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Acidentes com escorpião somam mais de 202 mil notificações em 2023

Número de mortes após picadas passou de 92 para 134 em um ano

Paula Labois­sière – Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 07/11/2024 — 14:14
Brasília
Escorpião encontrado no local onde estava armazenada a merenda que seria servida a estudantes
Repro­dução: © Arquivo/Agência Brasil

A jor­nal­ista Ari­ane Póvoa, de 40 anos, enfren­tou nes­ta sem­ana um dos maiores medos que toda mãe de cri­ança peque­na tem: pre­cisou cor­rer com a fil­ha Aman­da, de 1 ano e 4 meses, para o hos­pi­tal, depois de ver­i­ficar que a meni­na havia sido pic­a­da por um escor­pião enquan­to ain­da esta­va no berço. “Ela acor­dou choran­do muito, mas, na hora, não enten­di o que era. Pen­sei que fos­se dente nascen­do. Ela começou a falar ‘dodói’ e apon­tar para o braço. Quan­do fui arru­mar o berço, achei o escor­pião”.

“Graças a Deus, foi um quadro leve. Ela ficou bem, mas sentin­do dor no local da pic­a­da”, disse Ari­ane. Antes de con­seguir atendi­men­to para a fil­ha, Ari­ane chegou a pas­sar por uma unidade da rede públi­ca tida como refer­ên­cia para aci­dentes com escor­pião em Brasília. O local, entre­tan­to, não ofer­ece atendi­men­to pediátri­co. “Só naque­le dia, foram três casos de pic­a­da de escor­pião em cri­anças no Hos­pi­tal Mater­no Infan­til, onde con­seguimos atendi­men­to.”

Por morar em aparta­men­to, a jor­nal­ista nun­ca imag­i­nou que pas­saria por algo do tipo. O episó­dio ocor­reu por vol­ta das 5h30 des­ta quar­ta-feira (6), e Aman­da teve alta no fim da tarde. “Ela não apre­sen­tou náusea, vômi­to, calafrio, nem sudorese, mas, como é pro­to­co­lo, teve que ficar em obser­vação por seis horas”, con­tou. “Durante a madru­ga­da e hoje de man­hã, ela ain­da teve febre e está um pouco mais enjoad­in­ha. Esta­mos mon­i­toran­do com a pedi­atra.”

Casos como o de Aman­da tor­nam-se cada vez mais comuns no Brasil. Dados do Min­istério da Saúde mostram que pelo menos 202.324 noti­fi­cações de aci­dentes com escor­piões foram reg­istradas no país ao lon­go do ano pas­sa­do – 20.243 a mais que o total reg­istra­do no ano ante­ri­or. Esta é a primeira vez que o total de noti­fi­cações pas­sa de 200 mil.

O número de mortes provo­cadas por pic­a­das de escor­pião tam­bém aumen­tou, pas­san­do de 92 em 2022 para 134 no ano pas­sa­do. As mortes provo­cadas por aci­dentes com escor­pião ultra­pas­saram até mes­mo os óbitos cau­sa­dos por pic­a­das de ser­pente que, no ano pas­sa­do, totalizaram 133.

Entenda

O chama­do aci­dente escor­piôni­co rep­re­sen­ta o quadro clíni­co de enve­ne­na­men­to provo­ca­do quan­do um escor­pião inje­ta sua peçon­ha através do fer­rão. Rep­re­sen­tantes da classe dos arac­nídeos, os escor­piões são pre­dom­i­nantes nas zonas trop­i­cais e sub­trop­i­cais do mun­do, com maior incidên­cia nos perío­dos em que há aumen­to de tem­per­atu­ra e de umi­dade.

No Brasil, os escor­piões clas­si­fi­ca­dos pelo min­istério como de importân­cia em saúde públi­ca são:

- escor­pião-amare­lo (T. ser­ru­la­tus) — com ampla dis­tribuição em todas as macror­regiões do país, rep­re­sen­ta a espé­cie de maior pre­ocu­pação em função do maior poten­cial de gravi­dade do enve­ne­na­men­to e fácil adap­tação ao meio urbano.

- escor­pião-mar­rom (T. bahien­sis) — encon­tra­do nas regiões Cen­tro-Oeste, Sud­este e Sul.

- escor­pião-amare­lo-do-nordeste (T. stig­mu­rus) — espé­cie mais comum no Nordeste, mas com alguns reg­istros nos seguintes esta­dos: Tocan­tins, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e San­ta Cata­ri­na.

- escor­pião-pre­to-da-amazô­nia (T. obscu­rus) — prin­ci­pal cau­sador de aci­dentes e óbitos na região Norte e no Mato Grosso.

Perfil das vítimas

Dados da pas­ta mostram que a maio­r­ia dos casos ocorre em gru­pos com idade entre 20 e 29 anos, segui­do pelos gru­pos de 40 a 49 anos, 30 a 39 anos e 50 a 59 anos. Já o grupo menos acometi­do é o de 80 anos ou mais, segui­do pelo de 70 a 79 anos.

Os números indicam que 53% das víti­mas de pic­a­das de escor­pião em 2023 eram par­das (53%), seguidas por bran­cas (30%), pre­tas (7%) e amare­las (1%), sendo que em 8% dos casos não foi iden­ti­fi­ca­da raça ou cor do paciente.

Distribuição dos casos

Entre as regiões do país, o Sud­este lid­era, com 93.369 aci­dentes com escor­piões. Em segui­da, estão o Nordeste, com 77.539; o Cen­tro-Oeste, com 16.759; o Sul, com 7.573; e o Norte, com 7.084.

São Paulo lid­era entre os esta­dos com maior número de noti­fi­cações (48.651), segui­do por Minas Gerais (38.827) e pela Bahia (22.614). Já Alagoas reg­is­tra o maior coe­fi­ciente de incidên­cia do país (376,02 para cada grupo de 100 mil pes­soas). Minas Gerais responde ain­da pela maior taxa de letal­i­dade (0,17).

Dados da pas­ta rev­e­lam que 65,92% das noti­fi­cações de aci­dentes com escor­piões são feitas em zonas urbanas; 30,43%, em áreas rurais; e 0,53%, em zonas peri­ur­banas, enquan­to em 3,12% dos casos a infor­mação foi igno­ra­da ou não foi reg­istra­da.

Local e gravidade da picada

Den­tre os prin­ci­pais locais de pic­a­da, o pé aparece em primeiro lugar (22,56%). Em segui­da, estão dedos da mão (22,28%), mão (18,32%), dedos do pé (9,38%), per­na (5,63%), tron­co (5,38%), braço (4,57%), coxa (3,92%), cabeça (2,64%) e ante­braço (2,47%). Em 2,85% dos casos, o local não foi reg­istra­do.

De acor­do com o min­istério, 89% das noti­fi­cações de aci­dentes com escor­pião reg­istradas em 2023 foram clas­si­fi­cadas como leves; 5,99%, como mod­er­adas; e 0,77%, como graves, sendo que, em 4,16% dos casos, o nív­el de gravi­dade não foi infor­ma­do.

Tempo de espera

Os números rev­e­lam que a taxa de letal­i­dade por pic­a­da de escor­pião aumen­ta à medi­da que o tem­po decor­ri­do des­de o aci­dente se tor­na maior. Em pacientes que rece­ber­am atendi­men­to entre uma e 12 horas após serem pic­a­dos, a taxa se man­teve abaixo de 10%. Já em gru­pos aten­di­dos 24 horas ou mais após serem pic­a­dos, o índice subiu para quase 40%.

Sintomas

Den­tre os sinais e sin­tomas mais comuns entre víti­mas de aci­dentes com escor­piões estão dor (85,69%), ede­ma ou inchaço cau­sa­do pelo acú­mu­lo de líqui­dos (64,55%) e equimose ou san­gra­men­to no teci­do sub­cutâ­neo (10,9%). Em 1,26% dos casos, foi iden­ti­fi­ca­da necrose ou morte celu­lar.

Curiosidades

O Insti­tu­to Butan­tan lista uma série de fatos curiosos sobre escor­piões:

- Escor­piões podem ficar flu­o­res­centes porque car­regam em sua cutícu­la sub­stân­cias que são chamadas de metaból­i­tos secundários. Por isso, pare­cem flu­o­res­centes sob a luz ultra­vi­o­le­ta. Esse tipo de ilu­mi­nação aju­da espe­cial­is­tas a faz­erem o con­t­role e a cole­ta dos escor­piões, que pre­cisam ser feito à noite, já que é nesse perío­do que eles saem para caçar.

- Escor­piões picam pela cau­da e não pelas pinças, já que o veneno fica armazena­do no inte­ri­or do órgão con­heci­do pop­u­lar­mente como cau­da. O nome cor­re­to dessa parte do cor­po do escor­pião é metas­so­ma, que aju­da a dar equi­líbrio ao ani­mal, além de servir como for­ma de defe­sa. Já as pinças são usadas para segu­rar pre­sas e no acasala­men­to.

- Escor­piões do gênero Anan­teris têm a capaci­dade de se despren­der da cau­da para escapar de predadores. O fenô­meno, obser­va­do tam­bém entre lagar­tos, é con­sid­er­a­do uma auto­mu­ti­lação. Quan­do o órgão é desta­ca­do do cor­po, o intesti­no e o ânus param de fun­cionar cor­re­ta­mente e as fezes ficam acu­mu­ladas, cau­san­do intox­i­cação e, pos­te­ri­or­mente, a morte do ani­mal.

- Cer­ca de 5% das espé­cies de escor­piões têm capaci­dade de ter fil­hotes soz­in­has, sem pre­cis­ar de um par­ceiro. Esse tipo de repro­dução é chama­do partenogê­nese e nada mais é que o desen­volvi­men­to de embriões sem neces­si­dade de fecun­dação de esper­ma­to­zoides.

 

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