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Analfabetismo entre quilombolas é 2,7 vezes maior que média do Brasil

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Censo do IBGE mostra que o Índice chega a 18,99%


Publicado em 19/07/2024 — 10:02 Por Bruno de Freitas Moura — Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

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A taxa de anal­fa­betismo entre a pop­u­lação quilom­bo­la é 2,7 vezes maior que a média do Brasil. Enquan­to em todo o país o índice é 7%, na pop­u­lação quilom­bo­la alcança 18,99%. A rev­e­lação faz parte de um suple­men­to do Cen­so 2022, divul­ga­do nes­ta sex­ta-feira (19) pelo Insti­tu­to Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­ca (IBGE).

A taxa quilom­bo­la rep­re­sen­ta 192,7 mil pes­soas com 15 anos ou mais de idade que não sabem ler e escr­ev­er nem ao menos um bil­hete sim­ples. De acor­do com o lev­an­ta­men­to cen­sitário, o país tem 1,330 mil­hão de pes­soas quilom­bo­las, sendo 1,015 mil­hão com 15 anos ou mais de idade.

O Cen­so 2022 foi o primeiro em que o IBGE cole­tou infor­mações especí­fi­cas da pop­u­lação quilom­bo­la – descen­dentes de comu­nidades que resis­ti­am à escrav­iza­ção. Para clas­si­ficar uma pes­soa como quilom­bo­la, o IBGE lev­ou em con­sid­er­ação a autoiden­ti­fi­cação dos ques­tion­a­dos, não impor­tan­do a cor de pele declar­a­da.

Na avali­ação da coor­de­nado­ra do Cen­so de Povos e Comu­nidades Tradi­cionais, Mar­ta Antunes, a taxa de alfa­bet­i­za­ção, ou seja, que mede quem sabe ler e escr­ev­er, fun­ciona como um indi­cador de resul­ta­do dos inves­ti­men­tos na edu­cação bási­ca e de jovens e adul­tos (EJA) nas últi­mas décadas. Mar­ta obser­va que a taxa mostra como os inves­ti­men­tos se traduzem no proces­so de alfa­bet­i­za­ção ou não da pop­u­lação.

“Há uma dis­tân­cia entre a pop­u­lação quilom­bo­la e a pop­u­lação res­i­dente no país em relação às opor­tu­nidades edu­ca­cionais das últi­mas décadas em relação aos inves­ti­men­tos em aces­so à edu­cação”, diz a pesquisado­ra.

Localização

O Cen­so difer­en­cia ain­da a taxa dos quilom­bo­las por local de mora­dia – se é den­tro ou fora de ter­ritório ofi­cial­mente recon­heci­do. Entre os que vivem ness­es ter­ritórios, o índice é de 19,75%, já nos que vivem fora de áreas recon­heci­das, 18,88%.

De acor­do com Mar­ta Antunes, a peque­na difer­ença det­ona que o anal­fa­betismo das pes­soas quilom­bo­las não é tão mar­ca­do pela local­iza­ção dos domicílios, “e sim pela sua etni­ci­dade, a for­ma como elas têm tido aces­so a proces­sos edu­ca­cionais, ou seja, estar den­tro ou fora dos ter­ritórios não é o grande mar­co difer­en­ci­ador do aces­so a opor­tu­nidades edu­ca­cionais”.

De toda a pop­u­lação quilom­bo­la, ape­nas 12,61% (167.769 pes­soas) vivem em ter­ritórios ofi­cial­mente recon­heci­dos.

Idade

A análise dos dados rev­ela que, assim como acon­tece com o con­jun­to da pop­u­lação brasileira, entre os quilom­bo­las o anal­fa­betismo é cres­cente a par­tir da faixa etária de 18 e 19 anos. Entre esse grupo de idade, o índice é de 2,91%. Para o estra­to de 50 a 54 anos, a taxa chega a 28,04%, enquan­to entre os com 65 anos ou mais alcança 53,93%.

Brasília (DF), 18.07.2024. Quilombolas alfabetização. Crédito: Arte/Agência Brasil
Reprodução: Arte/Agência Brasil

A coor­de­nado­ra do IBGE desta­ca que até os 24 anos de idade, as taxas de anal­fa­betismo dos quilom­bo­las e da pop­u­lação brasileira como um todo vari­am cer­ca de dois pon­tos per­centu­ais a mais para o primeiro grupo. Mas à medi­da que as faixas etárias vão crescen­do, aumen­ta tam­bém a dis­tân­cia entre quilom­bo­las e a média nacional. Na pop­u­lação com 65 anos ou mais, a relação é de 20,25% na pop­u­lação brasileira e 53,93% na quilom­bo­la.

“Para endereçar o anal­fa­betismo nesse grupo [quilom­bo­la], a gente tem que olhar para essa faixa de idade tam­bém”, sug­ere Mar­ta Antunes.

Gênero

Em relação ao gênero, acon­tece entre os quilom­bo­las com­por­ta­men­to semel­hante ao da pop­u­lação brasileira, em que o anal­fa­betismo dos home­ns é maior que o das mul­heres. A taxa dos home­ns quilom­bo­las é de 20,89%, supe­ri­or à das mul­heres quilom­bo­las (17,11%). Essa difer­ença de 3,78 pon­tos per­centu­ais é maior do que a obser­va­da na pop­u­lação total do país, que foi de um pon­to per­centu­al (6,52% das mul­heres e 7,51% dos home­ns).

Regiões

Das cin­co regiões do país, o Nordeste tem taxa de anal­fa­betismo de quilom­bo­las (21,60%) aci­ma da média nacional para essa pop­u­lação (18,99%). Em segui­da apare­cem o Sud­este (14,68%), Cen­tro-Oeste (13,44%), Norte (12,55%) e Sul (10,04%).

“A gente tem taxas de alfa­bet­i­za­ção mais baixas para as pes­soas quilom­bo­las em todas as grandes regiões, então é uma situ­ação que se repete inde­pen­den­te­mente da local­iza­ção region­al da pop­u­lação”, assi­nala a pesquisado­ra.

As comu­nidades quilom­bo­las estão em 25 das 27 Unidades da Fed­er­ação (UF). Ape­nas Acre e Roraima não reg­is­tram essa pre­sença. Ao obser­var o anal­fa­betismo pelas UF, o IBGE ver­i­fi­cou que oito esta­dos têm taxas gerais aci­ma do total quilom­bo­la (18,99%): Maran­hão (22,23%), Piauí (28,75%), Ceará (26,38%), Rio Grande do Norte (24,08%), Paraí­ba (26,87%), Per­nam­bu­co (25,93%), Alagoas (29,77%) e Sergipe (23,76%).

A menor taxa é a do Dis­tri­to Fed­er­al, 1,26%, que chega ser menor que a média da pop­u­lação ger­al da UF (2,77%).

Municípios

Dos 1,7 mil municí­pios com pop­u­lação quilom­bo­la, foi pos­sív­el ver­i­ficar a taxa de alfa­bet­i­za­ção em 1.683. O Cen­so con­sta­tou que em 81,58%, o não letra­men­to de pes­soas quilom­bo­las é aci­ma da média do local. Em 20,26% a difer­ença supera 10 pon­tos per­centu­ais.

O ger­ente de Ter­ritórios Tradi­cionais e Áreas Pro­te­gi­das do IBGE, Fer­nan­do Dam­as­co, expli­ca que isso car­ac­ter­i­za uma “dis­pari­dade sig­ni­fica­ti­va” entre as duas pop­u­lações na maior parte dos municí­pios. Ele detal­ha que entre os municí­pios com difer­enças supe­ri­ores a 10 pon­tos per­centu­ais, há con­cen­trações no Vale do Rio Ama­zonas, no Maran­hão e no Semi­ári­do.

“Todos os esta­dos nordes­ti­nos têm uma con­cen­tração expres­si­va de municí­pios nes­sa situ­ação”, pon­tua.

Mar­ta Antunes con­sid­era que a difer­ença encon­tra­da den­tro dos municí­pios, com quilom­bo­las viven­cian­do maiores taxas de anal­fa­betismo, chama “mui­ta atenção”. Ela adiantou que no fim do ano, o IBGE divul­gará dados semel­hantes, difer­en­cian­do a esco­lar­i­dade das comu­nidades, levan­do em con­sid­er­ação se estão em área rur­al ou urbana.

Para ela, será uma for­ma de anal­is­ar mel­hor as dis­pari­dades. De acor­do com a pesquisado­ra, os dados ini­ci­ais já sinal­izam que há uma atenção desigual para os quilom­bo­las em ter­mos de inves­ti­men­to de políti­cas públi­cas ao lon­go das últi­mas décadas.

Edição: Aline Leal

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