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Cacique de Ramos faz 63 anos e fortalece história no carnaval do Rio

Repro­dução: © Vladimir Platonow/Agência Brasil

Bloco desfila no domingo, segunda e terça-feira de carnaval


Pub­li­ca­do em 12/02/2024 — 11:43 Por Cristi­na Indio do Brasil — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Um dos mar­cos do car­naval car­i­o­ca com­ple­tou 63 anos no dia 20 de janeiro: o Blo­co Car­navale­sco Cacique de Ramos, declar­a­do Patrimônio Ima­te­r­i­al da Cidade do Rio de Janeiro.

No iní­cio dos anos 60, jovens de Ramos, na zona norte do Rio de Janeiro, se jun­taram para brin­car no car­naval, des­fi­la­ram pelas ruas do bair­ro e, no dia 20 de janeiro de 1961, cri­aram for­mal­mente o blo­co. Depois de dois anos des­fi­lan­do, a par­tir de 1963 começaram a con­quis­tar espaços no cen­tro da cidade, que na época reu­nia o maior número de foliões.

Com o pas­sar do tem­po, o Cacique de Ramos se trans­for­mou em um blo­co de emba­lo e se tornou, nos anos 60 e 70, um fenô­meno de mul­ti­dão for­ma­da por amantes da insti­tu­ição, que saíam de várias regiões do Rio para des­fi­lar. Para Bira Pres­i­dente, de 86 anos, que jun­tou a seu nome a função que exerce, do blo­co tradi­cional já saíram tan­tos nomes impor­tantes que ele tem que con­tin­uar. “Não vamos parar”, garan­tiu à Agên­cia Brasil.

““Ness­es 63 anos de história e de levar essa men­sagem de ale­gria, o Cacique não parou de des­fi­lar. Ten­ho, den­tro do meu con­ceito e do meu tra­bal­ho, uma respon­s­abil­i­dade muito grande”, desta­cou.

Para man­ter nos­sa orga­ni­za­ção, temos que faz­er movi­men­tos soci­ais e cul­tur­ais que lev­am ale­gria e descon­tração às pes­soas. Isso é uma iden­ti­fi­cação muito nobre, na qual o Cacique, todo domin­go, está sem­pre cheio, o movi­men­to é impres­sio­n­ante. A gente faz reuniões para  botar o car­naval na rua. O Cacique de Ramos é um blo­co tão tradi­cional que, ness­es anos todos, tem sido suces­so na aveni­da prin­ci­pal, des­fi­lan­do nos três dias de car­naval [domin­go, segun­da e terça].”

“Me sin­to agra­ci­a­do por Deus por ter me dado essa mis­são, que hoje em dia, é con­ceitu­a­da e respeita­da por todos aque­les que gostam do sam­ba, de ale­gria e do car­naval”, con­cluiu Bira.

Chopp

Sid­ney Macha­do, con­heci­do como Chopp, lem­brou que, ini­cial­mente, os des­files con­tavam com pou­cas pes­soas, sem for­ma­to de agremi­ação e sem nome. Ele con­tou que a ideia evoluiu ao lon­go dos anos, com a chega­da de mais pes­soas e, então, o blo­co foi cri­a­do. Foi aí que ele pas­sou a par­tic­i­par do Cacique. “O Cacique é tudo para mim. Ali, eu dou min­ha vida pela união que temos.”

Segun­do o músi­co, per­cus­sion­ista e ex-chefe de har­mo­nia de esco­las de sam­ba do Rio que exerceu durante 12 anos, o nome do grupo foi dado por Tia Con­ceição, mãe do Bira, que era “fei­ta no san­to pela Mãe Menin­in­ha do Gan­tois, da Bahia”.

“O blo­co foi crescen­do e surgiu o nome do Cacique de Ramos, que prati­ca­mente foi dado pela Tia Con­ceição, mãe do Bira. Ela tin­ha um can­domblé, e isso vem mais ou menos por aí. Tan­to que, no Cacique, a tamarineira [árvore plan­ta­da na quadra rev­er­en­ci­a­da por quem visi­ta o local] fica onde está o axé do Cacique, des­de o iní­cio, com a Tia Con­ceição.”

Com ale­gria, o sam­bista con­ta que o maior suces­so do blo­co foi o sam­ba Água na Boca, lança­do em 1964. De lá para cá é can­ta­do nos des­files do blo­co e de out­ros, além de bailes de car­naval. “Foi o primeiro suces­so do Cacique”, disse.

Símbolos

A mar­ca do blo­co, a figu­ra de um indí­ge­na estiliza­do, é refer­ên­cia do car­naval de rua car­i­o­ca. Como tam­bém é a fan­ta­sia usa­da no começo da sua tra­jetória. A iden­ti­dade visu­al car­navalesca do blo­co foi cri­a­da pelo artista plás­ti­co Romeu Vas­con­ce­los. Na época em que as fan­tasias, sobre­tu­do de indí­ge­nas, eram feitas em algo­dão ou cetim, o mod­e­lo era con­fec­ciona­do com napa.

“A fan­ta­sia de napa mar­ca o imag­inário do folião do Cacique de Ramos. Ela vestiu ger­ações de pes­soas que relatam com muito praz­er e mui­ta emoção o que era vestir essa fan­ta­sia tão emblemáti­ca, tão livre, que cobria qual­quer tipo, taman­ho, for­ma­to de cor­po, mas­culi­no ou fem­i­ni­no”, desta­cou o his­to­ri­ador, mem­bro da dire­to­ria e coor­de­nador do Cen­tro de Memória Domin­gos Félix do Nasci­men­to do Grêmio Recre­ati­vo Cacique de Ramos, Wal­ter Pereira Júnior.

A par­tir da fan­ta­sia, o artista plás­ti­co pas­sou a cri­ar um con­jun­to de sím­bo­los e de ima­gens, que a tornaram muito notória. “Eram rep­re­sen­tações muito boni­tas nas cores pre­to e bran­co, ini­cial­mente, porque até mea­d­os dos anos 70, o blo­co tin­ha exclu­si­va­mente essas duas cores. Depois é que a efígie do índio, que sem­pre foi ver­mel­ha, começa a apare­cer mais na fan­ta­sia e a par­tir daí o ver­mel­ho entra tam­bém na fan­ta­sia”, ressaltou.

Referência musical

A tradição do Cacique não se restringe ao car­naval. É tam­bém uma refer­ên­cia no cenário musi­cal. Dos encon­tros de pagode, que reu­ni­am muitas pes­soas ao redor do sam­ba com comi­da e bebi­da, nasce­r­am gru­pos e artis­tas de destaque como o próprio grupo Fun­do de Quin­tal, que tem na sua for­mação o pres­i­dente do blo­co, con­heci­do como Bira Pres­i­dente. A pre­sença da can­to­ra Beth Car­val­ho tam­bém era fre­quente. As rodas de sam­ba viram sur­gir sam­bis­tas impor­tantes como Zeca Pagod­in­ho, Arlin­do Cruz e Xande de Pilares.

Xande de Pilares é uma das atrações do programa Todas as Bossas
Repro­dução: Xande de Pilares espera que o grupo con­tin­ue agre­gan­do pes­soas que amam o sam­ba.” Foto: Mar­i­ana Oliv­er / Divul­gação

A aprox­i­mação de Xande com o Cacique tem relação com a rival­i­dade que ocor­ria entre os seus amantes e os do tam­bém tradi­cional blo­co do car­naval car­i­o­ca Bafo da Onça. Quan­do ele tin­ha de 13 para 14 anos, a mãe chegou machu­ca­da em casa por causa de uma briga entre os foliões das duas insti­tu­ições. Para defend­er a mãe, como coisas de cri­ança, ele quis tirar sat­is­fações com o “Tal de Cacique” e foi para a quadra em Ramos achan­do que chegaria lá e encon­traria uma pes­soa. Desse momen­to em diante con­stru­iu a sua história no lugar e na músi­ca.

“O Cacique é um movi­men­to cul­tur­al mar­avil­hoso que eu con­heci. Por causa dele, eu estou até hoje no sam­ba, onde pude ver Zeca, Mar­quin­ho Chi­na, Baiano, Luiz Car­los da Vila, Nel­son Cavaquin­ho, que eu nun­ca tin­ha vis­to pes­soal­mente, Mus­sum e aque­la mesa mar­avil­hosa que tin­ha embaixo da Tamarineira. Muitas vezes eu ia para lá e a mol­e­ca­da joga­va bola. Tin­ha uma quadrin­ha de asfal­to. Ten­ho muitas pas­sagens boas no Cacique”, rev­el­ou Xande de Pilares à Agên­cia Brasil.

Para expandir as amizades com os artis­tas, o can­tor se aprox­i­mou do per­cus­sion­ista Ubi­rany Félix do Nasci­men­to, um dos fun­dadores do Fun­do de Quin­tal, mor­to em 2020 víti­ma de covid-19. “Um dia eu peguei intim­i­dade com o Ubi­rany e, através dele, me aprox­imei de todos. Ten­ho muito orgul­ho de ter tido a paciên­cia para con­hecer os per­son­agens do Cacique de Ramos”, com­ple­tou o can­tor.

“Parabéns ao Cacique de Ramos, que ele con­tin­ue rev­e­lando tal­en­tos e que con­tin­ue agre­gan­do pes­soas que amam o sam­ba.”

Essa junção do car­naval com o sam­ba deu fru­tos ao blo­co que des­fila­va ao som de músi­cas próprias, que con­quis­tavam o públi­co e garan­ti­am a empol­gação da insti­tu­ição no cen­tro do Rio.

“O des­file do Cacique, quan­do se trans­for­ma em blo­co de mul­ti­dão, fala­va muito da hor­i­zon­tal­i­dade. Todos estavam iguais den­tro daque­la mas­sa com­pacta de foliões can­tan­do, sam­ban­do, extravasan­do sua ale­gria, vestin­do as cores e a fan­ta­sia da insti­tu­ição, no caso do Cacique a napa car­navalesca, can­tan­do sam­bas próprios e des­fi­lan­do den­tro do seu corte­jo”, disse o coor­de­nador do Cen­tro de Memória.

No com­pro­mis­so de man­ter o pro­je­to cul­tur­al, o blo­co trans­mite infor­mações sobre a sua história em exposições, palestras e shows. Na parte social, fez con­vênio com a 4ª Coor­de­nado­ria Region­al de Ensi­no do Municí­pio do Rio para aulas de músi­ca para os alunos do ensi­no fun­da­men­tal. Além dis­so, real­iza aulas de per­cussão aos sába­dos na sede e aulas de sam­ba aos domin­gos sem pagar para entrar, rela­tou Már­cio Nasci­men­to admin­istrador-ger­al do Cacique à reportagem.

Rio de Janeiro - Blocos de rua tradicionais, como Cacique de Ramos e Bafo da Onça, entre outros, desfilam pelo centro do Rio (Vladimir Platonow/Agência Brasil)
Repro­dução: Rio de Janeiro — Blo­cos de rua tradi­cionais, como Cacique de Ramos e Bafo da Onça, entre out­ros, des­fil­am pelo cen­tro do Rio (Vladimir Platonow/Agência Brasil) — Vladimir Platonow/Agência Brasil

Segun­do o admin­istrador do Cacique, Már­cio Nasci­men­to, a insti­tu­ição se con­sagrou como um dos prin­ci­pais des­ti­nos turís­ti­cos do Rio de Janeiro e aproveitou essa moti­vação para garan­tir a sus­tentabil­i­dade finan­ceira, para man­ter saudáv­el, esse patrimônio cul­tur­al. “O Cacique plane­ja con­tin­uar a pro­mover os seus even­tos cul­tur­ais e bus­car novas fontes de finan­cia­men­to. Abri­mos hoje espaços para parce­rias, o que vem aju­dan­do na nos­sa engrenagem a se adap­tar às mudanças do mun­do mod­er­no”, indi­cou.

Már­cio recon­hece que é “uma difi­cul­dade” man­ter estáv­el um blo­co como o Cacique. “Uma das maiores empre­itadas que eu enfrentei foi a gestão finan­ceira e a neces­si­dade de mod­ern­iza­ção da infraestru­tu­ra. No entan­to, jun­to com a dire­to­ria de ouro e nós famil­iares do pres­i­dente con­seguimos super­ar ess­es desafios bus­can­do novas for­mas de nos man­ter­mos rel­e­vantes e finan­ceira­mente viáveis”, afir­mou Nasci­men­to.

Carnavalesco

André Cezari adiantou para a Agên­cia Brasil, que em 2024 o tema comem­o­ra­ti­vo cel­e­bra as histórias de amor que tiver­am origem no blo­co sob as mais diver­sas for­mas com o títu­lo Coração caciqueano uma história de amor. Out­ro destaque em 2024, de acor­do com Cezari é a ale­go­ria que vem a corte com a rain­ha e as prince­sas do blo­co dec­o­ra­do com corações.

“Ess­es corações sim­bolizam os nos­sos corações caciqueanos que estarão lá des­fi­lan­do que ao mes­mo tem­po saltarão aos olhos e esse amor envol­vente tocará tam­bém todos que estarão na arquiban­ca­da na Aveni­da Chile para que no ano seguinte esse amor cresça e faça com que eles tam­bém ven­ham conosco em nos­sos des­files e na nos­sa quadra”, disse, acres­cen­tan­do que a expec­ta­ti­va é muito grande.

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Edição: Maria Clau­dia

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