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Brasil tem mais de 30 internações ao dia por tentativa de suicídio

Repro­dução: © Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Dado é da Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede)


Publicado em 11/09/2024 — 07:00 Por Paula Laboissière – Repórter da Agência Brasil — Brasília

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O Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS) reg­istrou, ao lon­go de 2023, 11.502 inter­nações rela­cionadas a lesões em que hou­ve intenção delib­er­a­da de infli­gir dano a si mes­mo, o que dá uma média diária de 31 casos. O total rep­re­sen­ta um aumen­to de mais de 25% em relação aos 9.173 casos reg­istra­dos quase dez anos antes, em 2014. Os dados foram divul­ga­dos nes­ta quar­ta-feira (11) pela Asso­ci­ação Brasileira de Med­i­c­i­na de Emergên­cia (Abramede).

Em nota, a enti­dade lem­brou que, nesse tipo de cir­cun­stân­cia, médi­cos de emergên­cia são, geral­mente, os primeiros a prestar atendi­men­to ao paciente. Para a asso­ci­ação, o aumen­to de inter­nações por ten­ta­ti­vas de suicí­dio e autolesões reforça a importân­cia de capac­i­tar ess­es profis­sion­ais para aten­der aos casos com rapi­dez e efi­ciên­cia, além de pro­mover acol­hi­men­to ade­qua­do em situ­ações de grande frag­ili­dade emo­cional.

Segun­do a Abramede, os números, já altos, podem ser ain­da maiores, em função de pos­síveis sub­no­ti­fi­cações, reg­istros incon­sis­tentes e lim­i­tações no aces­so ao atendi­men­to em algu­mas regiões do país. Os dados mostram que, em 2016, hou­ve uma oscilação nas noti­fi­cações de inter­nação por ten­ta­ti­vas de suicí­dio, com leve que­da em relação aos dois anos ante­ri­ores. O índice voltou a subir em 2018, com um total de 9.438 casos, e alcançou o pico em 2023.

Estados e regiões

A análise region­al das inter­nações por lesões auto­provo­cadas rev­ela vari­ações entre os esta­dos brasileiros. Para a asso­ci­ação, em alguns deles, foi reg­istra­do “um cresci­men­to alar­mante”. Alagoas, por exem­p­lo, teve o maior aumen­to per­centu­al de 2022 para 2023 – um salto de 89% nas inter­nações. Em números abso­lu­tos, os casos pas­saram de 18 para 34 no perío­do.

A Paraí­ba e o Rio de Janeiro, de acor­do com a enti­dade, tam­bém chamam a atenção, com aumen­tos de 71% e 43%, respec­ti­va­mente. Por out­ro lado, esta­dos como São Paulo e Minas Gerais, ape­sar de reg­is­trarem números abso­lu­tos ele­va­dos – 3.872 e 1.702 inter­nações, respec­ti­va­mente, em 2023 –, reg­is­traram aumen­tos per­centu­ais menores, de 5% e 2%, respec­ti­va­mente.

Num movi­men­to con­trário, alguns esta­dos apre­sen­taram reduções expres­si­vas no número de inter­nações por ten­ta­ti­vas de suicí­dio e autolesões no ano pas­sa­do. Amapá lid­era a lista, com uma que­da de 48%, segui­do pelo Tocan­tins (27%) e Acre (26%).

A Abramede desta­ca que a Região Sul como um todo enfrenta “tendên­cia pre­ocu­pante” de aumen­to desse tipo der inter­nação. San­ta Cata­ri­na apre­sen­tou cresci­men­to de 22% de 2022 para 2023, enquan­to o Paraná iden­ti­fi­cou aumen­to de 16%. O Rio Grande do Sul ficou no topo da lista, com aumen­to de 33%.

Perfil

De acor­do com a asso­ci­ação, o per­fil de pacientes inter­na­dos por lesões auto­provo­cadas rev­ela uma difer­ença sig­ni­fica­ti­va entre os sex­os. Entre 2014 e 2023, o número de inter­nações de mul­heres aumen­tou de 3.390 para 5.854. Já entre os home­ns, o total de inter­nações caiu, ao pas­sar de 5.783 em 2014 para 5.648 em 2023.

Em relação à faixa etária, o grupo de 20 a 29 anos foi o mais afe­ta­do em 2023, com 2.954 inter­nações, segui­do pelo grupo de 15 a 19 anos, que reg­istrou 1.310 casos. “Os números ressaltam a vul­ner­a­bil­i­dade dos jovens adul­tos e ado­les­centes, que, jun­tos, rep­re­sen­tam uma parcela sig­ni­fica­ti­va das ten­ta­ti­vas de suicí­dio”, avaliou a enti­dade.

Já as inter­nações por lesões auto­provo­cadas entre pes­soas com 60 anos ou mais somaram 963 casos em 2023. Out­ro dado rel­e­vante é o aumen­to das inter­nações entre cri­anças e ado­les­centes de 10 a 14 anos – em 2023, foram 601 reg­istros, quase o dobro do obser­va­do em 2011 (315 inter­nações).

Para a Abramede, emb­o­ra o atendi­men­to ini­cial dess­es casos neces­site de “foco téc­ni­co”, é impor­tante que a abor­dagem inclua tam­bém a iden­ti­fi­cação de sinais de vul­ner­a­bil­i­dade emo­cional, com o obje­ti­vo de ofer­e­cer suporte inte­gra­do. A enti­dade avalia que uma respos­ta ráp­i­da e human­iza­da pode faz­er a difer­ença no prognós­ti­co dess­es pacientes, além de aju­dar na pre­venção de novos episó­dios.

Setembro Amarelo

No Brasil, uma das prin­ci­pais cam­pan­has de com­bate ao estig­ma na temáti­ca da saúde men­tal é o Setem­bro Amare­lo que, este ano, tem como lema Se Pre­cis­ar, Peça Aju­da. Definido por diver­sas autori­dades san­itárias como um prob­le­ma de saúde públi­ca, o suicí­dio, no país, responde por cer­ca de 14 mil reg­istros todos os anos. Isso sig­nifi­ca que, a cada dia, em média, 38 pes­soas tiram a própria vida.

Na avali­ação do psicól­o­go e espe­cial­ista em trau­ma e urgên­cias sub­je­ti­vas Héder Bel­lo, transtornos men­tais rep­re­sen­tam fatores de vul­ner­a­bil­i­dade em meio à temáti­ca do suicí­dio – mas não são os úni­cos. Ele cita ain­da ser uma pes­soa LGBT, estar em situ­ação de pre­cariedade finan­ceira ou social, ser refu­gia­do políti­co ou enfrentar ameaças, abu­so ou vio­lên­cia. “Ess­es e out­ros fatores con­tribuem para proces­sos de ideação ou até de ten­ta­ti­va de suicí­dio.”

“Políti­cas públi­cas que pos­sam, de algu­ma maneira, falar sobre esse assun­to, sem tabu, são impor­tantes. Instru­men­tos nas áreas de edu­cação e saúde tam­bém podem ser ampla­mente divul­ga­dos – jus­ta­mente pra que a gente pos­sa mostrar que exis­tem pos­si­bil­i­dades e recur­sos amp­los para lidar com deter­mi­nadas situ­ações que são real­mente muito estres­santes e de mui­ta vul­ner­a­bil­i­dade.”

Cenário global

Dados da Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde (OMS) indicam que, todos os anos, mais de 700 mil pes­soas em todo o mun­do tiram a própria vida. A enti­dade aler­ta para a neces­si­dade de reduzir o estig­ma e enco­ra­jar o diál­o­go aber­to sobre o tema. A pro­pos­ta é romper com a cul­tura do silên­cio e do estig­ma, dan­do lugar à aber­tu­ra ao diál­o­go, à com­preen­são e ao apoio.

Números da enti­dade mostram que o suicí­dio figu­ra, atual­mente, como a quar­ta prin­ci­pal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. A OMS cita con­se­quên­cias soci­ais, emo­cionais e econômi­cas de lon­go alcance provo­cadas pelo suicí­dio e que afe­tam pro­fun­da­mente indi­ví­du­os e comu­nidades como um todo.

Reduzir a taxa glob­al de suicí­dio em pelo menos um terço até 2030 é uma das metas dos chama­dos Obje­tivos de Desen­volvi­men­to Sus­ten­táv­el, definidos pela Orga­ni­za­ção das Nações Unidas (ONU). “Os desafios que lev­am uma pes­soa a tirar a própria vida são com­plex­os e asso­ci­am-se a fatores soci­ais, econômi­cos, cul­tur­ais e psi­cológi­cos, incluin­do a negação de dire­itos humanos bási­cos e aces­so a recur­sos”, desta­cou a OMS.

Edição: Juliana Andrade

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