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Brasil é o país com mais mortes de pessoas trans no mundo, diz dossiê

Repro­dução: © Val­ter Campanato/Agência Brasil

Em 2022, 131 pessoas trans e travestis foram assassinadas no país


Pub­li­ca­do em 26/01/2023 — 21:26 Por Heloisa Cristal­do — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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O Brasil é o país com mais mortes de pes­soas trans e trav­es­tis no mun­do pelo 14º ano con­sec­u­ti­vo. Segun­do o Dos­siê Assas­si­natos e Vio­lên­cias con­tra Trav­es­tis e Tran­sex­u­ais Brasileiras da Asso­ci­ação Nacional de Trav­es­tis e Tran­sex­u­ais (Antra), Méx­i­co e Esta­dos Unidos apare­cem em segun­do e ter­ceiro lugares, respec­ti­va­mente.

Em 2022, 131 pes­soas trans e trav­es­tis foram assas­si­nadas no país. Out­ras 20 tiraram a própria vida em vir­tude de dis­crim­i­nação e do pre­con­ceito. Os dados fazem parte do doc­u­men­to divul­ga­do nes­ta quin­ta-feira (26), em cer­imô­nia no Min­istério dos Dire­itos Humanos e da Cidada­nia. Entre os assas­si­natos deste ano, 130 ref­er­em-se a mul­heres trans e trav­es­tis e uma a homem trans. A pes­soa mais jovem assas­si­na­da tin­ha ape­nas 15 anos. Quase 90% das víti­mas tin­ham de 15 a 40 anos.

Para o min­istro dos Dire­itos Humanos e da Cidada­nia, Sil­vio Almei­da, os dados são uma “tragé­dia”, mas rep­re­sen­tam a opor­tu­nidade de mudança da real­i­dade em que vivem atual­mente pes­soas tran­sex­u­ais e trav­es­tis.

MDHC,  recebe o documento
Repro­dução: Min­istro dos Dire­itos Humanos e Cidada­nia recebe dos­siê Assas­si­natos e Vio­lên­cias con­tra Trav­es­tis e Tran­sex­u­ais Brasileiras,  — Val­ter Campanato/Agência Brasil

“O fato de ter­mos um relatório como esse apon­ta para pos­si­bil­i­dade de pen­sar super­ar essa tragé­dia. Ter o con­hec­i­men­to, ter os dados, ter a pos­si­bil­i­dade de olhar de frente para esse prob­le­ma, nos traz per­spec­ti­va de mudança, de trans­for­mação”, disse. “Quan­do falam­os sobre gênero e sex­u­al­i­dade, somos acu­sa­dos de ser­mos iden­titários. Per­gun­to a essas pes­soas se é pos­sív­el con­stru­ir um país com os números que vemos ago­ra”, acres­cen­tou.

De acor­do com a pesquisado­ra respon­sáv­el e secretária de Artic­u­lação Políti­ca da Antra, Bruna Bene­v­ides, con­tribuem para esse quadro fatores como a ausên­cia de ações de enfrenta­men­to da vio­lên­cia con­tra pes­soas LGBTQIAP+. A fal­ta de dados e sub­no­ti­fi­cações gov­er­na­men­tais tam­bém podem con­tribuir para um cenário impre­ciso ao lon­go dos anos, além de difi­cul­tar a iden­ti­fi­cação de acu­sa­dos.

“Qual é a vis­i­bil­i­dade que pes­soas trans têm tido? Se pegar o tele­fone e pesquis­ar no Google ou qual­quer out­ro mecan­is­mo a palavra ‘trav­es­ti’, oito em cada 10 notí­cias são sobre vio­lên­cia e esse cenário tem que mudar. Nós somos lin­has de frente para ser­mos vis­tas, mas tam­bém somos lin­has de frente para ser­mos mor­tas”, ques­tio­nou Bruna.

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Segun­do o lev­an­ta­men­to, entre os 131 assas­si­natos do ano pas­sa­do, foram iden­ti­fi­ca­dos 32 sus­peitos. O dos­siê indi­ca que a maior parte dos sus­peitos não cos­tu­ma ter relação dire­ta, social ou afe­ti­va com a víti­ma. Além dis­so, “práti­cas poli­ci­ais e judi­ci­ais ain­da se car­ac­ter­i­zam pela fal­ta de rig­or na inves­ti­gação, iden­ti­fi­cação e prisão dos sus­peitos”.

“É con­stante a ausên­cia, pre­cariedade e a frag­ili­dade dos dados, muitas vezes inten­cional­mente, usa­dos para ocul­tar ou manip­u­lar a ideia de uma diminuição dos casos em deter­mi­na­da região”, diz o lev­an­ta­men­to.

O doc­u­men­to apon­tou ain­da que 61% dos assas­si­natos ocor­reram durante o primeiro semes­tre de 2022. Em números abso­lu­tos, Per­nam­bu­co foi o esta­do que mais reg­istrou assas­si­natos, com 13 casos, segui­do por São Paulo (11), Ceará (11), Minas Gerais (9), Rio de Janeiro (8) e Ama­zonas (8).

O per­fil das víti­mas no Brasil é o mes­mo dos out­ros anos: mul­heres trans e trav­es­tis negras e empo­bre­ci­das. A pros­ti­tu­ição é a fonte de ren­da mais fre­quente. Entre as víti­mas, 76% eram negras e 24% bran­cas. O lev­an­ta­men­to mostra que mul­heres trans e trav­es­tis têm até 38 vezes mais chance de serem assas­si­nadas em relação aos home­ns trans e às pes­soas não-binárias.

“Não difer­ente dos anos ante­ri­ores, o fato de que em 2022 a maio­r­ia daque­las onde foi pos­sív­el iden­ti­ficar a ativi­dade, pelo menos 54% dos assas­si­natos foram dire­ciona­dos con­tra trav­es­tis e mul­heres trans que atu­am como profis­sion­ais do sexo, as mais expostas à vio­lên­cia dire­ta e viven­ci­am o estig­ma que os proces­sos de mar­gin­al­iza­ção impões a essas profis­sion­ais”, indi­ca o dos­siê.

MDHC,  recebe o documento
Repro­dução: Entre­ga do doc­u­men­to dos­siê Assas­si­natos e Vio­lên­cias con­tra Trav­es­tis e Tran­sex­u­ais Brasileiras ao min­istro dos Dire­itos Humanos e Cidada­nia  — Val­ter Campanato/Agência Brasil

Ouça na Radioagên­cia Nacional:

 

Edição: Aline Leal

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