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Artistas apontam uso indevido de obras visuais em desfile da Portela

Repro­dução: © de.saturno/Instagram

Carnavalesco reconhece que houve falha de comunicação


Pub­li­ca­do em 14/02/2024 — 17:12 Por Bruno de Fre­itas Moura — Repórter da Agên­cia Brasil  — Rio de Janeiro

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Dois artis­tas visuais usaram as redes soci­ais nes­ta quar­ta-feira de cin­zas (14) para apon­tar que a esco­la de sam­ba Portela usou obras cri­adas por eles sem a dev­i­da autor­iza­ção. A azul e bran­ca de Madureira, bair­ro do sub­úr­bio do Rio, lev­ou para o sam­bó­dro­mo da Mar­ques de Sapu­caí o enre­do “Um defeito de cor”, basea­do no livro homôn­i­mo de Ana Maria Gonçalves.

No romance, Kehinde, mul­her escrav­iza­da na África, que viveu boa parte da vida no Brasil, procu­ra um fil­ho per­di­do, que seria Luiz Gama, abo­l­i­cionista, jor­nal­ista, poeta e advo­ga­do brasileiro.

O artista visu­al Tia­go Sant’Ana fez uma pub­li­cação no Insta­gram  em que afir­ma ter sido sur­preen­di­do ao notar uma escul­tura semel­hante ao seu tra­bal­ho “Fluxo e refluxo (bar­co de açú­car)”.

“Não pude deixar de obser­var, com sur­pre­sa, num dos tripés da esco­la de sam­ba, uma com­posição escultóri­ca semel­hante ao meu tra­bal­ho. Não há nen­hum reg­istro for­mal por parte da esco­la de se tratar de uma citação/referência/inspiração à min­ha obra”, escreveu.

Artistas apontam uso indevido de obras visuais em desfile da Portela. Publicação do artista Tiago Sant'Ana. Foto: Tiago Sant'Ana/Instagram
Repro­dução: Pub­li­cação do artista Tia­go San­t’Ana. Foto:  Tia­go Sant’Ana/Instagram

“Nem mes­mo no livro Abre Alas, pub­li­cação onde os car­navale­scos descrevem as suas con­cepções para os des­files, há qual­quer menção”, com­ple­men­ta.

Sant’Ana lem­bra ain­da que o tra­bal­ho artís­ti­co em questão fez parte de uma exposição de fan­tasias da Portela expos­ta no Museu de Arte do Rio (MAR). O artista afir­ma na pub­li­cação que o tra­bal­ho “Fluxo e refluxo (bar­co de açú­car)” foi cri­a­do em dezem­bro de 2020 e exe­cu­ta­do em 2021, no ateliê dele, em Sal­vador, para a exposição “Irmãos de bar­co”.

Ele detal­ha que para cri­ar a obra optou por “um fun­do em um azul pro­fun­do e den­so que desse con­ta do sen­ti­men­to de monot­o­nia e de incerteza de uma trav­es­sia atlân­ti­ca força­da e vio­len­ta”.

“Ao cen­tro, a figu­ra, se vê o equi­líbrio na cabeça de um homem um bar­co bran­co com­pos­to de açú­car (mate­r­i­al que pos­sui em sua com­posição uma força nar­ra­ti­va para tratar das maze­las raci­ais na diás­po­ra africana) e em sua base um tor­so feito em teci­do tam­bém bran­co com ren­da (muito uti­liza­do nas comu­nidades de ter­reiro)”, com­ple­ta a descrição.

Ao fim da pub­li­cação, Sant’Ana jus­ti­fi­ca o reg­istro: “A mis­são de uma pes­soa artista per­pas­sa muitas vezes tam­bém pelo ato de reg­is­trar e sal­va­guardar memórias. Se você não dá nome as coisas, darão por você”.

“Mãe”

Artistas apontam uso indevido de obras visuais em desfile da Portela. A fantasia com a Obra Mãe, do artista Emerson Rocha. Foto: de.saturno/Instagram
Repro­dução: A fan­ta­sia com a Obra Mãe, do artista Emer­son Rocha. Foto– de.saturno/Instagram

O artista Emer­son Rocha tam­bém pub­li­cou uma série de sto­ries no Insta­gram  em que con­ta ter fica­do saben­do por ter­ceiros que a obra dele, “Mãe”, esta­va sendo uti­liza­da pela Portela.

“Num cer­to dia do ano pas­sa­do eu fui sur­preen­di­do com diver­sas menções e muitas men­sagens sobre como a fan­ta­sia da Portela com a min­ha arte era boni­ta e impo­nente. Que fan­ta­sia e que arte? Foi aí que desco­bri que estavam em exposição, no Museu de Arte do Rio, algu­mas fan­tasias do des­file da Portela que viria acon­te­cer no ano seguinte”, lem­bra.

“Até então eu não tin­ha rece­bido qual­quer con­ta­to da esco­la acer­ca da per­mis­são de uso da arte, sobre os trâmites de dire­ito autoral etc.”, pon­tua.

Emer­son con­ta que, tem­pos depois, um dos car­navale­scos da esco­la entrou em con­ta­to ape­nas o noti­f­i­can­do de que o tra­bal­ho esta­va sendo usa­do em uma fan­ta­sia e que pode­ria, even­tual­mente, ser uti­liza­do em uma ale­go­ria tam­bém.

O artista diz ain­da que rece­beu a promes­sa de rece­ber con­vites para par­tic­i­par do des­file, mas que só os rece­beu na segun­da-feira de car­naval (12), uma hora antes do iní­cio da apre­sen­tação.

“Não com­pare­ci ao des­file e fiquei extrema­mente chatea­do com a esco­la, com os car­navale­scos e com a for­ma que fui trata­do”, desabafa. “Foram desre­speitosos comi­go e com min­ha arte”.

A despeito da insat­is­fação, Emer­son Rocha elo­giou o des­file da esco­la. “Foi muito, muito boni­to. Enre­do forte, fan­tasias boni­tas e bem acabadas”.

“Pena que algo tão grandioso e impor­tante vai ser relem­bra­do por mim como um dos dias em que eu me sen­ti mais desre­speita­do como um artista pre­to con­tem­porâ­neo e inde­pen­dente”, lamen­ta.

“Defend­en­do min­ha arte como uma mãe defende um fil­ho”, final­iza.

Portela

Agên­cia Brasil pediu à Portela comen­tários sobre as pub­li­cações dos artis­tas, mas não rece­beu respos­ta até a pub­li­cação da reportagem.

Pela rede social X (anti­go Twit­ter), um dos car­navale­scos da azul e bran­ca, André Rodrigues, comen­tou sobre o uso de obras de Emer­son Rocha. “Ele está cober­to de razão. Des­de o lança­men­to da primeira roupa que tin­ha sua arte, com­bi­namos sobre sua par­tic­i­pação no des­file. Hou­ve fal­has de comu­ni­cação e não con­seguimos dar con­ta de todas, inclu­sive essa. Envi­amos um pedi­do de des­cul­pa e uma men­sagem procu­ran­do de que maneira ele se sen­tiria mais con­fortáv­el para afa­gar esse des­en­con­tro”.

O car­navale­sco acred­i­ta que a pos­sív­el clas­si­fi­cação para o Des­file das Campeãs no próx­i­mo sába­do (17), quan­do as seis esco­las mais bem colo­cadas voltam à Mar­quês de Sapu­caí, pode ser uma for­ma de reparar a fal­ha. “Esper­amos voltar nas campeãs para que ele e out­ros agentes impor­tantes para o des­file pos­sam se diver­tir e gozar deste momen­to. Ninguém merece ficar de fora”.

André acres­cen­ta que aderecis­tas da agremi­ação tam­bém tiver­am prob­le­mas para rece­ber os con­vites para o des­file da segun­da-feira pas­sa­da. “Respeita­mos e admi­ramos o tra­bal­ho de todos e ficamos tristes pela cor­re­ria dos últi­mos dias não nos per­mi­tir solu­cionar todos os prob­le­mas”.

Rodrigues acres­cen­tou que a esco­la tem o plano de pub­licar na inter­net “o pro­je­to com todas as refer­ên­cias, inclu­sive para demon­strar como fun­ciona o proces­sa­men­to de infor­mações para se trans­for­mar em imagem de car­naval”, ter­mi­na.

Edição: Sab­ri­na Craide

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