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Caminhada em São Paulo lembra golpe militar e faz homenagem às vítimas

Repro­dução: © Paulo Pinto/Agência Brasil

Ato teve início na antiga sede do DOI-Codi


Publicado em 31/03/2024 — 18:10 Por Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil — São Paulo

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Uma cam­in­ha­da em São Paulo lem­brou os 60 anos do golpe que instau­rou a ditadu­ra civ­il-mil­i­tar no Brasil. Chama­da de Cam­in­ha­da do Silên­cio pelas Víti­mas de Vio­lên­cia do Esta­do, o ato teve iní­cio na anti­ga sede do Depar­ta­men­to de Oper­ações de Infor­mações — Cen­tro de Oper­ações de Defe­sa Inter­na (DOI-Codi), na Rua Tutóia, na Vila Mar­i­ana.

“Esse é um ato que relem­bra os 60 anos da mal­fada­da ditadu­ra. Esta­mos em frente a um dos mais impor­tantes cen­tros de repressão da ditadu­ra mil­i­tar brasileira que é a anti­ga sede do DOI-Codi, onde as Forças Armadas, asso­ci­a­da à sociedade civ­il de São Paulo, tor­tu­raram mil­hares de pes­soas no fun­do desse pré­dio e onde dezenas de com­pan­heiros e com­pan­heiras foram assas­si­na­dos”, disse Hen­rique Oli­ta, mem­bro do Diretório Estad­ual do Par­tido dos Tra­bal­hadores (PT).

Foi nesse lugar que o ex-dep­uta­do estad­ual e pres­i­dente da Comis­são da Ver­dade da Assem­bleia Leg­isla­ti­va de São Paulo, Adri­ano Dio­go, ficou pre­so por 90 dias durante a ditadu­ra mil­i­tar. “Fiquei 90 dias aqui. Fiquei 90 dias em uma cela solitária beben­do água de boi”, relem­brou ele hoje, em entre­vista à Agên­cia Brasil. “Aqui é uma casa de morte”, reforçou.

Tam­bém foi no DOI-Codi que Maria Amélia de Almei­da Teles, a Amelin­ha, foi pre­sa, tor­tu­ra­da e estupra­da. “Fui pre­sa políti­ca aqui no DOI-Codi entre 1972 e 1973. Aqui fui tor­tu­ra­da e estupra­da. Min­ha família toda foi sequestra­da e trazi­da aqui para o DOI-Codi. Min­ha fil­ha, Janaí­na, tin­ha cin­co anos de idade [na época] e meu fil­ho tin­ha qua­tro anos.

Os 60 anos do golpe mil­i­tar de 1964 não tem como serem esque­ci­dos. Esse é um pas­sa­do que está muito pre­sente ain­da. São feri­das que não cica­trizaram e que con­tin­u­am san­gran­do nos dias de hoje. O Brasil con­tin­ua ameaça­do de golpes e de vio­lên­cia do Esta­do”, disse ela. “As novas ger­ações pre­cisam con­hecer isso para se for­t­ale­cer e para inve­stir mais na con­strução da democ­ra­cia brasileira”, acres­cen­tou.

São Paulo (SP) 31/03/2024 - Ato 60 Anos do Golpe de 64 na frente do DOI-CODI em São Paulo.Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: São Paulo (SP) 31/03/2024 — Ato 60 Anos do Golpe de 64 na frente do DOI-CODI em São Paulo. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Memória

Nes­ta quar­ta edição da cam­in­ha­da, os man­i­fes­tantes reforçaram a neces­si­dade da memória, adotan­do como tema a frase: “Para que Não se Esqueça, Para que Não Con­tin­ue Acon­te­cen­do”. E lem­braram que as pop­u­lações per­iféri­c­as seguem sofren­do com a vio­lên­cia poli­cial, mes­mo nos dias atu­ais.

“Temos um pas­si­vo que não é só a questão de memória ou de rev­er­en­ciar aque­las pes­soas que der­am o mel­hor da sua vida pela luta da liber­dade do Brasil e dos dire­itos do povo. A ditadu­ra mil­i­tar deixou uma série de pas­sivos [no país]. Mes­mo com o remen­do de Con­sti­tu­inte de 1988, a estru­tu­ra de repressão no Brasil não se alter­ou. Temos uma Polí­cia Mil­i­tar — que dev­e­ria ser uma Polí­cia Civ­il — total­mente mil­i­ta­riza­da e que tem feito o que esta­mos assistin­do hoje, como essa oper­ação poli­cial no litoral de São Paulo [Oper­ações Verão e Escu­do] onde mais de 50 pes­soas foram assas­si­nadas. Essa é a maior chaci­na da polí­cia depois do caso do Carandiru. Isso é absur­do. Esse é um dos pas­sivos da ditadu­ra, que temos que super­ar”, disse Oli­ta, em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Par­tic­i­param do ato deste domin­go na cap­i­tal paulista per­son­al­i­dades como o ex-dep­uta­do José Genoíno, o dep­uta­do estad­ual Eduar­do Supl­i­cy e a dep­uta­da fed­er­al Luiza Erun­d­i­na.

“O 8 de janeiro de 2023 tem a ver com 2016 [impeach­ment da ex-pres­i­dente Dil­ma Rouss­eff], que foi um golpe. E ess­es dois [even­tos] têm a ver com 1964 porque a tran­sição da ditadu­ra para a democ­ra­cia se deu num pacto pelo alto, num pacto das elites que não mexeu com as estru­turas de poder. Eu esta­va na Con­sti­tu­inte (de 1988) e vivi isso”, disse Genoíno, à Agên­cia Brasil.

Para Erun­d­i­na, lem­brar os 60 anos do golpe é impor­tante para que a pop­u­lação “nun­ca se esqueça daqui­lo que brasileiros e brasileiras passaram”.Segundo ela, o Brasil ain­da não reparou e nem fez justiça sobre o que acon­te­ceu nesse perío­do.

“Não vamos esque­cer [o que acon­te­ceu]. Vamos con­tin­uar cobran­do, exigin­do e levan­do às novas ger­ações a real­i­dade sobre aque­le tem­po para que eles tam­bém nos aju­dem a con­tin­uar essa luta. Não podemos per­mi­tir que os crimes da ditadu­ra fiquem impunes, como os desa­parec­i­men­tos força­dos de mais de 4 mil brasileiros. Enquan­to isso não for pas­sa­do a limpo, a ditadu­ra não aca­ba. Temos que con­tin­uar lutan­do por essa causa e não admi­tir que isso seja esque­ci­do porque o esquec­i­men­to pode levar a riscos de out­ras ditaduras”.

A cam­in­ha­da teve como des­ti­no o Mon­u­men­to em Hom­e­nagem aos Mor­tos e Desa­pare­ci­dos Políti­cos, no Par­que Ibi­ra­puera.

DOI-Codi

O DOI-Codi foi uma agên­cia de repressão políti­ca sub­or­di­na­da ao Exérci­to. Neste local, os inimi­gos da ditadu­ra foram encar­cer­a­dos, tor­tu­ra­dos e mor­tos. Esti­ma-se que por ali pas­saram mais de 7 mil pre­sos políti­cos, quase todos tor­tu­ra­dos. Dess­es, pelo menos 50 deixaram o local já sem vida.

Atual­mente, neste endereço fun­ciona o 36° Dis­tri­to Poli­cial, da Polí­cia Civ­il. É neste lugar tam­bém que ulti­ma­mente tem sido real­iza­da uma pesquisa arque­ológ­i­ca para apro­fun­dar os con­hec­i­men­tos sobre o pré­dio e tam­bém iden­ti­ficar as pes­soas que pas­saram pelo local. Há tam­bém uma pro­pos­ta de ressig­nificar esse espaço, transformando‑o no Memo­r­i­al da Luta pela Justiça.

“Aqui foram assas­si­nadas, pelo Ustra [coman­dante do Exérci­to, Car­los Alber­to Bril­hante Ustra], mais de 50 mil­i­tantes políti­cos”, falou Amelin­ha. “Aqui pre­cisa ser um cen­tro de memória e de defe­sa dos dire­itos humanos. A memória e o dire­ito à ver­dade são dire­itos humanos. Aqui tem que ter um museu, um memo­r­i­al e cur­sos de dire­itos humanos. Essa del­e­ga­cia não dev­e­ria mais exi­s­tir aqui porque essas pare­des estão man­chadas de sangue dos nos­sos com­pan­heiros”, acres­cen­tou.

A cam­in­ha­da de hoje foi orga­ni­za­da pelo Movi­men­to Vozes do Silên­cio, rep­re­sen­ta­do pelo Insti­tu­to Vladimir Her­zog, e pelo Núcleo de Preser­vação da Memória Políti­ca, com apoio de diver­sas insti­tu­ições.

Edição: Sab­ri­na Craide

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