...
sábado ,25 janeiro 2025
Home / Meio Ambiente / Amazônia tem diversidade empobrecida por incêndios florestais

Amazônia tem diversidade empobrecida por incêndios florestais

 

Bioma está virando floresta secundária, com menos estoque de carbono

Fabío­la Sin­im­bú — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 13/12/2024 — 07:31
Brasília
20-02-2024 Queimadas e incêndios em Amajari – Roraima - Foto Jader Souza/AL Roraima
Repro­dução: © Jad­er Souza/AL Roraima

Pesquisadores que inves­tigam os impactos de queimadas na flo­res­ta con­stataram o empo­brec­i­men­to de espé­cies e a redução de estoque de car­bono em áreas de tran­sição da Amazô­nia e Cer­ra­do. O estu­do, finan­cia­do pelo Insti­tu­to Ser­rapil­heira, detec­tou uma diminuição de até 68% na capaci­dade de con­ter dióx­i­do de car­bono (CO₂) na bio­mas­sa da veg­e­tação de flo­restas impactadas pelo fogo de for­ma reit­er­a­da.

Os cien­tis­tas lid­er­a­dos por Fer­nan­do Elias, da Uni­ver­si­dade Fed­er­al Rur­al da Amazô­nia, e Mau­ri­van Bar­ros Pereira, da Uni­ver­si­dade Estad­ual do Mato Grosso, anal­is­aram 14 áreas de flo­restas, divi­di­das em três cat­e­go­rias: nun­ca impactadas pelo fogo, queimadas uma vez e aque­las que reg­is­traram múlti­p­los incên­dios. Em cam­po, foram cole­ta­dos dados como o número de espé­cies, den­si­dade de tron­cos e cal­cu­la­dos os esto­ques de car­bono aci­ma do solo.

“A Amazô­nia não está viran­do uma grande savana, ela está viran­do uma flo­res­ta secundária. Está ocor­ren­do uma secun­dariza­ção da flo­res­ta. Uma flo­res­ta mais pobre, com menos estoque de car­bono, como a gente obser­vou, uma redução de quase até 70%, e com menos indi­ví­du­os”, aler­ta Elias.

Manaus, AM 06/07/2024 Cenas da Amazônia. Por do sol no Rio Negro Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom
Repro­dução: Cenas da Amazô­nia, por Fabio Rodrigues-Pozze­bom/Agên­cia Brasil

Risco de extinção

Para enten­derem como a com­posição florís­ti­ca das flo­restas é afe­ta­da pelo fogo, ou seja, que espé­cies são mais atingi­das e que mudanças ocor­rem na diver­si­dade após um incên­dio, os pesquisadores clas­si­ficaram as espé­cies como típi­cas do Cer­ra­do, de ambi­entes flo­restais ou gen­er­al­is­tas, que ocor­rem tan­to no Cer­ra­do quan­to na flo­res­ta nas áreas afe­tadas em épocas dis­tin­tas e sem um con­t­role cien­tí­fi­co.

Segun­do Fer­nan­do Elias, a con­clusão de que não haverá uma sava­niza­ção da Amazô­nia e sim um empo­brec­i­men­to da flo­res­ta veio a par­tir da obser­vação de que número de espé­cies savâni­cas e gen­er­al­is­tas per­maneceu igual após a per­tur­bação cau­sa­da pelo fogo, enquan­to que as espé­cies flo­restais, mais sen­síveis, sofr­eram um declínio. “O súber, que é a cas­ca, em algu­mas espé­cies flo­restais é até ausente, ou muito fino. Então, diante de uma chama, do even­to de fogo, essas espé­cies são muito vul­neráveis e sofrem uma mor­tal­i­dade extrema. Então você imag­i­na uma espé­cie rara ocor­ren­do em uma flo­res­ta e essa flo­res­ta pega fogo. Se ela não tiv­er as car­ac­terís­ti­cas de defe­sa con­tra esse fogo, para supor­tar esse fogo, ela é extin­ta local­mente”, expli­ca.

Amazônia-11/12/2024 Amazônia tem o maior número de queimadas e incêndios em 17 anos. (Brigadistas combatem fogo no Pará. André Noboa). Foto: Agência Santarém.
Repro­dução: Amazô­nia tem o maior número de queimadas e incên­dios em 17 anos. (Brigadis­tas com­bat­em fogo no Pará. André Noboa). Foto: Agên­cia San­tarém.

Serviços

De acor­do com o pesquisador, esse empo­brec­i­men­to da flo­res­ta, além de rep­re­sen­tar uma ameaça de extinção de espé­cies, é uma ameaça ao plan­e­ta e à humanidade. “Vai ger­ar uma flo­res­ta pobre, com espé­cies que já não con­seguem ger­ar e nem fornecer o serviço ecos­sistêmi­co, como, por exem­p­lo, de reg­u­lação de chu­va, de seque­stro de car­bono para mit­i­gação das mudanças do cli­ma, serviço de polin­iza­ção. Todos os vari­a­dos serviços ecos­sistêmi­cos pos­síveis que uma flo­res­ta pristi­na [orig­i­nal] con­segue fornecer à sociedade, essas flo­restas queimadas serão com­pro­meti­das”, diz.

Entre ess­es com­pro­me­ti­men­tos está a capaci­dade de reti­rar da atmos­fera e reter dióx­i­do de car­bono (CO₂) na bio­mas­sa da veg­e­tação. “Em ter­mos de den­si­dade, em ter­mos de estoque de car­bono, a gente obser­vou que queimadas uma úni­ca vez, eu já tive redução de aprox­i­mada­mente quase 50% nos val­ores dos esto­ques. E queimadas múlti­plas vezes até 68% de per­das”, expli­ca.

Na práti­ca, sig­nifi­ca que cada área queima­da, além de emi­tir gas­es do efeito est­u­fa pela própria queima, tam­bém lib­era o dióx­i­do de car­bono que esta­va na com­posição de cada árvore. “Os esto­ques de car­bono das áreas que não foram queimadas são de 25,5 toneladas por hectare. E as áreas que queimaram uma vez, 14,1. Já as áreas que queimaram múlti­plas vezes, 8. Então, você imag­i­na a difer­ença que se tem entre a área que queimaram múlti­plas vezes e a área que nun­ca queimou”.

Vulnerabilidade

As áreas estu­dadas ficam local­izadas nas divisas dos esta­dos do Ama­zonas, Pará e Mato Grosso, em uma região que inte­gra o Arco do Des­mata­men­to. Segun­do os pesquisadores, a degradação tam­bém ocorre por causa da ativi­dade da agropecuária nas prox­im­i­dades da flo­res­ta e pelo fato de estar em uma região mais seca que a região mais into­ca­da da Amazô­nia, por isso, todas as áreas demon­straram mais vul­ner­a­bil­i­dade ao avanço rápi­do das mudanças climáti­cas. “São áreas muitas vezes tratadas como Cer­ra­do, mes­mo ten­do ele­va­do estoque de car­bono e espé­cies tipi­ca­mente amazôni­cas. E, no Códi­go Flo­re­stal, em áreas de Cer­ra­do, pode-se des­matar 80%”, diz Elias.

Financiamento

O estu­do Mudanças Pós-fogo na Diver­si­dade, Com­posição e Car­bono das Árvores em Perío­dos Sazon­ais das Flo­restas no Sul da Amazô­nia teve ain­da a par­tic­i­pação de pesquisadores do Cam­pus de Con­fre­sa do Insti­tu­to Fed­er­al de Mato Grosso Geog­ra­phy, Fac­ul­ty of Sci­ence, Envi­ron­ment and Econ­o­my, da Uni­ver­si­dade de Exeter. O pro­je­to tam­bém foi  finan­cia­do pelo Insti­tu­to Ser­rapil­heira, que é uma insti­tu­ição pri­va­da sem fins lucra­tivos para a pro­moção da ciên­cia no Brasil. Des­de o iní­cio de suas ativi­dades, em 2017, já apoiou finan­ceira­mente mais de 300 pro­je­tos de ciên­cia e de comu­ni­cação da ciên­cia, com mais de R$ 90 mil­hões investi­dos.

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Cinema brasileiro celebra indicações de Ainda Estou aqui ao Oscar

Fernanda Montenegro diz que coração está em estado de graça Elaine Patri­cia Cruz* – Repórter …