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Ambulantes terão “creche” para deixar os filhos no carnaval do Rio

Prefeitura vai oferecer centros de convivência enquanto mães trabalham

Mar­i­ana Tokar­nia — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 06/02/2025 — 08:32
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro (RJ) 10/02/2024 – Vendedores ambulantes no blocos de carnaval no centro da cidade. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Repro­dução: © Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Jor­nadas exaus­ti­vas, que começam na madru­ga­da e ter­mi­nam ape­nas na madru­ga­da seguinte, tra­bal­han­do em meio a mil­hares de foliões em tem­per­at­uras muitas vezes supe­ri­ores a 40 graus Cel­sius. É no car­naval car­i­o­ca que muitos tra­bal­hadores ambu­lantes fazem um pé de meia e garan­tem o sus­ten­to da família.

O tra­bal­ho, que já é cansati­vo para os adul­tos soz­in­hos, é ain­da mais para as mães que não con­tam com rede de apoio e pre­cisam levar jun­to cri­anças peque­nas para os blo­cos.

Ter um local seguro para deixar os fil­hos enquan­to tra­bal­ham é uma deman­da anti­ga das tra­bal­hado­ras. Em 2024, isso começou a sair do papel, mas ain­da em peque­na escala. Neste ano, as medi­das serão ampli­adas, aten­den­do a mais cri­anças.

A Sec­re­taria Munic­i­pal de Assistên­cia Social do Rio (SMAS) vai ofer­e­cer um espaço de con­vivên­cia para fil­hos de até 12 anos de ambu­lantes que tra­bal­ham no car­naval. Nos dias de ensaios téc­ni­cos e des­files na Sapu­caí, as mães poderão deixar os fil­hos no Espaço de Desen­volvi­men­to Infan­til (EDI) Rachel de Queiroz, na Aveni­da Pres­i­dente Var­gas, no cen­tro, próx­i­mo ao Sam­bó­dro­mo, entre as 18h e as 6h do dia seguinte.

Serão ofer­e­ci­das 50 vagas por noite, cer­ca do dobro do ofer­ta­do em 2024. O atendi­men­to será a par­tir do dia 25 de janeiro, na primeira noite de ensaios téc­ni­cos, e vai até 8 de março, dia do Des­file das Campeãs. As cri­anças con­tarão com ali­men­tação, ativi­dades recre­ati­vas e ativi­dades artís­ti­cas e cul­tur­ais.

Além de aten­der a quem bus­ca o serviço, será fei­ta uma bus­ca ati­va. Segun­do a Sec­re­taria, assis­tentes soci­ais e edu­cadores vão cir­cu­lar e iden­ti­ficar as neces­si­dades, fazen­do um con­vite aos pais.

Ampliação do atendimento

As tra­bal­hado­ras comem­o­ram as con­quis­tas, mas diante de muitas horas de tra­bal­ho ain­da descober­tas, querem a ampli­ação desse atendi­men­to. Pedem que ele seja ofer­ta­do em mais locais, já que os blo­cos estão em difer­entes pon­tos da cidade, e tam­bém que esse serviço seja ofer­e­ci­do no pré-car­naval e durante todo o dia.

Elas tam­bém querem que o atendi­men­to seja feito em out­ros grandes even­tos no Rio de Janeiro, além do car­naval.

“A gente sai de man­hã, às 5h30, 6h da man­hã, para com­prar bebi­da, ir à rua pegar o primeiro blo­co que começa às 7h, 8h. Aí a gente vai pulan­do de um blo­co para out­ro. Aca­ba um blo­co, a ambu­lante pula para out­ro blo­co. Então, nor­mal­mente a gente chega em casa meia-noite e pouco, 1 hora da man­hã”, diz a coor­de­nado­ra do cole­ti­vo Elas por Elas Providên­cia, Car­ol Alves.

O Elas por Elas é um cole­ti­vo de mul­heres tra­bal­hado­ras infor­mais que lutam pelo recon­hec­i­men­to e por dire­itos das mul­heres em tra­bal­hos sem carteira assi­na­da. Car­ol con­ta que, em 2023, elas sou­ber­am de ini­cia­ti­vas em Sal­vador, que pro­por­cionam espaços seguros para que os fil­hos de ambu­lantes pos­sam ficar enquan­to os pais tra­bal­ham no car­naval. Des­de então, lutam por algo semel­hante no Rio de Janeiro.

“É bem difi­cul­toso e é bem triste você ver uma mãe ten­tan­do o sus­ten­to, ten­tan­do levar ali­men­to para den­tro de casa, em uma tripla jor­na­da na rua e com a cri­ança, sabe? A cri­ança fica estres­sa­da, a cri­ança fica com o esta­do psi­cológi­co total­mente abal­a­do tam­bém, porque tem que ficar na rua, fazen­do 40 graus nos dias, com a mãe venden­do bebi­da”, diz.

Em 2024, o serviço foi ofer­e­ci­do pela primeira vez, fru­to de parce­ria da 1ª Vara da Infân­cia, da Juven­tude e do Idoso da Cap­i­tal, do Tri­bunal de Justiça do Rio de Janeiro e da Sec­re­taria Munic­i­pal de Assistên­cia Social.

Neste ano, as orga­ni­za­ções de tra­bal­hadores se uni­ram, bus­can­do espaço para uma cam­pan­ha que já tin­ham: Cam­pan­ha Creche no Car­naval, encam­pa­da pelo Cole­ti­vo Elas por Elas Providên­cia jun­to ao Movi­men­to dos Tra­bal­hadores sem Dire­ito.

“Os ambu­lantes são essen­ci­ais no car­naval, são essen­ci­ais nos grandes even­tos. Sem um ambu­lante, o car­naval não anda. Sem um ambu­lante, uma fes­ta, um grande even­to, tam­bém não cam­in­ha, porque o ambu­lante tá ali venden­do a água, venden­do um refrig­er­ante, venden­do uma cerve­ja. Nós somos os garçons das grandes fes­tas”, diz

Trabalho é correria

Taís Lopes con­hece a roti­na de ambu­lante no car­naval de per­to, ela tra­bal­ha nes­sa área há 8 anos. Des­de o nasci­men­to da fil­ha mais nova, Ágatha, há 3 anos, ela tem a com­pan­hia da bebê.

“Quan­do vou tra­bal­har, sem­pre car­rego min­ha fil­ha. Eu sou ambu­lante, aí ten­ho que car­regá-la para com­prar bebi­da. Eu car­rego ela comi­go para poder vender”, con­ta.

“Meu tra­bal­ho é cor­re­ria, tad­in­ha. Ela dorme, aí eu a acor­do em cima da hora e falo: ‘Vamos emb­o­ra, fil­ha’. Não ten­ho com quem deixar. Se tivesse uma rede de apoio, pode­ria ir tra­bal­har tran­quila, só que não ten­ho. Eu jun­to um negó­cio, um bis­coito, uma água e saio. Saio de man­hã, aí depen­den­do do rumo que a gente pega, se tiv­er blo­co, a gente vai esti­can­do até onde der”, diz.

Tais é mãe tam­bém de Kayky, 15 anos. Quan­do a fil­ha mais nova nasceu, o pai os deixou e ela tornou-se mãe solo e pre­cisa levar a fil­ha para onde vai.

“Só que por ela ser cri­ança, fica cansa­da, só tem 3 anos. É cansati­vo para ela, não tem um lugar para tomar um ban­ho, nem para poder se esticar, deitar. ela vai andan­do comi­go, aí tá cansa­da, eu boto em cima da car­roça, vou puxan­do, vamos emb­o­ra”, diz. “Eu ten­ho que cor­rer atrás do sis­tema, porque se eu não cor­rer, a gente não come, não bebe, não se veste”.

Ter um lugar para deixar a fil­ha a ani­ma. “Eu tô muito feliz que a gente vai poder tra­bal­har tran­qui­lo. Não ficar pre­ocu­pa­da de pes­soas mal­dosas, porque infe­liz­mente car­naval tem muito dis­so de quer­er pas­sar, puxar a cri­ança, aproveitar que a mãe tá dis­traí­da”.

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