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Branqueamento de corais é registrado a 60 metros de profundidade

Repro­dução: © UFPE

Fenômeno foi observado pela primeira vez no Atlântico Sul


Publicado em 11/05/2024 — 10:09 Por Vitor Abdala – Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

Cien­tis­tas da Uni­ver­si­dade Fed­er­al de Per­nam­bu­co (UFPE) reg­is­traram, em abril deste ano, o bran­quea­men­to de corais local­iza­dos a pro­fun­di­dades que vari­am de 40 a 60 met­ros, no litoral brasileiro. É a primeira vez que o fenô­meno, provo­ca­do pelo aumen­to da tem­per­atu­ra do oceano e que pode levar à morte dess­es ani­mais, é reg­istra­do em tais pro­fun­di­dades no Atlân­ti­co Sul.

Com apoio da orga­ni­za­ção não gov­er­na­men­tal WWF-Brasil, uma expe­dição cien­tí­fi­ca real­iza­da, em abril em cin­co ban­cos (topos) da cadeia mon­tan­hosa sub­m­er­sa Norte, local­iza­da per­to da cos­ta dos esta­dos do Ceará e do Rio Grande do Norte, reg­istrou bran­quea­men­to em pop­u­lações da espé­cie Agari­cia frag­ilis que vivem a 60 met­ros de pro­fun­di­dade.

Os cien­tis­tas con­stataram, aliás, que o bran­quea­men­to atingiu as seis espé­cies reg­istradas ness­es ban­cos, entre elas o coral-de-fogo Mille­po­ra alci­cor­nis, que nun­ca havia sido encon­tra­da habi­tan­do essa pro­fun­di­dade, a mais de 40 met­ros, ou seja, a chama­da zona mesofóti­ca.

“Acred­itá­va­mos que essa espé­cie só ocor­ria no raso. E encon­tramos um recife impres­sio­n­ante de coral-de-fogo no ban­co Leste, entre 50 e 43 met­ros de pro­fun­di­dade. Pos­sivel­mente é o maior ban­co desse coral no Brasil inteiro”, diz o pesquisador da UFPE Mau­ro Mai­da. “A gente nun­ca tin­ha vis­to isso antes e, quan­do viu, esta­va bran­que­an­do.”

A zona mesofóti­ca é uma área um pouco mais pro­fun­da do oceano, onde a luz solar ain­da chega, mas de for­ma menos inten­sa e onde a tem­per­atu­ra do oceano é mais fria que na super­fí­cie.

As out­ras qua­tro espé­cies reg­istradas nos ban­cos do Norte, Mon­tas­trea cav­er­nosaSideras­trea stel­la­taMean­d­ri­na brasilien­sis e a ameaça­da Mus­sis­mil­ia hart­tii, tam­bém apre­sen­taram pon­tos de bran­quea­men­to.

Os corais são inver­te­bra­dos mar­in­hos capazes de se ali­men­tar soz­in­hos, mas grande parte de sua dieta é obti­da através de uma sim­biose, ou seja, uma relação mutu­a­mente bené­fi­ca, com as algas zoox­an­te­las. A par­tir da real­iza­ção da foto­ssín­tese, as algas fornecem nutri­entes para seus hos­pedeiros ani­mais.

As zoox­an­te­las tam­bém são respon­sáveis pelas cores dos corais. Quan­do a tem­per­atu­ra do mar sobe, no entan­to, elas aban­don­am os ani­mais e os deix­am esbran­quiça­dos. Sem os nutri­entes ofer­e­ci­dos pelas algas, os corais podem até con­tin­uar vivos e se ali­men­tan­do de micro-organ­is­mos por meses, mas sua saúde fica prej­u­di­ca­da, o que os tor­na mais suscetíveis a doenças e à morte.

Uma nova onda de bran­quea­men­to glob­al está atingin­do, este ano, vários recifes de corais em todo o mun­do e, no litoral nordeste brasileiro, o fenô­meno vem sendo obser­va­do des­de o iní­cio de março.

Mau­ro Mai­da real­iza expe­dições aos ban­cos do Norte e da cadeia viz­in­ha de Fer­nan­do Noron­ha des­de 2016 e diz que nun­ca tin­ha obser­va­do o bran­quea­men­to de corais na zona mesofóti­ca na região.“Os recifes mesofóti­cos eram tidos como menos suscetíveis ao aque­c­i­men­to glob­al, mas esta­mos ven­do que o negó­cio chegou lá no fun­do. Esse El Niño [fenô­meno de aque­c­i­men­to das águas do Pací­fi­co que influ­en­cia o cli­ma em out­ros oceanos e con­ti­nentes] foi tão extremo que aumen­tou inclu­sive a tem­per­atu­ra do fun­do”, expli­ca o pesquisador.

Segun­do Mai­da, o bran­quea­men­to de corais é um indi­cador pre­ocu­pante da situ­ação climáti­ca glob­al. “Isso é um ter­mômetro. A coisa está tão feia que está chegan­do ao fun­do do mar.”

Coor­de­nador do Cen­tro Nacional de Pesquisa e Con­ser­vação da Bio­di­ver­si­dade Mar­in­ha do Nordeste (Cepene), Leonar­do Mes­sias ressalta que o fenô­meno do bran­quea­men­to dos corais não está dis­so­ci­a­do de catástro­fes nat­u­rais que afe­tam a pop­u­lação. “A trans­for­mação do cli­ma é uma coisa muito séria. A gente está viven­do isso muito dras­ti­ca­mente lá no Rio Grande do Sul.”

Edição: Nádia Fran­co

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