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Caciques das 5 regiões afirmam que mudanças climáticas impactam campo

Repro­dução: © Jose Cruz/ Agên­cia Brasil

Culturas tradicionais tornam-se raras com estiagens e chuvas intensas


Publicado em 24/04/2024 — 07:40 Por Luiz Claudio Ferreira – Repórter da Agência Brasil — Brasília

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Perío­dos lon­gos de esti­agem ou tem­po­radas de chu­vas inten­sas causam estran­hamen­to em líderes indí­ge­nas nas cin­co regiões do país. Mais do que sur­pre­sa, as mudanças climáti­cas impactam a pro­dução no cam­po e afe­tam a qual­i­dade de vida de comu­nidades inteiras, segun­do caciques que estão pre­sentes no Acam­pa­men­to Ter­ra Livre (ATL), em Brasília, nes­ta sem­ana.

Ouvi­dos pela Agên­cia Brasil, cin­co caciques de difer­entes partes do Brasil lamen­tam a destru­ição e a poluição dos recur­sos nat­u­rais e tam­bém as pressões dos não indí­ge­nas con­tra seus locais preser­va­dos.

Região Sudeste

Brasília (DF), 23.04.2024 - Cacique Baiará Pataxo fala sobre mudaça de clima em sua regiaão, no Acampamento Terra Livre 2024Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: Baiara Pataxó — Joéd­son Alves/Agência Brasil

O cacique Baiara Pataxó, de 64 anos, que vive em uma comu­nidade na cidade de Açu­ce­na, Minas Gerais, teste­munha que, na últi­ma déca­da, as plan­tações de man­dio­ca, mil­ho e fei­jão deixaram de ren­der como antes. Os pro­du­tos são ven­di­dos para com­er­ciantes das cidades próx­i­mas e sus­ten­tam a comu­nidade for­ma­da por 80 pes­soas.

“Antes, as chu­vas começavam em setem­bro. Nos últi­mos anos, só em dezem­bro. Claro que isso não é nor­mal”, diz Baiara Pataxó.

Além das mudanças climáti­cas, a comu­nidade em Minas Gerais foi impacta­da pelo crime ambi­en­tal de 25 de janeiro de 2019, quan­do a bar­ragem da Mina Cór­rego do Fei­jão, da min­er­ado­ra Vale, em Bru­mad­in­ho, se rompeu. Além de causar a morte de 272 pes­soas, os rejeitos poluíram os rios Doce e Cor­rente, na região. “Tudo isso tem sido ter­rív­el. Atual­mente, esta­mos tra­bal­han­do na recom­posição de 45 mil mudas de árvores nati­vas e frutíferas. Vinte indí­ge­nas estão tra­bal­han­do nes­sa tare­fa”, afir­ma.

Região Norte

Brasília (DF), 23.04.2024 - Cacique Dário Kopenawa Yanomami fala sobre mudaça de clima em sua regiaão, no Acampamento Terra Livre 2024Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: Dario Kope­nawa — Joéd­son Alves/Agência Brasil

A relação das mudanças climáti­cas com out­ras ações crim­i­nais tam­bém é pres­en­ci­a­da pelo cacique Dario Kope­nawa Yanoma­mi, de 39 anos, que vive em Roraima.

“Esta­mos con­viven­do lá com a invasão dos min­er­adores e garimpeiros. Somos uma comu­nidade de 32 mil pes­soas sofren­do com mudanças climáti­cas e, ao mes­mo tem­po, com a con­t­a­m­i­nação pelo mer­cúrio”, lamen­ta.

O cacique ver­i­fi­ca que as chu­vas tiver­am regime alter­ado e estão “bem difer­entes” do que eram na ado­lescên­cia e infân­cia dele na região.

“Temos  pedi­do nos­sas chu­vas aos nos­sos xam­ãs [guias reli­giosos]. Mas é fato que a roça de taio­ba, a macax­eira e a banana não são como antes.”

Região Nordeste

Brasília (DF), 23.04.2024 - Cacique Tchydjouê Fucaxô fala sobre mudaça de clima em sua regiaão, no Acampamento Terra Livre 2024Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: Cacique Tchy­d­jo Ue — Joéd­son Alves/Agência Brasil

O cacique Tchy­d­jo Ue, de 76 anos, do povo Fulni‑ô, vive em uma aldeia, na cidade de Pacatu­ba, em Sergipe, onde estão 86 famílias. Ele con­sid­era que hoje o cenário é com­ple­ta­mente trans­for­ma­do em relação ao tem­po da juven­tude.

“Esta­mos próx­i­mos do litoral (96 quilômet­ros), mas é muito mais quente do que antes. Os mais jovens têm sen­ti­do a difi­cul­dade de tra­bal­har na roça e acabam desistin­do”, diz o cacique.

As mudanças de cli­ma com­bi­na­ram com as de com­por­ta­men­to.

“Os jovens tam­bém se trans­for­maram. Querem ir emb­o­ra. Vivem na inter­net e no celu­lar”, afir­ma. Para diver­si­ficar as ativi­dades, o líder indí­ge­na diz que tem estim­u­la­do a ativi­dade do arte­sana­to, já que o mil­ho, a man­dio­ca e o fei­jão nem são o sufi­ciente para sub­sistên­cia.  Out­ra ativi­dade é de con­hec­i­men­to da natureza. “Sou chama­do para falar na Europa e nos Esta­dos Unidos sobre os saberes indí­ge­nas, mas é pre­ciso que saibam mais da gente por aqui.”

Região Centro-Oeste

Brasília (DF), 23.04.2024 - Cacique Tanoné Carirí Xocó fala sobre mudaça de clima em sua regiaão, no Acampamento Terra Livre 2024Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: Repro­dução: Tanoné Carirí Xocó — Joéd­son Alves/Agência Brasil

A destru­ição do cer­ra­do e as mudanças de cli­ma foram acom­pan­hadas de per­to pela cacique Tanoné, que tem 70 anos e vive no Dis­tri­to Fed­er­al des­de o ano de 1986. Ela lem­bra, com lamen­to, que Brasília tin­ha tem­po­radas frias, o que “desa­pare­ceu”.

Na comu­nidade em que ela vive, no Setor Noroeste, há 16 famílias. Na região, que cresceu com a expan­são imo­bil­iária, ela diz que tem atu­a­do para recom­por o cenário. São 16 hectares de área em que as plan­tações de mil­ho, fei­jão, jato­bá e algo­dão ilu­mi­navam o cenário.

“O fei­jão virou raro. O algo­dão, tam­bém. Ou é fal­ta de chu­vas ou tem­po­rais inten­sos”. A cacique pediu a entes gov­er­na­men­tais a plan­tação dos ipês para voltar a deixar o lugar com cores novas.

Região Sul

Na cidade de José Boi­teux, em San­ta Cata­ri­na, uma comu­nidade de 2,3 mil pes­soas da etnia xok­leng está pre­ocu­pa­da com a aprox­i­mação da tem­po­ra­da de chu­vas, que se tornaram mais inten­sas na últi­ma déca­da.

Brasília (DF), 23.04.2024 - Cacique Setembrino Kokleng (c) fala sobre mudaça de clima em sua regiaão, no Acampamento Terra Livre 2024Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: Setem­bri­no Kok­leng — Joed­son Alves/Agência Brasil

Segun­do o cacique Setem­bri­no, de 53 anos, da mes­ma etnia, o tra­bal­ho prin­ci­pal ago­ra é ficar aten­to às cheias e ensi­nar preser­vação ambi­en­tal para os indí­ge­nas em sala de aula.

“É cer­to estar aten­to à Amazô­nia, mas pre­cisamos lem­brar tam­bém do Sul. Esta­mos tra­bal­han­do ago­ra com o plan­tio do pin­heiro. A gente tem que olhar para ago­ra e depois.”

“Como pas­sou a chover muito mais, a bar­ragem de con­tenção cos­tu­ma chegar ao lim­ite com recor­rên­cia. Nós não temos mais lugar seguro para morar”, diz uma das lid­er­anças da comu­nidade etnia xok­leng, Geo­mar Crendô.

Edição: Nádia Fran­co

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