...
segunda-feira ,9 dezembro 2024
Home / Direitos Humanos / Ato em Copacabana pela liberdade religiosa lembra Mãe Bernadete

Ato em Copacabana pela liberdade religiosa lembra Mãe Bernadete

Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Líder do Quilombo Pitanga dos Palmares foi assassinada há um mês


Pub­li­ca­do em 17/09/2023 — 19:13 Por Léo Rodrigues — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

ouvir:

A Pra­ia de Copaca­bana se tornou mais uma vez pal­co de uma grande man­i­fes­tação pela liber­dade reli­giosa. É a 16ª edição de um ato que já tem data fixa no cal­endário da cidade. Todos os anos, sem­pre no ter­ceiro domin­go do mês de setem­bro, prat­i­cantes de difer­entes cre­dos se unem para pedir paz e denun­ciar casos de intol­erân­cia e de racis­mo.

A Cam­in­ha­da em Defe­sa da Liber­dade Reli­giosa é con­vo­ca­da anual­mente por duas enti­dades. Uma delas é o Cen­tro de Artic­u­lação de Pop­u­lações Mar­gin­al­izadas (Ceap), que des­de 1989 atua na pro­moção da cul­tura negra como for­ma de com­bate ao racis­mo e à intol­erân­cia reli­giosa. A out­ra é a Comis­são de Com­bate à Intol­erân­cia Reli­giosa do Rio de Janeiro (CCIR), fun­da­da em 2008 ini­cial­mente por umban­dis­tas e can­domblecis­tas, mas que agre­ga atual­mente rep­re­sen­tantes das mais vari­adas crenças.

Os par­tic­i­pantes começaram a se con­cen­trar às 10h no pos­to 5 de Copaca­bana e, por vol­ta de 13h, ini­cia­ram a cam­in­ha­da pela orla. Este ano, foi lem­bra­do o assas­si­na­to da líder quilom­bo­la Mãe Bernadete, ocor­ri­do há exa­to um mês. Aos 72 anos, ela foi alvo de tiros den­tro da asso­ci­ação do Quilom­bo Pitan­ga dos Pal­mares, no municí­pio de Simões Fil­ho (BA).

Rio de Janeiro (RJ), 17/09/2023 – O babalawô Ivanir dos Santos durante a 16ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, na praia de Copacabana, na zona sul da capital fluminense. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ), 17/09/2023 – O babal­awô Ivanir dos San­tos durante a 16ª Cam­in­ha­da em Defe­sa da Liber­dade Reli­giosa, na pra­ia de Copaca­bana, na zona sul da cap­i­tal flu­mi­nense. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil — Tomaz Silva/Agência Brasil

“Essa cam­in­ha­da é em memória a ela e à luta que ela empreen­deu na defe­sa dos nos­sos povos”, disse o babal­awô Ivanir dos San­tos, inter­locu­tor da CCIR. Ele expli­ca que não se tra­ta de um ato reli­gioso.

“É uma cam­in­ha­da de reli­giosos e não-reli­giosos na defe­sa de uma agen­da civ­il que é o Esta­do Democráti­co de Dire­ito, as liber­dades, a democ­ra­cia, a diver­si­dade e mais ain­da os dire­itos humanos. Então isso é o que nós esta­mos cel­e­bran­do todo ano. Infe­liz­mente, cada vez mais cresce na sociedade a intol­erân­cia, a mis­oginia, a homo­fo­bia, o racis­mo”, diz San­tos.

Rio de Janeiro (RJ), 17/09/2023 – Praia de Copacabana recebe a 16ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ), 17/09/2023 – Pra­ia de Copaca­bana recebe a 16ª Cam­in­ha­da em Defe­sa da Liber­dade Reli­giosa. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil — Tomaz Silva/Agência Brasil

Ape­sar da pre­sença de prat­i­cantes de religiões de difer­entes crenças cristãs, a imen­sa maio­r­ia dos par­tic­i­pantes eram vin­cu­la­dos a religiões de matriz africana. No car­ro de som, a diver­si­dade pautou a pro­gra­mação: hou­ve apre­sen­tações de gru­pos cul­tur­ais umban­dis­tas, can­domblecis­tas, católi­cos, evangéli­cos, entre out­ros. Ivanir dos San­tos afir­ma que essa é uma pau­ta que pre­cisa envolver toda a sociedade.

“Con­tin­u­amos fazen­do um tra­bal­ho de diver­si­dade. Essa é uma luta em bene­fí­cio de todos. Quan­do o obscu­ran­tismo cresce, ele ameaça as liber­dades: a liber­dade de impren­sa, a liber­dade políti­ca e a liber­dade de pen­sa­men­to. Então, lutar con­tra a intol­erân­cia não é só uma tare­fa das religiões de matriz africana, mas de toda a sociedade. Afi­nal de con­tas, a intol­erân­cia é um ataque à Con­sti­tu­ição Brasileira”.

O sac­er­dote Luiz Coel­ho, da Igre­ja Epis­co­pal Angli­cana do Brasil, pediu maior mobi­liza­ção dos cristãos. “O Brasil é um país plur­al que tem vários povos, várias cul­turas e tam­bém tem várias religiões. Prin­ci­pal­mente para nós, que somos pes­soas cristãs e que for­mamos a maio­r­ia da pop­u­lação brasileira, é muito impor­tante endos­sar que não há espaço para vio­lên­cia, não há espaço para a intol­erân­cia reli­giosa”.

Coel­ho enfa­ti­zou que os difer­entes cre­dos podem tra­bal­har jun­tos pela paz, pela har­mo­nia dos povos, pelo fim da vio­lên­cia e por uma cul­tura de vida. “Deve­mos apoiar prin­ci­pal­mente a religiões de matriz africana e ao xam­an­is­mo, que já sofr­eram tan­tas perseguições e ain­da hoje são víti­mas de pre­con­ceito”, acres­cen­tou.

Rio de Janeiro (RJ), 17/09/2023 – Praia de Copacabana recebe a 16ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ), 17/09/2023 – Pra­ia de Copaca­bana recebe a 16ª Cam­in­ha­da em Defe­sa da Liber­dade Reli­giosa. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil — Tomaz Silva/Agência Brasil

Car­a­vanas de out­ros esta­dos, como São Paulo e Minas Gerais, con­tribuíram para engrossar o número de man­i­fes­tantes. Pai Denis­son D’An­ge­lis, sac­er­dote de umban­da do Insti­tu­to CEU Estrela Guia, saiu de São Paulo para estar pre­sente na cam­in­ha­da. Ele cobrou uma políti­ca de Esta­do em favor da liber­dade reli­giosa.

“Pre­cisamos estar de mãos dadas con­tra todo tipo de vilipên­dio, de agressão, como foi o caso da mãe Bernardete. Temos uma luta muito grande pela liber­dade do povo de matriz africana, dos amerín­dios e atos como esse vêm reforçar a neces­si­dade de ser­mos respeita­dos”.

Pre­sente na cam­in­ha­da, Felipe Ave­lar, dire­tor jurídi­co da Comis­são de Com­bate à Intol­erân­cia Reli­giosa (CCIR) da Ordem dos Advo­ga­dos do Brasil (OAB-RJ), enfa­ti­zou que a enti­dade vem acom­pan­han­do os casos para ter uma pos­tu­ra ati­va no encam­in­hamen­to tan­to em âmbito crim­i­nal como em âmbito admin­is­tra­ti­vo jun­to às autori­dades com­pe­tentes. “A liber­dade reli­giosa é um dire­ito fun­da­men­tal”, pon­tu­ou.

Rio de Janeiro (RJ), 17/09/2023 – Praia de Copacabana recebe a 16ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ), 17/09/2023 – Pra­ia de Copaca­bana recebe a 16ª Cam­in­ha­da em Defe­sa da Liber­dade Reli­giosa. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil — Tomaz Silva/Agência Brasil

Mino­rias

O ato con­tou com a pre­sença de rep­re­sen­tantes de cre­dos que tem menos expressão no país, ain­da que diver­sos deles ten­ham lon­ga tradição. O mon­ge Gyou­un Vieira obser­vou que o bud­is­mo desem­bar­cou no Brasil em 1908 jun­to com a imi­gração japone­sa.

“Um dos prin­ci­pais motivos que ger­am a intol­erân­cia é a fal­ta de infor­mação e de con­hec­i­men­to. Even­tos como esse fazem com que a gente pos­sa con­hecer mais as religiões. É pos­sív­el encon­trar líderes reli­giosos que não temos a opor­tu­nidade de encon­trar no dia a dia”, avaliou.

Entre out­ros gru­pos pre­sentes estavam a Asso­ci­ação Ahma­dia do Islã no Brasil e a União Wic­ca do Brasil. O pres­i­dente da União Cigana do Brasil, Marce­lo Vacite, lem­brou que o esta­do é laico e que todos têm dire­ito de cul­tu­ar a sua religião. “Não podemos incen­ti­var o fanatismo reli­gioso, porque ele mata, ele destrói, ele fere”, afir­mou.

Rio de Janeiro (RJ), 17/09/2023 – Praia de Copacabana recebe a 16ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Rio de Janeiro (RJ), 17/09/2023 – Pra­ia de Copaca­bana recebe a 16ª Cam­in­ha­da em Defe­sa da Liber­dade Reli­giosa. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil — Tomaz Silva/Agência Brasil

Edição: Ake­mi Nita­hara

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Museu Histórico Nacional fecha para modernização do sistema elétrico

Obras devem ser concluídas em outubro de 2025 Dou­glas Cor­rêa – Repórter da Agên­cia Brasil …