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Bio-Manguinhos será laboratório de prontidão para emergências globais

Repro­dução: © Fer­nan­do Brito / MS

Cooperação com ONU deve ser assinada em breve


Pub­li­ca­do em 01/01/2024 — 12:21 Por Tâmara Freire – repórter do radio­jor­nal­is­mo — Rio de Janeiro

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O Insti­tu­to de Tec­nolo­gia em Imuno­bi­ológi­cos da Fiocruz, Bio-Man­guin­hos, vai se tornar um lab­o­ratório de pron­tidão para pro­dução de vaci­nas em situ­ações de emergên­cia san­itária.

A par­tir da asso­ci­ação a uma rede for­ma­da pela Orga­ni­za­ção das Nações Unidas (ONU), o lab­o­ratório brasileiro será aciona­do para fornecer vaci­nas para out­ros país­es, espe­cial­mente na Améri­ca Lati­na, em caso de epi­demia ou pan­demia. Os ter­mos de coop­er­ação devem ser assi­na­dos em breve, de acor­do com o dire­tor de Bio Man­guin­hos Mau­rí­cio Zuma:

“O ano de 2023 foi o mais mar­cante dos últi­mos anos, porque nós temos sido muito procu­ra­dos, não só nacional­mente, mas inter­na­cional­mente, com a vis­i­bil­i­dade que nós temos hoje. Para dar apoio inter­na­cional, para cumprir essa lacu­na que tem de fal­ta de vaci­nas no mun­do”, expli­ca.

O Insti­tu­to é o prin­ci­pal pro­du­tor de vaci­nas do Pro­gra­ma Nacional de Imu­niza­ções (PNI), e já fornece imu­nizantes para mais de 70 país­es em coop­er­ação com a Orga­ni­za­ção Panamer­i­cana de Saúde (Opas) e o Fun­do das Nações Unidas para a Infân­cia (Unicef).

“Obvi­a­mente que a nos­sa pri­or­i­dade é sem­pre inter­na. Mas a gente deve se com­pro­m­e­ter tam­bém a lib­er­ar dos­es para o exte­ri­or, o que a gente já faz. Mas eles querem con­tar com o nos­so com­pro­mis­so, e que a gente este­ja prepara­do para poder dar essa respos­ta”, com­ple­men­ta Zuma.

Teconologia MRNA

Mas essa não é a úni­ca grande expec­ta­ti­va do Insti­tu­to para 2024. Ain­da no primeiro semes­tre deve começar a fase de testes clíni­cos da vaci­na con­tra a covid-19 em platafor­ma de RNA men­sageiro, rev­ela Zuma: “como é uma tec­nolo­gia nos­sa, a gente não pode encomen­dar ess­es testes clíni­cos fora. Nós esta­mos esperan­do chegar o últi­mo equipa­men­to da parte de down­stream, que a gente chama, para poder pro­duzir o lote clíni­co e aí já dar entra­da no pedi­do dos estu­dos clíni­cos”

Essa é a mes­ma platafor­ma uti­liza­da na vaci­na da Pfiz­er e con­siste na pro­dução de uma cópia sin­téti­ca de parte do códi­go genéti­co do agente infec­cioso. Quan­do essa molécu­la sin­téti­ca é inje­ta­da no organ­is­mo, ati­va o sis­tema imunológi­co, mes­mo sem pos­suir nen­hum frag­men­to real do cau­sador da doença. Sua prin­ci­pal van­tagem é a facil­i­dade de adap­tação da platafor­ma bási­ca para com­bat­er agentes difer­entes.

Os testes em ani­mais já foram feitos e tiver­am exce­lentes resul­ta­dos, segun­do Zuma. Ele acred­i­ta que o domínio dessa tec­nolo­gia seja uma ala­van­ca para o futuro:

“É a nos­sa vaci­na base (a vaci­na para a covid-19). Com essa vaci­na a gente vai já tra­bal­han­do em out­ras ini­cia­ti­vas, na mes­ma platafor­ma. A de vírus sin­ci­cial res­pi­ratório é uma delas. Eu acho que com a primeira vaci­na avançan­do bem, a gente vai poder acel­er­ar vários out­ros pro­je­tos nes­sa platafor­ma. Esse pro­je­to con­ver­sa com a questão da gente ser um lab­o­ratório de pron­tidão region­al. (…) Você escol­hen­do a sequên­cia genéti­ca do vírus, rap­i­da­mente você con­segue faz­er um pro­tótipo e faz­er o estu­do clíni­co dele. Então é muito rápi­do”

Há tam­bém out­ras duas vaci­nas de destaque em desen­volvi­men­to no Insti­tu­to, mas ain­da no está­gio de pro­va de con­ceito, quan­do os pesquisadores ver­i­fi­cam, a par­tir de testes em ani­mais, se o imu­nizante pro­duz respos­ta imunológ­i­ca no organ­is­mo.

Uma delas é para com­bat­er o zika vírus, e a out­ra é uma opção con­tra a febre amarela fei­ta com vírus ina­ti­va­do, ou seja, mor­to. Atual­mente, a vaci­na disponív­el con­tra a febre amarela — fei­ta com o vírus enfraque­ci­do — não é apli­ca­da de maneira ger­al nos idosos, porque eles têm mais risco de desen­volver efeitos adver­sos. Essa nova vaci­na pode solu­cionar essa lim­i­tação.

Estrutura

E para garan­tir que o Insti­tu­to dê con­ta de pro­duzir ess­es novos imu­nizantes e aten­der à pos­sív­el deman­da inter­na­cional, algu­mas adap­tações e uma grande ampli­ação estão em anda­men­to.

Em 2028, a Fiocruz deve inau­gu­rar o Com­plexo Indus­tri­al de Biotec­nolo­gia em Saúde, que está sendo con­struí­do em San­ta Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ago­ra que a ini­cia­ti­va rece­beu um novo aporte de R$  2 bil­hões do Pro­gra­ma de Acel­er­ação do Cresci­men­to (PAC), as obras devem avançar com mais rapi­dez.

Quan­do a nova unidade estiv­er em fun­ciona­men­to, Bio-Man­guin­hos vai con­seguir dobrar a quan­ti­dade de proces­sa­men­to e pro­duzir até 1 bil­hão de dos­es de vaci­nas por dia, caso seja necessário. Zuma enfa­ti­za que o pro­je­to está sendo pen­sa­do para que Bio-Man­guin­hos ocupe a van­guar­da da indús­tria far­ma­cêu­ti­ca.

Mas antes dis­so, as plan­tas do Insti­tu­to estão sendo adap­tadas para otimizar a pro­dução atu­al. “Nós vamos uti­lizar uma área nos­sa que foi desmo­bi­liza­da para faz­er uma con­strução mod­u­lar para vaci­nas virais. Por exem­p­lo, a vaci­na Rotavírus, hoje a gente não pro­duz o IFA [Ingre­di­ente Far­ma­cêu­ti­co Ati­vo — sub­stân­cia que pro­duz a reação imunológ­i­ca] porque a gente não tem lugar para pro­duzir. Lá ele vai poder ser pro­duzi­do e a gente vai poder con­cluir essa trans­fer­ên­cia de tec­nolo­gia. No caso de vaci­nas como rubéo­la, tam­bém vai aumen­tar muito a nos­sa capaci­dade. E abrindo espaço ali para rubéo­la, a gente abre espaço na nos­sa out­ra plan­ta para aumen­tar a capaci­dade de saram­po e de cax­um­ba”, con­ta Zuma.

E tudo isso tam­bém se rela­ciona com o aumen­to da relevân­cia inter­na­cional do Insti­tu­to. Ain­da no primeiro trimestre, Bio-Man­guin­hos deve ser cer­ti­fi­ca­do pela Orga­ni­za­ção Mundi­al de Saúde (OMS) para expor­tar a vaci­na dupla viral, que pro­tege con­tra o saram­po e cax­um­ba, e já está em nego­ci­ação com a Opas e o Unicef, para entre­gar essas vaci­nas em país­es africanos.

“Além dis­so, essa plan­ta tam­bém dev­erá ter uma nova pro­dução da vaci­na atu­al de febre amarela de for­ma mais autom­a­ti­za­da. Ou seja, a gente vai ter mais capaci­dade para essa vaci­na que tem um grande ape­lo inter­na­cional tam­bém. Então nós esta­mos nos com­pro­m­e­tendo para o exte­ri­or com mais vaci­na de febre amarela e com vaci­na dupla viral”, com­ple­men­ta o dire­tor do insti­tu­to.

E caso haja algu­ma epi­demia ou pan­demia antes que a nova fábri­ca de San­ta Cruz este­ja pronta, uma nova lin­ha de envase inau­gu­ra­da recen­te­mente pode pro­duzir até 1 mil­hão de dos­es por dia, em situ­ações de emergên­cia.

Terapias avançadas

Zuma não quis dar mais detal­h­es, mas rev­el­ou tam­bém que o insti­tu­to está final­izan­do acor­dos para a pro­dução de ter­apias avançadas, com tec­nolo­gia de vetor viral, semel­hante à uti­liza­da para o desen­volvi­men­to de vaci­nas. Essas ter­apias são pro­du­tos biológi­cos cri­a­dos a par­tir de célu­la e teci­dos humanos proces­sa­dos, e até mod­i­fi­ca­dos geneti­ca­mente, para tratar doenças graves, ou resistentes a medica­men­tos tradi­cionais.

“E isso vai ser impor­tan­tís­si­mo para o gov­er­no. Porque, primeiro que algu­mas empre­sas grandes far­ma­cêu­ti­cas já prop­i­ci­am o trata­men­to nes­sa platafor­ma a cus­tos altís­si­mos, de US$ 500 mil para um trata­men­to assim. E isso sendo judi­cial­iza­do obri­ga o gov­er­no a ban­car ess­es val­ores. Nós pre­tendemos com a nos­sa entra­da reduzir isso a cer­ca de 10% do val­or que hoje tá aí no mer­ca­do e a intro­dução desse trata­men­to no SUS. Mes­mo que não seja como primeira lin­ha, pelo cus­to, mas, caso out­ros trata­men­tos fal­hem, ele pos­sa ser uti­liza­do a um cus­to mais acessív­el”, final­iza Zuma.

Edição: Denise Griesinger

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