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Brasil concentra 76% dos incêndios na América do Sul

Repro­dução: © CBMGO/Divulgação

País registrou mais de 5 mil focos nas últimas 24 horas


Publicado em 10/09/2024 — 10:19 Por Fabíola Sinimbú — Repórter da Agência Brasil — Brasília

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Nas últi­mas 24 horas, o Brasil reg­istrou 5.132 focos de incên­dio, con­cen­tran­do 75.9% das áreas afe­tadas pelo fogo em toda a Améri­ca do Sul, infor­ma o Pro­gra­ma Queimadas, do Insti­tu­to Nacional de Pesquisas Espa­ci­ais (Inpe). O aumen­to no número de focos se deu no bio­ma Cer­ra­do, que ultra­pas­sou a Amazô­nia nas frentes de fogo e reg­istrou 2.489 focos ontem (9) e hoje.

Uma das maiores espe­cial­is­tas em fogo do país, a dire­to­ra do Insti­tu­to de Pesquisa Ambi­en­tal da Amazô­nia (Ipam), Ane Alen­car, diz que o avanço dos incên­dios em grande parte do país pre­ocu­pa prin­ci­pal­mente pela ante­ci­pação do perío­do críti­co. “A gente está numa situ­ação muito difí­cil, até porque não sabe como serão os próx­i­mos meses. Não quer­e­mos que seja como foi o fim do ano pas­sa­do, quan­do em out­ubro a situ­ação piorou na Amazô­nia, prin­ci­pal­mente em novem­bro e dezem­bro, e a chu­va só começou em janeiro. Então, fico muito pre­ocu­pa­da com será depois de setem­bro”.

Nestes primeiros dias de setem­bro, os focos dis­tribuí­dos pelo país super­am o dobro do que foi obser­va­do em 2023. Em ape­nas dez dias são 37.492 focos reg­istra­dos, enquan­to que no mes­mo perío­do do ano ante­ri­or havi­am sido 15.613. Para Ane Alen­car, este ano o fogo foi poten­cial­iza­do por uma con­fluên­cia de fatores que vão des­de fenô­menos como o segun­do ano de El Niño, segui­do de La Niña, pas­san­do pelo aque­c­i­men­to glob­al e a ação humana. “Eu acho que no Brasil, nor­mal­mente, já tive­mos secas muito fortes na Amazô­nia, em uma parte do Cer­ra­do, na região cen­tral do país, mas pegan­do vários bio­mas ao mes­mo tem­po, eu acho que é uma das primeiras vezes. É quase uma tem­pes­tade per­fei­ta, onde o cli­ma é o motor para propa­gar o fogo que ocorre a par­tir das queimadas”, diz.

Além dos incên­dios que avançam sobre a Amazô­nia e o Pan­tanal, São Paulo tam­bém pas­sa por situ­ação críti­ca.

Turismo

No Cer­ra­do, duas impor­tantes unidades de con­ser­vação tam­bém são alcançadas pelo fogo. No esta­do de Goiás. o Par­que Nacional da Cha­pa­da dos Vead­eiros teve 10 mil hectares atingi­dos pelos incên­dios e em Mato Grosso, esta­do que lid­era o número de focos, o Insti­tu­to Chico Mendes de Con­ser­vação da Bio­di­ver­si­dade (ICM­Bio) inter­di­tou, por tem­po inde­ter­mi­na­do, pon­tos turís­ti­cos da unidade con­ce­di­da à ini­cia­ti­va pri­va­da.

Segun­do a Par­que­tur, admin­istrado­ra do uso públi­co das duas unidades, não foi necessário inter­di­tar as atrações turís­ti­cas em Goiás, já que o incên­dio ocorre em região que não afe­ta nem colo­ca em risco a área de vis­i­tação. “A Par­que­tur reforça que é impor­tante que as vis­i­tações ao entorno con­tin­uem a ocor­rer, para não ger­ar impactos neg­a­tivos ao mer­ca­do turís­ti­co local.”, infor­mou a empre­sa.

Ignição

Para a pesquisado­ra, emb­o­ra a seca seja capaz de causar impactos na econo­mia e no equi­líbrio ambi­en­tal, com iso­la­men­to de comu­nidades, difi­cul­dades de trans­porte e mor­tan­dade de espé­cies, ela não é capaz de causar fogo e a pro­porção de seu impacto gan­ha maiores dimen­sões pela ação humana. “Para que haja um fogo, tem que ter faís­ca, que é essa primeira fonte de ignição, e ela é ini­ci­a­da pelo ser humano, por diver­sos motivos. Mas os prin­ci­pais, eu diria, porque a gente está falan­do de uma região muito grande, os prin­ci­pais são o uso do fogo para ren­o­vação de pastagem e o uso do fogo na práti­ca de con­ver­são do solo, na práti­ca de des­mata­men­to”, afir­ma Ane.

Qualidade do ar

O cenário de incên­dios em grande parte do país faz com que os episó­dios críti­cos de poluição do ar tam­bém sejam mais fre­quentes e as doenças cau­sadas pela fumaça impactem, inclu­sive, o sis­tema de saúde do país. Recen­te­mente, o Min­istério da Saúde acio­nou a Força Nacional do Sis­tema Úni­co de Saúde (FN-SUS) para atu­ar no auxílio aos esta­dos e municí­pios em bus­ca de min­i­mizar os efeitos das queimadas na saúde humana.

Ane Alen­car expli­ca que os efeitos region­ais do fogo vão muito além das questões de saúde e afe­tam até a econo­mia de um país. “Há um impacto para as pes­soas que per­dem suas matérias-pri­mas, aque­la árvore frutífera, aque­la madeira que está ali na flo­res­ta; há um impacto na caça das pes­soas. E tam­bém na agropecuária, uma área que não esta­va prepara­da para ser queima­da, quan­do é queima­da tem efeito na agri­cul­tura. Tam­bém o gado tem que sair daque­le pas­to queima­do e ir para out­ro, que vai ser arren­da­do ou, às vezes, o gado até morre”.

As per­das não param por aí segun­do a pesquisado­ra, que tam­bém apon­ta impactos na ciên­cia, no meio ambi­ente e no bem-estar da humanidade. “Tem impactos que vão des­de a per­da de bio­di­ver­si­dade, de mate­r­i­al genéti­co que a gente até descon­hece, a diminuição da capaci­dade de recu­per­ação dessas áreas, que ficam mais suscetíveis a out­ros incên­dios. Isso faz com que se ten­ha uma per­da de serviço ecos­sistêmi­co, prin­ci­pal­mente de água, mas tam­bém de retenção de car­bono, por exem­p­lo. Out­ra questão é do calor mes­mo, sabe­mos que a flo­res­ta tem papel impor­tante no con­for­to tér­mi­co”.

Conscientização

Emb­o­ra em grande parte das áreas atingi­das pelos incên­dios o mane­jo do fogo este­ja proibido, a pesquisado­ra con­sid­era que ain­da é necessário mel­ho­rar a con­sci­en­ti­za­ção das pes­soas. “Do jeito que esta­mos viven­do essa crise, os con­tin­gentes gov­er­na­men­tais, sejam eles da esfera fed­er­al, estad­u­ais, ou munic­i­pais, não serão sufi­cientes para con­ter o que está ocor­ren­do, a não ser que haja o enga­ja­men­to da sociedade”, diz.

Edição: Graça Adju­to

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