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Calor extremo no trabalho afeta saúde a curto e longo prazo

Corpo precisa de mais esforço para se regular em altas temperaturas

Fran­ciel­ly Bar­bosa*- Estag­iária da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 04/03/2025 — 08:26
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro (RJ), 17/02/2024 -Transeuntes se protegem do forte calor nas ruas do centro da cidade. Cidade do Rio de Janeiro atinge nível 4 de calor. Marco é caracterizado por temperaturas que podem chegar a 44ºC Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Hidratação con­stante e toal­ha úmi­da por per­to, recomen­da a pesquisado­ra Tatiane Cristi­na Moraes de Sousa para enfrentar o calor inten­so. Pro­fes­so­ra do Depar­ta­men­to de Epi­demi­olo­gia do Insti­tu­to de Med­i­c­i­na Social da Uni­ver­si­dade do Esta­do do Rio de Janeiro (Uerj), aler­ta para os impactos a cur­to e lon­go pra­zo na saúde humana em razão da alta das tem­per­at­uras reg­istradas na cidade do Rio de Janeiro.

Somente nos dois primeiros meses do ano, mais de 5 mil pes­soas já procu­raram atendi­men­to médi­co em unidades do Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS) em razão do calor exces­si­vo, con­forme dados da Sec­re­taria Munic­i­pal de Saúde (SMS-RJ).

“Quan­do falam­os dos impactos, temos que pen­sar primeiro na exposição, que é como aque­la pes­soa está expos­ta, por quan­tas horas, se está den­tro de um ambi­ente ou não, se está a céu aber­to, tra­bal­han­do”, avalia a pro­fes­so­ra.

Como efeitos ime­di­atos da exposição ao calor, a pesquisado­ra cita sinais de exaustão e inso­lação, que, em casos mais graves ou quan­do não há trata­men­to ade­qua­do, podem provo­car com­pli­cações em órgãos vitais.

“A pes­soa pode ter des­maios, náuse­as, difer­entes sinais e sin­tomas que mostram que ela está se encam­in­han­do para uma inso­lação. O risco final, que pode acon­te­cer de ime­di­a­to depen­den­do das condições, é a pes­soa vir a óbito”, comen­ta, relem­bran­do o caso da uni­ver­sitária Ana Clara Bene­v­ides Macha­do, que mor­reu dev­i­do à exaustão cau­sa­da pelo calor durante um show da can­to­ra Tay­lor Swift no Rio de Janeiro em 2023.

Além dos efeitos dire­tos da exposição ao sol, prin­ci­pal­mente em dias de tem­per­atu­ra e sen­sação tér­mi­ca ele­vadas, Sousa apon­ta para os efeitos a lon­go pra­zo. À Agên­cia Brasil, a pro­fes­so­ra expli­ca que a exposição ao calor inten­so faz com que se exi­ja mais esforço do organ­is­mo para se reg­u­lar. “Nos­so sis­tema car­dio­vas­cu­lar e nos­so sis­tema renal estão se esforçan­do mais para o nos­so cor­po voltar à tem­per­atu­ra em que o organ­is­mo fun­ciona mel­hor, em torno de 37ºC, então, se expor­mos o nos­so cor­po a esse esforço por um lon­go perío­do, tam­bém aumen­ta­mos a chance de apare­cerem doenças crôni­cas”, diz.

Rio de Janeiro (RJ), 17/02/2024 - Funcionários tabalham no Sambódromo debaixo de forte calor. Cidade do Rio de Janeiro atinge nível 4 de calor. Marco é caracterizado por temperaturas que podem chegar a 44ºC Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Fun­cionários tra­bal­ham no Sam­bó­dro­mo debaixo de forte calor. Cidade do Rio de Janeiro atinge nív­el 4 de calor. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil 

Ape­sar das tem­per­at­uras recordes reg­istradas na cap­i­tal flu­mi­nense — na segun­da-feira (17), a cidade atingiu máx­i­ma de 44ºC, maior tem­per­atu­ra des­de 2024 —, a pesquisado­ra avalia que o calor exces­si­vo não é um desafio ape­nas da cidade do Rio de Janeiro, mas um prob­le­ma que pre­cisa ser repen­sa­do por difer­entes sis­temas de gestão públi­ca e pela sociedade.

“Hidratação, por exem­p­lo, é essen­cial. A prefeitu­ra munic­i­pal [do Rio de Janeiro] disponi­bi­li­zou pela cidade difer­entes pon­tos de hidratação gra­tui­ta, mas sabe­mos que inter­romper ou evi­tar essa exposição no horário de 11h às 15h é ide­al, só que isso mexe, prin­ci­pal­mente, com o tra­bal­hador, isso mexe como con­struí­mos a nos­sa sociedade para os horários de tra­bal­ho”, reflete.

Segun­do Sousa, os profis­sion­ais mais afe­ta­dos são aque­les com vín­cu­los infor­mais de tra­bal­ho, espe­cial­mente entre­gadores e vende­dores ambu­lantes, que depen­dem dos horários de maior movi­men­to. “Como você vai garan­tir que esse vende­dor não tra­bal­he nos horários de pico, se no car­naval, por exem­p­lo, é o momen­to em que eles mais gan­ham?”, ques­tiona.

Rio de Janeiro (RJ) 25/01/2025 – Vendedores ambulantes na Praia do Flamengo durante semana com alerta de calor extremo. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Repro­dução: Vende­dores ambu­lantes na Pra­ia do Fla­men­go durante sem­ana com aler­ta de calor extremo  — Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Além da ativi­dade desen­volvi­da, out­ro fator impor­tante para com­preen­der a situ­ação de vul­ner­a­bil­i­dade a que os tra­bal­hadores estão sub­meti­dos é a idade, já que idosos, assim como cri­anças, são mais suscetíveis a prob­le­mas em decor­rên­cia do calor inten­so. Muitos dess­es tra­bal­hadores infor­mais, avalia a pesquisado­ra, tam­bém apre­sen­tam quadros de hiperten­são, dia­bete, doenças renais e cardía­cas, que con­tribuem para uma situ­ação de mal-estar.

Pen­san­do, sobre­tu­do, nos tra­bal­hadores infor­mais expos­tos ao sol por um lon­go perío­do, a pesquisado­ra recomen­da bus­car áreas cober­tas e ven­ti­ladas, usar chapéus o tem­po inteiro e recon­hecer o momen­to de encer­rar a ativi­dade para bus­car aju­da. “Essa é uma coisa que o poder públi­co vai ter que inten­si­ficar, é o aces­so ao socor­ro, à assistên­cia, o cuida­do durante esse perío­do”, expli­ca a pro­fes­so­ra.

Out­ra recomen­dação que Sousa faz é sem­pre refres­car o cor­po com água ou uma toal­ha mol­ha­da. Para ela, essas ações, no entan­to, não podem ser restri­tas ao iní­cio deste ano: “Fal­tam ações conc­re­tas, mas isso não pode parar ago­ra porque esta­mos no verão. São plane­ja­men­tos, revisões que temos que ter para o próx­i­mo verão, para out­ros perío­dos que não imag­iná­va­mos que fos­sem ser tão quentes, mas serão”.

*Estag­iária sob super­visão de Viní­cius Lis­boa

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