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Ariel Nobre usa arte para chamar atenção para violência contra trans

Repro­sução: © Joao Bertholini/ Divul­gação

Comunicador diz que é necessário ampliar políticas de inclusão


Pub­li­ca­do em 30/01/2024 — 07:30 Por Mar­i­ana Tokar­nia — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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“Pre­ciso diz­er que te Amo”. Essa frase é escri­ta de for­ma cotid­i­ana pelo artista e comu­ni­cador Ariel Nobre. Foi com ela que Ariel “sobre­viveu ao suicí­dio”, como ele mes­mo descreve. “No últi­mo segun­do, eu lem­brei de reg­is­trar o que seri­am as min­has últi­mas palavras. Com certeza, eu estou vivo hoje por con­ta da min­ha capaci­dade de pro­duzir poe­sia”, diz.

A história está reg­istra­da no filme cur­ta-metragem Pre­ciso Diz­er que Te Amodisponív­el online. O filme pas­sou por mais de 30 fes­ti­vais, tan­to no Brasil quan­to no exte­ri­or, obten­do recon­hec­i­men­to do públi­co no Fes­ti­val Inter­na­cional de Cur­tas Metra­gens de São Paulo, além de ter sido eleito o mel­hor cur­ta no fes­ti­val Goiâ­nia Mostra de Cur­tas e ter rece­bido indi­cação ao Grande Prêmio de Cin­e­ma Brasileiro. O pro­je­to tam­bém se trans­for­mou em cam­pan­ha de pre­venção de suicí­dio de home­ns trans.

“O Pre­ciso Diz­er que Te Amo é uma exten­são da min­ha existên­cia e con­ta como me tornei quem sou a par­tir da min­ha per­spec­ti­va e de com­pan­heires de jor­na­da”, diz, ao acres­cen­tar: “Essa é a men­sagem que eu ten­ho para diz­er para mim mes­mo em públi­co.”

Por meio da arte, Ariel Nobre chama atenção para uma real­i­dade que não é ape­nas a dele. O Brasil é o país que mais mata pes­soas LBGTQIA+ no mun­do. O número de pes­soas lés­bi­cas, gays, bis­sex­u­ais, tran­sex­u­ais, queer, inter­sex­u­ais, assex­u­ais e out­ras foram assas­si­nadas no Brasil em 2022 man­tém o país no topo mundi­al entre aque­les que real­izam pesquisas sobre esse tipo de vio­lên­cia. Foram 242 homicí­dios – ou uma morte a cada 34 horas –, além de 14 suicí­dios.

Dados como estes tam­bém der­am origem a out­ra obra de Ariel Nobre, 14 car­tas escritas para 14 líderes. Em 2023, pela 14ª vez, o Brasil foi o país com o maior número de assas­si­natos de trans, segun­do lev­an­ta­men­tos da orga­ni­za­ção não gov­er­na­men­tal (ONG) suíça Trans Gen­der Europe, con­fir­ma­dos pela Asso­ci­ação Nacional de Trav­es­tis e Tran­sex­u­ais (Antra). Foram 131 trans e trav­es­tis assas­si­na­dos no país em 2022.

Nobre escreveu, então, 14 car­tas à mão para líderes influ­entes da indús­tria da comu­ni­cação, para sen­si­bi­lizá-los sobre a importân­cia da for­mação de líderes trans. Um reg­istro com o teor da car­ta tam­bém está disponív­el online. “Me sin­to injustiça­do quan­do dizem que pes­soas como eu destroem famílias. O que eu mais quero é ser e ter família. E ape­sar de tudo acred­i­to que sou dig­no de vida, tra­bal­ho e amor”, diz um tre­cho da car­ta, que chama atenção para o mer­ca­do exclu­dente de tra­bal­ho e para a neces­si­dade de políti­cas de inclusão nas empre­sas.

Mais vozes trans

Ariel Nobre defende não ape­nas um mer­ca­do cor­po­ra­ti­vo mais inclu­si­vo, mas tam­bém medi­das inclu­si­vas na área das artes. O filme Pre­ciso Diz­er que Te Amo foi real­iza­do, por exem­p­lo, por con­ta de um edi­tal que tin­ha cotas para pes­soas trans. O artista con­ta que, na época, ele com­par­til­ha­va a própria história no Face­book e chegou a ser procu­ra­do por jor­nal­is­tas e out­ros profis­sion­ais inter­es­sa­dos em repro­duzir essa história.

“Eu com­par­til­hei min­ha história muitas vezes, mas, depois de um ano, eu vi que eu esta­va com os mes­mos prob­le­mas. Eu con­tei, con­tei min­ha história, algu­mas pes­soas gan­haram prêmio de jor­nal­is­mo, gan­haram prêmio de out­ras áreas, e eu não. Eu con­tin­uei ten­do os mes­mos prob­le­mas. Foi aí que eu pen­sei, eu não ten­ho um real, eu não sei como vai ser a min­ha vida no mês que vem, estou no lim­ite da sobre­vivên­cia, mas eu pre­ciso enten­der que a min­ha história tem val­or, porque essas pes­soas estão con­tan­do a min­ha história e elas estão gan­han­do prêmio”, rela­ta.

Para ele, é muito impor­tante que as pes­soas trans pos­sam elas mes­mas con­tar as próprias histórias, defend­er os próprios inter­ess­es, ocu­par car­gos de lid­er­ança. Para que isso acon­teça, são necessárias prin­ci­pal­mente políti­cas públi­cas, além de políti­cas pri­vadas, como a inclusão em empre­sas.

“Então, eu enten­di que eu pre­cisa­va con­tar a min­ha história e eu pre­cisa­va lucrar com a min­ha história. E a par­tir daí eu enten­di, assim, eu parei tudo o que eu esta­va fazen­do para esse edi­tal e nesse proces­so tam­bém de con­tar a história, eu enten­di que a min­ha história pas­sa­va por out­ras histórias”, acres­cen­ta ele.

Segun­do Nobre, com mais inclusão e mais vis­i­bil­i­dade, o Brasil pas­sará a ter con­ver­sas, muitas vezes difí­ceis, mas necessárias. “A gente está adian­do essa con­ver­sa e, quan­do a gente adia essa con­ver­sa, a gente está adian­do vidas, a gente está adian­do dig­nidade, a gente está adian­do abraços, a gente está adian­do edu­cação, sabe? A gente está adian­do a rec­on­cil­i­ação que o Brasil merece, que as famílias mere­cem”, defende.

Para o comu­ni­cador, quan­to mais opor­tu­nidade as pes­soas trans tiverem de con­tar as próprias histórias a par­tir da própria per­spec­ti­va, “vai ser mais difí­cil expul­sar a gente de casa”. “Vai ser mais difí­cil, sabe? Quan­to mais as mães e os pais, os cuidadores ouvirem as con­ver­sas de o que acon­te­ceu depois: Dia 1 — expul­so de casa, Dia 2 … Um mês, dois meses e todas as con­se­quên­cias emo­cionais e econômi­cas daqui­lo, daque­les trau­mas, quan­to mais mães e pais ouvirem essas notí­cias, mais difí­cil vai ser de expul­sar de casa”, diz.

Para mar­car a vis­i­bil­i­dade trans, cuja data é 29 de janeiro, a Agên­cia Brasil pub­li­ca histórias de cin­co artis­tas trans na série Trans­for­man­do a Arte, que segue até o dia 31 de janeiro.

Edição: Juliana Andrade

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