...
segunda-feira ,9 setembro 2024
Home / Saúde / Brasil tem média de 40 a 50 novos casos de mpox por mês

Brasil tem média de 40 a 50 novos casos de mpox por mês

Repro­dução: © REUTERS/Dado Ruvic/Proibida repro­dução

Dados foram divulgados nesta terça-feira pelo Ministério da Saúde


Publicado em 13/08/2024 — 16:51 Por Paula Laboissière – Repórter da Agência Brasil — Brasília

ouvir:

Em agos­to de 2022, quan­do hou­ve o pico de mpox no Brasil, o país con­tabi­li­zou mais de 40 mil casos. Um ano depois, em agos­to de 2023, o total caiu para pouco mais de 400 casos. Em 2024, o maior número de casos foi reg­istra­do em janeiro – mais de 170. Por fim, em agos­to deste ano, a média de casos se man­tém entre 40 a 50 novas infecções. O número é vis­to pelo Min­istério da Saúde como “bas­tante modesto, emb­o­ra não desprezív­el”.

“Sem abso­lu­ta­mente menosprezar os riscos dessa nova epi­demia, o risco de pan­demia e tudo o mais, o que tra­go do Brasil não é ain­da um cenário que nos faça temer um aumen­to muito abrup­to no número de casos”, avaliou o dire­tor do Depar­ta­men­to de HIV, Aids, Hepatites Virais e Infecções Sex­ual­mente Trans­mis­síveis da pas­ta, Drau­rio Bar­reira, nes­ta terça-feira (13), ao relatar a situ­ação epi­demi­ológ­i­ca da mpox no Brasil.

No webinário, Drau­rio lem­brou que, nes­ta quar­ta-feira (14), a Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde (OMS) con­vo­cou comitê de emergên­cia para avaliar o cenário de mpox na África e o risco de dis­sem­i­nação inter­na­cional da doença. A decisão lev­ou em con­ta o reg­istro de casos fora da Repúbli­ca Democráti­ca do Con­go, onde as infecções estão em ascen­são há mais de dois anos, além de uma mutação que lev­ou à trans­mis­são do vírus de pes­soa para pes­soa.

“Foi con­vo­ca­do pelo dire­tor-ger­al da OMS, Tedros Ghe­breye­sus, uma reunião para definir a situ­ação da mpox – se virá a ser con­sid­er­a­da emergên­cia em saúde públi­ca de pre­ocu­pação inter­na­cional. Ain­da não temos esse cenário. Aman­hã, vai haver a definição. O fato é que temos um aumen­to abso­lu­ta­mente sem prece­dentes na África, não só em número de casos em país­es que já havi­am sido acometi­dos, como tam­bém em país­es viz­in­hos e que ain­da não tin­ham relata­do nen­hum caso de mpox.”

Para Drau­rio, o quadro epidêmi­co de mpox ain­da está cir­cun­scrito ao con­ti­nente africano. “Mas, nes­sa época de glob­al­iza­ção que a gente vive, ter um caso na África, na Ásia, em qual­quer lugar sig­nifi­ca um risco dis­so se tornar rap­i­da­mente uma epi­demia glob­al”, disse. “Falan­do um pouco do Brasil, a gente tem uma atenção muito espe­cial em relação ao mpox porque, no iní­cio da epi­demia, em 2022, os dois país­es mais acometi­dos, não só em val­ores abso­lu­tos, mas tam­bém em incidên­cia, foram os Esta­dos Unidos e o Brasil”.

Números

Dados do min­istério apon­tam que, entre 2022 a 2024, o Brasil reg­istrou quase 12 mil casos con­fir­ma­dos e 366 casos prováveis de mpox. Há ain­da 66 casos clas­si­fi­ca­dos como sus­peitos e um total de 46.354 casos descar­ta­dos. “Como a gente vê um quadro epidêmi­co na África, temos que estar aler­tas. Essa ini­cia­ti­va do webinário é uma ante­ci­pação, pra que a gente real­mente não seja pego de sur­pre­sa, caso ten­hamos uma nova pan­demia”, avaliou Drau­rio.

Perfil

Os números mostram o seguinte per­fil epi­demi­ológi­co das infecções por mpox no Brasil: 91,3% dos casos se con­cen­tram no sexo mas­culi­no, sendo que 70% dos home­ns diag­nos­ti­ca­dos com a doença têm entre 19 e 39 anos. A idade medi­ana defini­da pela pas­ta é de 32 anos, com idades var­ian­do de 27 a 38 anos. Além dis­so, 3,7% dos casos foram reg­istra­dos na faixa etária até 17 anos e 1,1%, entre cri­anças de até 4 anos.

“No sexo fem­i­ni­no, a gente teve um número 10 vezes menor do que entre os home­ns. Cer­ca de mil mul­heres, tam­bém na faixa de adul­to jovem”, desta­cou Drau­rio. Há, entre­tan­to, um per­centu­al alto de gênero não infor­ma­do. “19% prati­ca­mente, o que diminui todos os out­ros per­centu­ais. Mas home­ns cis são mais de 70%. Se a gente con­seguisse infor­mação dess­es 18,7% não infor­ma­dos, cer­ta­mente teríamos uma dis­tribuição maior entre home­ns cis”.

Out­ra infor­mação rel­e­vante, segun­do o dire­tor do depar­ta­men­to, envolve gru­pos clas­si­fi­ca­dos pela própria pas­ta como mais vul­neráveis, incluin­do homos­sex­u­ais, home­ns het­eros­sex­u­ais e bis­sex­u­ais. “Nova­mente, temos quase a metade das pes­soas sem definição de ori­en­tação sex­u­al”, ressaltou Drau­rio.

Do total de casos con­fir­ma­dos e prováveis para mpox no Brasil, 45,9% declararam que vivem com HIV. Entre os home­ns diag­nos­ti­ca­dos com a infecção, o índice chega a ser de 99,3%. A medi­ana de idade dos pacientes viven­do com HIV e que tes­taram pos­i­ti­vo para mpox é de 34 anos, com idades var­ian­do de 29 a 39 anos.

“Todos os esforços que a gente tem feito se con­cen­tram, pri­or­i­tari­a­mente, na pop­u­lação HSH [home­ns que fazem sexo com home­ns]. Não por aca­so, a respon­s­abil­i­dade pela vig­ilân­cia e atenção está no Depar­ta­men­to de Aids, Tuber­cu­lose, Hepatites e ISTs”, com­ple­tou Drau­rio.

O Brasil con­tabi­li­zou ain­da, de 2022 a 2024, 23 ges­tantes infec­tadas por mpox em difer­entes momen­tos da gravidez.

Hospitalizações e óbitos

Em relação à hos­pi­tal­iza­ção de casos da doença, o min­istério con­sid­era que a infecção apre­sen­ta com­pli­cações em um número bas­tante reduzi­do de casos – 3,1% dos pacientes foram hos­pi­tal­iza­dos por neces­si­dades clíni­cas ou por algum agrava­men­to do quadro clíni­co; 0,6% foram hos­pi­tal­iza­dos com o propósi­to de iso­la­men­to; e 1,6% foram hos­pi­tal­iza­dos por motivos descon­heci­dos. Ao todo, 45 casos foram inter­na­dos em unidades de ter­apia inten­si­va (UTIs).

“Emb­o­ra um óbito seja extrema­mente rel­e­vante para nós, o quan­ti­ta­ti­vo de óbitos decor­rentes de mpox tem se man­ti­do muito baixo em com­para­ção com a incidên­cia da doença”, avaliou Drau­rio. A taxa de letal­i­dade da doença, neste momen­to, é de 0,14%. Ao todo, 16 óbitos foram con­tabi­liza­dos entre 2022 e agos­to de 2024 – nen­hum este ano.

A medi­ana de idade, entre as pes­soas que mor­reram em decor­rên­cia da infecção, é de 31 anos, com idades var­ian­do de 26 a 35 anos. Os números mostram que 100% dos pacientes que mor­reram apre­sen­taram febre e múlti­plas erupções, com erupções gen­i­tais de for­ma pre­dom­i­nante. Além dis­so, 15 mortes foram iden­ti­fi­cadas entre imunos­suprim­i­dos viven­do com HIV (93,8%). Ape­nas um caso dos 16 óbitos se clas­si­fi­ca­va como pes­soa imun­ode­prim­i­da decor­rente de um câncer.

“Por­tan­to, é uma doença que, no Brasil, até o momen­to, se não hou­ver mudança no padrão epi­demi­ológi­co, vem afe­tan­do prin­ci­pal­mente e imen­sa­mente a pop­u­lação HSH [home­ns que fazem sexo com home­ns] e out­ros imun­ode­prim­i­dos. Dess­es 15 óbitos [reg­istra­dos nesse grupo], ape­nas cin­co, um terço, rece­beu trata­men­to antir­retro­vi­ral”, desta­cou Drau­rio.

Testagem

O dire­tor do depar­ta­men­to con­sid­era que a con­fir­mação do diag­nós­ti­co de mpox é fun­da­men­tal. Entre­tan­to, segun­do ele, ain­da não há teste rápi­do no país para detecção da doença – ape­nas testes mol­e­c­u­lares ou de sequen­ci­a­men­to genéti­co.

“Os casos con­fir­ma­dos são, de fato, con­fir­ma­dos. Mas não dá tem­po de esper­ar o diag­nós­ti­co defin­i­ti­vo por méto­do lab­o­ra­to­r­i­al para que a gente evite o proces­so de trans­mis­são da doença. Por­tan­to, na sin­toma­tolo­gia de pús­tu­las, erupções cutâneas, feri­das e todas as man­i­fes­tações cutâneas que pos­sam pare­cer, a gente tem que pen­sar ime­di­ata­mente em mpox.”

“Como a gente está falan­do que a prin­ci­pal pop­u­lação afe­ta­da são pes­soas viven­do com HIV, são pes­soas que tam­bém têm muitos out­ros prob­le­mas der­ma­tológi­cos comuns à imun­od­efi­ciên­cia. Por­tan­to, o quadro se con­funde”, desta­cou o dire­tor, ao citar ser esse o moti­vo do alto número de casos descar­ta­dos no Brasil. “É o raciocínio que a gente tem que faz­er: pen­sar em mpox, iso­lar o paciente e começar o trata­men­to disponív­el de suporte”.

A média de tem­po entre a data de iní­cio dos sin­tomas e o óbito é de 58,6 dias. Já a média entre a data de iní­cio dos sin­tomas e a neces­si­dade de inter­nação é de 26,4 dias. Em 2024, o min­istério con­tabi­li­zou 49 hos­pi­tal­iza­ções por mpox, sem óbitos pela doença.

Tratamento

Por fim, Drau­rio ressaltou que o min­istério obteve da Agên­cia Nacional de Vig­ilân­cia San­itária (Anvisa) autor­iza­ção de uma licença de impor­tação do remé­dio Tecovir­i­mat. “Por ser um medica­men­to off label, não foi ain­da autor­iza­do para o trata­men­to de mpox, mas, efe­ti­va­mente, reduz a mor­tal­i­dade”, avaliou.

“Esta­mos ago­ra proce­den­do jun­to à Opas [Orga­ni­za­ção Pan-amer­i­cana da Saúde]. Já ped­i­mos a com­pra, via Opas, de trata­men­tos para a even­tu­al­i­dade de um sur­to no Brasil. Hoje, não temos trata­men­to especí­fi­co”, disse. “Vai ser impor­tante ouvir, aman­hã, os encam­in­hamen­tos da OMS para que a gente adeque o plano de con­tingên­cia nacional a ori­en­tações inter­na­cionais”, con­cluiu Drau­rio.

Edição: Valéria Aguiar

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Paraty sedia evento sobre saber científico e tradicional para a saúde

Repro­dução:  @ Tv Brasil Representantes de 22 países de todos os continentes estão presentes Publicado …