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Alice Pereira compartilha em quadrinhos “pequenas felicidades trans”

Repro­dução: © Joéd­son Alves/Agência Brasil

Com ilustrações e texto, quadrinista conta o que viveu na transição


Pub­li­ca­do em 31/01/2024 — 07:32 Por Mar­i­ana Tokar­nia — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Em um livro, por meio de quadrin­hos, Alice Pereira con­ta a história da própria tran­sição de gênero. Com ilus­trações e tex­to, ela com­par­til­ha as maiores difi­cul­dades e medos e tam­bém as ale­grias de se tornar quem é ver­dadeira­mente. “Sen­ti medo toda a min­ha vida, enquan­to me reprim­ia. Depois que me lib­ertei, parei de sen­tir medo. E não vai ser ago­ra que vou voltar. Vamos seguir resistin­do, viven­do nos­sas vidas e con­tan­do nos­sas histórias”, diz um tre­cho do livro Peque­nas Feli­ci­dades Trans.

Alice Pereira é ilustrado­ra, quadrin­ista e atual­mente tra­bal­ha tam­bém com ani­mação. Os quadrin­hos estão na sua vida des­de cedo. “Eu sem­pre gostei, acho que apren­di a ler com quadrin­ho. Só que eu nun­ca achei que eu tin­ha capaci­dade para faz­er um. Você cria muito aque­le mito de as pes­soas terem o dom para faz­er as coisas. E isso não é ver­dade. A gente aprende a faz­er as coisas. A gente aprende a diri­gir, a gente aprende a tocar instru­men­tos. A gente aprende a desen­har tam­bém”, diz.

Foi pelos quadrin­hos que ela com­par­til­hou o que esta­va viven­do e sentin­do durante a tran­sição. Além de sen­tir a neces­si­dade de ver mais histórias de pes­soas trans escritas por pes­soas trans, ela que­ria uma for­ma de respon­der às pes­soas, que lhe fazi­am as mes­mas per­gun­tas. “Eu come­cei a explicar isso por meio dos quadrin­hos.”

Rio de Janeiro (RJ) 26/01/2024 – A ilustradora Alice Pereira usa os quadrinhos para contar a história da sua transição de gênero.Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: Alice Pereira é ilustrado­ra, quadrin­ista e tra­bal­ha tam­bém com ani­mação — Joéd­son Alves/Agência Brasil

Alice com­par­til­ha os maiores medos: a solidão, o jul­ga­men­to das pes­soas, ser expul­sa de casa, ser agre­di­da na rua. Mas tam­bém traz o que ela chama de peque­nas feli­ci­dades trans, como “sair a primeira vez na rua é um mar­co. Você acha que nun­ca vai ter cor­agem, mas quan­do con­segue, é uma lib­er­tação muito grande”, diz no livro.

Ela tam­bém com­par­til­ha o que gos­tou e o que não gos­tou de ouvir até então, por exem­p­lo, não gos­tou quan­do ques­tion­avam se ela tin­ha certeza que era trans. Ela insere no livro uma seção ape­nas de comen­tários e per­gun­tas desagradáveis para não serem feitas a pes­soas trans e um glossário com alguns ter­mos LGBTQIA+.

“Eu con­heço pes­soas que são trans e tra­bal­ham com quadrin­hos, mas, de todas que eu con­heço, eu não sei citar uma que este­ja no main­stream [cor­rente dom­i­nante ou con­ven­cional] . Elas são todas alter­na­ti­vas. A gente tem mui­ta difi­cul­dade de furar a nos­sa bol­ha. A gente aca­ba fican­do restri­ta porque não está nas prin­ci­pais edi­toras, não está sendo mostra­da. A gente depende muito de feiras ou de redes soci­ais”, diz.

Além do livro em que com­par­til­ha a própria história, Alice escreveu out­ros quadrin­hos, como A Trav­es­sia, uma ficção cien­tí­fi­ca na qual um astro­nau­ta solitário bus­ca plan­e­tas com recur­sos nat­u­rais quan­do, próx­i­mo a um bura­co negro, encon­tra uma mis­te­riosa via­jante que muda sua vida. Para ela, é fun­da­men­tal que pes­soas trans ten­ham espaço nas artes não ape­nas para tratarem da própria história, mas dos mais diver­sos temas.

“Eu não pre­ciso escr­ev­er uma história que ten­ha a ver com a min­ha vivên­cia trans, eu pre­ciso escr­ev­er histórias e que essas histórias sejam lidas, que cheguem ao públi­co”, defende. “Essa diver­si­dade é impor­tante até para tornar uma diver­si­dade em ter­mos de temas, de temáti­cas e de pon­tos de vista”, acres­cen­ta.

Alice defende que haja incen­tivos, sobre­tu­do públi­cos, para a pro­dução artís­ti­ca de pes­soas trans. Além de ger­ar empre­gos, uma vez que o pro­duzir filmes, ou livros, por exem­p­lo, deman­da mão de obra de diver­sos setores, a divul­gação para a sociedade faz com que as pes­soas trans sejam mais con­heci­das e con­se­quente­mente mais aceitas.

“Eu acho que pre­cisa de, talvez, algu­ma coisa mais vin­da do poder públi­co para aumen­tar essa diver­si­dade em todos os meios, porque tam­bém é a mel­hor for­ma de diminuir o pre­con­ceito, diminuir a vio­lên­cia. Quan­to mais a gente está incluí­da, mais as pes­soas veem a gente de uma for­ma nor­mal, né? Com mais empa­tia”, diz.

Para mar­car a vis­i­bil­i­dade trans, cuja data é 29 de janeiro, a Agên­cia Brasil pub­li­ca histórias de cin­co artis­tas trans na série Trans­for­man­do a Arte, que segue até o dia 31 de janeiro.

Edição: Juliana Andrade

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