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Alta mundial do cacau impacta custos do chocolate e vendas da Páscoa

Calor e seca aumentaram o preço da fruta nos maiores países produtores

Guil­herme Jerony­mo* — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 29/03/2025 — 09:19
São Paulo
São Paulo (SP), 25/03/2025 - Ovos e bombons de Páscoa, da chef Dayane Cristin, que vende diretamente ao público. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: © Paulo Pinto/Agência Brasil

O aumen­to do cus­to do cacau em nív­el mundi­al, de cer­ca de 180% em dois anos, está refletindo no val­or dos pro­du­tos para a Pás­coa e para a pro­dução per­ma­nente do setor. A alta da fru­ta se con­cen­trou no segun­do semes­tre do ano pas­sa­do, em decor­rên­cia da que­bra de safra nos grandes pro­du­tores africanos.

A insta­bil­i­dade no setor deve se man­ter tam­bém nes­ta tem­po­ra­da, com o maior pro­du­tor, Cos­ta do Marfim, ain­da enfrentan­do impacto sig­ni­fica­ti­vo de ondas de calor e da seca.

“Isso vai influ­en­ciar o desen­volvi­men­to da plan­ta, a bro­tação e a for­mação dos fru­tos, e com isso uma menor ofer­ta”, expli­cou à Agên­cia Brasil Letí­cia Barony, asses­so­ra téc­ni­ca da comis­são nacional de fru­ti­cul­tura da Con­fed­er­ação da Agri­cul­tura e Pecuária do Brasil (CNA).

Em Gana, segun­do maior pro­du­tor, Letí­cia avalia que há um cenário de tendên­cia de recu­per­ação na pro­dução, com o gov­er­no divul­gan­do indi­cadores para um cenário de col­hei­ta atra­ti­vo, que pode levar a um reequi­líbrio para a ofer­ta.

No Brasil, a per­spec­ti­va é de aumen­to de safra, após quedas suces­si­vas. O país é atual­mente o sex­to maior pro­du­tor mundi­al de cacau, com mais de 90% da pro­dução nos esta­dos do Pará e Bahia, com uma pro­dução anu­al de 300 mil toneladas por ano.

“A gente percebe, ain­da assim, mui­ta volatil­i­dade e incerteza den­tro do mer­ca­do, tan­to em relação à ofer­ta, quan­to em relação à deman­da e prin­ci­pal­mente aos preços que ess­es pro­du­tos serão ofer­ta­dos. Isso pega toda a cadeia de val­or, não só na amên­doa de cacau, mas nas indús­trias moageiras, indús­trias de derivação e tam­bém na disponi­bi­liza­ção dess­es pro­du­tos ao con­sum­i­dor”, anal­isa a asses­so­ra téc­ni­ca da CNA.

Para a Con­fed­er­ação, a per­spec­ti­va é de aumen­to das safras neste e no próx­i­mo ano, com o resul­ta­do dos inves­ti­men­tos em áreas não tradi­cionais de cul­tura cacaueira, como o cer­ra­do baiano, no oeste do esta­do, onde o cul­ti­vo ocorre a pleno sol, com irri­gação e uso inten­si­vo de tec­nolo­gias. São Paulo e o norte de Minas são out­ras pos­si­bil­i­dades de áreas de cul­ti­vo, além da con­sol­i­dação da recu­per­ação das cul­turas da Bahia e do Pará.

Out­ra tendên­cia é o aumen­to do proces­sa­men­to do cacau no país, geran­do pro­du­tos com maior val­or agre­ga­do tan­to para o mer­ca­do exter­no quan­to para o inter­no.

Brasília - Às vésperas da Páscoa, lojas em Brasília vendem ovos de páscoa (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Repro­dução: Setor de choco­lates pre­vê retração de cer­ca de 20% na quan­ti­dade total de ovos de Pás­coa pro­duzi­dos neste ano. Foto: Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Retração

O setor de choco­lates pre­vê uma retração de cer­ca de 20% na quan­ti­dade total de ovos de Pás­coa pro­duzi­dos neste ano, em relação à pro­dução do ano pas­sa­do. Ape­sar dessa diminuição, a expec­ta­ti­va da Asso­ci­ação Brasileira da Indús­tria de Choco­lates, Cacau, Amen­doim, Balas e Deriva­dos (Abi­cad) é de con­tratação de pouco mais de 9,6 mil tra­bal­hadores tem­porários, 26% a mais do que em 2024, com expec­ta­ti­va de 20% serem efe­ti­va­dos.

Segun­do a Asso­ci­ação Brasileira de Super­me­r­ca­dos (Abras), os preços dos ovos de choco­late e pro­du­tos rela­ciona­dos (bom­bons, min­iovos, coel­hos e bar­ras) tiver­am aumen­to médio de 14%, e as colom­bas ficaram 5% mais caras neste ano.

Para lidar com o aumen­to de cus­tos, o setor usa como estraté­gia a diver­si­fi­cação de port­fólio, com pro­du­tos menores e mais vari­a­dos. Como o choco­late não é um pro­du­to essen­cial, como o arroz ou uma pro­teí­na (ovo, carne ou equiv­a­lente veg­e­tal) seu con­sumo pode ser dimin­uí­do ou evi­ta­do mais facil­mente. Com isso o preço tem um lim­ite, a par­tir do qual a deman­da começa a cair.

Adaptações

O aumen­to na matéria pri­ma já é sen­ti­do nos pro­du­tos, tan­to no ata­ca­do quan­to no vare­jo. Enquan­to redes pop­u­lares já exibem ovos de Pás­coa aci­ma de R$ 70, pequenos pro­du­tores têm de pesquis­ar fornece­dores e bus­cam maior var­iedade de pro­du­tos para aproveitar a data, tradi­cional­mente a mel­hor do ano para os choco­lateiros.

A chef Dayane Cristin colo­cou a pesquisa como um ele­men­to estratégi­co de sua pro­dução. Morado­ra de Osas­co, na grande São Paulo, ela pesquisa em três grandes lojas da região, sem­anal­mente, o choco­late e as out­ras matérias pri­mas para sua pro­dução de tru­fas e out­ros doces.

Com bar­ras de 2,5 kg, ela con­fec­ciona uma média de 1.250 tru­fas por sem­ana, que vende no trans­porte públi­co, de segun­da a sába­do. Com a alta dos preços, ela teve que aumen­tar o tem­po despendi­do com os orça­men­tos.

“Eu vou cotan­do, o preço do choco­late tem aumen­ta­do, e em alguns lugares pro­du­tos como o choco­late bran­co estão em fal­ta. Eu ten­ho me orga­ni­za­do, com­pra­do em grande quan­ti­dade e com isso con­si­go um val­or menor”, nos con­ta Cristin.

Mes­mo com o esforço ela teve de aumen­tar o val­or das tru­fas no começo deste ano, de R$ 3 para R$ 4. Além do choco­late, out­ros pro­du­tos que usa, como o leite con­den­sa­do e o creme de leite, tiver­am altas con­sid­eráveis no últi­mo ano, assim como as fru­tas.

A incerteza sobre os preços lev­ou a Dayane a segu­rar a tabela de val­ores para a Pás­coa, que saiu ape­nas esta sem­ana.

“Muitos clientes já pedi­am, mas eu esperei pois teve um aumen­to sig­ni­fica­ti­vo [nos cus­tos]. As caixas dos ovos estão muito caras, no meu caso eu ven­do muito mais em ovo de col­her. Min­ha meta esse ano é em torno de R$ 15 a R$ 20 mil, em ovos”, con­ta a chef, que ape­sar das difi­cul­dades está bem ani­ma­da com a data.

São Paulo (SP), 25/03/2025 - Ovos e bombons de Páscoa, da chef Dayane Cristin, que vende diretamente ao público. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução São Paulo (SP), 25/03/2025 — Ovos e bom­bons de Pás­coa, da chef Dayane Cristin, que vende dire­ta­mente ao públi­co. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil — Paulo Pinto/Agência Brasil

Tecnologia

Letí­cia Barony, da CNA, avalia que o setor tem con­segui­do mel­ho­rias sen­síveis em tec­nolo­gias ao lon­go da cadeia, resul­tan­do em gan­hos de pro­du­tivi­dade, seja para os grandes pro­du­tores, seja para as áreas menores. As téc­ni­cas de pro­dução que respeitam a qual­i­dade ambi­en­tal e a qual­i­dade de vida para o pro­du­tor e para os tra­bal­hadores envolvi­dos se desta­cam em proces­sos como a que­bra do cacau, a fer­men­tação e a armazenagem.

“São pon­tos cru­ci­ais para que a gente ten­ha maior efi­ciên­cia no uso da mão-de-obra, maior efi­ciên­cia do proces­so como um todo e tam­bém mel­hor qual­i­dade para mel­hor posi­ciona­men­to de mer­ca­do desse pro­du­to, na com­er­cial­iza­ção”, com­ple­men­ta.

Estes avanços tec­nológi­cos se refletem inclu­sive na políti­ca exter­na brasileira. A Agên­cia de Pro­moção de Expor­tações e inves­ti­men­tos (ApexBrasil) par­ticipou de uma mis­são à África, pas­san­do pela Cos­ta do Marfim, Gana e Nigéria, a con­vite do Ita­ma­raty e com par­tic­i­pação do Min­istério da Agri­cul­tura e Pecuária (Mapa), além de rep­re­sen­tantes de 40 empre­sas nacionais do setor. Na mis­são, foram assi­na­dos ter­mos de coop­er­ação tec­nológ­i­ca para aumen­tar os gan­hos das nações ali­adas no setor.

Segun­do a Apex, ape­sar de deter 60% das lavouras, ess­es país­es ficam com ape­nas 6% da ren­da do setor. “Uma orga­ni­za­ção dos cin­co maiores pro­du­tores pode aju­dar a aumen­tar a ren­da daque­les que estão na base da cadeia de pro­dução”, afir­ma a agên­cia brasileira.

 

*Colaborou Mau­ra Mar­tins, da TV Brasil

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