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Braille: acessibilidade melhora no Brasil, mas ainda precisa avançar

Repro­dução: © Arquivo/Agência Brasil

No Dia Mundial do Braille, Agência Brasil conversa com especialistas


Pub­li­ca­do em 04/01/2023 — 06:27 Por Mar­i­ana Tokar­nia — Repórter da Agên­cia Brasil  — Rio de Janeiro

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Pon­tos em rele­vo que, com­bi­na­dos, for­mam 63 sinais para serem lidos com as pon­tas dos dedos. Há quase 200 anos, o braille pas­sou a per­mi­tir a escri­ta e a leitu­ra por pes­soas cegas e com baixa visão. Hoje (4), Dia Mundi­al do Braille, a Agên­cia Brasil con­ver­sou com espe­cial­is­tas que mostram que o país mel­horou a aces­si­bil­i­dade, mas ain­da pre­cisa avançar. 

“Eu cos­tu­mo diz­er que a humanidade teve grande con­quista com a invenção da escri­ta e, durante esse tem­po todo, hou­ve ten­ta­ti­vas de desen­volver uma escri­ta para cegos. A grande con­quista veio com o braille. A par­tir desse momen­to, as pes­soas cegas pas­saram a par­tic­i­par da história”, diz a coor­de­nado­ra de Revisão da Fun­dação Dori­na Now­ill para Cegos e mem­bro do Con­sel­ho Mundi­al e do Con­sel­ho Ibero-amer­i­cano do Braille, Regi­na Oliveira.

Segun­do Regi­na, o braille é fer­ra­men­ta fun­da­men­tal para a alfa­bet­i­za­ção e a inde­pendên­cia de cegos e pes­soas com baixa visão. Ela nasceu com glau­co­ma e, aos 7 anos, perdeu por com­ple­to a visão. Ain­da peque­na, teve seu primeiro con­ta­to com a Fun­dação Dori­na Now­ill para Cegos, onde foi alfa­bet­i­za­da em braille.

A importân­cia do Sis­tema Braille, de acor­do com Regi­na, está tan­to no aces­so a infor­mações de cos­méti­cos, medica­men­tos, con­tas de con­sumo, quan­to na pri­vaci­dade para con­sul­tar um extra­to bancário, a fatu­ra do cartão de crédi­to, além dos estu­dos. “Não há out­ra maneira de alfa­bet­i­zar a cri­ança cega a não ser por meio do braille. Mais tarde, pode usar out­ros for­matos, como o livro dig­i­tal fal­a­do, leitores de tela, mas aí a pes­soa vai ouvir, ler, só con­segue ler por meio do braille, e isso é bas­tante impor­tante”.

O últi­mo Cen­so do Insti­tu­to Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­ca (IBGE), de 2010, mostra que exis­tem no Brasil mais de 6,5 mil­hões de pes­soas com defi­ciên­cia visu­al, sendo 506 mil cegas e cer­ca de 6 mil­hões com baixa visão. Entre as pes­soas cegas, 110 mil com 15 anos ou mais de idade não são alfa­bet­i­zadas. Entre as pes­soas com baixa visão, 1,5 mil­hão não sabem ler ou escr­ev­er. Isso sig­nifi­ca diz­er que cer­ca de uma em cada qua­tro pes­soas (25%) com algu­ma defi­ciên­cia visu­al era con­sid­er­a­da não alfa­bet­i­za­da. Um índice maior do que o da pop­u­lação em ger­al, que em 2010 era de aprox­i­mada­mente 8% para essa faixa etária.

“Infe­liz­mente são pou­cas as  insti­tu­ições espe­cial­izadas para dar suporte. O atendi­men­to da sala de recur­sos, a meu ver, é insu­fi­ciente. Há poucos pro­fes­sores com con­hec­i­men­to do braille nas redes de ensi­no públi­cas e pri­vadas do país”, diz a pro­fes­so­ra do Insti­tu­to Ben­jamin Con­stant Mar­gareth de Oliveira Ole­gario Teix­eira, que inte­gra o Grupo de Pesquisa em Edu­cação e Mídia na Pon­tif­í­cia Uni­ver­si­dade Católi­ca do Rio de Janeiro (GRU­PEM/PUC-Rio),

Hou­ve avanços. Des­de 2019, por exem­p­lo, pelo Pro­gra­ma Nacional do Livro Didáti­co Acessív­el (PNLD/Acessível), os livros didáti­cos pas­saram a ser impres­sos em braille e letras ampli­adas em por­tuguês. Os alunos cegos e com baixa visão pas­saram a rece­ber os mes­mos livros que o restante dos alunos da classe.

Segun­do Mar­gareth e Regi­na, no entan­to, ain­da fal­tam tan­to imprim­ir mais livros e mate­ri­ais em braille, quan­to o amp­lo aces­so a equipa­men­tos como a Lin­ha Braille, que ain­da é muito cara. Essa lin­ha é um equipa­men­to que exibe em braille o que está na tela de com­puta­dores, tablets e celu­lares. “Para mim, está no cam­po do son­ho de con­sumo”, diz Mar­gareth. Regi­na ressalta que o Brasil é muito rico em leg­is­lação. “A grande questão é colo­car essa leg­is­lação em vig­or, faz­er tudo fun­cionar”.

Mar­gareth reforça que o braille não deve ser sub­sti­tuí­do por leitores de tela ou out­ros recur­sos. “Os recur­sos dig­i­tais de infor­máti­ca não sub­stituem o braille”, com­ple­men­ta. Para ela, pes­soas cegas têm dire­ito ao braille. “Muitas vezes, quer ler uma par­ti­tu­ra, uma cifra de músi­ca, pre­cisa desse con­ta­to com o braille. [O sis­tema] facili­ta a com­preen­são de alguns recur­sos, facili­ta, por exem­p­lo, o estu­do de lín­gua estrangeira”, diz.

O Sis­tema Braille foi cri­a­do em 1825 pelo francês Louis Braille, cego aos três anos de idade dev­i­do a um aci­dente que cau­sou a infecção dos dois olhos. A ver­são mais con­heci­da data de 1837.O sis­tema per­mite a comu­ni­cação em várias lín­guas.

O sis­tema, for­ma­do por sím­bo­los alfabéti­cos e numéri­cos, pos­si­bili­tam a escri­ta e leitu­ra, por meio da com­bi­nação de um a seis pon­tos. A leitu­ra, com uma ou ambas as mãos, se faz da esquer­da para a dire­i­ta. Os pon­tos em rele­vo obe­de­cem a medi­das padrão e a dimen­são da cela braille cor­re­sponde à unidade de per­cepção da pon­ta dos dedos.

No Brasil, o braille foi intro­duzi­do por José Álvares de Azeve­do, ide­al­izador da primeira esco­la para o ensi­no de cegos no país, o Impe­r­i­al Insti­tu­to de Meni­nos Cegos, atu­al Ben­jamin Con­stant. No dia 8 de abril, aniver­sário de Azeve­do, é comem­o­ra­do o Dia Nacional do Braille.

Edição: Graça Adju­to

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