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Aplicativo alimentado por tosses pode ajudar na detecção da covid-19

Início do processo de infecção pelo patógeno. Registro do momento exato em que uma célula é infectada pelo novo coronavírus, obtido durante estudo que investiga a replicação viral do Sars-CoV-2 realizado pelos Laboratório de Morfologia e Morfogênese Viral e Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo, Instituto Oswaldo Cruz.
Repro­dução: © Déb­o­ra Barreto/Fiocruz

Precisão atinge entre 80% a 85%; testes já foram iniciados no Brasil


Pub­li­ca­do em 11/07/2021 — 15:33 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

A orga­ni­za­ção inter­na­cional sem fins lucra­tivos Viru­fy desen­volveu um aplica­ti­vo em algo­rit­mo de inteligên­cia arti­fi­cial (IA) para a detecção da covid-19, cuja pre­cisão atinge entre 80% a 85%, e deu iní­cio a testes clíni­cos no Brasil, no Hos­pi­tal Region­al Hans Dieter Schmidt, em Joinville, em San­ta Cata­ri­na. A orga­ni­za­ção já está em nego­ci­ações com out­ros hos­pi­tais das regiões Sud­este, Norte e Nordeste para ampli­ação de testes clíni­cos, incluin­do vários hos­pi­tais uni­ver­sitários e redes pri­vadas de saúde.

A ger­ente da Viru­fy, Soraya Cav­al­can­ti, disse à Agên­cia Brasil que o obje­ti­vo é expandir o máx­i­mo de parce­rias pos­síveis. “Quan­to mais regiões, mel­hor, porque per­mite ao algo­rit­mo iden­ti­ficar as diver­sas vari­ações em sons da tosse e das pes­soas das diver­sas regiões. O nos­so obje­ti­vo é expandir as parce­rias com hos­pi­tais para que essa pesquisa clíni­ca pos­sa aux­il­iar no aper­feiçoa­men­to do aplica­ti­vo em IA para ger­ar resul­ta­dos mais pre­cisos”, afir­mou.

Des­de o iní­cio da pan­demia, o fun­dador da orga­ni­za­ção e engen­heiro de soft­ware (pro­gra­ma de com­puta­dor) do Vale do Silí­cio, Amil Khan­za­da, perce­beu, jun­to com pesquisadores da Uni­ver­si­dade de Stan­ford, nos Esta­dos Unidos, que havia um padrão no som da tosse de pes­soas infec­tadas pelo novo coro­n­avírus. Eles se dedicaram, então, a desen­volver novas tec­nolo­gias para detecção da doença e chegaram a esse aplica­ti­vo para smart­phone.

Probabilidade

Os pesquisadores da orga­ni­za­ção con­cluíram que, por meio desse algo­rit­mo de machine learn­ing (apren­diza­do de máquina, um méto­do de análise de dados que autom­a­ti­za a con­strução de mod­e­los analíti­cos), esse padrão pode­ria ser desta­ca­do de tal for­ma que, ali­men­tan­do o algo­rit­mo com vários tipos de tosse, ele pode­ria detec­tar a prob­a­bil­i­dade de a pes­soa pos­suir covid-19 ou não, a par­tir do reg­istro de sua tosse, expli­cou Soraya. “Como a empre­sa não tem fins lucra­tivos, a ideia é disponi­bi­lizar esse aplica­ti­vo de for­ma gra­tui­ta, para facil­i­tar na detecção (da doença) por meio somente do som da tosse”, expli­cou.

Já foram real­iza­dos testes com mil­hares de toss­es de pes­soas da Améri­ca Lati­na, Europa e Ásia para dis­tin­guir entre sons aque­les que o SARS-CoV­‑2 — vírus cau­sador da covid-19 — provo­ca na tosse, para apon­tar entre pos­i­ti­vo e neg­a­ti­vo, com cer­ca de 80% a 85% de pre­cisão.

Soraya esclare­ceu que ess­es são números atu­ais, de acor­do com a quan­ti­dade de toss­es doadas para que o algo­rit­mo tra­bal­he. “Quan­to mais toss­es forem doadas, mais a gente assi­na a prob­a­bil­i­dade de acer­to desse algo­rit­mo. A tendên­cia é que, com a expan­são dessa testagem clíni­ca, esse número suba e, aí, a assertivi­dade dele fique cada vez maior”.

Estudo clínico

A meta é expandir os testes no Brasil em parce­rias clíni­cas para fechar em dois ou três meses o estu­do clíni­co de aprovação do algo­rit­mo, para poder tra­bal­har para o uso do aplica­ti­vo pela pop­u­lação. Essa é a expec­ta­ti­va para o Brasil.

“A gente está na fase de cole­ta de toss­es para afi­nar o algo­rit­mo”, reforçou Soraya. “Quan­do ele estiv­er em uma por­cent­agem mais afi­na­da, con­seguire­mos lançar o aplica­ti­vo para ser uti­liza­do de for­ma gra­tui­ta e aux­il­iar no pré-diag­nós­ti­co. A gente o con­sid­era como uma fer­ra­men­ta de auxílio ao diag­nós­ti­co da covid-19. A ideia do aplica­ti­vo é aux­il­iar a enten­der a prob­a­bil­i­dade do con­tá­gio”, expli­cou.

Se o resul­ta­do indicar uma prob­a­bil­i­dade alta, isso já leva o indi­ví­duo a entrar em iso­la­men­to e procu­rar uma unidade de saúde. Se a prob­a­bil­i­dade for baixa, a indi­cação é que ele con­tin­ue mon­i­toran­do os sin­tomas e faça a testagem out­ras vezes.

A equipe da Viru­fy é com­pos­ta por mais de 50 pesquisadores estrangeiros de 25 uni­ver­si­dades e 20 país­es, entre os quais Inglater­ra, Japão, Esta­dos Unidos, Argenti­na, Brasil, Colôm­bia, Méx­i­co e Peru, e por espe­cial­is­tas médi­cos, téc­ni­cos e jurídi­cos de insti­tu­ições como Stan­ford, Google e Prince­ton.

Duas partes

No Brasil, o pro­je­to está divi­di­do em duas partes. Uma é a cole­ta de toss­es de pes­soas que apre­sen­tem sin­tomas semel­hantes aos da covid-19 através do site. Segun­do o coor­de­nador respon­sáv­el pelos testes clíni­cos, Diego Car­val­ho, espe­cial­ista em fisi­olo­gia, o vírus traz alter­ações no pul­mão, gar­gan­ta e nas vias res­pi­ratórias supe­ri­ores que alter­am a tosse e a fala. Essas são alter­ações sutis que o ouvi­do humano não cap­ta. Somente mecan­is­mos de inteligên­cia arti­fi­cial con­seguem perce­ber. As gravações servirão para treinar o algo­rit­mo para padrões brasileiros.

Com o algo­rit­mo treina­do, a segun­da parte do pro­je­to con­siste em aplicá-lo numa pesquisa com pacientes reais que apre­sentarem covid pos­i­ti­va e neg­a­ti­va. “Quan­do um paciente for ao Hos­pi­tal Region­al Hans Dieter Schmidt, em Joinville, para faz­er o [exame de] PCR, será con­vi­da­do a par­tic­i­par da pesquisa e tossir num celu­lar. Coletare­mos ess­es dados de exam­es PCR e tosse e cruzare­mos os dados”, rela­tou o médi­co.

A expec­ta­ti­va é con­seguir dois mil pacientes em um mês para com­por a pesquisa. A ideia é chegar a um índice de pre­cisão aci­ma de 85%, pare­ci­do com os testes de antígenos encon­tra­dos em far­má­cias para detec­tar covid ‑19.

“É uma fer­ra­men­ta impor­tante de detecção pre­coce, mais bara­ta para aplicar em larga escala e a intenção da Viru­fy é fornecer de graça para a pop­u­lação”, sus­ten­tou Diego Car­val­ho. Emb­o­ra o aplica­ti­vo não sub­sti­tua os testes de diag­nós­ti­co de nív­el hos­pi­ta­lar e deva ser usa­do jun­to com os sin­tomas e ver­i­fi­cações de tem­per­atu­ra, a detecção pre­coce e ime­di­a­ta pode incen­ti­var a quar­ente­na vol­un­tária daque­les que ain­da não foram vaci­na­dos, prin­ci­pal­mente em país­es em que a vaci­nação cam­in­ha lenta­mente.

O ger­ente de Exten­são da Comu­nidade da Viru­fy para o Brasil, Matheus Gal­iza, desta­cou que leva ape­nas dois min­u­tos para uma pes­soa que ten­ha sin­tomas semel­hantes aos da covid-19 ou que ten­ha recen­te­mente tes­ta­do pos­i­ti­vo para o vírus, doar sua tosse, por meio de um smart­phone ou com­puta­dor. Recomen­dou que qual­quer brasileiro que ten­ha sin­tomas semel­hantes doe uma tosse por meio de um smart­phone ou com­puta­dor. “Ao faz­er isso, você estará aju­dan­do dire­ta­mente a acabar com a pan­demia”, final­i­zou.

Edição: Kle­ber Sam­paio

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