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Agência Brasil explica o que é hidrogênio verde

Repro­dução: © Divulgação/Ari Versiani/PAC

Segundo especialistas, Brasil tem boas condições para produção


Pub­li­ca­do em 17/10/2022 — 06:32 Por Pedro Peduzzi — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Con­sid­er­a­do “o com­bustív­el do futuro”, o “hidrogênio verde” pode ter, no Brasil, um de seus grandes play­ers (refer­ên­cia em deter­mi­na­do seg­men­to). Ain­da não dá para esti­mar o quan­to esta com­mod­i­ty poderá agre­gar à econo­mia do país. Segun­do espe­cial­is­tas con­sul­ta­dos pela Agên­cia Brasil, já são dadas como cer­tas as boas condições do Brasil para a pro­dução dessa fonte energéti­ca que, cada vez mais, des­per­ta o inter­esse de out­ros país­es.

O inter­esse por este com­bustív­el – que tem como prin­ci­pal car­ac­terís­ti­ca um proces­so pro­du­ti­vo não danoso ao meio ambi­ente – aumen­tou por causa do risco de segu­rança energéti­ca pelo qual pas­sa o con­ti­nente europeu no atu­al cenário de guer­ra, uma vez que boa parte de seus país­es depende do gás expor­ta­do pela Rús­sia.

Para ter o selo “verde”, é fun­da­men­tal que o hidrogênio seja pro­duzi­do e trans­porta­do sem o uso de com­bustíveis fós­seis ou de out­ros proces­sos prej­u­di­ci­ais ao meio ambi­ente. Sua pro­dução requer o uso de mui­ta ener­gia, em espe­cial para reti­rar, por hidrólise, o hidrogênio que é encon­tra­do na água.

Fontes renováveis

A denom­i­nação hidrogênio verde ocorre quan­do a elet­ri­ci­dade usa­da na eletrólise da água vem de fontes de ener­gia ren­ováveis como eóli­ca, foto­voltaica e hidrelétri­ca, expli­ca o dire­tor de Tec­nolo­gia em Hidrogênio da Asso­ci­ação Brasileira de Ener­gia de Resí­du­os e Hidrogênios, Ricar­do José Fer­racin – que é tam­bém pro­fes­sor adjun­to da Uni­ver­si­dade Oeste do Paraná, além de ter sido um dos respon­sáveis pela implan­tação do Núcleo de Pesquisa em Hidrogênio da Usi­na de Itaipu.

De acor­do com o super­in­ten­dente exec­u­ti­vo da Asso­ci­ação Brasileira do Hidrogênio (ABH2), Gabriel Lassery, o hidrogênio verde (ou ren­ováv­el) pode tam­bém ser obti­do por hidroelet­ri­ci­dade e bio­mas­sa de rejeito.

“Dada a potên­cia agrí­co­la que é o país, há mui­ta disponi­bil­i­dade de bio­mas­sa de rejeito para pro­dução de hidrogênio. O Brasil tam­bém tem locais onde é pos­sív­el encon­trar hidrogênio nat­ur­al esperan­do para ser extraí­do”, afir­ma.

Mercado

Lassery lem­bra que o gás já é ampla­mente uti­liza­do para fins indus­tri­ais no Brasil, prin­ci­pal­mente no refi­no do petróleo e na pro­dução de fer­til­izantes.

“A expan­são dessa econo­mia desen­volverá out­ras pos­si­bil­i­dades no mer­ca­do inter­no. Alguns exem­p­los são na mobil­i­dade, para ger­ação de ener­gia embar­ca­da em veícu­los elet­ri­fi­ca­dos; na siderur­gia, para redução de emis­sões na pro­dução do aço; e na pro­dução de ener­gia, para aten­uar as inter­mitên­cias na área das ener­gias ren­ováveis”, diz à Agên­cia Brasil.

No cenário inter­na­cional, acres­cen­ta, o mer­ca­do do hidrogênio tem se estru­tu­ra­do “a pas­sos lar­gos”. “País­es com menor disponi­bil­i­dade de ener­gia ren­ováv­el visam impor­tar hidrogênio ren­ováv­el e de baixo car­bono de país­es pro­du­tores, para descar­bonizar suas matrizes. Novas ini­cia­ti­vas para estru­tu­rar ess­es negó­cios são fre­quente­mente dis­cu­ti­das”.

Segun­do Ricar­do Fer­racin, a capaci­dade de ger­ação insta­l­a­da no país está em torno de 180 GW ape­nas com os pro­je­tos em análise, mas essa capaci­dade pode ser dupli­ca­da, poden­do dar ao Brasil pro­tag­o­nis­mo no setor.

“Obvi­a­mente exis­tem gar­ga­los tec­nológi­cos e de inves­ti­men­tos que devem ser anal­isa­dos cri­te­riosa­mente, mas as expec­ta­ti­vas pos­i­ti­vas são grandes”, afir­ma ao citar, como exem­p­lo de gar­ga­lo, o fato de o país não fab­ricar eletrolisadores e célu­las a com­bustív­el. “A cadeia pro­du­ti­va para os equipa­men­tos neces­si­ta ser desen­volvi­da e há neces­si­dade de for­mação de recur­sos humanos, prin­ci­pal­mente téc­ni­cos”.

Lassery diz ain­da que, atual­mente, a maior parte do hidrogênio pro­duzi­do no Brasil é feito de for­ma cati­va (no próprio local onde vai ser con­sum­i­do) e que suas fontes energéti­cas, em ger­al, não são ren­ováveis.

“Porém, o Brasil tem imen­so poten­cial para pro­dução de hidrogênio ren­ováv­el. Em diver­sas partes do ter­ritório, seu poten­cial para pro­dução de ener­gia solar e eóli­ca está entre os maiores do mun­do e, fre­quente­mente, são anun­ci­a­dos novos pro­je­tos e mem­o­ran­dos de entendi­men­to para pro­dução de ener­gia eóli­ca e solar, tan­to off­shore [eóli­cas insta­l­adas no mar] quan­to onshore [no con­ti­nente] com o obje­ti­vo de pro­dução de hidrogênio”, acres­cen­ta.

Transporte

Os espe­cial­is­tas expli­cam que, para garan­tir o selo verde do hidrogênio, é tam­bém fun­da­men­tal que ele não seja trans­porta­do em veícu­los que usem com­bustíveis fós­seis. De acor­do com Lassery, todas as eta­pas do proces­so de pro­dução e trans­porte do hidrogênio pre­cisam uti­lizar exclu­si­va­mente ener­gias ren­ováveis.

“Como o hidrogênio já é pro­duzi­do e trans­porta­do atual­mente, as for­mas de mane­já-lo com segu­rança são con­heci­das. Con­tu­do, novas nor­mas, códi­gos e padrões são cri­a­dos e revisa­dos, à medi­da que a tec­nolo­gia se desen­volve”, afir­ma.

De acor­do com Fer­racin, o hidrogênio verde pode ser trans­porta­do sob altas pressões, den­tro de cilin­dros, e líqui­do, sob altas pressões e baixas tem­per­at­uras. Pode tam­bém ser trans­porta­do em “hidretos metáli­cos”. Nesse caso, ele é mis­tu­ra­do a out­ros metais, poden­do então ser trans­porta­do na for­ma sól­i­da, o que garante maior segu­rança.

“A for­ma mais comu­mente usa­da é sob altas pressões, mas há evolução tec­nológ­i­ca prin­ci­pal­mente na for­ma de hidretos metáli­cos. Nes­sa for­ma de armazena­men­to, o hidrogênio não explode. Tam­bém não é necessário um com­pres­sor, que tem preço alto”.

Ele diz que out­ras for­mas de armazena­men­to e trans­porte pos­síveis ocor­rem por meio da pro­dução de amô­nia, que pode inclu­sive ser usa­da como com­bustív­el, tan­to para o navio de trans­porte quan­to para out­ros motores. Essa sub­stân­cia pode, pos­te­ri­or­mente e por meio de reações quími­cas, ser con­ver­ti­da em hidrogênio.

Meio ambiente

Em um mun­do onde cli­ma e meio ambi­ente têm sofri­do cada vez mais os efeitos neg­a­tivos do uso de com­bustíveis fós­seis, o hidrogênio verde aparece como solução que car­rega a pos­si­bil­i­dade de agre­gar bene­fí­cios, tan­to do pon­to de vista econômi­co quan­to ambi­en­tal.

Para Lassery, esse com­bustív­el tem “poten­cial para descar­bonizar diver­sas ativi­dades que, atual­mente, são grandes respon­sáveis pelas emis­sões de car­bono”, como é o caso do seg­men­to dos trans­portes e da pro­dução de ener­gia.

Pode tam­bém descar­bonizar “setores de difí­cil aba­ti­men­to”, como o trans­porte pesa­do por lon­gas dis­tân­cia e as indús­trias siderúr­gi­ca, cimen­tí­cia e min­er­ado­ra.

Eco­nomi­ca­mente, acres­cen­ta, a cadeia de val­or do hidrogênio é de grande importân­cia estratég­i­ca.

“Além do aumen­to da segu­rança energéti­ca e da diminuição da neces­si­dade de insumos impor­ta­dos, o fomen­to do hidrogênio tam­bém traz desen­volvi­men­tos cien­tí­fi­co e tec­nológi­co nacionais, impul­siona a cri­ação de novos empre­gos, qual­i­fi­ca mão de obra e insere o país nesse novo mer­ca­do inter­na­cional, servin­do como fator de rein­dus­tri­al­iza­ção”, diz.

Edição: Graça Adju­to

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