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Ações para cuidados da doença de Chagas devem ser implantadas em 2022

Repro­dução: © Eras­mo Salomão/MS

Tema foi debatido em simpósio da Fiocruz sobre doenças negligenciadas


Pub­li­ca­do em 18/11/2021 — 15:43 Por Ake­mi Nita­hara – Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

Ao menos duas ini­cia­ti­vas para cuidar da for­ma crôni­ca da doença de Cha­gas e evi­tar a trans­mis­são con­gêni­ta devem ser implan­tadas no ano que vem. O pro­je­to Comu­nidades Unidas para Ino­vação, Desen­volvi­men­to e Atenção para a doença de Cha­gas (Cui­da Cha­gas), coor­de­na­do pelo Insti­tu­to Nacional de Infec­tolo­gia Evan­dro Cha­gas da Fun­dação Oswal­do Cruz (INI/Fiocruz), está em fase final de aprovação da comis­são de éti­ca para ser implan­ta­do a par­tir de 2022, com duração de 4 anos.

O out­ro pro­je­to é a final­iza­ção do Guia para estru­tu­ração de lin­has de cuida­do para doença de Cha­gas, que está sendo feito por um grupo de tra­bal­ho da Sec­re­taria de Vig­ilân­cia San­itária do Min­istério da Saúde da Saúde. As duas ini­cia­ti­vas foram apre­sen­tadas na man­hã de hoje (18), durante o 1º Sim­pó­sio de Doenças Neg­li­gen­ci­adas Fiocruz-Novar­tis: Cha­gas e Hanseníase, pro­movi­do pela Fiocruz e a far­ma­cêu­ti­ca Novar­tis.

A pesquisado­ra prin­ci­pal do estu­do Cui­da Cha­gas, Andréa Sil­vestre, expli­cou que o pro­je­to pilo­to, que con­ta com o finan­cia­men­to da agên­cia glob­al Uni­taid, será implan­ta­do nos municí­pios de Espinosa e de Porteir­in­ha (MG), São Desidério (BA), São Luís de Montes Belos (GO) e Iguara­cy (PE).

“Nós atu­are­mos com a vig­ilân­cia de casos crôni­cos, com todas as ações pri­or­izan­do e acon­te­cen­do na atenção primária à saúde, ras­trea­men­to e bus­ca ati­va de novos casos, per­mitin­do toda uma via­bil­i­dade opera­cional. Nós imag­i­namos que ness­es ter­ritórios nós temos a pos­si­bil­i­dade de avaliar quase 6 mil pes­soas, que serão iden­ti­fi­cadas den­tro desse proces­so de detecção”.

De acor­do com ela, o pro­je­to tam­bém ocor­rerá em dez municí­pios da Bolívia, 13 da Colôm­bia e cin­co do Paraguai, com um total de 234 mil pes­soas avali­adas.

“Nós uti­lizare­mos sem­pre a comu­ni­cação como via de mudança social e de com­por­ta­men­to, então o envolvi­men­to da comu­nidade é fun­da­men­tal, para que a gente ten­ha ações de infor­mação, edu­cação e comu­ni­cação que pos­sam ser apli­cadas em profis­sion­ais da atenção primária à saúde e mater­nidade, para que a gente crie proces­so de diag­nós­ti­co e trata­men­to mais efi­cientes e efe­tivos”.

Sil­vestre desta­ca que, como doença neg­li­gen­ci­a­da, menos de 10% das pes­soas com a condição crôni­ca da doença de Cha­gas são diag­nos­ti­cadas e menos de 1% con­seguem ser efe­ti­va­mente tratadas.

Guia de cuidados

Inte­grante do Grupo de Tra­bal­ho da Sec­re­taria de Vig­ilân­cia San­itária do Min­istério da Saúde da Saúde, Swamy Lima Palmeira, expli­cou que a pro­pos­ta do Guia de Lin­has de Cuida­do tem como obje­ti­vo ger­al pro­mover a redução da mor­tal­i­dade pela doença, pro­moven­do o acom­pan­hamen­to do paciente inde­pen­dente do ciclo da vida e da for­ma da doença.

“Como obje­tivos especí­fi­cos a gente quer iden­ti­ficar os gru­pos pop­u­la­cionais em situ­ação de vul­ner­a­bil­i­dade e as áreas pri­or­itárias do pon­to de vista epi­demi­ológi­co da doença; ori­en­tar e ampli­ar a ofer­ta do diag­nós­ti­co lab­o­ra­to­r­i­al em municí­pios pri­or­itários; garan­tir o trata­men­to especí­fi­co; disponi­bi­lizar mecan­is­mos de inte­gração entre os difer­entes níveis de gov­er­no; mon­i­torar indi­cadores rela­ciona­dos à vig­ilân­cia; e inte­grar a atenção primária ao desen­volvi­men­to de ações de pre­venção e con­t­role da doença de Cha­gas”.

De acor­do com ela, out­ra lin­ha impor­tante é ofer­e­cer às famílias o con­hec­i­men­to necessário para que saibam onde bus­car assistên­cia especí­fi­ca para diag­nós­ti­co e trata­men­to, como lista de exam­es que devem ser real­iza­dos e a peri­od­i­ci­dade deles.

Doença negligenciada

A doença de Cha­gas foi descober­ta em 1909 pelo pesquisador brasileiro Car­los Cha­gas. Ela resul­ta da infecção pelo pro­to­zoário Try­panoso­ma cruzi, ten­do como vetor diver­sas espé­cies do inse­to Tri­atoma, con­heci­dos bar­beiros, chupões ou chu­panças. A doença é endêmi­ca na Améri­ca Lati­na e se enquadra no rol das doenças trop­i­cais neg­li­gen­ci­adas. A incidên­cia é alta em pop­u­lações social­mente excluí­das, como em bol­sões de pobreza, habitações rurais em locais sem infraestru­tu­ra e com sis­temas de saúde ine­fi­cientes.

Rep­re­sen­tante da Asso­ci­ação dos Pacientes Por­ta­dores de Doença de Cha­gas de Per­nam­bu­co, Joan­da Gomes afir­ma que a doença é neg­li­gen­ci­a­da porque “é uma doença de pobre”.

“Não é uma doença que seja lem­bra­da, ela é neg­li­gen­ci­a­da porque é uma doença da pobreza. O pobre con­tin­ua lá, na sua cas­in­ha de pau-a-pique sem poder faz­er uma alve­nar­ia, um bom rebo­co, e out­ros sem ter nem o que com­er. A asso­ci­ação tem mais de 30 anos, onde a gente fala com os out­ros e pode con­ver­sar com o médi­co dire­ta­mente. Sou trata­da como gente, de cor­po e alma, sou trata­da como pes­soa, como Joan­da, e não como uma doença”.

No Sim­pó­sio tam­bém foram apre­sen­tadas exper­iên­cias de suces­so no cuida­do da doença, como a noti­fi­cação com­pul­sória da doença de Cha­gas na fase crôni­ca em Goiás; o ambu­latório Casa de Cha­gas do Pron­to-Socor­ro Car­di­ológi­co Uni­ver­sitário de Per­nam­bu­co; e o Lab­o­ratório de Pesquisa Clíni­ca em doença de Cha­gas do INI/Fiocruz.

A coor­de­nado­ra téc­ni­ca do guia para cuida­do crôni­co para doenças infec­ciosas neg­li­gen­ci­adas da Orga­ni­za­ção Panamer­i­cana da Saúde (Opas), Lin­da Lehman, apre­sen­tou o guia Chron­ic Care for Neglect­ed Infec­tious Dis­eases: Leprosy/Hansen’s Dis­ease, Lym­phat­ic Filar­i­a­sis, Tra­choma, and Cha­gas Dis­ease (Cuida­do crôni­co para doenças infec­ciosas neg­li­gen­ci­adas: hanseníase, filar­iose lin­fáti­ca, tra­co­ma e doença de Cha­gas, em por­tuguês), disponív­el ape­nas em inglês. Os par­tic­i­pantes do even­to pedi­ram que o doc­u­men­to seja traduzi­do para por­tuguês e espan­hol.

A doença de Cha­gas ocorre nas for­mas agu­da, que pode ser ass­in­tomáti­ca; crôni­ca, que aparece com sin­tomas anos ou décadas após a infecção; e con­gêni­ta, quan­do a infecção pas­sa da mãe para o fil­ho ou fil­ha durante a ges­tação. Ela existe na for­ma cardía­ca, que se car­ac­ter­i­za por car­diomiopa­tia dilata­da asso­ci­a­da com mio­cardite, fibrose e dis­função cardía­ca; ou a for­ma gas­tro-intesti­nal, que pode resul­tar em mega-cólon e/ou mega-esôfa­go. Há tam­bém a for­ma mista da doença, com sin­tomas das duas for­mas asso­ci­a­dos.

Edição: Valéria Aguiar

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