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Anielle sobre condenação: “Era a dor guardada no peito e no coração”

Família de Marielle Franco celebra sentenças de assassinos

Rafael Car­doso — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 31/10/2024 — 21:11
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro (RJ), 31/10/2024 - Tribunal do Júri do Rio condena Ronnie e Élcio por assassinar Marielle e Anderson. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Durante seis anos e sete meses, famil­iares e ami­gos da vereado­ra Marielle Fran­co e do motorista Ander­son Gomes têm chora­do em luto. Hoje, 31 de out­ubro, o choro pela primeira vez foi de alívio quan­do eles ouvi­ram a sen­tença no 4º Tri­bunal do Júri do Rio de Janeiro. Os ex-poli­ci­ais mil­itares Ron­nie Lessa e Élcio Queiroz foram con­de­na­dos pelos assas­si­natos cometi­dos no dia 14 de março de 2018.

Assas­si­nos con­fes­sos da vereado­ra Marielle Fran­co e do motorista Ander­son Gomes, os ex-poli­ci­ais mil­itares Ron­nie Lessa e Élcio de Queiroz foram con­de­na­dos nes­ta quin­ta-feira (31), pelo 4º Tri­bunal do Júri do Rio de Janeiro. Ron­nie Lessa a 78 anos, 9 meses e 30 dias. Élcio, a 59 anos, 8 meses e 10 dias.

Irmã de Marielle, a min­is­tra da Igual­dade Racial, Anielle Fran­co, resum­iu o que rep­re­sen­tou o lon­go perío­do de luta para que os assas­si­nos fos­sem iden­ti­fi­ca­dos e punidos.

Rio de Janeiro (RJ), 31/10/2024 - Tribunal do Júri do Rio condena Ronnie e Élcio por assassinar Marielle e Anderson. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ), 31/10/2024 — Anielle Fran­co (cen­tro) fala sobre con­de­nação de Ron­nie Lessa e Élcio de Queiroz. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

“A gente não vai parar aqui. Em 2018, eu disse que hon­raria o sangue e a memória da min­ha irmã. E isso aqui hoje foi um gri­to que esta­va guarda­do na nos­sa gar­gan­ta. Uma dor guarda­da no peito e no coração de cada homem e mul­her que estão aqui. A gente vai lutar, não só pela Marielle e pelo Ander­son, mas por um pro­je­to que a gente acred­i­ta”, disse a min­is­tra.

“Maior lega­do da Marielle para esse país é a pro­va de que mul­heres, pes­soas negras, fave­ladas, quan­do chegam aos seus pos­tos mere­cem per­manecer vivas. Quan­do assas­si­naram a min­ha irmã com qua­tro tiros na cabeça eles não imag­i­navam a força com que esse país se lev­an­taria” acres­cen­tou.

Depoimentos arrependidos

A viú­va de Ander­son, Ágha­ta Arnaus, agrade­ceu a todos que lutaram pela con­de­nação dos assas­si­nos e disse que não se sen­si­bi­liza com os depoi­men­tos arrepen­di­dos de Ron­nie e Élcio.

Rio de Janeiro (RJ), 31/10/2024 - Tribunal do Júri do Rio condena Ronnie e Élcio por assassinar Marielle e Anderson. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ), 31/10/2024 —  Ágha­ta Arnaus (esq), viú­va do motorista Ander­son. Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil

“Eu ouvi um pedi­do de perdão de alguém que clara­mente não tem qual­quer arrependi­men­to. E ain­da diz que é para aliviar a con­sciên­cia. Eu digo que quem tem que per­doar é Deus ou qual­quer coisa que ele acred­ite. Eu não per­doo. Nun­ca. Eu ten­ho paz na min­ha vida. Mas não pre­ciso per­doar”, disse Ágha­ta. “Cinquen­ta, seten­ta anos, [isso] é pouco. Que eles fiquem lá para sem­pre. Ander­son e Marielle mor­reram. É para sem­pre tam­bém”, acres­cen­tou.

Môni­ca Beni­cio, vereado­ra e viú­va de Marielle, falou sobre os sig­nifi­ca­dos das sen­tenças de hoje para a sociedade brasileira.

“Marielle foi assas­si­na­da pelo que defendia, pelo que luta­va para der­ro­tar, para defend­er a democ­ra­cia. Não há justiça pos­sív­el que pos­sa trazê-los de vol­ta para nós. Mas esse é um mar­co para que não acon­teça mais. E esse é o prin­ci­pal reca­do. Como a juíza disse, é o reca­do para os vários Lessas que estão livres não ten­ham o sen­ti­men­to da impunidade”, disse Môni­ca.

Rio de Janeiro (RJ), 31/10/2024 - Tribunal do Júri do Rio condena Ronnie e Élcio por assassinar Marielle e Anderson. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ), 31/10/2024 — Môni­ca Beni­cio, Luyara San­tos e Marinete Sil­va, da esquer­da para dire­i­ta. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Marinete Sil­va e Luyara San­tos, mãe e fil­ha de Marielle, respec­ti­va­mente, destacaram a luta da família ao lon­go dess­es anos para que os respon­sáveis pelo crime fos­sem punidos.

“Não só eu como mãe, mas o Brasil, o Rio de Janeiro, a sociedade de uma maneira ger­al há muito esper­a­va por isso. São seis anos e sete meses e 17 dias que nós esta­mos lutan­do e nun­ca paramos de acred­i­tar. A gente sabia que isso um dia acon­te­ceria. E eles, sim, [os crim­i­nosos] têm que pagar”, afir­mou Marinete.

“Nos­sa cor­agem nos trouxe até aqui. É um dia muito difí­cil, porque eu ten­ho certeza de que nen­hum de nós que­ria estar aqui hoje. A Ágha­ta que­ria o Ander­son aqui. Eu que­ria a min­ha mãe aqui. Mas o dia de hoje entra para a história e para a democ­ra­cia desse país. E que a gente dê muitos pas­sos pela frente ain­da nesse caso como um todo. Esse é o primeiro pas­so por eles. A gente vai seguir lutan­do”, disse Luyara.

O pai de Marielle, Antônio Fran­cis­co, externou que o dia de hoje foi muito aguarda­do pela família, mas reforçou que ain­da espera pela con­de­nação dos man­dantes do crime.

“Isso não aca­ba aqui. Porque há os man­dantes. E ago­ra a per­gun­ta é quan­do serão con­de­na­dos os man­dantes. Porque aque­le choro que eles exibem nas suas oiti­vas, para mim não é um choro sin­cero. Choro sin­cero foi o nos­so, porque perdemos a nos­sa fil­ha, a Ágha­ta perdeu o Ander­son e a Môni­ca perdeu a Marielle. Esse choro nos­so é sin­cero. Naque­les eu não acred­i­to e não vou acred­i­tar nun­ca”.

Rio de Janeiro (RJ), 31/10/2024 - Tribunal do Júri do Rio condena Ronnie e Élcio por assassinar Marielle e Anderson. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ), 31/10/2024 — Família de Marielle e Ander­son falam com a impren­sa após anún­cio das con­de­nações de Ron­nie e Élcio. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Próximo passos

Os acu­sa­dos de serem man­dantes dos crimes são os irmãos Chiquin­ho e Domin­gos Brazão, respec­ti­va­mente, con­sel­heiro do Tri­bunal de Con­tas do Esta­do (TCE-RJ) e dep­uta­do fed­er­al.

O del­e­ga­do Rival­do Bar­bosa, chefe da Polí­cia Civ­il do Rio de Janeiro na época do crime, é acu­sa­do de ter prej­u­di­ca­do as inves­ti­gações. Os três estão pre­sos des­de 24 de março deste ano.

Por causa do foro, há um proces­so para­le­lo no Supre­mo Tri­bunal Fed­er­al (STF) que jul­ga os irmãos Brazão e o del­e­ga­do Rival­do Bar­bosa. Tam­bém são réus no proces­so o ex-poli­cial mil­i­tar Rob­son Cal­ix­to, ex-asses­sor de Domin­gos Brazão, que teria aju­da­do a se livrar da arma do crime, e o major Ronald Paulo Alves Pereira, que teria mon­i­tora­do a roti­na de Marielle.

A moti­vação do assas­si­na­to de Marielle Fran­co, segun­do inves­ti­gadores, envolve questões fundiárias e gru­pos de milí­cia. Havia divergên­cia entre Marielle e o grupo políti­co do então vereador Chiquin­ho Brazão sobre o Pro­je­to de Lei (PL) 174/2016, que bus­ca­va for­malizar um con­domínio na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

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