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Alergia grave: pesquisadores criam 1ª caneta de adrenalina brasileira

Estimativa é que a caneta chegue ao mercado custando cerca de R$ 400

Paula Labois­sière – Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 08/11/2024 — 19:21
Brasília
Rio de Janeiro (RJ) 08/11/2024 - Primeira caneta de adrenalina autoinjetável desenvolvida por pesquisadores brasileiros. Foto: Fiocruz
Repro­dução: © Fiocruz

Um grupo de pesquisadores brasileiros desen­volveu a primeira cane­ta de adren­a­li­na autoin­jetáv­el do país. A med­icação, quan­do disponi­bi­liza­da nesse tipo de dis­pos­i­ti­vo, é apli­ca­da pelo próprio paciente, em casos de reação alér­gi­ca grave e poten­cial­mente fatal, quadro médi­co con­heci­do como anafi­lax­ia.

De acor­do com a Asso­ci­ação Brasileira de Aler­gia e Imunolo­gia (Asbai), a adren­a­li­na figu­ra atual­mente como o úni­co medica­men­to disponív­el no mer­ca­do capaz de tratar casos de anafi­lax­ia. O mod­e­lo autoin­jetáv­el, entre­tan­to, só pode ser adquiri­do no Brasil por impor­tação, o que tor­na o cus­to extrema­mente ele­va­do.

Rio de Janeiro 08/11/2024 - O pesquisador da Fiocruz e neurofisiologista Renato Rozental, fala sobre a primeira caneta de adrenalina autoinjetável desenvolvida por pesquisadores brasileiros. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Repro­dução: O pesquisador da Fiocruz e neu­rofi­si­ol­o­gista Rena­to Rozen­tal fala sobre a 1ª cane­ta de adren­a­li­na autoin­jetáv­el desen­volvi­da por pesquisadores brasileiros. Foto: Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil
O médi­co Rena­to Rozen­tal coor­de­na a equipe respon­sáv­el pela cane­ta nacional. Em entre­vista à Agên­cia Brasil, ele expli­cou que, ape­sar de ser o primeiro pro­tótipo brasileiro, não se tra­ta de uma “ino­vação rad­i­cal”. “Você encon­tra essa cane­ta com facil­i­dade na Europa, na Améri­ca do Norte, na Ásia, na Ocea­nia”.

“A grande per­gun­ta é: por que demor­ou tan­to tem­po pra ter­mos isso acon­te­cen­do no Brasil?”, ques­tio­nou o pesquisador da Fiocruz.

Rozen­tal lem­brou que, des­de 2018, com a que­bra do monopólio, opções genéri­c­as da cane­ta no mer­ca­do exter­no fiz­er­am com que o preço do dis­pos­i­ti­vo caísse sub­stan­cial­mente. “Mas con­tin­u­a­va exor­bi­tante”.

“Pra quem tem seguro de saúde, carís­si­mo lá fora, o preço chega a US$ 100. Quem não tem seguro paga até US$ 700. No Brasil, pes­soas que têm condições, por meio de proces­sos de judi­cial­iza­ção, con­seguem impor­tar, mas o preço ain­da está nas alturas. Impor­tar uma cane­ta por R$ 3 mil ou R$ 4 mil é algo fora da real­i­dade brasileira.”

“A maior parte da pop­u­lação brasileira, não ape­nas via Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS) mas tam­bém na rede pri­va­da, não tem aces­so. O que fize­mos foi estru­tu­rar, obser­van­do cane­tas já exis­tentes no mer­ca­do. O proces­so é muito rápi­do. Começamos a con­ver­sar no ano pas­sa­do e já temos um pro­tótipo fun­cional ago­ra.”

Anvisa

Rozen­tal ressaltou que, há poucos meses, a Agên­cia Nacional de Vig­ilân­cia San­itária (Anvisa) fechou um acor­do de bilat­er­al­i­dade com a agên­cia norte-amer­i­cana Food and Drug Admin­is­tra­tion (FDA). A pro­pos­ta é agilizar a entra­da, no Brasil, de medica­men­tos já aprova­dos nos Esta­dos Unidos.

“A Anvisa teria aces­so a ess­es resul­ta­dos de for­ma dire­ta, ape­sar de serem con­fi­den­ci­ais. Isso facil­i­taria muito a aprovação de qual­quer dis­pos­i­ti­vo no Brasil. É um proces­so que vamos dis­cu­tir na sem­ana que vem, em Sal­vador, onde ter­e­mos um rep­re­sen­tante da Anvisa que lida especi­fi­ca­mente com isso”, disse, ao se referir ao debate agen­da­do para a próx­i­ma sex­ta-feira (15) no Con­gres­so Brasileiro de Aler­gia e Imunolo­gia.

“Do nos­so lado, teríamos condições de, em 11 meses, ter essa cane­ta de adren­a­li­na pronta para dis­tribuição no país. Mas vai depen­der dessa dis­cussão na próx­i­ma sem­ana, do recon­hec­i­men­to e da lib­er­ação pela Anvisa. Não está nas nos­sas mãos.”

Anafilaxia

À Agên­cia Brasil, o pres­i­dente da Asso­ci­ação Brasileira de Aler­gia e Imunolo­gia (Asbai), Fábio Chi­gres, aler­tou para um “aumen­to expo­nen­cial” de aler­gias no Brasil – incluin­do casos de anafi­lax­ia.

“Há 30 anos, em hos­pi­tais públi­cos espe­cial­iza­dos no trata­men­to de aler­gia, refer­ên­cia para ess­es casos, a gente via oito ou dez casos por ano de cri­anças com aler­gia a leite de vaca. Hoje, vejo isso em uma sem­ana”.

Brasília (DF) 08/11/2024 - Fábio Chigres, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).
Repro­dução: Fábio Chi­gres, pres­i­dente da Asso­ci­ação Brasileira de Aler­gia e Imunolo­gia (Asbai). — Fábio Chigres/Divulgação

Segun­do ele, os ali­men­tos fig­u­ram, no país, como a prin­ci­pal causa de aler­gia entre cri­anças – sobre­tu­do leite e ovo. “Não é lagos­ta ou algo que se come even­tual­mente”, desta­cou.

“E essa cri­ança com aler­gia ali­men­tar fica muito mais expos­ta na rua do que quan­do está den­tro de casa. Com isso, a qual­i­dade de vida de toda a família fica muito ruim. Eles vivem esperan­do uma reação grave. Temos casos de cri­anças que cam­in­ham pela sessão de lat­icínios do mer­ca­do e têm reação”.

Já entre adul­tos, a prin­ci­pal causa de aler­gia, de acor­do com Chi­gres, são medica­men­tos – sobre­tu­do anal­gési­cos e anti-infla­matórios, remé­dios que sequer exigem pedi­do médi­co no ato da com­pra. Antibióti­cos tam­bém respon­dem por um número con­sid­eráv­el de casos de aler­gia na pop­u­lação adul­ta, além de ali­men­tos como crustáceos e mariscos.

“No caso especí­fi­co da anafi­lax­ia, tra­ta-se de uma reação alér­gi­ca muito grave e que se desen­volve rap­i­da­mente”, disse. “Essa reação causa choque anafiláti­co, uma que­da de pressão abrup­ta e muito grande, que faz com que o sangue não cir­cule pelo cor­po e não chegue ao cére­bro. O organ­is­mo lib­era uma sub­stân­cia chama­da his­t­a­mi­na, que causa uma reação gen­er­al­iza­da e pode afe­tar pele e pul­mão, além de causar bron­coes­pas­mo e ede­ma de glote, fechan­do as vias aéreas supe­ri­ores.”

“A adren­a­li­na reverte todos ess­es sin­tomas. Se eu começo a ter uma reação dessa e apli­co a adren­a­li­na, no pra­zo de um a cin­co min­u­tos, rever­to quase total­mente o quadro de anafi­lax­ia – ou per­mi­to que essa pes­soa vá ao hos­pi­tal com­ple­tar o trata­men­to”, desta­cou Chi­gres.

“Não é só sobre o aces­so à adren­a­li­na. Pre­ciso de um dis­pos­i­ti­vo que facilite o uso. E a cane­ta brasileira pode ser apli­ca­da, na parte lat­er­al da coxa, por uma pes­soa que não tem for­mação em saúde.”

Segun­do Chi­gres, a esti­ma­ti­va é que a cane­ta de adren­a­li­na autoin­jetáv­el desen­volvi­da por pesquisadores brasileiros chegue ao mer­ca­do nacional cus­tan­do em torno de R$ 400.

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