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Cacique e Bafo: a rivalidade que fez história no carnaval do Rio

Repro­dução: Foto: Vladimir Platonow/Agência Brasil

Quando um bloco foi criado, o outro já existia


Pub­li­ca­do em 13/02/2024 — 09:43 Por Cristi­na Indio do Brasil — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Uma rival­i­dade mar­cou durante muitos anos o car­naval do Rio. Os des­files dos blo­cos de emba­lo Bafo da Onça e Cacique de Ramos atraíam mul­ti­dões e, não raro, peque­nas brigas se espal­havam nas ruas do cen­tro da cidade. A con­cen­tração de tan­tos foliões foi o que lev­ou à rival­i­dade entre os dois. Cada um que­ria ser maior que o out­ro. Atual­mente essa dis­pu­ta já não existe e os dois podem aproveitar o car­naval.

Quan­do o Cacique foi cri­a­do em 1961, no bair­ro de Ramos, na zona norte do Rio, o Bafo da Onça já exis­tia. Foi fun­da­do em 1956 em um bote­quim do bair­ro do Catumbi, na região cen­tral da cidade. E foi ali que Sebastião Maria, con­heci­do como Tião Carpin­teiro, deu nome ao blo­co. Antes dis­so, durante o car­naval, ele cos­tu­ma­va des­fi­lar fan­tasi­a­do de onça-pin­ta­da.

Rio de Janeiro - Blocos de rua tradicionais, como Cacique de Ramos e Bafo da Onça, entre outros, desfilam pelo centro do Rio (Vladimir Platonow/Agência Brasil)
Repro­dução: Blo­cos de rua tradi­cionais, como Cacique de Ramos e Bafo da Onça des­fil­am pelo cen­tro do Rio. Foto: Vladimir Platonow/Agência Brasil

“Seu Tião Maria dizia que, para ele, o car­naval começa­va logo depois da fes­ta dos San­tos Reis, dia 6 de janeiro, então, abria o perío­do car­navale­sco. Os ami­gos do Seu Tião fre­quen­ta­dores do mes­mo bote­quim resolver­am fun­dar um blo­co. Ele era con­heci­do como Seu Tião do Bafo da Onça, porque diziam que gosta­va de tomar, na época do car­naval, uma cachaça mais forte e fica­va com aque­le bafo ”, con­tou à  Agên­cia Brasil o pro­fes­sor de história e escritor, Luiz Antônio Simas.

“A car­ac­terís­ti­ca deste blo­co era basi­ca­mente estar lig­a­do ao bair­ro, des­fila­va pelas ruas do Catumbi, todos vesti­dos de onça pin­ta­da e foi um blo­co tão impac­tante que de cer­ta maneira inspirou a fun­dação, alguns anos depois do Cacique de Ramos e o bafo começa a ser uma grande atração do car­naval do Rio de Janeiro”, com­ple­tou.

Se o número grande de foliões era comum aos dois gru­pos, as car­ac­terís­ti­cas eram próprias. Enquan­to no Cacique a fan­ta­sia de indí­ge­na, ini­cial­mente con­fec­ciona­da em napa, uma espé­cie de couro, cobria o cor­po dos inte­grantes, no Bafo os fig­uri­nos eram vari­a­dos, des­de que respeitassem as cores do blo­co: o pre­to e o amare­lo. Como o Tião Carpin­teiro, muitos usavam as fan­tasias e tam­bém pin­tavam o ros­to para pare­cer uma onça.

“Tin­ha uma dis­pu­ta fer­ren­ha com o Cacique de Ramos. Ou você era Bafo ou era Cacique, e isso tin­ha muito a ver com a história do car­naval de rua do Rio, e muito a ver com essa míti­ca de dis­pu­ta”, afir­mou Rita Fer­nan­des, pres­i­dente da Asso­ci­ação Inde­pen­dente de Blo­cos de Rua do Rio (Sebas­tiana) à Agên­cia Brasil.

Out­ra car­ac­terís­ti­ca das duas insti­tu­ições foram diver­sos sam­bas com­pos­tos para cada um deles. Pelo Cacique um dos destaques é o Água Na Boca e pelo Bafo o OBA. O suces­so das músi­cas é tão grande que até hoje são can­tadas inclu­sive por out­ros blo­cos.

Desfiles

Para sat­is­faz­er os seus foliões, como tem acon­te­ci­do nos últi­mos anos, o Cacique de Ra,ps aprovei­ta muito bem o car­naval e se apre­sen­ta no domin­go, na segun­da e na terça. Já o Bafo da Onça, em quan­ti­dade muito menor ao que já foi no pas­sa­do, mar­ca o encon­tro com os foliões para ape­nas o domin­go. Parte do din­heiro para o des­file é con­segui­da com a ven­da de camise­tas. A con­vo­cação dos com­po­nentes foi divul­ga­da no per­fil da insti­tu­ição no Face­book e movi­men­tou os fãs na rede social. O blo­co usou no anún­cio um ver­so do sam­ba OBA: É o Bom ! É o Bom ! É o Bom !.

O sam­ba foi grava­do em 1962 pelo can­tor e com­pos­i­tor Oswal­do Nunes autor de diver­sos suces­sos do Bafo da Onça, que na época, ani­mavam os foliões na Aveni­da Rio Bran­co, tam­bém no cen­tro da cidade. O can­tor foi a voz do blo­co do iní­cio dos anos 60 até mea­d­os dos anos quan­do, por causa de uma briga com a dire­to­ria da insti­tu­ição, deixou a função que desem­pen­ha­va com tan­ta ale­gria.

Se a quan­ti­dade de com­po­nentes é difer­ente entre os dois blo­cos, o local de apre­sen­tação é o mes­mo. Antes era a Aveni­da Rio Bran­co, ante­ri­or­mente chama­da de Aveni­da Cen­tral. Ago­ra é a Aveni­da Chile, as duas no cen­tro do Rio. A escol­ha, no entan­to, não é do Cacique e nem do Bafo, cabe a Rio­tur deter­mi­nar o local atu­al onde tam­bém des­fil­am Blo­cos Afros e gru­pos de Frevos, além de out­ros blo­cos como Boêmios de Inhaú­ma e Pagodão de Madureira.

“O Bafo da Onça e o Cacique de Ramos foram as mais famosas insti­tu­ições car­navalescas da cidade do Rio. Eram con­cor­rentes tradi­cionalís­si­mos e atraíam mul­ti­dões para os des­files que em ger­al eram na Aveni­da Rio Bran­co. Por­tan­to, eles foram impor­tan­tís­si­mos e arrebatavam mil­hares de pes­soas”, pon­tu­ou o his­to­ri­ador, jor­nal­ista e pesquisador de MPB, Ricar­do Cra­vo Albin, em entre­vista à Agên­cia Brasil, desta­can­do que os jor­nais davam em primeira pági­na as matérias sobre os des­files dos dois blo­cos.

Dificuldades

Atual­mente, os dois se difer­en­ci­am pela condição finan­ceira. O Cacique se man­tém com shows na quadra, patrocínios e ven­das de pro­du­tos como camise­tas. O Bafo não con­segue tan­tas fontes de ren­da e isso fica refleti­do nos des­files que reúnem poucos admi­radores em com­para­ção ao que já foi no pas­sa­do.

Rita Fer­nan­des lamen­tou as difi­cul­dades finan­ceiras que levaram à redução do Bafo da Onça nos últi­mos dez anos. Para ela, os blo­cos pre­cisam de ter fontes novas de ren­da para per­manecerem com as suas ativi­dades. “É lamen­táv­el que um blo­co com taman­ha importân­cia para a história do car­naval e da cidade Rio , como é o caso do Bafo da Onça, não con­si­ga sobre­viv­er com can­tores, artis­tas e sam­bis­tas que fazi­am parte do seu quadro, por fal­ta de incen­ti­vo do poder públi­co, que não aju­da, como é o caso tam­bém do Bola Pre­ta que está pre­cisan­do de aju­da”, apon­tou.

“Temos um prob­le­ma no Rio e no Brasil em relação à preser­vação das memórias, daqui­lo que tem tradição, que tem raiz”, disse, acres­cen­tan­do que além do poder públi­co, o blo­co con­seguiu tam­bém a aju­da de mar­cas patroci­nado­ras, o que para ela, só ocorre atual­mente para os blo­cos com­er­ci­ais.

Para o pro­fes­sor Simas, o declínio do Bafo é decor­rente do tam­bém declínio do bair­ro do Catumbi, que foi impacta­do por algu­mas refor­mas urbanas como a aber­tu­ra do túnel San­ta Bár­bara e a cri­ação do Viadu­to 31 de março, que divid­iu o Catumbi em dois. Ape­sar dis­so a insti­tu­ição tem relevân­cia no car­naval car­i­o­ca. “O Bafo da Onça é um mar­co da história do car­naval de rua do Rio de Janeiro, desse espíri­to car­navale­sco dess­es blo­cos de emba­lo”, con­cluiu.

Edição: Maria Clau­dia

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