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Bancada da Bíblia consolida força, mas vive novos desafios

Avaliação é de pesquisadores ouvidos pela Agência Brasil

Luiz Clau­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 09/02/2025 — 17:16
Brasília
Brasília (DF) 12/09/2024 Sessão da Câmara dos Deputados para conclusão da votação do projeto de lei que propõe uma transição de três anos para o fim da desoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia. Foto Lula Marques/ Agência Brasil
Repro­dução: © Lula Marques/ Agên­cia Brasil

Com o retorno das ativi­dades no Leg­isla­ti­vo, um dos maiores desafios para o gov­er­no fed­er­al é a bus­ca por uma aprox­i­mação do grupo de par­la­mentares con­ser­vadores da ban­ca­da evangéli­ca. A avali­ação é de pesquisadores ouvi­dos pela Agên­cia Brasil, entre eles o escritor André Íta­lo, que lançou no final do ano pas­sa­do o livro A Ban­ca­da da Bíblia: uma história de con­ver­sões políti­cas (edi­to­ra Todavia, 301 pági­nas).

O pesquisador expli­ca que a ban­ca­da evangéli­ca, ape­sar de ter uma posição mais con­ser­vado­ra nas pau­tas dos cos­tumes, his­tori­ca­mente mostrou-se pró-gov­er­no em out­ros temas, como os da econo­mia. “Não impor­ta se era gov­er­no de esquer­da ou de dire­i­ta, era um grupo próx­i­mo ao Exec­u­ti­vo”.

Uma das causas, segun­do avalia, seria a con­veniên­cia de man­ter os priv­ilé­gios como isenção trib­utária para igre­jas.

Ele recor­da que, nos gov­er­nos ante­ri­ores ao dos pres­i­dentes Luiz Iná­cio Lula da Sil­va, Dil­ma Rouss­eff, Michel Temer e Jair Bol­sonaro, havia a pre­sença de pas­tores nos primeiros escalões. Hou­ve tam­bém apoio dos evangéli­cos a Fer­nan­do Col­lor e Fer­nan­do Hen­rique Car­doso.

Mas ele con­sid­era que o gov­er­no de Jair Bol­sonaro foi um “divi­sor de águas” nesse históri­co gov­ernista dos evangéli­cos. “O Bol­sonaro foi o primeiro pres­i­dente de dire­i­ta que teve uma relação de afinidade ide­ológ­i­ca com a ban­ca­da evangéli­ca”. Mas com a vol­ta de Lula ao poder, a ban­ca­da da bíblia deixou de ser gov­ernista, avalia o pesquisador.

De acor­do com André Íta­lo, a ban­ca­da tem cresci­do de maneira mais lenta, difer­ente do que ocor­reu no final dos anos 1990 e em 2010. “É nat­ur­al porque o próprio cresci­men­to da pop­u­lação evangéli­ca tam­bém tem sido mais lento. Tam­bém é impor­tante pon­tu­ar que a pro­porção dos evangéli­cos na Câmara [menos de 20%] é menor do que a de evangéli­cos na pop­u­lação [cer­ca de 30%]”, expli­ca o pesquisador.

O pesquisador con­tabi­liza que, hoje,  na Câmara, exis­tem em torno de 90 a 100 dep­uta­dos evangéli­cos, de um total de 513. No Sena­do, há entre 10 a 15, de um total de 81.

Dores do crescimento

O pro­fes­sor Leonar­do Bar­reto, da Uni­ver­si­dade de Brasília (UnB), pon­dera que a ban­ca­da evangéli­ca não é homogênea. “Há na ban­ca­da diver­sos seg­men­tos e tam­bém estraté­gias difer­entes. A mais con­sol­i­da­da é a da Igre­ja Uni­ver­sal, que se con­soli­dou num par­tido políti­co, que é o Repub­li­canos, e que hoje pre­side a Câmara”, obser­va.

O espe­cial­ista entende que a estraté­gia do Par­tido Repub­li­canos foi uma das mais sofisti­cadas, ao abrir para políti­cos não evangéli­cos, como é o caso do pres­i­dente da Câmara dos Dep­uta­dos, Hugo Mot­ta. “O par­tido fez essa aber­tu­ra, e essa estraté­gia se demon­strou muito acer­ta­da”, disse. Só que, ao mes­mo tem­po, a ban­ca­da, na avali­ação do pro­fes­sor, está enfrentan­do as “dores do cresci­men­to”.

Bar­reto anal­isa que rep­re­sen­tantes dess­es par­tidos gostari­am de ir mais para o cen­tro do espec­tro políti­co, mas estão pres­sion­a­dos por uma base evangéli­ca que se tornou mais con­ser­vado­ra e mais de dire­i­ta do que era. “A ban­ca­da se encon­trou num espec­tro con­ser­vador de dire­i­ta que aca­ba lim­i­tan­do as opções de escol­ha. A base foi delib­er­ada­mente poli­ti­za­da”, acred­i­ta.

Base

Uma das rev­e­lações do livro de André Íta­lo foi a história do primeiro pas­tor eleito dep­uta­do fed­er­al no Brasil, com o apoio da igre­ja dele. “Foi um pas­tor daqui de São Paulo, chama­do Levi Tavares [no manda­to de 1967 — 1971]. Ele era de fora da políti­ca”.

Mas foi durante a Con­sti­tu­inte, com as eleições de 1986, que surgiu o nome de ban­ca­da evangéli­ca. “Foi quan­do as igre­jas evangéli­cas perce­ber­am que pre­cisavam par­tic­i­par da políti­ca porque havia um medo de que o catoli­cis­mo se envolve­ria de maneira muito forte na Con­sti­tu­inte e acabasse voltan­do a ser a religião ofi­cial do país”, expli­ca.

O pesquisador con­tex­tu­al­iza que hou­ve setores da Igre­ja Católi­ca que fazi­am oposição à ditadu­ra (1964 — 1985), e que eram ali­a­dos de gru­pos de esquer­da. Para ele, essa vin­cu­lação con­tribuiu para que as igre­jas evangéli­cas se colo­cassem mais à dire­i­ta. “Quan­do a ditadu­ra acabou, as igre­jas evangéli­cas ficaram com esse receio. Por con­ta desse receio, os evangéli­cos se mobi­lizaram e elegeram vários dep­uta­dos. Naque­le primeiro momen­to foram 32 dep­uta­dos”, avalia.

André Íta­lo difer­en­cia o que se con­sid­era “ban­ca­da da bíblia” e o que é a Frente Par­la­men­tar Evangéli­ca, que se tra­ta de um grupo insti­tu­cional­iza­do, com 219 dep­uta­dos e 26 senadores, de difer­entes par­tidos, inclu­sive con­sid­er­a­dos de cen­tro e de esquer­da. Há um número mín­i­mo de assi­nat­uras para cri­ar a frente,  171 par­la­mentares.

“Os dep­uta­dos evangéli­cos são cer­ca de 90. Eles soz­in­hos não con­seguem cri­ar a frente. Então eles pre­cisam da aju­da de dep­uta­dos não evangéli­cos”.

Segun­do a pesquisa de Íta­lo, a frente tem um grupo de asses­sores par­la­mentares que faz reunião a cada segun­da-feira para faz­er um mapea­men­to de quais são as pau­tas que vão ser dis­cu­ti­das nas prin­ci­pais comis­sões naque­la sem­ana na Câmara, que são mais sen­síveis para os evangéli­cos. Na terça-feira, dep­uta­dos evangéli­cos debatem a pro­gra­mação. Atual­mente, o coor­de­nador da frente é o dep­uta­do Silas Câmara (Repub­li­canos — AM).

A reportagem entrou em con­ta­to com a asses­so­ria do dep­uta­do líder da frente evangéli­ca para comen­tar o tra­bal­ho da frente, mas não teve retorno.

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