mas, uma coisa que per­manece, em 40 anos de epi­demia de HIV, é a soro­fo­bia. Um espaço que tam­bém pre­cisa ser dis­cu­ti­do é o da dis­cussão da soro­fo­bia, que é o pre­con­ceito con­tra quem vive com o vírus.”

O receio de se tornarem alvos de LGBTQI­Afo­bia em con­sultórios ou hos­pi­tais faz, inclu­sive, com que muitas pes­soas deix­em de faz­er acom­pan­hamen­to e exam­es reg­u­lares e pre­ven­tivos, o que pode acabar em diag­nós­ti­co de doenças já em está­gio avança­do, com pou­cas chances de trata­men­to efi­caz. “Isso é real. Muitas pes­soas da comu­nidade LGBTQIA+, por medo de sofr­er dis­crim­i­nação ou por exper­iên­cias prévias neg­a­ti­vas ou out­ras bar­reiras de aces­so, que são inúmeras, deix­am de procu­rar o serviço”, afir­ma Crenitte.

O médi­co ressalta ain­da um dado da pesquisa que mostra que a maneira como o usuário percebe a disponi­bil­i­dade do serviço vai impactar na decisão dela de sair, ou não, de casa para procu­rar aju­da. “Muitas pes­soas, em vez de faz­er o cuida­do pre­ven­ti­vo, evi­tam e só aces­sam a saúde no momen­to da emergên­cia, o que é muito pior.”

Edição: Nádia Fran­co

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