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Boas ondas e “experiências” são combo para atrair surfistas ao Brasil

Repro­dução: © Arte/ABR

Especialistas veem potencial pouco explorado no país


Pub­li­ca­do em 27/09/2023 — 07:54 Por Alex Rodrigues — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Berço de qua­tro campeões mundi­ais de surfe profis­sion­al – Gabriel Med­i­na (SP), Adri­ano de Souza “Mineir­in­ho” (SP), Íta­lo Fer­reira (RN) e Fil­ipe Tole­do (SP) – o Brasil não cos­tu­ma con­star da lista de des­ti­nos mais cobiça­dos por estrangeiros que via­jam atrás de ondas per­feitas. Em parte porque não ofer­ece condições para a práti­ca do esporte tão boas quan­to as de des­ti­nos famosos, como Aus­trália, Indonésia e Havaí (Esta­dos Unidos). Mas tam­bém por não inve­stir o necessário para ten­tar atrair este públi­co, con­forme apon­tam entre­vis­ta­dos ouvi­dos pela Agên­cia Brasil sobre o poten­cial de atração turís­ti­ca dos chama­dos esportes de aven­tu­ra.

“Não sou espe­cial­ista em tur­is­mo, mas me parece que há sim um poten­cial pouco explo­rado pelo Brasil”, avalia o dire­tor de Comu­ni­cação da Con­fed­er­ação Brasileira de Surf (CBSurf), Ricar­do Bocão.

Sócio fun­dador do canal a cabo Woohoo, ded­i­ca­do aos esportes de ação, Bocão pega ondas há mais de qua­tro décadas. Já sur­fou em ao menos 18 país­es e tem dezenas de tem­po­radas hava­ianas em seu cur­rícu­lo. Tam­bém par­ticipou das primeiras ini­cia­ti­vas para profis­sion­alizar o surfe no Brasil. Mes­mo com sua vivên­cia, o car­i­o­ca não se lem­bra de já ter vis­to uma cam­pan­ha pub­lic­itária des­ti­na­da a con­vencer sur­fis­tas de out­ras nações a vis­itarem o Brasil.

“Cer­ta­mente, nos­sos sur­fis­tas profis­sion­ais seri­am óti­mos garo­tos-pro­pa­gan­das se os órgãos respon­sáveis ou uma agên­cia turís­ti­ca soubessem asso­ciar a imagem deles a algo como as car­ac­terís­ti­cas do cli­ma, as belezas nat­u­rais, a culinária e ao fato de ser­mos um povo hos­pi­taleiro”, comen­ta Bocão.

Ele cita Equador, Cos­ta Rica e El Sal­vador como exem­p­los de país­es mais próx­i­mos à real­i­dade brasileira e que investem na atração de sur­fis­tas que via­jam não só atrás de boas ondas, mas tam­bém de “exper­iên­cias”.

26/09/2023, Ricardo Bocão - diretor de Comunicação da Confederação Brasileira de Surf (CBSurf). Foto: Arquivo pessoal
Repro­dução: Ricar­do Bocão pega ondas há mais de 40 anos — Arqui­vo pes­soal

“Não acho que a per­for­mance de atle­tas profis­sion­ais seja pre­pon­der­ante para alguém decidir vis­i­tar um lugar a fim de praticar um esporte. O que moti­va um sur­fista amador a con­hecer a Aus­trália, por exem­p­lo, são as condições para a práti­ca do esporte, além das belas pais­agens, segu­rança, infraestru­tu­ra e facil­i­dade de se deslo­car pelo país, e não o fato de não sei quan­tos campeões mundi­ais de surfe terem nasci­do na Aus­trália. Ain­da que isso tam­bém pos­sa entrar na con­ta”, diz Bocão, desta­can­do que, mes­mo não ofer­e­cen­do as mel­hores e mais con­stantes ondas do mun­do, o Brasil dis­põe de atrib­u­tos para atrair mais sur­fis­tas e tur­is­tas de aven­tu­ra.

“Belezas nat­u­rais o Brasil tem de sobra. Bas­ta saber ‘empa­co­tar’ o pro­du­to e vendê-lo no exte­ri­or. Até porque, muitas pes­soas não via­jam para praticar um só esporte. Elas vêm atrás de um com­bo que inclui out­ras modal­i­dades e cul­turas. Além dis­so, quan­tos país­es podem ofer­e­cer a um sur­fista expe­ri­ente a opor­tu­nidade de domar as exten­sas e fortes ondas da poro­ro­ca, em ple­na Flo­res­ta Amazôni­ca?”, ques­tiona Bocão.

Estrondo

Pio­neiro do surfe na poro­ro­ca no Brasil, o paranaense Sér­gio Laus, de 43 anos, já cor­reu ondas de rios entre tron­cos de árvores sec­u­lares que as forças das águas arran­car­am do solo pela raiz. Obser­va­do por ribeir­in­hos que o aux­il­iaram a des­bravar a Amazô­nia e, even­tual­mente, por jacarés, búfa­los e uma var­iedade de pás­saros, escreveu seu nome no Guin­ness, esta­b­ele­cen­do o recorde mundi­al de maior dis­tân­cia (10,1 quilômet­ros) per­cor­ri­da sur­fan­do uma onda. Mar­ca que ele próprio super­ou alguns anos depois, ao per­manecer de pé sobre a pran­cha por 36 min­u­tos inin­ter­rup­tos, total­izan­do exaus­tivos 11,8 quilômet­ros.

26/09/2023, SERGIO LAUS SURFANDO NA POROROCA. Foto: @pororocatur
Repro­dução:  Paranaense Sér­gio Laus é Pio­neiro do surfe na poro­ro­ca no Brasil — @pororocatur

Os dois feitos foram alcança­dos no Rio Araguari, no Amapá. Lugar dis­tante da cos­ta brasileira e para onde poucos sur­fis­tas pen­sari­am em via­jar levan­do suas pran­chas. O paranaense tam­bém se dedi­cou a mapear e exper­i­men­tar os mel­hores pon­tos para práti­ca do surfe em poro­ro­cas do Maran­hão e Pará. E foi, então, con­hecer o efeito do encon­tro das águas de rios com as do oceano em out­ros país­es, incluin­do a Chi­na, onde esteve a con­vite do gov­er­no.

Com sua exper­iên­cia, pas­sou a aju­dar out­ros sur­fis­tas e equipes de TV e doc­u­men­taris­tas, inclu­sive estrangeiras, a des­fru­tar das mel­hores condições para a práti­ca da modal­i­dade e para reg­is­trarem o exóti­co surfe flo­re­stal.

“‘Unre­al’, ‘Unbe­liev­able’, ‘The best trip of my life’, ‘The best ever’… Essas cos­tu­mam ser as reações deles ao chegar e ver de per­to a dimen­são do fenô­meno e a natureza. Todos ficam alu­ci­na­dos. E não só os grin­gos. Os brasileiros que têm a opor­tu­nidade de ter a exper­iên­cia com­ple­ta, sur­fan­do e con­hecen­do a Amazô­nia, tam­bém voltam impacta­dos”, con­ta Laus.

Ten­do teste­munhado ondas de rio virarem lan­chas; se per­di­do na sel­va e sofri­do ao menos um aci­dente grave, Laus aler­ta que as condições extremas não per­mitem que pes­soas inex­pe­ri­entes se aven­turem na poro­ro­ca.

“Sur­far uma destas ondas é muito com­plexo e perigoso. É pre­ciso ter domínio da pran­cha, saber remar. Não dá para colo­car um ini­ciante naque­las condições. Até porque, mes­mo quem já tem o preparo necessário pre­cisa de uma estru­tu­ra ade­qua­da, com profis­sion­ais que con­heçam a região, saibam nave­g­ar e, prin­ci­pal­mente, saibam como min­i­mizar os riscos imi­nentes. Sem isso, a pes­soa pode não con­seguir sur­far. Ou, pior, pode entrar em uma grande rouba­da e ver seu son­ho se tornar um pesade­lo em locais de difí­cil aces­so”, pon­dera Laus, desta­can­do que, entre sur­fis­tas expe­ri­entes, via­gens para lugares remo­tos, com ondas de boa qual­i­dade e, de prefer­ên­cia, solitárias, são comuns.

“Além dis­so, as pos­si­bil­i­dades turís­ti­cas vão além do surfe. A poro­ro­ca é um fenô­meno que pode ser asso­ci­a­do ao eco­tur­is­mo, ao tur­is­mo de obser­vação e que pode, inclu­sive, pro­por­cionar a opor­tu­nidade úni­ca de uma pes­soa assi­s­tir, em segu­rança, sur­fis­tas expe­ri­entes sur­fan­do ondas poderosas, tal como acon­tece no Havaí, em Nazaré [Por­tu­gal] e em out­ros picos de ondas grandes”, acres­cen­ta o paranaense. Segun­do ele, os prin­ci­pais divul­gadores do surfe na poro­ro­ca são os próprios prat­i­cantes da modal­i­dade.

“A pro­moção de qual­quer ativi­dade rela­ciona­da ao eco­tur­is­mo e ao tur­is­mo de aven­tu­ra pre­cisa ser fei­ta com cuida­do para não fomen­tar­mos ativi­dades perigosas ou que pos­sam prej­u­dicar o meio ambi­ente”, aler­ta o pres­i­dente da Asso­ci­ação Brasileira das Empre­sas de Tur­is­mo de Aven­tu­ra (Abe­ta), Vini­cius Vie­gas.

Edição: Juliana Andrade

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