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Aroma do café pode ser instrumento para reduzir tabagismo

Repro­dução: © Mar­cel­lo Casal Jr / Agên­cia Brasil

Pesquisadores brasileiros fazem estudo preliminar com 60 fumantes


Publicado em 04/06/2024 — 08:02 Por Alana Gandra — Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

 O aro­ma praze­roso do café pode ser ele­men­to impor­tante para reduzir o vício do tabag­is­mo. Essa foi a con­clusão de estu­do pre­lim­i­nar de pesquisadores brasileiros com 60 fumantes, dos quais 30 inalaram fra­grân­cia de aro­ma de pó de café e metade voltou a fumar.

Os pesquisadores do Insti­tu­to D’Or de Pesquisa e Ensi­no (IDOR) desco­bri­ram, em 2014, que a fra­grân­cia do café ati­va uma região especí­fi­ca no cére­bro, que faz parte do sis­tema de rec­om­pen­sas, em espe­cial o núcleo acum­bens, estru­tu­ra cere­bral que é ati­va­da tam­bém com sub­stân­cias psi­coa­t­i­vas, como a cocaí­na. “Esse sis­tema de rec­om­pen­sas é ati­va­do com ativi­dades praze­rosas como, por exem­p­lo, escu­tar músi­ca, ter relações sex­u­ais, tudo que dá praz­er, beber água inclu­sive, mas tam­bém é um sis­tema que pode ser mal uti­liza­do por meio de sub­stân­cias psi­coa­t­i­vas”, con­fir­mou a pesquisado­ra do IDOR e dire­to­ra cien­tí­fi­ca da Café Con­sciên­cia, start­up de biotec­nolo­gia par­ceira do insti­tu­to, Sil­via Oigman.

Como o café ativou de for­ma inten­sa essa região do cére­bro, os pesquisadores decidi­ram uti­lizar o aro­ma do café para sub­sti­tuir a von­tade de fumar dos par­tic­i­pantes de um segun­do ensaio clíni­co pequeno, feito com 16 fumantes, em 2016. Esse ensaio serviu de base para o estu­do mais amp­lo, real­iza­do em 2022, com 60 fumantes, cujos resul­ta­dos foram divul­ga­dos ago­ra.

Resultados

Sil­via Oigman infor­mou nes­sa segun­da-feira (3) que da metade dos 60 fumantes expos­tos à fra­grân­cia do aro­ma do café, 50% fumaram logo depois que ocor­reu a inter­venção. Entre a out­ra metade dos par­tic­i­pantes, que não inalou a fra­grân­cia do café, mas uma fra­grân­cia neu­tra à base de sabão, 73,3% voltaram a fumar. “Foi um número expres­si­vo, mas não é sig­ni­fica­ti­vo. Na práti­ca, não hou­ve difer­ença estatís­ti­ca. Mas é um resul­ta­do con­sid­er­a­do indi­cador de poten­cial dessa abor­dagem, inclu­sive porque era um ensaio clíni­co pilo­to. A gente esta­va fazen­do um estu­do prévio com a fra­grân­cia do pó do café. Não é a fra­grân­cia final que a gente espera empre­gar para um paciente de fato”, expli­cou Sil­via.

Segun­do Sil­via, o ensaio clíni­co foi impor­tante para os pesquisadores encon­trarem questões a serem resolvi­das e faz­er um novo ensaio de maior porte. O ensaio clíni­co foi con­duzi­do durante seis meses. “Não foi tão rápi­do como a gente gostaria. Quan­do a gente lida com fra­grân­cias, como o pó de café e o vin­ho, eles per­dem muitos voláteis. Ain­da que o armazena­men­to e toda a entre­ga ten­ham sido mon­i­tora­dos e feitos da mel­hor for­ma pos­sív­el, cai a qual­i­dade pelo tem­po”, disse a pesquisado­ra do IDOR. Esse foi um aspec­to que pode ter prej­u­di­ca­do o desem­pen­ho da fra­grân­cia. “É nesse aspec­to que a gente está pre­tenden­do atu­ar”.

A pesquisa rece­beu inves­ti­men­tos de R$ 373 mil da Fun­dação Car­los Cha­gas Fil­ho de Amparo à Pesquisa do Esta­do do Rio de Janeiro (Faperj).

Formulação terapêutica

O pro­je­to final visa a uti­lizar a fra­grân­cia do café para redução do dese­jo de con­sumo do taba­co por usuários crôni­cos. Sil­via afir­mou que a ideia é avançar ain­da mais e dar con­tinuidade ao pro­je­to. “A gente enten­deu o resul­ta­do obti­do como um indi­cador de poten­cial”. Os pesquisadores estão desen­vol­ven­do ago­ra uma for­mu­lação ter­apêu­ti­ca à base de voláteis de café e vão adap­tá-la em dis­pos­i­ti­vo eletrôni­co, para realizar novo ensaio clíni­co com maior número de fumantes. “Ain­da há alguns pas­sos até isso ser feito”. A expec­ta­ti­va é que essa nova fase do pro­je­to seja real­iza­da antes de 2026. A abor­dagem mul­ti­dis­ci­pli­nar é con­duzi­da por espe­cial­is­tas brasileiros em diver­sas áreas.

Sil­via descon­hece a existên­cia de out­ros gru­pos de pesquisa que usem a inalação inócua do aro­ma do café como ati­vador do sis­tema de rec­om­pen­sa para fins med­i­c­i­nais. Os resul­ta­dos obti­dos até ago­ra levaram o grupo a deposi­tar e ter con­ce­di­das nove patentes nos Esta­dos Unidos, Europa e Ásia. Mais três patentes estão em anda­men­to no Brasil, na Aus­trália e no Canadá.

De acor­do com as últi­mas esti­ma­ti­vas do relatório de tendên­cias de taba­co da Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde (OMS), divul­ga­do em janeiro deste ano, há em todo o mun­do 1,25 bil­hão de adul­tos usuários de taba­co. O vício de fumar mata mais de 8 mil­hões de pes­soas anual­mente, sendo mais de 7 mil­hões dessas mortes resul­ta­do do uso dire­to do taba­co, enquan­to mais de 1,2 mil­hão das mortes são de fumantes pas­sivos.

Edição: Graça Adju­to

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