...
segunda-feira ,17 fevereiro 2025
Home / Saúde / Agosto Branco de combate ao tabagismo mira também o cigarro eletrônico

Agosto Branco de combate ao tabagismo mira também o cigarro eletrônico

Repro­dução: © Divul­gação Min­istério da Saúde

Uso do vape aumenta entre a população jovem


Publicado em 01/08/2024 — 10:52 Por Alana Gandra — Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

A cam­pan­ha Agos­to Bran­co, ini­ci­a­da nes­ta quin­ta-feira (1º), obje­ti­va a con­sci­en­ti­za­ção do câncer de pul­mão. As esti­ma­ti­vas de câncer de traque­ia, brôn­quio e pul­mão para o triênio de 2023 a 2025 são de 32.560 novos casos por ano, de acor­do com o Insti­tu­to Nacional de Câncer (Inca), do Min­istério da Saúde. Somente no esta­do do Rio de Janeiro, o número esti­ma­do de casos de tumores de traque­ia, brôn­quios e pul­mão, para cada ano do triênio 2023–2025, é de três mil novos pacientes, sendo 1.550 entre os home­ns e 1.450 entre as mul­heres.

“A cam­pan­ha é essen­cial para a gente faz­er a con­sci­en­ti­za­ção sobre o câncer de pul­mão, prin­ci­pais sinais e sin­tomas e, prin­ci­pal­mente, sobre como pre­veni-lo. É uma doença extrema­mente pre­venív­el”, afir­mou o oncol­o­gista clíni­co do Inca, Luiz Hen­rique Araújo.

Consumo mundial de tabaco cai, informa relatório da OMS. Cigarro, fumaça, tabaco, fumo. Foto: AbsolutVision/Pixabay
Repro­dução: Cam­pan­has antitabag­is­mo são fun­da­men­tais para min­i­mizar o risco de câncer de pul­mão, diz oncol­o­gista clíni­co do Inca, Luiz Hen­rique Araújo. Foto: AbsolutVision/Pixabay — AbsolutVision/Pixabay

Segun­do o médi­co, a maior parte desse tipo de câncer está asso­ci­a­da ao hábito do taba­co. Na avali­ação do oncol­o­gista, as cam­pan­has antitabag­is­mo são fun­da­men­tais para min­i­mizar o risco de câncer de pul­mão. Indi­cou que as pes­soas que fumam devem procu­rar o médi­co, seja um clíni­co ou pneu­mol­o­gista, e dis­cu­tir sobre as pos­si­bil­i­dades de trata­men­to e de inter­rupção do tabag­is­mo.

Para as pes­soas que fumam e têm entre 55 e 70 anos de idade, hoje é recomen­da­da uma tomo­grafia anu­al de baixa dose do tórax, para detec­tar lesões em está­gios muito pre­co­ces. “Isso tem reduzi­do bas­tante a mor­tal­i­dade do câncer de pul­mão”, aler­tou Luiz Hen­rique, em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Prevenção

A médi­ca Tatiane Mon­tel­la, oncol­o­gista torá­ci­ca da Onco­clíni­cas no Rio de Janeiro, ressaltou que o câncer do pul­mão tem relação muito forte com o tabag­is­mo. “Oiten­ta por cen­to dos pacientes tiver­am algu­ma exposição ao tabag­is­mo. Por isso, é tão impor­tante falar sobre esse tema, porque a pre­venção é a prin­ci­pal ação para diminuir o número de pacientes com câncer de pul­mão”, afir­mou à Agên­cia Brasil.

Ela infor­mou ain­da que os 20% restantes são de pacientes sem qual­quer relação com o fumo. “Pos­sivel­mente, essa parcela dos pacientes tem erro na estru­tu­ra do DNA ou do RNA do tumor, que faz as célu­las se pro­lif­er­arem de for­ma errônea. O que leva a esse erro ain­da está sob análise. Essas mutações acionam a célu­la tumoral a se desen­volver”.

Sobre a pre­venção, Tatiane Mon­tel­la disse que a prin­ci­pal ação é não fumar ou parar de fumar, para evi­tar a neo­pla­sia de pul­mão. “O Brasil foi, durante muitos anos, o país que teve orgul­ho de suas políti­cas antitabag­is­tas, que dimin­uíram muito a incidên­cia do tabag­is­mo, e isso foi propa­ga­do como refer­ên­cia inter­na­cional”. Ago­ra, o país se vê diante dessa nova onda de ofer­ta de tabag­is­mo pelo cig­a­r­ro eletrôni­co, que vem acome­tendo, prin­ci­pal­mente, a pop­u­lação mais jovem, entre 18 e 24 anos.

Cigarro eletrônico

A oncol­o­gista afir­mou que, emb­o­ra ten­ha o apoio da Agên­cia Nacional de Vig­ilân­cia San­itária (Anvisa) proibindo a ven­da do cig­a­r­ro eletrôni­co, tam­bém chama­do ‘vape’, o con­sumo desse tipo de cig­a­r­ro vem crescen­do entre os jovens. “O que a gente vê, nos últi­mos dados epi­demi­ológi­cos, é que a incidên­cia do cig­a­r­ro eletrôni­co vem aumen­tan­do nes­sa pop­u­lação jovem que, de fato, está ten­do uma maior exposição”. Ela acres­cen­tou que ain­da fal­ta enten­der mel­hor as con­se­quên­cias do cig­a­r­ro eletrôni­co ao lon­go dos anos, porque é uma tec­nolo­gia muito recente. Mas, que, no cur­to pra­zo, os pre­juí­zos que isso pode traz­er, como doenças pul­monares inter­sti­ci­ais agu­das e, a lon­go pra­zo, relação dire­ta com o câncer de pul­mão e out­ras neo­plasias que o cig­a­r­ro prop­i­cia.

Brasília (DF) 01/12/2023 - Anvisa discute regulamentação de cigarro eletrônico.Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: Cig­a­r­ro eletrôni­co tam­bém con­heci­do como “vape”. Foto: Joéd­son Alves/Agência Brasil

Estu­do real­iza­do pela Uni­ver­si­dade Fed­er­al de Pelotas (UFPel) e pela orga­ni­za­ção glob­al de saúde públi­ca Vital Strate­gies, em 2023, indi­cou que, pelo menos um a cada qua­tro brasileiros de 18 a 24 anos (23,9%) já uti­li­zou cig­a­r­ro eletrôni­co.

Luiz Hen­rique Araújo con­fir­mou o cresci­men­to do uso do cig­a­r­ro eletrôni­co entre os jovens, tor­nan­do-se uma tendên­cia, na sen­sação de ser um pro­du­to difer­ente do cig­a­r­ro. “Mas já está mais do que demon­stra­do que ele tam­bém lib­era sub­stân­cias car­cinogêni­cas e está asso­ci­a­do tan­to a doenças pul­monares letais não oncológ­i­cas, como oncológ­i­cas. Na cam­pan­ha antitabag­is­mo entra o cig­a­r­ro eletrôni­co, atual­mente mais em voga”.

Na avali­ação do oncol­o­gista clíni­co do Inca, a medi­da da Anvisa con­tra a entra­da do “vape” no Brasil foi fun­da­men­tal, mas comen­tou que o pro­du­to tem uma pen­e­tração muito forte em país­es da Europa e nos Esta­dos Unidos. “Inde­pen­den­te­mente da Anvisa, o cig­a­r­ro eletrôni­co está disponív­el, as pes­soas estão uti­lizan­do e, infe­liz­mente, isso está crian­do uma futu­ra ger­ação de pacientes de câncer de pul­mão”, aler­tou o oncol­o­gista do Inca.

Araújo afir­mou que a maio­r­ia dos casos de câncer de pul­mão é ass­in­tomáti­ca, descober­ta ao aca­so. O sin­toma mais fre­quente é tosse, que pode estar asso­ci­a­da a uma bron­quite crôni­ca, a um pigar­ro pelo tabag­is­mo. Mas quan­do essa tosse está pio­ran­do ou asso­ci­a­da a sangue no escar­ro merece uma pesquisa com o médi­co do paciente. Out­ros sin­tomas menos fre­quentes são fal­ta de ar, per­da pon­der­al, febre, dor no tórax, que tam­bém podem levar ao médi­co.

Pressão

O dire­tor exec­u­ti­vo da Fun­dação do Câncer, cirurgião oncológi­co Luiz Augus­to Mal­toni, afir­mou à Agên­cia Brasil que con­tin­ua uma pressão muito forte da indús­tria do taba­co para lib­er­ação do cig­a­r­ro eletrôni­co no Brasil, emb­o­ra a Anvisa ten­ha reforça­do a nor­ma­ti­va proibindo a entra­da do ‘vape’ no país. Por isso, a enti­dade está reforçan­do a importân­cia de man­ter a proibição e a políti­ca de con­t­role do taba­co. “Porque a gente sabe dos dados alar­mantes de câncer de pul­mão”, disse.

Mes­mo com todos os avanços da med­i­c­i­na, com inclusão de pro­ced­i­men­tos e novas dro­gas, que per­mitem con­tro­lar muitos casos de câncer, o câncer de pul­mão apre­sen­ta alta letal­i­dade. “A gente tem aí mais de 30 mil casos novos por ano de câncer de pul­mão e tem em torno de 30 mil óbitos por ano. É uma letal­i­dade muito alta”, ressaltou.

Mal­toni lem­brou que 80% dos cânceres de pul­mão são diag­nos­ti­ca­dos em está­gio mais avança­do. Por isso, disse ser fun­da­men­tal aler­tar a pop­u­lação da importân­cia de se pre­venir e evi­tar o prin­ci­pal agres­sor do desen­volvi­men­to do câncer de pul­mão, que é o tabag­is­mo, com foco ago­ra no cig­a­r­ro eletrôni­co, em espe­cial entre as camadas mais jovens.

No próx­i­mo Dia Nacional de Com­bate ao Fumo, comem­o­ra­do em 29 de agos­to, a Fun­dação do Câncer está preparan­do cam­pan­ha abor­dan­do os male­fí­cios do cig­a­r­ro eletrôni­co e divul­gan­do nas mídias o movi­men­to ‘Vape off’, “visan­do sen­si­bi­lizar, prin­ci­pal­mente, os jovens para não entrarem nes­sa do cig­a­r­ro eletrôni­co”, afir­mou Mal­toni.

Segun­do ele, com a par­tic­i­pação de alguns par­ceiros, será desen­volvi­do um desafio uni­ver­sitário, envol­ven­do insti­tu­ições de ensi­no supe­ri­or de todo o país, para que apre­sen­tem pro­je­tos que sen­si­bi­lizem a pop­u­lação de maneira ger­al, e os jovens em par­tic­u­lar, sobre os male­fí­cios do cig­a­r­ro eletrôni­co. O obje­ti­vo é reforçar ain­da mais a políti­ca de con­t­role do tabag­is­mo.

“A gente evoluiu tan­to, reduz­i­mos bas­tante o número de fumantes no Brasil e não podemos ago­ra retro­ced­er nes­sa pressão da indús­tria com o cig­a­r­ro eletrôni­co, deixan­do apare­cer uma nova juven­tude que acha que esse ‘vape’ é menos prob­lemáti­co. A gente daria dez pas­sos para trás. Essa é uma pre­ocu­pação de todos nós”, avaliou o médi­co.

Rastreamento

O coor­de­nador da Comis­são Cien­tí­fi­ca de Tabag­is­mo da Sociedade Brasileira de Pneu­molo­gia e Tisi­olo­gia (SBPT), o médi­co Paulo Cor­rêa, lem­brou que o câncer de pul­mão é uma das prin­ci­pais doenças crôni­cas do país. E que a enti­dade tem se pau­ta­do por ações leg­isla­ti­vas e políti­cas. Segun­do ele, a SBPT pub­li­cou, este ano, as dire­trizes brasileiras de ras­trea­men­to de câncer de pul­mão.

Cor­rêa desta­cou que o ras­trea­men­to é uma estraté­gia impor­tante do pon­to de vista pop­u­la­cional, porque o câncer de pul­mão pode não dar sin­tomas, mas pode matar as pes­soas. “Quan­do se faz o diag­nós­ti­co, a pes­soa já pode mor­rer”. Expôs que em torno de 20% dos cânceres de pul­mão são resolvíveis com trata­men­to cirúr­gi­co.

A SBPI estim­u­la as pes­soas a aban­donarem o tabag­is­mo, seja o con­ven­cional, seja o eletrôni­co, saben­do que sete anos após pararem de fumar, as pes­soas têm redução de 20% do risco de câncer de pul­mão e, de acor­do com estu­do norte-amer­i­cano, com 15 anos da ces­sação de fumar, 38% dos pacientes con­seguem ser salvos. “As duas coisas são impor­tantes: tan­to a ces­sação do tabag­is­mo, como o ras­trea­men­to de câncer de pul­mão que, pode-se diz­er, sal­va vidas”.

Edição: Aécio Ama­do

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Anvisa interdita oito clínicas de estética em três estados e no DF

Fiscalização encontrou diversas irregularidades nos locais Agên­cia Brasil Pub­li­ca­do em 15/02/2025 — 18:38 Brasília Ver­são …