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Artistas negros organizam mostra que discute periferia e racismo em SP

Repro­dução: © Fotos Daniel Mel­lo

Exposição Chora Agora foi aberta no Complexo Cultural Funarte


Pub­li­ca­do em 25/11/2023 — 17:57 Por Daniel Mel­lo — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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A negri­tude, a autoes­ti­ma da juven­tude per­iféri­ca, o racis­mo e a vio­lên­cia são alguns temas abor­da­dos pelas obras da exposição Cho­ra Ago­ra, aber­ta neste sába­do (25) no Com­plexo Cul­tur­al Funarte, no cen­tro de São Paulo. A mostra foi orga­ni­za­da pelo cole­ti­vo Vilanis­mo, for­ma­do por 12 artis­tas negros, a par­tir da pro­pos­ta de dis­cu­tir o lugar dos home­ns pre­tos na sociedade brasileira.

“A gente era sem­pre vis­to como vilão, assim como a gente é andan­do na rua. A ideia é pen­sar porque somos vis­tos como home­ns assus­ta­dores”, expli­ca um dos inte­grantes do grupo, Renan Teles, em relação aos estereóti­pos con­struí­dos em relação aos home­ns negros. “Por isso já se empre­ga a vio­lên­cia sobre nós antes que a gente faça qual­quer coisa”, acres­cen­ta ao falar das con­se­quên­cias dessa con­strução social.

Há seis meses, o grupo ocu­pa duas salas na sede da Fun­dação Nacional de Artes (Funarte) no bair­ro da San­ta Cecília. Renan expli­ca que o espaço era usa­do como depósi­to e tam­bém acu­mula­va entul­ho. Ao mes­mo tem­po, os artis­tas bus­cav­am um local onde pudessem ter um ateliê e realizar reuniões. A local­iza­ção cen­tral facili­ta o aces­so aos inte­grantes, res­i­dentes nas difer­entes extrem­i­dades da cidade.

Fraternidade

Ao encon­trarem o espaço ocioso na enti­dade cul­tur­al, vin­cu­la­da ao Min­istério da Cul­tura, os artis­tas pro­puser­am a ocu­pação, limparam e refor­maram o local. “Quase tudo que a gente con­seguiu até hoje foi na base do mutirão, uma tec­nolo­gia ances­tral indí­ge­na”, desta­ca o fotó­grafo Rodri­go Zaim, que tam­bém faz parte do grupo, que ele pref­ere descr­ev­er como frater­nidade.

Para além da pro­dução artís­ti­ca, o cole­ti­vo se propõe a ser uma rede de apoio, com dis­cussões sobre mas­culin­idade e até um fun­do de reser­va finan­ceira comum, que pode ser aces­sa­do por qual­quer um que passe por momen­tos difí­ceis. “Eu mes­mo já pre­ci­sei desse apoio em algum momen­to. Um dia que eu pud­er eu devol­vo o din­heiro para o ban­co”, diz Teles ao exem­pli­ficar como fun­ciona o caixa cole­ti­vo.

São Paulo (SP) 25/11/2023 Artistas negros organizam mostra que discute periferia e racismo em SP. Fotos Daniel Mello
Repro­dução: Exposição Cho­ra Ago­ra foi aber­ta neste sába­do no Com­plexo Cul­tur­al Funarte — Fotos Daniel Mel­lo

A própria exposição é um pas­so mais ousa­do do que sim­ples­mente expor a pro­dução dos mem­bros do grupo. A par­tir das dis­cussões foi pen­sa­da uma curado­ria para con­vi­dar out­ros artis­tas a ocu­parem o espaço cri­a­do pelo grupo e bati­za­do de Cov­il.

“É a nos­sa primeira curado­ria, abrindo para pesquisa, vis­i­tan­do ateliês de artis­tas, mes­mo uma artista se morasse em longe”, detal­ha Teles a respeito da con­strução da mostra.

Fotografia e pintura

São 23 tra­bal­hos com difer­entes téc­ni­cas de 18 artis­tas. Em Casa Verde, Teles parte de uma fotografia mon­ta­da em uma moldu­ra de grades de fer­ro, típi­cas de portões res­i­den­ci­ais, para retratar uma sen­ho­ra que obser­va uma casa, em uma cena cotid­i­ana da per­ife­ria.

As pin­turas sobre teci­do de Guto Oca mostram um ros­to negro com os diz­eres “sereno” e “tran­qui­lo”, para dis­cu­tir a neces­si­dade de home­ns negros de con­terem as próprias emoções.

A fotó­grafa Daisy Ser­e­na traz o ros­to de mãe Bernadete, líder quilom­bo­la assas­si­na­da na Bahia, como a car­ta de tarô que remete à justiça.

São Paulo (SP) 25/11/2023 Artistas negros organizam mostra que discute periferia e racismo em SP. Fotos Daniel Mello
Repro­dução: Exposição Cho­ra Ago­ra reúne 23 tra­bal­hos de 18 artis­tas — Fotos Daniel Mel­lo

Já Andrea Lal­li relem­bra as histórias de sua família ribeir­in­ha, nos peix­es bor­da­dos e pin­ta­dos sobre peças de teci­do.

Ri depois

O espaço de tra­bal­ho den­tro do cen­tro cul­tur­al tem per­mi­ti­do ain­da que o grupo esta­beleça tro­cas com pesquisadores e artis­tas, inclu­sive de out­ros país­es. “Aqui no Cov­il, estando tão bem local­iza­do no cen­tro, a gente tem rece­bido pes­soas quase todos os dias. Muitos pesquisadores africanos já vier­am, de Burk­i­na Faso, de Ango­la, do Sene­gal, do Mar­ro­cos. E temos rece­bido pro­fes­sores e curadores tam­bém já dos Esta­dos Unidos”, comem­o­ra Teles.

O títu­lo da exposição, que vai até 12 fevereiro de 2024, faz refer­ên­cia a um ver­so do grupo de rap Racionais MC’s, além de expor um dese­jo do cole­ti­vo. “Cho­ra ago­ra, ri depois é algo que tem muito a ver com o que a gente está fazen­do, que é: ago­ra a gente luta, a gente tra­bal­ha son­han­do com um futuro em que a gente pos­sa ter um ter­reno, [con­quis­tar] o próprio espaço.”

Edição: Juliana Andrade

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