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Adesão de europeus à Palestina aumenta isolamento de Israel e EUA

Repro­dução: © Gabriela Hipólito/Divulgação

Avaliação é de especialistas ouvidos pela Agência Brasil


Publicado em 25/05/2024 — 09:10 Por Lucas Pordeus León — Repórter da Agência Brasil — Brasília

O anún­cio de três país­es europeus — Espan­ha, Irlan­da e Norue­ga — de que recon­hecerão um Esta­do palesti­no na próx­i­ma terça-feira (28) aumen­ta o iso­la­men­to inter­na­cional de Israel e dos Esta­dos Unidos e, ape­sar de ser um gesto sim­bóli­co, tem efeitos práti­cos, na avali­ação de espe­cial­is­tas em relações inter­na­cionais con­sul­ta­dos pela Agên­cia Brasil.

A grande maio­r­ia dos país­es da Améri­ca Lati­na, África e Ásia já recon­hecem o dire­ito a um Esta­do para os palesti­nos. O Brasil fez o recon­hec­i­men­to em 2010. Ao todo, mais de 140 país­es dos 193 da Orga­ni­za­ção das Nações Unidas (ONU) já recon­hece­r­am o dire­ito dos palesti­nos a um Esta­do.

Porém, entre os país­es da Europa Oci­den­tal, ape­nas a Sué­cia e a Islân­dia havi­am declar­a­do esse recon­hec­i­men­to. Além dis­so, nen­hum dos país­es do G7 recon­hecem esse dire­ito palesti­no. O G7 é o grupo dos sete país­es mais indus­tri­al­iza­dos do mun­do: França, Esta­dos Unidos, Reino Unido, Canadá, Itália, Ale­man­ha e Japão. Aus­trália e Cor­eia do Sul tam­bém são país­es que não recon­hecem o Esta­do palesti­no.

O pro­fes­sor de Relações Inter­na­cionais da Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP) Pedro Dal­lari avalia que a adesão dess­es país­es europeus é um reflexo dos ques­tion­a­men­tos da comu­nidade inter­na­cional às ações de Israel na Faixa de Gaza, rever­tendo o apoio que Tel Aviv con­quis­tou logo após o ataque do Hamas, em 7 de out­ubro.

Brasília (DF) 24/05/2024 - Professor Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari é professor titular do Instituto de Relações Internacionais (IRI). Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Repro­dução: Pro­fes­sor Pedro Dal­lari, do Insti­tu­to de Relações Inter­na­cionais, diz que iso­la­men­to de Israel foi levan­do a comu­nidade inter­na­cional a ques­tionar sua con­du­ta em Gaza — Foto: Mar­cos Santos/USP Ima­gens

“Esse iso­la­men­to de Israel foi levan­do a comu­nidade inter­na­cional a ques­tionar essa con­du­ta, e a sociedade civ­il inter­na­cional começou a rea­gir, muitas man­i­fes­tações de estu­dantes pelo mun­do todo, de artis­tas, de orga­ni­za­ções soci­ais, e isso impactou os gov­er­nos”, desta­cou o pro­fes­sor.

A asses­so­ra do Insti­tu­to Brasil-Israel Kari­na Stange Cal­adrin, pesquisado­ra do Insti­tu­to de Relações Inter­na­cionais da Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP), anal­isou que as decisões dos país­es europeus rev­e­lam que a nar­ra­ti­va do gov­er­no israe­lense não está con­ven­cen­do.

09/10/2023, A assessora do Instituto Brasil-Israel Karina Stange Caladrin, que também é pesquisadora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), lembrou que o Hamas tem como objetivo último o fim do Estado de Israel e que, por isso, tem atacado os acordos árabe-israelenses dos últimos anos. Foto: Arquivo Pessoal
Repro­dução: Asses­so­ra do Insti­tu­to Brasil-Israel Kari­na Cal­adrin diz que pressão tem aumen­ta­do sobre o gov­er­no israe­lense — Foto: Arqui­vo Pes­soal

“A pressão tem aumen­ta­do sobre o gov­er­no israe­lense, ape­sar da nar­ra­ti­va dis­sem­i­na­da de que Israel estaria ape­nas se defend­en­do, que pos­sui a justiça moral em suas ações e que o obje­ti­vo úni­co e exclu­si­vo é o exter­mínio do Hamas. Essa nar­ra­ti­va não está con­ven­cen­do o públi­co exter­no e inter­no”, pon­tu­ou.

Para o pro­fes­sor de Relações Inter­na­cionais do Insti­tu­to Brasileiro de Ensi­no, Desen­volvi­men­to e Pesquisa (IDP) Rob­son Valdez, o iso­la­men­to de Israel se reflete tam­bém no iso­la­men­to do seu maior ali­a­do.

“À medi­da que você tem out­ros país­es que, em tese, desafi­am essa lid­er­ança dos Esta­dos Unidos e deci­dem, por si mes­mo, recon­hecer o Esta­do da Palesti­na, mostra uma debil­i­dade dos Esta­dos Unidos na sua capaci­dade de lid­er­ar”, disse Valdez.

O pro­fes­sor do IDP acres­cen­tou que as decisões recentes do pro­mo­tor do Tri­bunal Penal Inter­na­cional (TPI), de pedir a prisão do primeiro-min­istro de Israel, Ben­jamin Netanyahu, e da Corte Inter­na­cional de Justiça (CIJ) de exi­gir o fim das oper­ações em Gaza, refletem esse declínio do poder rel­a­ti­vo dos Esta­dos Unidos no mun­do.

09/10/2023, O doutor em Estudos Estratégicos Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) Robson Valdez acrescentou que, assim como os Acordos de Abraão, os acordos da China no Oriente Médio por meio dos investimentos da chamada Rota da Seda pressionam para uma maior estabilidade política na região, o que o ataque do Hamas acaba por desestabilizar. Foto: Arquivo Pessoal
Repro­dução: Doutor em Estu­dos Estratégi­cos Inter­na­cionais da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio Grande do Sul Rob­son Valdez diz que iso­la­men­to de Israel se reflete tam­bém no iso­la­men­to do seu maior ali­a­do — Foto: Arqui­vo Pes­soal

Efeitos práticos

Valdez avalia que, ape­sar da decisão dos país­es europeus ser sim­bóli­ca, ela tem efeitos práti­cos. “For­t­alece a deman­da dos palesti­nos de ter um Esta­do sober­a­no, e isso enfraque­ce a posição dos Esta­dos Unidos e seus ali­a­dos, deixan­do-os numa situ­ação muito descon­fortáv­el frente ao sis­tema inter­na­cional”, disse.

A pesquisado­ra Kari­na Cal­adrin argu­men­tou que as decisões da Espan­ha, Norue­ga e Irlan­da são sim­bóli­cas, com pouco efeito práti­co, uma vez que “o gov­er­no israe­lense, e Netanyahu, em par­tic­u­lar, têm pou­ca pre­ocu­pação com a posição de Israel no cenário inter­na­cional, seu prin­ci­pal inter­esse é indi­vid­ual”.

Ain­da assim, Cal­adrin entende que a decisão dos país­es europeus terá algu­mas con­se­quên­cias. “Israel está cada vez mais iso­la­do e terá que arcar com as con­se­quên­cias neg­a­ti­vas do seu iso­la­men­to”, disse.

Já o pro­fes­sor da USP Pedro Dal­lari obser­va que tais decisões influ­en­ci­am a con­strução da solução de dois esta­dos, um israe­lense e out­ro palesti­no, mas que ess­es efeitos não são ime­di­atos. “Fica claro, inclu­sive para a parcela cres­cente da sociedade israe­lense, que a for­ma como Netanyahu está con­duzin­do essa situ­ação é extrema­mente danosa ao Esta­do de Israel”.

“Não sei daqui a quan­to tem­po, mas com a prováv­el que­da do gov­er­no Netanyahu, pode prevale­cer em Israel um gov­er­no com apoio da sociedade que, perceben­do a invi­a­bil­i­dade dessa situ­ação atu­al, evolua para a via­bi­liza­ção da fór­mu­la dos dois esta­dos”, entende.

Reconhecimento

O recon­hec­i­men­to da Palesti­na como Esta­do começou em 1988 quan­do as lid­er­anças da Orga­ni­za­ção Pela Lib­er­tação da Palesti­na (OLP) declararam a inde­pendên­cia no exílio na Argélia. No primeiro momen­to, Cuba, Chi­na, Argélia e out­ros país­es logo recon­hece­r­am o dire­ito a autode­ter­mi­nação do povo palesti­no.

Nos anos 2000 e 2001, após a 2º intifa­da — grande revol­ta dos palesti­nos con­tra a ocu­pação israe­lens­es em seus ter­ritórios — foi aumen­tan­do a adesão dos país­es ao recon­hec­i­men­to da inde­pendên­cia e do Esta­do da Palesti­na, segun­do expli­cou o pro­fes­sor do IDP Rob­son Valdez.

O espe­cial­ista entende que o não recon­hec­i­men­to da Palesti­na pelos país­es mais poderosos, como os do G7, tem relação com a posição que os Esta­dos Unidos exercem no mun­do, o que difi­cul­ta que seus prin­ci­pais ali­a­dos tomem decisões à rev­elia de Wash­ing­ton.

“As nego­ci­ações bilat­erais entre os Esta­dos Unidos e seus ali­a­dos podem ter um ele­men­to de coerção, ou de con­venci­men­to, que faz com que eles não se posi­cionem aber­ta­mente favoráveis a um Esta­do palesti­no livre, autônomo e inde­pen­dente. Os inter­ess­es intrin­ca­dos dos Esta­dos Unidos com seus ali­a­dos pode ser a grande fonte dessa difi­cul­dade dess­es ali­a­dos em se posi­cionarem em favor da Palesti­na”, argu­men­tou Valdez.

Ao mes­mo tem­po que defende a solução de dois esta­dos, os Esta­dos Unidos argu­men­tam que essa solução deve ser con­struí­da por meio de um acor­do entre Israel e a Autori­dade Palesti­na. Já o gov­er­no de Israel tem nega­do essa solução. O primeiro-min­istro Ben­jamim Netanyahu tem argu­men­ta­do que a autor­iza­ção para cri­ar um Esta­do palesti­no seria uma rec­om­pen­sa pelo 7 de out­ubro e colo­caria a segu­rança de Israel em risco.

Para a Palesti­na ser recon­heci­da ofi­cial­mente como Esta­do, é pre­ciso aprovar a medi­da no Con­sel­ho de Segu­rança da ONU, medi­da que vem sendo veta­da pelos Esta­dos Unidos.

Des­de 2012, a Autori­dade Palesti­na atua como “obser­vador” nas Nações Unidas, o que não lhe dá dire­ito a voto.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

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