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Após retomada, Samarco diz que alcançar patamar anterior levará 9 anos

Entrada da mineradora Samarco.
© Tânia Rêgo/Agência Bra­sil

Produção de minério de ferro voltará gradualmente a níveis anteriores


Publi­ca­do em 28/12/2020 — 21:30 Por Leo Rodri­gues — Repór­ter da Agên­cia Bra­sil — Rio de Janei­ro

A mine­ra­do­ra Samar­co esti­ma que somen­te em 2029 deve­rá alcan­çar uma esca­la de pro­du­ção entre 22 e 24 milhões de tone­la­das de miné­rio de fer­ro por ano. Este é o pata­mar em que ela esta­va antes da tra­gé­dia de Mari­a­na (MG), decor­ren­te do rom­pi­men­to da bar­ra­gem de Fun­dão ocor­ri­da em novem­bro de 2015, que cau­sou a mor­te de 19 pes­so­as e impac­tos ambi­en­tais e soci­o­e­conô­mi­cos ao lon­go de deze­nas de muni­cí­pi­os da bacia do Rio Doce.

Na últi­ma quar­ta-fei­ra (23), pou­co mais de cin­co anos após o epi­só­dio, a mine­ra­do­ra rei­ni­ci­ou a pro­du­ção por meio das ati­vi­da­des inte­gra­das em seus dois com­ple­xos ope­ra­ci­o­nais: um em Mari­a­na (MG), onde ocor­re a extra­ção e o bene­fi­ci­a­men­to do miné­rio de fer­ro, e outro em Anchi­e­ta (ES), no qual é fei­ta a pelo­ti­za­ção.

Em 2014, no ano ante­ri­or ao rom­pi­men­to, a Samar­co pro­du­ziu apro­xi­ma­da­men­te 25 milhões de tone­la­das de miné­rio de fer­ro. A mine­ra­do­ra esti­ma que suas ins­ta­la­ções pos­su­em poten­ci­al para che­gar a 30 milhões de tone­la­das por ano. Nes­se pri­mei­ro momen­to após a reto­ma­da, será uti­li­za­da 26% da capa­ci­da­de total: a expec­ta­ti­va é de uma pro­du­ção entre 7 e 8 milhões de tone­la­das por ano.

Por ora, ape­nas um dos seus três con­cen­tra­do­res entrou em ope­ra­ção. O aumen­to da pro­du­ção depen­de­rá do aval dos órgãos ambi­en­tais res­pon­sá­veis pela emis­são das licen­ças e da apro­va­ção dos aci­o­nis­tas. A pre­vi­são é de que o segun­do con­cen­tra­dor come­ce a ope­rar em seis anos, e o ter­cei­ro em nove anos.

Paralisação

Todas ati­vi­da­des da mine­ra­do­ra esta­vam sus­pen­sas des­de a tra­gé­dia. Duran­te o perío­do de para­li­sa­ção, foram nego­ci­a­dos com os fun­ci­o­ná­ri­os uma série de medi­das, como féri­as cole­ti­vas, sus­pen­são de con­tra­to de tra­ba­lho, pro­gra­mas de demis­são volun­tá­ria (PDVs).

A Samar­co che­gou a pla­ne­jar a vol­ta para 2017 e depois para 2018, mas após suces­si­vos con­tra­tem­pos, parou de divul­gar esti­ma­ti­vas. Diver­sas obras foram neces­sá­ri­as para se obter a Licen­ça Ope­ra­ci­o­nal Cor­re­ti­va (LOC), que res­ta­be­le­ce todas as licen­ças que foram sus­pen­sas pela Secre­ta­ria de Meio Ambi­en­te e Desen­vol­vi­men­to Sus­ten­tá­vel de Minas Gerais (Semad). Além dis­so, foi soli­ci­ta­da ao Ins­ti­tu­to Bra­si­lei­ro do Meio Ambi­en­te e dos Recur­sos Natu­rais Reno­vá­veis (Iba­ma) uma licen­ça uni­fi­ca­da com vali­da­de de 10 anos para ope­ra­ção dos três mine­ro­du­tos que inter­li­gam os com­ple­xos situ­a­dos em Mari­a­na e em Anchi­e­ta.

Hou­ve ain­da desen­ten­di­men­tos com a pre­fei­tu­ra de San­ta Bár­ba­ra (MG), que impos­si­bi­li­tou a mine­ra­do­ra de con­ti­nu­ar a rea­li­zar uma cap­ta­ção de água no muni­cí­pio. Pres­si­o­na­da pelo Minis­té­rio Públi­co de Minas Gerais (MPMG), a mine­ra­do­ra tam­bém con­cor­dou com a con­tra­ta­ção de uma audi­to­ria téc­ni­ca inde­pen­den­te para acom­pa­nhar a reto­ma­da das ati­vi­da­des.

Reparação lenta

O pro­ces­so de repa­ra­ção dos pre­juí­zos da tra­gé­dia, con­tu­do, ain­da tem diver­sos gar­ga­los. No mês pas­sa­do, no balan­ço de cin­co anos do epi­só­dio, o MP-MG e o Minis­té­rio Públi­co Fede­ral (MPF) lamen­ta­ram que nenhu­ma das medi­das foi inte­gral­men­te con­cluí­da até o momen­to: as obras para recons­tru­ção das comu­ni­da­des des­truí­das per­ma­ne­cem em anda­men­to e a mai­or par­te das inde­ni­za­ções ain­da não foi paga. As ações estão a car­go da Fun­da­ção Reno­va, cri­a­da con­for­me acor­do fir­ma­do após a tra­gé­dia entre a Samar­co, suas aci­o­nis­tas Vale e BHP Bil­li­ton, o gover­no fede­ral e os gover­nos de Minas Gerais e do Espí­ri­to San­to.

O MPMG e o MPF enten­dem que a enti­da­de não pos­sui, na prá­ti­ca, a auto­no­mia neces­sá­ria fren­te às mine­ra­do­ras. Em diver­sas oca­siões nos últi­mos anos, pro­mo­to­res e pro­cu­ra­do­res defen­de­ram que as licen­ças para a reto­ma­da só fos­sem con­ce­di­das após a qui­ta­ção inte­gral das inde­ni­za­ções indi­vi­du­ais. Essa tam­bém era a cobran­ça dos atin­gi­dos. “O lucro dos aci­o­nis­tas sem­pre este­ve à fren­te da pro­te­ção da vida e do meio ambi­en­te ame­a­ça­do por seus empre­en­di­men­tos”, pos­tou em suas redes o Movi­men­to dos Atin­gi­dos por Bar­ra­gem (MAB), quan­do a LOC foi con­ce­di­da em outu­bro de 2019.

Segun­do a Samar­co, embo­ra já pudes­se vol­tar a ope­rar no ano pas­sa­do, optou-se por aguar­dar a con­clu­são da imple­men­ta­ção de um novo sis­te­ma e de novos pro­ces­sos de dis­po­si­ção de rejei­tos. Para tan­to foram fei­tas obras na Cava de Ale­gria do Sul, que tive­ram iní­cio em 2018, e a ins­ta­la­ção da plan­ta de fil­tra­gem a seco. Não have­rá mais uso de bar­ra­gem. A mine­ra­do­ra sus­ten­ta que ado­tou novas tec­no­lo­gi­as para garan­tir segu­ran­ça e sus­ten­ta­bi­li­da­de e afir­ma que 80% do total de rejei­tos gera­dos após o bene­fi­ci­a­men­to serão empi­lha­dos a seco.

“Os 20% de resí­du­os rema­nes­cen­tes, com­pos­tos por água e [resí­du­os] finos de miné­rio, serão leva­dos para a Cava Ale­gria Sul, um espa­ço con­fi­na­do em uma estru­tu­ra de for­ma­ção natu­ral rocho­sa que aumen­ta a segu­ran­ça. No sis­te­ma de fil­tra­gem de rejei­tos, espe­ra-se que toda a água extraí­da seja reu­ti­li­za­da nas ope­ra­ções, refor­çan­do as prá­ti­cas de sus­ten­ta­bi­li­da­de ino­va­do­ras dos pro­ces­sos da Samar­co”, diz em nota a mine­ra­do­ra.

Edi­ção: Pedro Ivo de Oli­vei­ra

Agên­cia Bra­sil / EBC


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