...
quarta-feira ,12 fevereiro 2025
Home / Meios de comunicação / Bernadet, de 88 anos, tem mostra em 3 cidades e prepara novo livro

Bernadet, de 88 anos, tem mostra em 3 cidades e prepara novo livro

Repro­dução: © Jean-Claude Bernardet/Divulgação

Ícone do cinema brasileiro, belga atua atrás e na frente das câmeras


Publicado em 16/08/2024 — 09:12 Por Luiz Claudio Ferreira — Repórter da Agência Brasil — Brasília

ouvir:

A preparação de novo livro de aut­oficção, tra­bal­hos em cur­tos filmes que chama de poe­sias audio­vi­suais e uma memória detal­hista sobre mais de seis décadas de ativi­dades mar­cam a tra­jetória do bel­ga Jean-Claude Bernadet, de 88 anos, ícone do cin­e­ma brasileiro. Ele será hom­e­nagea­do por uma mostra de filmes (por trás ou na frente das câmeras) que serão exibidos nas unidades do Cen­tro Cul­tur­al Ban­co do Brasil (CCBB) em três cidades (Brasília, a par­tir des­ta sexta,16; São Paulo, dia 24; e Rio de Janeiro, dia 28). A exibição tem aces­so livre. Con­fi­ra pro­gra­mação no site do CCBB

O artista tem ain­da roti­na pro­du­ti­va, mes­mo com a degen­er­ação na reti­na que o tem deix­a­do longe das salas de cin­e­ma. “Eu quase não vou ao cin­e­ma porque não enx­er­go a tela”, lamen­ta. Mes­mo assim, con­ta com a parce­ria de real­izadores para escr­ev­er um novo livro de aut­oficção, com o títu­lo de Viv­er o medo, que escreveu em parce­ria com a ex-alu­na Sab­ri­na Anzu­ategui, con­forme rev­el­ou em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Brasília (DF) 16/08/2024 - o belga Jean-Claude Bernadet, de 88 anos, ícone do cinema brasileiro. Ele será homenageado por uma mostra de filmes (por trás ou na frente das câmeras) que serão exibidos nas unidades do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em três cidades (Brasília, a partir desta sexta,16; São Paulo, dia 24; e Rio de Janeiro, dia 28). A exibição tem acesso livre.Foto: Jean-Claude Bernardet/Divulgação
Repro­dução: Jean-Claude Bernadet, de 88 anos, ícone do cin­e­ma brasileiro. Foto: Jean-Claude Bernardet/Divulgação

Na memória do artista, ele recon­hece a importân­cia do ensi­no de cin­e­ma na Uni­ver­si­dade de Brasília, em ple­na ditadu­ra mil­i­tar. Fica orgul­hoso com a par­tic­i­pação como ator em filmes de uma nova ger­ação de cineas­tas e diz que se sente mais à von­tade hoje escreven­do. Ele se recon­hece como refer­ên­cia na cul­tura brasileira, mas entende que o recon­hec­i­men­to fez parte da con­strução dessa figu­ra social em que acabou se tor­nan­do.

Con­fi­ra abaixo tre­chos da entre­vista con­ce­di­da por Jean-Claude Bernadet:

Agên­cia Brasil — O sen­hor tem uma pas­sagem impor­tante pela Uni­ver­si­dade de Brasília, ao par­tic­i­par da cri­ação do cur­so de cin­e­ma na déca­da de 1960. Pode remem­o­rar essa história?

Bernadet — Naque­la época, as uni­ver­si­dades estavam se atu­al­izan­do. Enten­do que o primeiro cur­so uni­ver­sitário de cin­e­ma foi o de Brasília. As uni­ver­si­dades recor­reram a profis­sion­ais, já com renome, com obras real­izadas, para com­por o cor­po docente. Hou­ve mui­ta pressão sobre nós, por parte da polí­cia e da reito­ria. Em 1965, porém, hou­ve demis­são do cor­po docente. Nós achá­va­mos que se os mil­itares nos que­ri­am fora da uni­ver­si­dade, eles que nos tirassem.

Em 1969, fui cas­sa­do pelo AI‑5 com 24 pro­fes­sores da Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP), porque eu per­ten­cia a essas duas uni­ver­si­dades (UnB e USP).

Agên­cia Brasil —  O Brasil lem­bra, em 2024, os 60 anos da ditadu­ra. Como era falar de cin­e­ma naque­le começo do regime? O sen­hor era um jovem pro­fes­sor de 28 anos.

Bernadet — Primeiro, em 1965, na Uni­ver­si­dade de Brasília, hou­ve muitas greves. Então, eu e os alunos nos reuníamos para con­ver­sar e faz­er pro­jeção de filme. A gente se encon­tra­va à noite para pro­je­tar filmes e dis­cu­tir, sem que­brar a greve. À tarde, as salas de aula ficavam vazias.

Agên­cia Brasil — Ain­da sobre a cap­i­tal, o sen­hor foi roteirista de “Brasília: con­tradições de uma cidade nova” (doc­u­men­tário de Joaquim Pedro de Andrade, de 1967). Foi impor­tante esse filme para o sen­hor?

Bernardet — Sem dúvi­da. Naque­la época, era real­mente uma cidade nova, recém-inau­gu­ra­da, e era muito curioso porque havia ess­es palá­cios, mas havia tam­bém a W3 (aveni­da com­er­cial que atrav­es­sa as asas sul e norte). Era como uma rua prin­ci­pal de uma cidade de inte­ri­or. Então era um ambi­ente muito, muito espe­cial e, por out­ro lado, havia grande entu­si­as­mo em relação à uni­ver­si­dade.

Então, a gente esta­va sendo extrema­mente dinâmi­co e ati­vo porque tin­ha a impressão de estar con­stru­in­do algu­ma coisa que depois foi reprim­i­da. Mas o âni­mo em Brasília, ness­es anos, era muito inten­so.

Agên­cia Brasil — O que o sen­hor tem feito atual­mente?

Bernardet — O que acon­tece é o seguinte… eu fiquei prati­ca­mente cego (teve uma degen­er­ação na reti­na). Então, me dis­tan­ciei muito do cin­e­ma.

Tra­bal­hei com uma ami­ga, que é ex-alu­na, Sab­ri­na Anzu­ategui, e pub­li­camos, no fim do ano pas­sa­do, um livro (Wet Mácu­la), uma espé­cie de romance, e ago­ra esta­mos tra­bal­han­do em out­ro livro. E só é isso. Eu faço pequenos poe­mas audio­vi­suais tam­bém, em média de seis min­u­tos. Não são nar­ra­ti­vas, mas justaposição de imagem.

Agên­cia Brasil — Aprovei­tan­do que o sen­hor está falan­do sobre isso, apare­cer como ator na frente da câmera não deixa de ser uma novi­dade na sua tra­jetória.

Bernadet — Atual­mente, me sin­to mais à von­tade escreven­do. Eu escre­vo com a Sab­ri­na. Eu quase não vou ao cin­e­ma porque não enx­er­go a tela. Faço tam­bém ess­es pequenos filmes, de seis min­u­tos em ger­al, com mate­r­i­al de arqui­vo.

Recen­te­mente, tive uma peque­na par­tic­i­pação no Nos­fer­atu, do Cris­tiano Burlan. Fiz um cur­ta-metragem como ator tam­bém com Pedro Goif­man, fil­ho do cineas­ta Kiko Goif­man. Ele fez um pequeno filme e eu sou ator no filme dele.

A leitu­ra é extrema­mente difí­cil para mim. Com a Sab­ri­na, eu tra­bal­ho bem. A gente con­ver­sa e ela escreve. Um dos meus filmes, que é a Cama Vazia, entrou em mais de 40 fes­ti­vais de cin­e­ma. No Brasil, o últi­mo filme é A Últi­ma Val­sa, que tam­bém estará na mostra no CCBB.

Agên­cia Brasil — O sen­hor fez o Cama Vazia com o Fábio Rogério. Tra­ta-se de uma inter­nação que teve?

Bernardet — Eu esta­va hos­pi­tal­iza­do e o Fábio tin­ha com­pra­do uma máquina de fotogra­far. E aí ele acabou fazen­do essas fotos que são a base do filme. É sem­pre isso. Eu ten­to tra­bal­har no sen­ti­do de ter as condições, e depois surge a ideia. E não o con­trário: ter uma ideia para faz­er um filme.

Agên­cia Brasil — Como é para o sen­hor con­tribuir com a for­mação dess­es novos cineas­tas?

Bernardet - Eu esta­va aposen­ta­do. Então, eles, dig­amos, me revi­talizaram. O Filme­fo­bia (do Kiko Goif­man), para mim, foi fun­da­men­tal, porque é um filme de que gos­to muito. Eu vi out­ra per­spec­ti­va pos­sív­el para mim.

Agên­cia Brasil — O sen­hor tem acom­pan­hado essas novas ger­ações de cineas­tas mais enga­ja­dos em temas soci­ais?

Bernardet — Às vezes, não con­si­go enx­er­gar e aí fico muito frustra­do no fim da pro­jeção. Eu fico tão frustra­do assim porque não recon­heço os atores, não vejo os atores. Então, infe­liz­mente, não estou acom­pan­han­do.

Ago­ra, quan­to à questão do cin­e­ma negro, as pesquisas sobre cin­e­ma começaram há bas­tante tem­po. E eu par­ticipei do iní­cio dessas pesquisas em São Paulo, em que um grupo de jovens negros esta­va começan­do a focalizar mais pre­cisa­mente a negri­tude no cin­e­ma brasileiro

Agên­cia Brasil — Den­tro dess­es tra­bal­hos, tem algum de que se orgul­ha mais?

Bernadet — Não clas­si­fi­co o que é o mel­hor, o mais inten­so, etc. Então, por exem­p­lo, essa pro­dução de filmes de seis min­u­tos, estou fasci­na­do por isso ago­ra. Assim como estou escreven­do com a Sab­ri­na out­ro romance (com o títu­lo Viv­er o Medo).

Agên­cia Brasil — Como espera que as pes­soas rece­bam o seu tra­bal­ho nes­sa mostra de filmes?

Bernardet — Eu sou, em grande parte, uma con­strução social. Tudo isso faz de mim uma refer­ên­cia na cul­tura brasileira, mas eu con­sidero que isso não é uma coisa tão indi­vid­ual. O recon­hec­i­men­to de uni­ver­si­dades e do CCBB, por exem­p­lo, con­stroem essa figu­ra social em que acabei me tor­nan­do.

Serviço

Mostra Bernardet e o cin­e­ma

CCBB DF (16/8 a 5/9)

CCBB SP (24/8 a 22/9)

CCBB RJ (28/8 a 22/9)

Entra­da gra­tui­ta

Brasília (DF) 16/08/2024 - O belga Jean-Claude Bernadet, de 88 anos, ícone do cinema brasileiro. Ele será homenageado por uma mostra de filmes (por trás ou na frente das câmeras) que serão exibidos nas unidades do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em três cidades (Brasília, a partir desta sexta,16; São Paulo, dia 24; e Rio de Janeiro, dia 28). A exibição tem acesso livre. Foto: Jean-Claude Bernardet/Divulgação
Repro­dução: O bel­ga Jean-Claude Bernadet, de 88 anos, ícone do cin­e­ma brasileiro, será hom­e­nagea­do por uma mostra de filmes (por trás ou na frente das câmeras) que serão exibidos nas unidades do Cen­tro Cul­tur­al Ban­co do Brasil (CCBB) Jean-Claude Bernardet/Divulgação

Edição: Graça Adju­to

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

DR com Demori entrevista a psicanalista e escritora Maria Rita Kehl

Programa vai ao ar nesta terça, às 23h, na TV Brasil Agên­cia Brasil Pub­li­ca­do em …