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Bastidores do Carnaval: os trabalhadores que constroem a folia no Rio

Repro­dução: © Repro­dução TV Brasil

Sapateiros, ferreiros e figurinistas são parte essencial da festa


Pub­li­ca­do em 11/02/2024 — 15:11 Por Rafael Car­doso – Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Quan­do chega o momen­to de des­fi­lar na Sapu­caí, um item é fun­da­men­tal para os inte­grantes de uma esco­la de sam­ba: os calça­dos. Ninguém quer chegar ao fim da aveni­da, depois de mais de uma hora de apre­sen­tação, com bol­has e dores nos pés. Além do con­for­to, é lev­a­da em con­sid­er­ação a beleza da peça, prin­ci­pal­mente para estre­las que atraem mais olhares, como pas­sis­tas, musas e destaques.

Pedro Alberto, Sapateiro. Bastidores do Carnaval: os trabalhadores que constroem a folia no Rio.Sapateiros, ferreiros, figurinistas, entre outros, são parte essencial da festa. Foto: Reprodução TV Brasil
Repro­dução: Pedro Alber­to pro­duz sap­atos há 60 anos — Repro­dução TV Brasil

Nesse pon­to é que entra em cena o sap­ateiro Pedro Alber­to, que há 60 anos pro­duz sandálias para difer­entes agremi­ações do car­naval car­i­o­ca. Salto, palmil­ha, platafor­ma. Tudo é feito por ele, que se orgul­ha de con­stru­ir um mate­r­i­al sóli­do e seguro, reforça­do para evi­tar qual­quer tipo de prob­le­ma no Sam­bó­dro­mo. Cer­ta ocasião, a sandália de uma rain­ha de bate­ria que­brou no meio do des­file e ten­taram acusar Pedro. Pronta­mente, várias pes­soas se colo­caram em defe­sa do sap­ateiro e avis­aram que o pro­du­to que­bra­do não tin­ha sido feito por ele.

Uma rep­utação con­struí­da há décadas, des­de que era pequeno e apren­deu o ofí­cio na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, onde Pedro nasceu e vivia com a família.

“Eu tin­ha 7 anos. Lev­a­va almoço para o meu pai e con­heci uma sen­ho­ra no pon­to do ônibus. Aí, ela pediu para eu levar almoço para o mari­do dela na fábri­ca de sap­atos. Come­cei a gan­har meu din­heir­in­ho, fui olhan­do aque­le negó­cio na fábri­ca e gostan­do”, lem­bra Pedro Alber­to. “Quan­do eu tin­ha 9 anos e meu irmão, 11, um sen­hor começou a ensi­nar para a gente. Mais ou menos com 10 anos, eu já mon­ta­va uma tra­seira de sap­a­to, e o meu irmão mon­ta­va a frente do sap­a­to”.

Quan­do perdeu o pai, Pedro Alber­to decid­iu ir para o Rio de Janeiro em bus­ca de mais opor­tu­nidades de tra­bal­ho, para aju­dar a família. Tin­ha 15 anos na época. Com a aju­da de ami­gos, pro­duz­iu calça­dos para inte­grantes do blo­co Cacique de Ramos e depois pas­sou a Portela. Foi na esco­la que se tornou mais con­heci­do e virou um dos prin­ci­pais sap­ateiros. Ape­sar do sufo­co, acu­mu­lou exper­iên­cia, clientes e um nome de prestí­gio. Gos­ta de reforçar que pro­duz­iu as sandálias das três últi­mas rain­has do car­naval que foram campeãs.

Chegou a mon­tar uma fábri­ca, que fazia entre 2 e 3 mil pares em um mês. Hoje, o tra­bal­ho é difer­ente. Um negó­cio menor, com seis pes­soas na equipe, mas com clien­tela espe­cial e pro­dução per­son­al­iza­da.

“Na Bei­ja-Flor, por exem­p­lo, eu ten­ho 20 e poucos anos de tra­bal­ho. Faço até hoje os sap­atos e botas dos mestres-sala e por­ta-ban­deiras. Difi­cil­mente, vou sair das esco­las de sam­ba. A Imper­a­triz foi a últi­ma campeã. A sandália da rain­ha de bate­ria foi fei­ta aqui, tam­bém dos mestres-sala e por­ta-ban­deiras. A pres­i­dente man­dou faz­er muito sap­a­to aqui. Foi muito bacana, fomos campeões jun­to com eles. É muito bom isso, porque nos­so amor vai crescen­do cada vez mais.”

Entre cortes e costuras

Bastidores do Carnaval: os trabalhadores que constroem a folia no Rio.Sapateiros, ferreiros, figurinistas, entre outros, são parte essencial da festa. Foto: Reprodução TV Brasil
Repro­dução: Edmil­son Lima final­iza uma de suas cri­açõe — Repro­dução TV Brasil

Para que tudo acon­teça com suces­so na Sapu­caí, mil­hares de tra­bal­hadores ficam nos basti­dores preparan­do a fes­ta. Algu­mas dessas histórias são con­tadas na série Tra­bal­hadores do Car­naval, pro­duzi­da pela TV Brasil.

Além do sap­ateiro Pedro Alber­to, exis­tem out­ros profis­sion­ais que garan­tem a con­fecção das fan­tasias. É o caso de fig­urin­istas como Edmil­son Lima, que há 43 anos cria tra­jes e acessórios que se desta­cam na aveni­da. Para que isso acon­te­cesse, ele pre­cisou de cor­agem para aban­donar o anti­go emprego e se dedicar ao que sem­pre gos­tou de faz­er.

“Com 18 ou 19 anos, eu tra­bal­ha­va em uma empre­sa de aço. Não tin­ha nada a ver comi­go, me sen­tia pri­sioneiro, sufo­ca­do ali. Ven­ho de uma família de cos­tureiros e já tin­ha o dom para isso. Um dia, rece­bi con­vite para um tra­bal­ho com fig­uri­no de car­naval. Lá, vi uma cabeça de fan­ta­sia que pode­ria ser muda­da e trans­for­ma­da. No out­ro dia, uma pes­soa respon­sáv­el viu o que fiz e ficou encan­ta­da”, con­ta Edmil­son.

O fig­urin­ista ressalta que o tra­bal­ho exige estu­dos con­stantes, prin­ci­pal­mente com ampli­ação dos con­hec­i­men­tos em história. Edmil­son cita como exem­p­lo o proces­so de con­strução de tra­jes indí­ge­nas e egíp­cios, em que pre­cisou pesquis­ar detal­h­es cul­tur­ais, estéti­cos e soci­ais do pas­sa­do. E tam­bém há a pre­ocu­pação de atu­alizar os saberes a cada ano, uma vez que car­navale­scos e artis­tas pre­cisam estar sem­pre ino­van­do para sua esco­la se destacar na Sapu­caí.

“Os car­navale­scos expres­sam uma von­tade. Aí, você sug­ere a escol­ha de mate­ri­ais difer­entes. Se a roupa é futur­ista, tem que procu­rar algo que que dê um bril­ho mais high-tech [alta tec­nolo­gia]. Se está muito com­plexo para faz­er, procu­ramos um mate­r­i­al mais lúdi­co, uma coisa mais malu­ca que ninguém nun­ca usou. Tipo vamos jog­ar em cima uma luz escon­di­da para dar um efeito difer­ente”, expli­ca Edmil­son. “É uma profis­são que eu con­segui abraçar de um jeito que me preenchesse e me desse mui­ta sat­is­fação.”

Estruturas

Nildo Paris Ferreiro. Bastidores do Carnaval: os trabalhadores que constroem a folia no Rio.Sapateiros, ferreiros, figurinistas, entre outros, são parte essencial da festa. Foto: Reprodução TV Brasil
Repro­dução: Nil­do con­strói estru­turas que sus­ten­tam sam­bis­tas — Repro­dução TV Brasil

A cria­tivi­dade e o tra­bal­ho pesa­do estão pre­sentes nos calça­dos, nas fan­tasias, mas tam­bém nos car­ros alegóri­cos que cruzam a Sapu­caí. Nil­do Paris é fer­reiro e par­tic­i­pa do proces­so de con­strução das estru­turas e engen­harias que sus­ten­tam os sam­bis­tas e a dec­o­ração nos veícu­los. O proces­so todo leva em média sete meses e envolve profis­sion­ais de difer­entes áreas na lin­ha de mon­tagem.

A par­tir de um chas­si de cam­in­hão ou de ônibus, surgem os car­ros alegóri­cos. Tra­bal­ha­da a estru­tu­ra mecâni­ca, é fei­ta a adap­tação do chas­si, para que con­si­ga aguen­tar o peso das ale­go­rias. E são os fer­reiros que vão faz­er o alonga­men­to do chas­si.

“Todo ano tem novi­dade. Não é só com a engen­haria man­u­al, mas fazen­do a junção da engen­haria man­u­al com o motor e a parte robóti­ca. É uma junção de ideias. O car­navale­sco pas­sa o pro­je­to, a gente tro­ca uma ideia, vê o que é mel­hor para a esco­la, o resul­ta­do do tra­bal­ho, da peça que ele quer. Até chegar no resul­ta­do pos­i­ti­vo.”

Ao lado de Nil­do, em média, 60 fer­reiros que tra­bal­ham na pro­dução das estru­turas. É um grupo que acu­mu­la a exper­iên­cia de par­tic­i­par de duas grandes fes­tas do país: o car­naval car­i­o­ca e o Fes­ti­val de Par­intins, municí­pio no inte­ri­or do Ama­zonas. Enquan­to, no Norte do país, são dois con­cor­rentes, o Boi Garan­ti­do e o Boi Capri­choso, no Rio de Janeiro, 12 esco­las entram na dis­pu­ta. Destas, qua­tro vão des­fi­lar neste ano com peças e mate­r­i­al con­struí­dos pelo grupo de fer­reiros.

Dessa for­ma, os fer­reiros podem se sen­tir parte impor­tante do inter­câm­bio tec­nológi­co e cul­tur­al entre o Norte e o Sul do país. O tra­bal­ho deles se conec­ta com toda uma engrenagem cole­ti­va que dá vida a duas das prin­ci­pais fes­tas do país.

“A mes­ma téc­ni­ca afi­na­da que usamos em Par­intins, apli­camos aqui no Rio tam­bém. O acaba­men­to, a parte de estru­tu­ra, a engen­haria. Há um inter­câm­bio cul­tur­al e de engen­haria entre as cidades de Par­intins e do Rio de Janeiro”, diz Nil­do. “O con­hec­i­men­to vem dos dois lados. A gente traz do Ama­zonas e depois leva do Rio. É uma tro­ca de artes, que dá um resul­ta­do mar­avil­hoso na Aveni­da”, enfa­ti­za.

Conheça a história da passista Bellinha

Edição: Nádia Fran­co

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