...
terça-feira ,18 março 2025
Home / Saúde / Associação denuncia presença de “barbeiros” infectados no Butantã

Associação denuncia presença de “barbeiros” infectados no Butantã

Para pesquisadores, vigilância contra doença está comprometida em SP

Guil­herme Jerony­mo — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 30/01/2025 — 08:28
São Paulo
São Paulo (SP) 30/01/2025 - Os barbeiros, como são conhecidos, se alimentam do sangue de animais e do ser humano Foto: Josué Damacena/Fiocruz/Divulgação
Repro­dução: © Josué Damacena/Fiocruz/Divulgação

A Asso­ci­ação dos Pesquisadores Cien­tí­fi­cos do Esta­do de São Paulo (APqC) denun­ciou à Agên­cia Brasil que dois inse­tos do tipo bar­beiro foram encon­tra­dos no últi­mo trimestre de 2024 no pavil­hão Lemos Mon­teiro, pré­dio cen­tenário do Insti­tu­to Butan­tã adap­ta­do para uso de lab­o­ratórios de pesquisa. Os espécimes foram cap­tura­dos em out­ubro e novem­bro de 2024 e ambos tin­ham a pre­sença do pro­to­zoário Try­panos­so­ma cruzi, cau­sador da Doença de Cha­gas, em seu organ­is­mo.

“No dia em que os téc­ni­cos da vig­ilân­cia em saúde da prefeitu­ra vier­am faz­er uma vis­to­ria para procu­rar o foco da infes­tação, eles nos infor­maram que mais dez bar­beiros havi­am sido local­iza­dos em out­ra área do insti­tu­to e que dois deles estavam con­t­a­m­i­na­dos por Try­panoso­ma cruzi”, infor­mou em nota Patri­cia Clis­sa, pesquisado­ra e asso­ci­a­da da APqC. O Cam­pus Butan­tã, da USP, onde cir­cu­lam cer­ca de 70 mil estu­dantes e fun­cionários, tam­bém teve ao menos seis bar­beiros encon­tra­dos no final do ano pas­sa­do.

O bair­ro tem a pre­sença de ani­mais sil­vestres que são reser­vatórios nat­u­rais do par­a­sita, como saruês, em todo o dis­tri­to do Butan­tã, onde resi­dem pouco mais de 350 mil habi­tantes. A região tem corre­dores ecológi­cos que se esten­dem pela região met­ro­pol­i­tana e para as regiões sul e norte da cidade.

“O próprio Insti­tu­to Butan­tã fez uma reti­ra­da impor­tante de árvores para sua expan­são, enquan­to no entorno há uma ver­ti­cal­iza­ção gigan­tesca, com a con­strução de pré­dios no lugar de casas, com supressão de veg­e­tação e isso tudo aca­ba alteran­do o ambi­ente, deslo­can­do os saruês de seu habi­tat nat­ur­al e favore­cen­do o con­ta­to do bar­beiro com os humanos. O que mais nos pre­ocu­pa é que se nen­hu­ma ati­tude for toma­da pela Sec­re­taria da Saúde, no que diz respeito a aler­tar a pop­u­lação e reestru­tu­rar as ativi­dades da Super­in­tendên­cia de Con­t­role de Endemias (Sucen) para que voltem a ser con­duzi­das de for­ma artic­u­la­da jun­to às vig­ilân­cias munic­i­pais, isso pode resul­tar em infecções de seres humanos, se é que já não estão ocor­ren­do”, afir­ma, em nota, Hele­na Dutra Lut­gens, pres­i­dente da APqC.

A Sucen, cita­da por Lut­gens, foi um dos insti­tu­tos estad­u­ais de pesquisa extin­tos por decre­to em 2020. Parte de suas atribuições foi dire­ciona­da às coor­de­nado­rias de Con­t­role de Doenças estad­u­ais e das vig­ilân­cias epi­demi­ológ­i­cas munic­i­pais. Segun­do a APqC, esse desen­ho é insu­fi­ciente para dar con­ta da neces­si­dade de pesquisas especí­fi­cas e impede o mon­i­tora­men­to mais detal­ha­do e treina­men­to ade­qua­do das equipes das prefeituras.

Há reg­istros de mais de uma cen­te­na de bar­beiros cat­a­lo­ga­dos pela equipe da Sucen entre 2014 e 2019, segun­do o acer­vo de notí­cias da Revista Fape­sp, con­t­role aparente­mente descon­tin­u­a­do, pois com o esvazi­a­men­to do pré­dio da super­in­tendên­cia, no bair­ro de Pin­heiros, não se mon­i­to­ra se ani­mais infec­ta­dos tiver­am con­ta­to com sangue humano, indi­can­do a neces­si­dade de testagem de pop­u­lações.

Em nota, a Sec­re­taria de Esta­do da Saúde infor­mou que mon­i­to­ra, des­de 2019, a cir­cu­lação do Try­panoso­ma cruzi em toda a metró­pole paulista, e que até o momen­to não foram reg­istra­dos casos de infecção em humanos na área urbana. “Além dis­so, téc­ni­cos da CCD real­izam capac­i­tação com agentes de saúde do municí­pio de São Paulo para a iden­ti­fi­cação do inse­to tri­atomí­neo (bar­beiro), a real­iza­ção de exam­es de con­teú­do intesti­nal para ver­i­ficar a pos­i­tivi­dade por Try­panoso­ma cruzi, o mane­jo do ambi­ente e o con­t­role quími­co, quan­do necessário”, acres­cen­tou o órgão.

Sobre o Insti­tu­to Butan­tã, a sec­re­taria afir­mou que “o caso foi mon­i­tora­do e, de acor­do com lau­do téc­ni­co de biól­o­go do Cen­tro de Con­t­role de Zoonoses, o aparec­i­men­to do bar­beiro no Pavil­hão Lemos Mon­teiro foi um caso iso­la­do, dado o local onde foi encon­tra­do. O mon­i­tora­men­to con­tin­ua sendo real­iza­do com equipe téc­ni­ca por empre­sa con­trata­da para o con­t­role de pra­gas”.

A Sec­re­taria Munic­i­pal da Saúde da cidade de São Paulo infor­mou que “mon­i­to­ra a ocor­rên­cia de tri­atomí­neos hematófa­gos (bar­beiros), por meio da Coor­de­nado­ria de Vig­ilân­cia em Saúde (Cov­isa). Os inse­tos encon­tra­dos na região per­tencem à espé­cie Panstrongy­lus megis­tus, que ocorre nat­u­ral­mente em áreas flo­restais”. Segun­do a pas­ta não há trans­mis­são da doença de Cha­gas na cap­i­tal paulista. “A vig­ilân­cia tem tra­bal­ha­do para infor­mar a pop­u­lação sobre a ocor­rên­cia do Panstrongy­lus megis­tus e mon­i­to­ra reg­u­lar­mente as áreas propí­cias à pre­sença desse inse­to”, expli­cou, além de recomen­dar medi­das de pre­venção à pop­u­lação.

Além da região do Butan­tã, a APqC citou a área do Zoológi­co Munic­i­pal como propen­sa às infes­tações de tri­atomí­neos. A asses­so­ria de impren­sa infor­mou, em nota, que “a con­ces­sionária respon­sáv­el pela gestão do Zoológi­co man­tém con­ta­to com as autori­dades com­pe­tentes, recebe vis­i­tas de agentes da Divisão de Vig­ilân­cia de Zoonoses da prefeitu­ra de São Paulo e da Coor­de­nado­ria de Con­t­role de Doenças, do gov­er­no estad­ual. Con­forme pro­to­co­lo vigente, encam­in­ha inse­tos sus­peitos às autori­dades de saúde, vis­to que o perímetro de con­cessão é um frag­men­to inseri­do em área de Mata Atlân­ti­ca. No perío­do cita­do pela reportagem, o segun­do semes­tre de 2024, não hou­ve comu­ni­cação de teste pos­i­ti­vo por parte das autori­dades com­pe­tentes”.

Chagas, doença negligenciada

A Doença de Cha­gas é con­sid­er­a­da uma doença neg­li­gen­ci­a­da, por não ser alvo pri­or­itário no desen­volvi­men­to de novos medica­men­tos ou méto­dos de pre­venção. Segun­do o Min­istério da Saúde “é a infecção cau­sa­da pelo pro­to­zoário Try­panoso­ma cruzi. Apre­sen­ta uma fase agu­da (doença de Cha­gas agu­da) que pode ser sin­tomáti­ca ou não, e uma fase crôni­ca, que pode se man­i­fes­tar nas for­mas inde­ter­mi­na­da (ass­in­tomáti­ca), cardía­ca, diges­ti­va ou car­diodi­ges­ti­va”. Na fase agu­da, quan­do o trata­men­to é mais efi­caz, os sin­tomas mais comuns são febre pro­lon­ga­da (mais de 7 dias), dor de cabeça, fraque­za inten­sa e inchaço no ros­to e per­nas.

Sua incidên­cia, de acor­do com a ini­cia­ti­va Medica­men­tos para Doenças Neg­li­gen­ci­adas (DNDi), ocorre nas Améri­c­as, com casos ain­da na Aus­trália, no Japão e em alguns país­es da Europa. É endêmi­ca em todos os país­es da Améri­ca Lati­na.

Os prin­ci­pais país­es afe­ta­dos são a Argenti­na e o Brasil, cada qual com cer­ca de 2 mil­hões de pes­soas diag­nos­ti­cadas, segun­do o Obser­vatório Cha­gas, que mon­i­to­ra a doença e os esforços para erradicá-la. A sub­no­ti­fi­cação, porém, é regra. As esti­ma­ti­vas são de 70% a 90% de casos em que a pes­soa não sabe que tem a doença. A maior parte dos casos está rela­ciona­da à con­t­a­m­i­nação de ali­men­tos por fezes do inse­to.

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Mau humor e falta de foco podem indicar distúrbios do sono

Dia Mundial do Sono alerta para importância de hábitos saudáveis Ana Car­oli­na Alli* Pub­li­ca­do em …