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Apresentadora Eliana Alves Cruz assume comando do Trilha de Letras

Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Jornalista estará à frente da 4ª temporada do programa da TV Brasil


Pub­li­ca­do em 05/10/2023 — 07:30 Por Mar­i­ana Tokar­nia — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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A jor­nal­ista, escrito­ra e roteirista Eliana Alves Cruz assume a nova tem­po­ra­da do pro­gra­ma Tril­ha de Letras, da TV Brasil. A par­tir deste mês, ela irá con­duzir con­ver­sas com autores, edi­tores, críti­cos e com quem faz parte do mun­do do livro. O pro­gra­ma debaterá temas atu­ais por meio da lit­er­atu­ra, sem­pre com con­vi­da­dos difer­entes.

Eliana é auto­ra dos romances Água de Bar­rela (2016), O Crime do Cais do Val­on­go (2018), Nada Digo de Ti, que em Ti não Veja (2020) e Solitária (2022). Com o romance de estreia, venceu a primeira edição do Prêmio Literário Oliveira Sil­veira, ofer­e­ci­do pela Fun­dação Cul­tur­al Pal­mares em 2015. Pelo primeiro livro de con­tos, A Vesti­da, rece­beu o Prêmio Jabu­ti 2022.

Na car­reira como jor­nal­ista, ela tem uma exten­sa exper­iên­cia em relações públi­cas e em grandes even­tos, tra­bal­han­do com comu­ni­cação e esportes olímpi­cos. Cobriu mais de 20 campe­onatos mundi­ais, três Olimpíadas e orga­ni­zou a área de impren­sa de mais de 20 even­tos inter­na­cionais no Brasil.

Em 2010, em bus­ca da história da própria família, Eliana mer­gul­hou em cin­co anos de estu­do, que resul­taram em Água de Bar­rela, romance que mar­ca a entra­da dela no mun­do da lit­er­atu­ra com escrito­ra – já que como leito­ra, ela já fazia parte desse mun­do des­de cri­ança. Eliana con­ta que a car­reira como escrito­ra começou com uma sim­ples e insti­gante per­gun­ta: “Por que não?”, que, segun­do ela, é algo que todos pre­cisam se per­gun­tar algum dia na vida.

“Eu acho que a lit­er­atu­ra sem­pre fez parte da min­ha vida, mas eu não me enx­er­ga­va como pro­du­to­ra de lit­er­atu­ra, como alguém que estivesse ali por trás da cane­ta, como escrito­ra. Isso acon­te­ceu para mim em um momen­to de neces­si­dade, de me enten­der como ser humano, de me enten­der como mul­her negra nes­sa sociedade tão com­pli­ca­da e tão vio­len­ta conosco. Eu vi que eu tin­ha uma história den­tro da min­ha casa que não exis­tia nos nos­sos livros. Eu resolvi escr­ev­er essa história. Por que não? Essa per­gun­ta do ‘por que não?’ a gente tem que faz­er um dia na vida”, con­ta.

Eliana Alves Cruz, que já foi entre­vis­ta­da pelo Tril­ha de Letras, ago­ra chega ao pro­gra­ma como apre­sen­ta­do­ra, afi­nal, por que não?  “É um pro­gra­ma que é muito necessário porque ele é úni­co. É o úni­co pro­gra­ma da TV aber­ta sobre lit­er­atu­ra”, diz e acres­cen­ta: “Eu estou real­mente muito feliz de faz­er parte da história do Tril­ha de Letras e estar apre­sen­tan­do o pro­gra­ma em um momen­to tão espe­cial e históri­co do Brasil, de retoma­da de tan­tas coisas.”

Tril­ha de Letras bus­ca debater os temas mais atu­ais dis­cu­ti­dos pela sociedade por meio da lit­er­atu­ra. A cada edição, o pro­gra­ma recebe um con­vi­da­do difer­ente. O Tril­ha foi cri­a­do em 2016 por Emília Fer­raz, atu­al dire­to­ra do pro­gra­ma. O primeiro episó­dio foi ao ar em abril de 2017.

Rio de Janeiro (RJ), 04/10/2023 – A escritora e apresentadora Eliane Cruz durante gravação do programa Trilha das Letras, da TV Brasil. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: A escrito­ra e apre­sen­ta­do­ra Eliana Alves Cruz durante gravação do pro­gra­ma Tril­ha de Letras, da TV Brasil — Tomaz Silva/Agência Brasil

TV Brasil já exibiu três tem­po­radas do pro­gra­ma e rece­beu mais 200 con­vi­da­dos nacionais e estrangeiros. As duas primeiras tem­po­radas foram apre­sen­tadas pelo escritor Raphael Montes. A ter­ceira, pela jor­nal­ista da Empre­sa Brasil de Comu­ni­cação (EBC) Katy Navar­ro. Eliana assume a quar­ta tem­po­ra­da. Uma das novi­dades é o quadro de indi­cações de leitu­ra que será feito por book­tu­bers, ou seja, pro­du­tores de vídeos com con­teú­do literário na inter­net.

“A expec­ta­ti­va para esta tem­po­ra­da é que o Tril­ha de Letras con­tin­ue abrindo os cam­in­hos da lit­er­atu­ra para os espec­ta­dores da TV Brasil. Acred­i­ta­mos que a função da TV públi­ca é estim­u­lar a cul­tura, o pen­sa­men­to e for­mar leitores”, diz Emília Fer­raz. A dire­to­ra ante­ci­pa que Eliana Alves Cruz trará “con­ver­sas infor­mais e ínti­mas com os entre­vis­ta­dos, para o deleite dos espec­ta­dores”.

A jor­nal­ista diz estar gostan­do da exper­iên­cia: “Está sendo muito lin­do ouvir as pes­soas, ver o que elas têm para diz­er, con­hecer o proces­so delas. A gente aprende, é um acrésci­mo de ener­gia, de ener­gia vital. Quem está gan­han­do sou eu.”

A apre­sen­ta­do­ra con­ver­sou com a Agên­cia Brasil após a gravação de um dos episó­dios do Tril­ha de Letras. Leia abaixo os prin­ci­pais tre­chos da entre­vista:

Agên­cia Brasil: O que podemos esper­ar da nova tem­po­ra­da do Tril­ha de Letras e como está sendo assumir a apre­sen­tação do pro­gra­ma?
Eliane Alves Cruz: O Tril­ha de Letras é um pro­gra­ma que eu acom­pan­ha­va antes de ter sido inter­rompi­do. Eu mes­ma já fui entre­vis­ta­da por ele. É um pro­gra­ma que é muito necessário porque ele é úni­co. É o úni­co pro­gra­ma da TV aber­ta sobre lit­er­atu­ra. Ele é real­mente necessário. Nes­ta tem­po­ra­da, a ideia é traz­er a maior diver­si­dade pos­sív­el de autores e de pes­soas do uni­ver­so do livro, não nec­es­sari­a­mente sejam autores, mas edi­tores, críti­cos. À medi­da que o pro­gra­ma for cam­in­han­do, a gente quer faz­er um painel do que é lit­er­atu­ra brasileira con­tem­porânea, tan­to na for­ma quan­to no con­teú­do. Eu estou real­mente muito feliz de faz­er parte da história do Tril­ha de Letras e estar apre­sen­tan­do o pro­gra­ma em um momen­to tão espe­cial e históri­co do Brasil, de retoma­da de tan­tas coisas.

Agên­cia Brasil: Ago­ra você faz parte da TV Brasil. Como é estar nesse espaço da comu­ni­cação públi­ca?
Eliane Alves Cruz: Eu, como escrito­ra, sou fru­to de uma políti­ca públi­ca de cul­tura. Eu gan­hei o con­cur­so da Fun­dação Cul­tur­al Pal­mares em 2015 e foi graças a esse con­cur­so que hoje sou escrito­ra. Então, eu acho que é uma for­ma de ret­ribuir o tan­to que uma políti­ca pub­li­ca pode faz­er por alguém. Eu acho que me desco­briu como auto­ra e desco­briu muitos tal­en­tos em out­ras áreas. Mas não é a úni­ca coisa que a esfera públi­ca pode faz­er pelo cidadão, pela cidadã brasileira. Eu acho que é uma obri­gação do Esta­do, sim, fomen­tar, incen­ti­var, divul­gar, porque isso traz vida. Isso é na ver­dade a nos­sa impressão dig­i­tal. A cul­tura é a impressão dig­i­tal de um povo, é o que nos colo­ca no mun­do como povo brasileiro.

Agên­cia Brasil: Eliana, você é jor­nal­ista de for­mação, com uma grande atu­ação na área. Como você entra na lit­er­atu­ra e quan­do o lado de escrito­ra começa a gan­har espaço?
Eliane Alves Cruz: Eu acho que a lit­er­atu­ra sem­pre esteve na min­ha vida. A min­ha mãe era pro­fes­so­ra do ensi­no fun­da­men­tal e ela me alfa­bet­i­zou e muito lendo os livros para mim e comi­go. Então eu acho que des­de aí é o começo da paixão pelos livros. Meu pai sem­pre gos­tou muito de ler e incen­tivou que a gente cul­ti­vasse esse hábito. Eu acho que a lit­er­atu­ra sem­pre fez parte da min­ha vida, mas eu não me enx­er­ga­va como pro­du­to­ra de lit­er­atu­ra, como alguém que estivesse ali por trás da cane­ta, como escrito­ra. Isso acon­te­ceu para mim em um momen­to de neces­si­dade, de me enten­der como ser humano, de me enten­der como mul­her negra nes­sa sociedade tão com­pli­ca­da e tão vio­len­ta conosco. Eu vi que eu tin­ha uma história den­tro da min­ha casa que não exis­tia nos nos­sos livros. Eu resolvi escr­ev­er essa história, por que não? Essa per­gun­ta do “por que não?” a gente tem que faz­er um dia na vida. Des­de 2010, eu come­cei a pesquis­ar sobre a min­ha própria história e a fic­cional­izei no livro Água de Bar­rela. Com esse livro, que ter­minei em 2015, gan­hei o con­cur­so da Fun­dação Pal­mares e aí come­cei real­mente, de fato, min­ha car­reira de escrito­ra. Mas, eu ten­ho um tex­to que publiquei no ano pas­sa­do, um tex­to infan­til, que existe des­de os meus 18 anos. É isso, a gente não é escritor, não se faz assim do dia para a noite. Na ver­dade, é a coroação de uma vida, de uma tra­jetória e de uma história.

Agên­cia Brasil: Uma das coisas que o Tril­ha de Letras traz é o basti­dor da escri­ta. Como é o seu basti­dor? Como é o seu proces­so de cri­ação, esse pas­so a pas­so até chegar a um livro pron­to?
Eliane Alves Cruz: Cada livro é um proces­so difer­ente, então, eu ten­ho vários proces­sos difer­entes. Ess­es livros históri­cos deman­dam mui­ta pesquisa porque tratam de real­i­dades nas quais a gente não está mais inseri­da. O mun­do andou, a história andou, é pre­ciso voltar para o ban­co esco­lar e estu­dar um pouco. Eu estudei muito. Pesqui­sei o sécu­lo 19, estudei uma série de coisas para poder cri­ar a ambi­en­tação dessas histórias que são Água de Bar­relaO Crime do Cais do Val­on­go e Nada Digo de Ti que em Ti não Veja. São histórias que se pas­sam em sécu­los pas­sa­dos. Solitária é um livro con­tem­porâ­neo, bem con­tem­porâ­neo, e aí traz out­ra difi­cul­dade porque a gente está inseri­do ali den­tro daque­la temáti­ca e não tem o dis­tan­ci­a­men­to para olhar para aqui­lo. Mas tam­bém é out­ro desafio inter­es­sante, escr­ev­er no olho do furacão. Foi muito inten­so. Muito inten­so mes­mo. Cada livro é um proces­so difer­ente. Eu sou uma pes­soa que gos­ta de escr­ev­er com músi­ca, a músi­ca me inspi­ra, eu orga­ni­zo as infor­mações. Eu procuro per­son­agens da vida real que se pareçam com meus per­son­agens da ficção, para eu obser­var como andam, como falam, o que dizem. Por exem­p­lo, para escr­ev­er o Água de Bar­rela, eu li os autores do sécu­lo 19, para ver um pouco da lín­gua. Não que eu vá exata­mente usar o por­tuguês da época. Às vezes você traz uma palavra que era dita e que não está no nos­so usu­al, e isso já leva o leitor para out­ro sécu­lo. O fato de eu usar vos­mecê já leva a pes­soa para out­ro lugar, out­ro tem­po, out­ro lugar do tem­po. Para mim, isso tudo é muito fasci­nante. Eu gos­to de ler, gos­to de pesquis­ar e cada vez eu sin­to que vou refi­nan­do esse proces­so.

Agên­cia Brasil: Quais são suas refer­ên­cias?
Eliane Alves Cruz: Ih, tan­ta gente. É uma per­gun­ta muito difí­cil. Ess­es autores todos de sécu­los pas­sa­dos como Macha­do de Assis e Lima Bar­reto. Tan­ta gente que nos for­mou. Maria Firmi­na dos Reis, emb­o­ra a gente a ten­ha descober­to como essa primeira auto­ra [negra brasileira] ape­nas mais tarde. A gente não lê Maria Firmi­na nos ban­cos esco­lares, mas é uma auto­ra muito inter­es­sante porque ela fala de um lugar e é muito cora­josa. Ten­ho hoje muitas autoras negras que me inspi­ram, tan­to no Brasil como fora: Con­ceição Evaris­to, Miri­am Alves, Geni Guimarães, e min­has con­tem­porâneas, como Ana Maria Gonçalves. De fora, Tere­sa Cár­de­nas, que é uma auto­ra cubana que eu gos­to muito, Toni Mor­ri­son, Alice Walk­er, bell hooks, são refer­ên­cias. É um mon­tão de gente. É até com­pli­ca­do a gente dar nome. Sabe que eu gos­to de ler con­tos rus­sos? Ess­es caras, ess­es con­tis­tas todos, eles fazem do nada, de algu­ma coisa abso­lu­ta­mente banal, uma história genial. Eu acho que é muito bacana a gente apren­der essa téc­ni­ca, essa for­ma de falar sobre o aparente­mente banal, isso me atrai. Os meus per­son­agens, na maio­r­ia dos meus livros, todos são pes­soas comuns que estão fazen­do a história e são teste­munhas da história.

Agên­cia Brasil: Eu pude acom­pan­har a gravação de um dos episó­dios e foi muito inter­es­sante obser­var alguém que entende muito de lit­er­atu­ra e que está inseri­da nesse uni­ver­so fazen­do per­gun­tas a out­ros autores. Con­ta um pouquin­ho dos basti­dores para nós, como é esse preparo?
Eliane Alves Cruz: A equipe é mar­avil­hosa. A equipe faz um roteiro óti­mo e eu con­tribuo com o que eu sei do autor. É um diál­o­go inter­es­sante porque a gente faz as per­gun­tas e tem von­tade de respon­der. É muito inter­es­sante isso. Mas é tam­bém um exer­cí­cio. O exer­cí­cio da escu­ta é muito necessário. A gente tem mui­ta tendên­cia de quer­er falar o tem­po todo, então, está sendo muito lin­do ouvir as pes­soas, ver o que elas têm para diz­er, con­hecer o proces­so delas. A gente aprende, é um acrésci­mo de ener­gia, de ener­gia vital. Quem está gan­han­do sou eu.

Edição: Juliana Andrade

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