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Brasil teve, em 2021, 107 mortes de mães a cada 100 mil nascimentos

Repro­dução: © Marce­lo Camargo/Arquivo/Agência Brasil

Especialista diz que mortes maternas podem ser evitadas


Pub­li­ca­do em 28/05/2022 — 07:34 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

No Dia Inter­na­cional de Luta pela Saúde da Mul­her e Dia Nacional de Redução da Mor­tal­i­dade Mater­na, comem­o­ra­dos neste sába­do (28), o vice-pres­i­dente da Comis­são Nacional Espe­cial­iza­da em Mor­tal­i­dade Mater­na da Fed­er­ação Brasileira das Asso­ci­ações de Gine­colo­gia e Obstetrí­cia (Febras­go), Rodol­fo de Car­val­ho Pacagnel­la, asse­gu­ra que as mortes mater­nas podem ser evi­tadas.

De acor­do com o Painel de Mon­i­tora­men­to da Mor­tal­i­dade Mater­na, o Brasil teve, em 2021, média de 107 mortes a cada 100 mil nasci­men­tos. A taxa de mor­tal­i­dade mater­na se ref­ere ao número de mul­heres que mor­rem durante a gravidez ou nos 42 dias seguintes ao par­to dev­i­do a causas rela­cionadas à gravidez ou por ela agrava­da a cada 100 mil nasci­dos vivos em um deter­mi­na­do ano, em um país. A morte é cau­sa­da por qual­quer fator rela­ciona­do ou agrava­do pela gravidez ou por medi­das tomadas em relação a esse perío­do.

O Brasil apre­sen­ta números bem dis­tantes dos fix­a­dos pela Orga­ni­za­ção das Nações Unidas (ONU). Até 2015, a meta era atin­gir menos de 35 mortes por 100 mil nasci­men­tos e o Brasil esta­va na faixa de 70 a 75 óbitos mater­nos por 100 mil nasci­dos vivos. Com os Obje­tivos do Desen­volvi­men­to Sus­ten­táv­el (ODS), a ONU indi­cou, até 2030, reduzir a taxa de mor­tal­i­dade mater­na glob­al para menos de 70 mortes por 100 mil nasci­dos vivos.

À Agên­cia Brasil, Rodol­fo Pacagnel­la expli­cou que, des­de 2014, os números não apre­sen­tam que­da sig­ni­fica­ti­va no Brasil. Já os país­es de alta ren­da, de maneira ger­al, têm uma razão de mor­tal­i­dade mater­na que varia entre 10 e 20 mortes por 100 mil nasci­men­tos. A maior parte dessas ocor­rên­cias é de causas indi­re­tas, que não são evitáveis ao lon­go da ges­tação.

Causas

Segun­do Pacagnel­la, a grande parte das mortes mater­nas pode­ria ser evi­ta­da. A grande questão, disse, não é o número de mortes mater­nas, mas o por que elas acon­te­cem e a con­se­quên­cia que elas trazem. “A grande questão é que ela [morte] acon­tece, em ger­al, por causas evitáveis. São situ­ações que pode­ri­am ter sido iden­ti­fi­cadas ao lon­go do cuida­do dessa ges­tante, durante o pré-natal e, espe­cial­mente, nos momen­tos próx­i­mos ao nasci­men­to. E essas condições não foram iden­ti­fi­cadas e não foram tratadas de for­ma opor­tu­na”.

E essa demo­ra em recon­hecer a situ­ação de gravi­dade e em tratar essa condição lev­am, em con­se­quên­cia, ao óbito mater­no, disse.

De acor­do com o vice-pres­i­dente da Comis­são da Febras­go, a con­se­quên­cia da mor­tal­i­dade mater­na é nefas­ta, porque a mul­her sem­pre foi, mas hoje tem um papel recon­heci­do, como indi­ví­duo cen­tral na orga­ni­za­ção social, emo­cional e finan­ceira da família. A morte de uma mul­her no momen­to do par­to ou puer­pério leva a uma deses­tru­tu­ração de tudo que a envolve, apon­tou o médi­co.

“Fre­quente­mente há uma des­or­ga­ni­za­ção da família, des­or­ga­ni­za­ção do cuida­do dos fil­hos, per­pet­u­ação de pobreza, uma série de questões que vêm em função de que ela é figu­ra fun­da­men­tal na orga­ni­za­ção daque­la comu­nidade, não só da família, mas da comu­nidade como um todo”.

No Brasil, a prin­ci­pal causa de morte mater­na é a hiperten­são. Em segun­do lugar, aparece a hemor­ra­gia, segui­da de abor­to inse­guro e infecção puer­per­al. Depois, vêm as causas indi­re­tas, asso­ci­adas a condições físi­cas já exis­tentes, ou agravadas na ges­tação, como doenças cardía­cas, renais, cânceres, entre out­ras.

Covid

As prin­ci­pais causas são evitáveis, reit­er­ou Rodol­do Pacagnel­la. Hoje, sabe-se como faz­er o diag­nós­ti­co e como iden­ti­ficar uma mul­her que tem risco de desen­volver uma hiperten­são na gravidez, chama­da pré-eclâmp­sia, e tratar essa condição, evi­tan­do que a mul­her mor­ra. O mes­mo ocorre em relação à hemor­ra­gia e, ain­da, às condições rela­cionadas à sepse, que é uma infecção gen­er­al­iza­da. Essa questão gan­hou relevân­cia durante a pan­demia do novo coro­n­avírus, segun­do o espe­cial­ista, porque hou­ve um aumen­to de mortes mater­nas por doenças res­pi­ratórias, como con­se­quên­cia de um olhar pouco aten­to para a ges­tante, que é uma pop­u­lação de risco para a gravi­dade dessas doenças, prin­ci­pal­mente as virais, asso­ci­adas ao coro­n­avírus.

Dados pre­lim­inares indicam que o número de mortes mater­nas por SARS Cov 2 aumen­tou de 1.500, que vin­ha sendo reg­istra­do nos últi­mos 6 anos, para 2,2 mil, em 2021. “E esse exces­so de mor­tal­i­dade foi decor­rente, espe­cial­mente, das condições asso­ci­adas à sín­drome res­pi­ratória agu­da grave”.

O exces­so de lotação em hos­pi­tais lev­ou tam­bém a um aumen­to de mor­tal­i­dade mater­na por out­ras causas, porque esgo­tou a capaci­dade de assistên­cia. “E a mor­tal­i­dade mater­na está muito cen­tra­da no perío­do próx­i­mo ao par­to, em que as mul­heres pre­cisam de assistên­cia hos­pi­ta­lar para recon­hecer essas condições”, disse o espe­cial­ista.

O médi­co apon­tou que a morte mater­na acon­tece porque não se tem uma visão obje­ti­va para as neces­si­dades de saúde da mul­her. O fato de a mul­her ter uma condição de maior risco de mor­rer pela gravidez é um fator biológi­co. Mas a morte dessas mul­heres por causa dess­es out­ros fatores é uma questão social, aler­tou. “Diz respeito a como a gente olha essas neces­si­dades e dá atenção a elas. Não é uma condição biológ­i­ca intrínse­ca, mas a fal­ta de aces­so ade­qua­do aos serviços de saúde em um momen­to que a mul­her pre­cisa mais”.

Rede de assistência

A redução da mor­tal­i­dade mater­na pas­sa, em primeiro lugar, pela neces­si­dade que haja um entendi­men­to social da importân­cia da mul­her no con­tex­to da for­mação social do país, disse Pacagnel­la. “Como figu­ra cen­tral da con­sti­tu­ição da sociedade, a mul­her dev­e­ria ter respeito maior. Isso quer diz­er ter políti­cas públi­cas que asse­gurem aces­so e assistên­cia com qual­i­dade aos serviços de saúde mater­no-infan­til. Isso envolve facil­i­dade de aces­so a políti­cas de saúde de qual­i­dade, atenção primária, até os serviços de emergên­cia”, defend­eu.

De acor­do com Pacagnel­la, ess­es pon­tos já começaram a ser abor­da­dos em algu­mas políti­cas, emb­o­ra de maneira per­iféri­ca. Para reduzir, de fato, a mor­tal­i­dade mater­na, o Brasil tem que con­stru­ir uma rede de assistên­cia que seja capaz de recon­hecer as situ­ações de gravi­dade, com profis­sion­ais treina­dos e espe­cial­is­tas em gine­colo­gia e obstetrí­cia, disse o espe­cial­ista.

“É pre­ciso uma rede de saúde estru­tu­ra­da e muito orga­ni­za­da”, recomen­dou. “O treina­men­to dos profis­sion­ais é uma parte impor­tante desse proces­so, mas a con­sti­tu­ição de um sis­tema de atendi­men­to é fun­da­men­tal, com definição de pri­or­i­dade pelo Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS)”.

A Febras­go está envolvi­da em uma série de ações de treina­men­to de profis­sion­ais sobre a importân­cia da mul­her na con­sti­tu­ição da sociedade e, tam­bém, em ações de imple­men­tação de proces­sos de mel­ho­ria clíni­ca e de gestão, de trata­men­to de questões asso­ci­adas à gravi­dade, em parce­ria com out­ras insti­tu­ições, até que haja a cri­ação de uma per­cepção nacional sobre a importân­cia desse tema.

A Febras­go con­sid­era o dia 28 como um pon­to de refer­ên­cia para falar da importân­cia de se olhar para a condição da mul­her na sociedade. “Em espe­cial nesse momen­to em que a gente percebe que há um exces­so de mor­tal­i­dade, em função de uma doença que pode­ria ter sido mane­ja­da de out­ra maneira e cujo óbito pode­ria ter sido evi­ta­do se tivesse uma ação mais aten­ta, com um bom dire­ciona­men­to de ações para as neces­si­dades da mul­her no momen­to do par­to”, disse Pacagnel­la.

Rodol­fo Pacagnel­la aler­ta que a sociedade pre­cisa olhar para a condição da mul­her. “Esta­mos fazen­do pouco. As mortes que ocor­reram nos últi­mos anos foram em função da fal­ta de uma orga­ni­za­ção ade­qua­da para a gestão do risco que a mul­her tem nes­sas condições. É impor­tante a gente mostrar isso e lutar para que não volte a acon­te­cer”, con­cluiu.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

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