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Agência Brasil explica: tipos de depressão e riscos que acarretam

Repro­dução: © Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Especialistas alertam para necessidade de acompanhamento médico


Pub­li­ca­do em 12/09/2022 — 06:32 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Incluí­da no rol dos transtornos men­tais, a depressão é uma doença psiquiátri­ca comum, que se car­ac­ter­i­za por tris­teza per­sis­tente e fal­ta de inter­esse em realizar ativi­dades que antes eram con­sid­er­adas diver­tidas. A depressão pode afe­tar pes­soas de todas as idades, des­de bebês a idosos. Entre os tipos mais comuns da doença estão a depressão maior, a bipo­lar, a pós-par­to, os transtornos depres­sivos induzi­dos por out­ras sub­stân­cias ou medica­men­tos, entre out­ras. A dis­timia, por exem­p­lo, é um tipo de depressão crôni­ca e inca­pac­i­tante, que apre­sen­ta sin­tomas leves a mod­er­a­dos de tris­teza, sen­sação de vazio ou infe­li­ci­dade.

“Todas pre­cisam de acom­pan­hamen­to médi­co ade­qua­do pois, se não tratadas, essas doenças podem levar ao suicí­dio”, afir­mou o pres­i­dente da Asso­ci­ação Brasileira de Psiquia­tria (ABP), Anto­nio Ger­al­do da Sil­va. A cam­pan­ha Setem­bro Amare­lo, real­iza­da anual­mente neste mês pela ABP, chama a atenção sobre a depressão e os peri­gos que ela pode causar.

“Prati­ca­mente, todos os casos de suicí­dio são rela­ciona­dos aos transtornos men­tais, prin­ci­pal­mente os não diag­nos­ti­ca­dos ou trata­dos incor­re­ta­mente. Dessa for­ma, a maior parte dos episó­dios fatais pode­ria ter sido evi­ta­da com as infor­mações cor­re­tas sobre saúde men­tal e doenças psiquiátri­c­as”.

O doutor Anto­nio Ger­al­do Sil­va esclare­ceu que, dev­i­do à sua alta prevalên­cia, a depressão é a doença mais asso­ci­a­da ao suicí­dio. “Não só durante a cam­pan­ha Setem­bro Amare­lo®️, como em todos os meses, a ABP cumpre sua prin­ci­pal mis­são, que é dis­sem­i­nar con­teú­dos rel­e­vantes sobre saúde men­tal para a sociedade, atuan­do na con­sci­en­ti­za­ção da sua importân­cia e na pre­venção das doenças men­tais”.

Fatores de risco

Segun­do infor­mou o espe­cial­ista, alguns fatores de risco podem levar uma pes­soa à depressão. “Exis­tem diver­sos fatores que podem ser con­sid­er­a­dos gatil­hos e causam impacto no desen­volvi­men­to de uma doença men­tal, como causas genéti­cas, que chamamos de genótipo, e os fatores ambi­en­tais, os fenóti­pos. São duas car­ac­terís­ti­cas que, quan­do com­bi­nadas, deter­mi­nam se a pes­soa desen­volverá ou não qual­quer tipo de doença”. Sil­va expli­cou que o ambi­ente no qual o indi­ví­duo está inseri­do e seu com­por­ta­men­to tam­bém con­tribuem para o desen­volvi­men­to de doenças men­tais como, por exem­p­lo, con­fli­tos famil­iares, difi­cul­dades finan­ceiras, prob­le­mas no rela­ciona­men­to, a influên­cia da mídia e das redes soci­ais. Essas situ­ações podem ser fatores poten­cial­izadores para o surg­i­men­to de uma doença men­tal. “Sendo assim, isso tam­bém tem impacto no com­por­ta­men­to sui­ci­da”, disse o psiquia­tra.

Além dos fatores ambi­en­tais e genéti­cos, o pres­i­dente da ABP lem­brou que out­ros fatores podem impedir o diag­nós­ti­co pre­coce das doenças men­tais e, con­se­quente­mente, causar impacto na pre­venção do suicí­dio, levan­do ao aumen­to de casos, como o estig­ma e o tabu rela­ciona­dos ao assun­to. “Ess­es são aspec­tos impor­tantes que impactam neg­a­ti­va­mente nos por­ta­dores de doenças men­tais e no com­por­ta­men­to sui­ci­da”. “Prati­ca­mente, 100% das pes­soas que ten­tam ou come­tem suicí­dio têm algu­ma doença psiquiátri­ca,  diag­nos­ti­ca­da ou não. As doenças mais rela­cionadas ao suicí­dio, além da depressão, são transtorno bipo­lar, transtornos rela­ciona­dos ao uso e abu­so de álcool e dro­gas, transtorno de per­son­al­i­dade e esquizofre­nia.

Anto­nio Ger­al­do da Sil­va afir­mou que a pes­soa diag­nos­ti­ca­da com depressão pre­cisa ter uma rede de apoio de famil­iares ou ami­gos. “A família e os ami­gos são fun­da­men­tais na bus­ca por aju­da e no apoio ao trata­men­to. Muitas vezes, são os primeiros a perce­ber que há algo de difer­ente e apon­tar a neces­si­dade de bus­car auxílio psiquiátri­co”. Os sin­tomas depres­sivos vari­am de pes­soa para pes­soa, mas os mais comuns são tris­teza, fadi­ga, dis­túr­bios de sono, alter­ações no peso, baixa autoes­ti­ma, per­da de ener­gia, difi­cul­dade de con­cen­tração, redução de inter­esse em ativi­dades ante­ri­or­mente praze­rosas e no con­ta­to com pes­soas, ideias sui­ci­das.

Buscando auxílio

É sem­pre bom ressaltar que somente um médi­co ou profis­sion­al da área de saúde pode diag­nos­ticar cor­re­ta­mente a depressão. O pres­i­dente da ABP ressaltou que uma vez que se nota pre­juí­zo no com­por­ta­men­to do indi­ví­duo, ou seja, quan­do os sin­tomas começam a atra­pal­har a vida da pes­soa, é hora de bus­car um psiquia­tra para avaliar o quadro. “Ansiedade e tris­teza são car­ac­terís­ti­cas nor­mais do ser humano mas, a par­tir do momen­to em que nos impe­dem de sair de casa, tra­bal­har, levar uma vida social ati­va, nos rela­cionar com out­ras pes­soas, deve­mos procu­rar auxílio”.

Para aju­dar uma pes­soa depres­si­va, deve-se ori­en­tá-la a bus­car cuida­dos, um trata­men­to espe­cial­iza­do para a doença. “Se a pes­soa tem sin­tomas depres­sivos, ela pre­cisa e merece procu­rar aju­da com um médi­co psiquia­tra, que vai indicar e ofer­e­cer o mel­hor trata­men­to pos­sív­el”.

O médi­co lem­brou tam­bém que os quadros depres­sivos pre­cisam ser trata­dos com cuida­do e urgên­cia. “Não podemos deixar a doença envel­he­cer. Se a pes­soa está mostran­do que tem os sin­tomas, deve­mos ajudá-la a procu­rar um médi­co para faz­er o diag­nós­ti­co, enten­der qual tipo de aju­da ela vai pre­cis­ar e ini­ciar o trata­men­to ime­di­ata­mente”.

A pesquisa Vig­i­tel Brasil, real­iza­da em 2021 e pub­li­ca­da este ano pelo Min­istério da Saúde, incluiu pela primeira vez a depressão. O lev­an­ta­men­to mostrou que 11,3% dos cidadãos brasileiros rece­ber­am diag­nós­ti­co da doença, o que cor­re­sponde a cer­ca de 23 mil­hões de pes­soas, quase o dobro do número divul­ga­do pela Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde (OMS) em 2019, que indi­ca­va a existên­cia de 12 mil­hões de brasileiros com depressão. Con­sideran­do que nem toda a pop­u­lação tem aces­so aos serviços de saúde men­tal, Anto­nio Ger­al­do da Sil­va desta­cou que muitas pes­soas podem viv­er com depressão sem con­hecer o diag­nós­ti­co. “E isso é muito grave. Dev­i­do à alta prevalên­cia, a depressão é a doença mais asso­ci­a­da ao suicí­dio”, reit­er­ou. A própria OMS con­sid­era que a depressão é a ter­ceira doença mais inca­pac­i­tante e, diante do envel­hec­i­men­to da pop­u­lação e das mudanças globais, exis­tem per­spec­ti­vas de que será a doença mais inca­pac­i­tante até 2030.

Crianças e jovens

A psiquia­tra Janine Veiga disse que a depressão infan­til é semel­hante à do adul­to e que os sin­tomas são iguais, em maior ou menor grau. A doença pode ocor­rer, por exem­p­lo, por pre­dis­posição genéti­ca; por trau­mas advin­dos de situ­ações de abu­so; por con­vívio famil­iar con­fli­tu­oso; por even­tos estres­santes, entre out­ras razões.

“Se não trata­da a depressão, o jovem pode envolver-se com uso de dro­gas, apre­sen­tar difi­cul­dade no rela­ciona­men­to social e há o risco de agrava­men­to da doença, que pode até chegar ao suicí­dio”, aler­tou. Janine recomen­dou que os pais devem ficar aten­tos a mudanças de com­por­ta­men­to dos fil­hos, como alter­ação do sono, padrão ali­men­tar, irri­tabil­i­dade, que­da no rendi­men­to esco­lar, choro fácil, desân­i­mo, entre out­ros.

Pandemia

A psicólo­ga da Fun­dação São Fran­cis­co Xavier Gabriela Pin­heiro Reis afir­mou que as con­se­quên­cias da pan­demia de covid-19 têm se rev­e­la­do pre­ocu­pantes para a saúde men­tal da pop­u­lação. O Relatório Mundi­al de Saúde Men­tal de 2022, divul­ga­do pela OMS, rev­el­ou que ape­nas no primeiro ano da pan­demia 53 mil­hões de pes­soas desen­volver­am depressão e 76 mil­hões tiver­am ansiedade, com alta de 28% e 26% de incidên­cia dess­es transtornos, respec­ti­va­mente.

De acor­do com a OMS, o suicí­dio é a segun­da prin­ci­pal causa de morte entre indi­ví­du­os com idade entre 15 e 29 anos. “O suicí­dio é um tema sen­sív­el e uma triste real­i­dade na sociedade. A cam­pan­ha Setem­bro Amare­lo tem fun­da­men­tal importân­cia na con­sci­en­ti­za­ção sobre o assun­to e na pro­moção da infor­mação cor­re­ta e, prin­ci­pal­mente, para incen­ti­var as pes­soas que este­jam pas­san­do por momen­tos difí­ceis a bus­carem aju­da”, comen­tou Gabriela.

Na avali­ação da psicólo­ga, as doenças men­tais pre­cisam ser encar­adas sem pre­con­ceito. “Não é fres­cu­ra. Depressão, bipo­lar­i­dade e ansiedade são doenças que devem ser diag­nos­ti­cadas e tratadas o quan­to antes”.

Bem me Quer

A cam­pan­ha Bem Me Quer, Bem Me Quero: Cuidar da sua saúde men­tal é um exer­cí­cio diário”, real­iza­da pela Asso­ci­ação Brasileira de Famil­iares, Ami­gos e Por­ta­dores de Transtornos Afe­tivos (Abra­ta), visa a con­sci­en­ti­zar a pop­u­lação sobre depressão, ansiedade e pre­venção ao suicí­dio por meio da val­oriza­ção do autocuida­do e do equi­líbrio na roti­na.

Para a asso­ci­ação, algu­mas ati­tudes podem faz­er a difer­ença e con­tribuir para a saúde men­tal, como não ficar o tem­po todo conec­ta­do na inter­net, esta­b­ele­cer horários, evi­tar bebidas cafeinadas em exces­so e optar por uma ali­men­tação equi­li­bra­da.

A pres­i­dente da Abra­ta, Mar­ta Axthelm, chamou a atenção para o fato de que a auto­co­brança para dar con­ta de tan­tos papéis, prin­ci­pal­mente no caso das mul­heres, que são profis­sion­ais, mães, par­ceiras, ami­gas, no dia a dia, pode ser um gatil­ho para a depressão. “É essen­cial reduzir o tem­po de aces­so às redes soci­ais, prin­ci­pal­mente no perío­do da noite. No caso da depressão, a condição pode apre­sen­tar muito sono, mas tem o out­ro lado, que é a insô­nia”.

Segun­do Mar­ta, a depressão cos­tu­ma a apre­sen­tar sinais que não são perce­bidos pelo paciente, na maio­r­ia das vezes. No caso do suicí­dio, quem pen­sa em tirar a própria vida quase sem­pre dá sinais, mas boa parte das pes­soas que estão ao seu redor não con­segue iden­ti­ficá-los. “Por isso, o Setem­bro Amare­lo é tão impor­tante para debater ess­es temas. Mais uma vez, reforçamos nos­so papel de pro­mover ini­cia­ti­vas que des­per­tam a con­sci­en­ti­za­ção do autocuida­do em prol da saúde men­tal e que tam­bém estim­u­lam a pop­u­lação a olhar ao redor para iden­ti­ficar que alguém próx­i­mo pre­cisa de aju­da”, con­cluiu a pres­i­dente da Abra­ta. : con­heça

Edição: Graça Adju­to

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