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Associação estimula debate nas escolas sobre violência contra a mulher

Repro­dução: © Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

Ação é desenvolvida em 18 escolas do Distrito Federal


Pub­li­ca­do em 30/10/2021 — 12:53 Por Marce­lo Brandão — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

O arrefec­i­men­to da pan­demia, após o avanço da vaci­nação, tem devolvi­do os jovens ao ambi­ente esco­lar. Com a vol­ta dos ado­les­centes às esco­las, à con­vivên­cia com cole­gas e pro­fes­sores, a Asso­ci­ação de Mul­heres de Sobrad­in­ho II, ini­ciou em setem­bro, em 18 esco­las do Dis­tri­to Fed­er­al, um debate sobre a vio­lên­cia con­tra a mul­her. A asso­ci­ação abor­da a agressão sofri­da den­tro de casa e, muitas vezes, invisív­el ao Esta­do e à comu­nidade ao redor.

Para muitos estu­dantes, o tema é muito pes­soal. As ativi­dades real­izadas nas esco­las têm provo­ca­do debates entre os oficineiros, alunos e pro­fes­sores. Rob­son Salazar, dire­tor de uma das esco­las aten­di­das pelo pro­je­to, notou que, após o perío­do de iso­la­men­to social, alguns de seus alunos têm retor­na­do com suas próprias exper­iên­cias de vio­lên­cia domés­ti­ca. E, após as ativi­dades, se sen­tem estim­u­la­dos a com­par­til­há-las.

“A gente obser­va que o perío­do da pan­demia trouxe um com­por­ta­men­to extrema­mente agres­si­vo, e nos­sos alunos estão voltan­do [às aulas] em um con­tex­to de vio­lên­cia, de uma car­ga emo­cional muito forte. Quan­do fomos procu­ra­dos pela asso­ci­ação, de ime­di­a­to aceita­mos a pro­pos­ta porque enten­demos a neces­si­dade e a importân­cia desse tema nesse atu­al momen­to”, disse o pro­fes­sor.

Nas ativi­dades da asso­ci­ação nas esco­las, os estu­dantes têm espaço para se man­i­fes­tar, e os relatos começam a sur­gir. “Quan­do ter­mi­nam as palestras, antes de ini­cia­rem as ofic­i­nas, é aber­ta uma peque­na dis­cussão e a gente vê a fala dos nos­sos alunos. Em casa eles têm exem­p­los de vio­lên­cia domés­ti­ca e começam inclu­sive a nos procu­rar, a procu­rar o serviço de ori­en­tação”, disse Rob­son, que acom­pan­ha de per­to o tra­bal­ho da asso­ci­ação em sua esco­la.

Ivonete dos San­tos é assis­tente social e coor­de­nado­ra-ger­al do pro­je­to. Durante o tra­bal­ho nas esco­las, ela abre espaço para os estu­dantes com­par­til­harem suas impressões e exper­iên­cias sobre o assun­to. “Muitos casos são cita­dos por eles. E como a maio­r­ia tem espaço livre para inter­a­gir com os oficineiros, eles acabam se sentin­do à von­tade para per­gun­tar, refle­tir, inda­gar e até mes­mo con­tar situ­ações vivi­das por eles”.

Mas nem todos se sen­tem à von­tade para con­tar suas histórias em públi­co. Alguns estu­dantes procu­ram o cor­po docente para desaba­far. Segun­do Rob­son, ess­es alunos trazem de casa trau­mas emo­cionais, em relatos tristes de se ouvir. “É uma real­i­dade que começa a se apre­sen­tar, de que existe um prob­le­ma muito sério e uma car­ga emo­cional muito grande nas famílias dos alunos”, disse Rob­son.

Uma estu­dante con­tou que sua mãe era agre­di­da pelo pai den­tro de casa. Em out­ro caso, uma meni­na rela­tou aos pro­fes­sores ter sofri­do abu­sos sex­u­ais por um par­ente, em um episó­dio que envolveu a polí­cia e a impren­sa no DF. “São situ­ações de toda ordem que temos pres­en­ci­a­do depois desse retorno da pan­demia”, disse o dire­tor.

De acor­do com bal­anço da Sec­re­taria de Segu­rança Públi­ca do DF, quase 8 mil ocor­rên­cias de vio­lên­cia domés­ti­ca foram reg­istradas no primeiro semes­tre de 2021, na cap­i­tal fed­er­al.

O pro­je­to Val­oriza­ção das Mul­heres e Com­bate ao Machis­mo nas Esco­las está sendo con­duzi­do pela Asso­ci­ação de Mul­heres de Sobrad­in­ho II nas esco­las da região norte do Dis­tri­to Fed­er­al, com acom­pan­hamen­to da Sec­re­taria de Edu­cação, por meio da Coor­de­nação Region­al de Ensi­no. São real­izadas palestras, peças teatrais, con­cur­sos de redação e apre­sen­tação de con­teú­do audio­vi­su­al. O pro­je­to prossegue até o dia 8 de março de 2022.

“Acred­i­ta­mos que as ações pedagóg­i­cas têm como obje­ti­vo a reflexão nos papéis soci­ais, de modo que pos­samos faz­er com que o número de práti­cas machis­tas e vio­lações de dire­itos con­tra meni­nos e meni­nas dimin­ua”, expli­ca Ivonete.

Cultura do machismo

Além dos relatos pes­soais, os jovens são estim­u­la­dos a dis­cu­tir a vio­lên­cia con­tra a mul­her e a origem machista dess­es episó­dios. “O pro­je­to uti­liza a edu­cação como instru­men­to de reflexão para a mudança da cul­tura machista da nos­sa sociedade, estim­u­lan­do debate nas esco­las para cri­ar uma nova per­spec­ti­va de respeito e val­oriza­ção das mul­heres”, disse Ivonete.

Segun­do a coor­de­nado­ra do pro­je­to, o primeiro con­ta­to dos jovens com com­por­ta­men­tos vio­len­tos con­tra mul­her acon­tece, na maio­r­ia das vezes, den­tro de casa. Por isso, essa parce­ria esco­la-família é muito impor­tante. “A asso­ci­ação ofer­ece assistên­cia a famílias víti­mas de vio­lên­cia domés­ti­ca com roda de con­ver­sa, con­sci­en­ti­zan­do as famílias sobre essa vio­lên­cia e o machis­mo estru­tur­al, da mes­ma for­ma que lev­a­mos o debate para den­tro das esco­las, com as ofic­i­nas”.

A associação

A Asso­ci­ação de Mul­heres de Sobrad­in­ho II é uma orga­ni­za­ção da sociedade civ­il sem fins lucra­tivos que há 20 anos desen­volve ativi­dades de atenção às víti­mas de vio­lên­cia domés­ti­ca. Nos últi­mos anos, expandiu seu atendi­men­to para mul­heres em situ­ação de vul­ner­a­bil­i­dade social, aten­den­do suas famílias e real­izan­do ações de empodera­men­to dessas mul­heres.

A asso­ci­ação tam­bém pro­move ações como dis­tribuição de ces­tas bási­cas, ces­tas verdes, bazares, dança ter­apêu­ti­ca, palestras, encon­tro sem­anal para idosas. Ela tam­bém con­ta com atendi­men­to psi­cológi­co, nutri­cionistas e acon­sel­hamen­to jurídi­co, entre out­ros serviços.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

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