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Campanha incentiva doação de leite materno no país

Repro­dução: © Arqui­vo pes­soal

Iniciativa marca Dia Mundial de Doação de Leite Humano


Pub­li­ca­do em 19/05/2023 — 07:38 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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 A profis­sion­al de saúde Luciana Simões Gripp Bar­ros doou o exce­dente de leite até os nove meses da fil­ha mais vel­ha e parou com o iní­cio da pan­demia de covid-19 porque não ain­da havia estu­dos sobre a doença. Ago­ra, com a fil­ha mais nova com menos de um mês, ela voltou a doar no Ban­co de Leite do Insti­tu­to Fer­nan­des Figueira, da Fun­dação Oswal­do Cruz (IFF/Fiocruz), situ­a­do no bair­ro do Fla­men­go, zona sul do Rio de Janeiro.

Segun­do Luciana, quan­do a mul­her vira mãe começa a olhar para o bebê de out­ra for­ma. “Começa a se colo­car no lugar daque­la mãe que tem fil­ho pre­maturo, que não tem leite sufi­ciente ou que não pode ama­men­tar. Tudo muda. O nos­so olhar fica mais aten­to ao bebê”. Ela expli­cou que quan­do a mul­her tem fil­ho, os hor­mônios ficam tão à flor da pele que trazem uma sen­si­bil­i­dade que leva a perce­ber e se colo­car real­mente no lugar do out­ro. “É um emaran­hado de sen­ti­men­tos. É gratidão, empa­tia, é você tam­bém ser gra­to a Deus por ter a opor­tu­nidade de ama­men­tar suas fil­has. Então, faz­er isso pelo out­ro é uma for­ma de ret­ribuição pelo que você tem”.

Surgimento

O primeiro ban­co de leite humano do país foi cri­a­do em out­ubro de 1943, no Insti­tu­to Nacional de Puer­i­cul­tura, hoje IFF/Fiocruz, alcançan­do cin­co unidades até os anos 80. O número começou a aumen­tar a par­tir daí e se con­fig­urou como Rede Brasileira de Ban­cos de Leite Humano (Rede BLH-BR) durante um con­gres­so, em 1985.

A coor­de­nado­ra da Rede BLH-BR, Danielle Apare­ci­da da Sil­va, tam­bém coor­de­nado­ra do Ban­co de Leite Humano (BLH) do IFF/Fiocruz, infor­mou que em out­ro con­gres­so, em 2010, essa rede se esten­deu como rede glob­al de ban­cos de leite humano. “Porque só de 2005 em diante, a gente con­ta com a par­tic­i­pação de out­ros país­es da Améri­ca Lati­na e, depois, da Penín­su­la Ibéri­ca, do Caribe, da Améri­ca e África.” Mais recen­te­mente, aderi­ram país­es do Brics (blo­co que reúne o Brasil, a Rús­sia, Índia, Chi­na e África do Sul). A rede brasileira serviu de inspi­ração para a Rede Glob­al de Ban­cos de Leite Humano (rBLH). “Ela se amplia para uma rede glob­al. Somos um úni­co mod­e­lo, uma úni­ca ação”.

Referência

A Rede BLH-BR se tornou refer­ên­cia mundi­al pelo modus operan­di (modo de oper­ação), disse Danielle. O mod­e­lo intro­duzi­do no Brasil na déca­da de 40 era anglo-saxão e enten­dia o uso do leite humano como um medica­men­to para as cri­anças que não respon­di­am bem ao trata­men­to quan­do inter­nadas. Mas, quan­do o tra­bal­ho dos ban­cos foi ini­ci­a­do em rede, o leite humano pas­sou a ser vis­to muito mais do que um medica­men­to, como um ali­men­to fun­cional, com car­ac­terís­ti­cas próprias, capazes de pro­mover o cresci­men­to e desen­volvi­men­to de recém-nasci­dos vul­neráveis inter­na­dos na UTI neona­tal. “E mais que isso: A gente traz para den­tro do ban­co de leite assistên­cia e atenção ao aleita­men­to mater­no. Ou seja, o ban­co de leite pas­sa a ser um cen­tro de apoio à ama­men­tação, um cen­tro de pro­teção, pro­moção e apoio ao aleita­men­to mater­no”, reforçou Danielle.

Qual­quer mul­her que ten­ha dúvi­das sobre algu­mas inter­cor­rên­cias durante o perío­do de ama­men­tação pode se diri­gir a um ban­co de leite humano, onde a equipe mul­ti­dis­ci­pli­nar irá apoiá-la nesse momen­to, indi­cou a coor­de­nado­ra. Por isso, o ban­co pas­sa a ser vis­to tam­bém pelo Min­istério da Saúde como fer­ra­men­ta de pro­moção do aleita­men­to mater­no e instru­men­to para diminuição da mor­tal­i­dade infan­til nesse que­si­to neona­tal. Aí, começa a ter a vis­i­bil­i­dade para out­ros país­es. “Assim, a gente começa a imple­men­tar uma coop­er­ação téc­ni­ca em ban­cos de leite humano”, desta­cou a coor­de­nado­ra.

O Brasil con­ta, atual­mente, com 228 ban­cos de leite humano e 240 pos­tos de cole­ta. São Paulo é o esta­do com maior número de ban­cos (58) e tem 49 pos­tos de cole­ta. Do total de mais de 234 mil litros de leite humano cole­ta­dos durante o ano pas­sa­do pela Rede BLH-BR, o Dis­tri­to Fed­er­al foi a unidade fed­er­a­ti­va que cole­tou a maior quan­ti­dade de leite humano: 15.162 litros. “É onde existe maior autossu­fi­ciên­cia de leite humano”. O esta­do do Rio de Janeiro tem 17 ban­cos de leite humano e 18 pos­tos de cole­ta.

Benefícios

A cam­pan­ha deste ano do Dia Mundi­al de Doação de Leite Humano tem o slo­gan “Um pequeno gesto pode ali­men­tar um grande son­ho”. Danielle aproveitou para diz­er às mul­heres que pro­duzem quan­ti­dade exce­dente de leite que podem entrar em con­ta­to com os ban­cos e faz­er sua doação. “Ao ama­men­tar, ela son­ha para o fil­ho um futuro mel­hor. E, quan­do ela doa, per­mite que out­ras mães son­hem tam­bém, porque está doan­do para um bebê pre­maturo, que está na UTI neona­tal, que nasceu antes da hora e ain­da pre­cisa muito dessa doação para o cresci­men­to e o desen­volvi­men­to saudáv­el. Porque o leite humano é o mel­hor ali­men­to, que tem todos os seus ingre­di­entes de for­ma apro­pri­a­da para o cresci­men­to dessa cri­ança”.

O leite humano tem ain­da car­ac­terís­ti­cas de pre­venção de diar­reia, de doenças car­dio­vas­cu­lares, de dia­betes; é um ali­men­to con­tra infecções. A mul­her que doa leite humano está aju­dan­do, apoian­do a vida saudáv­el de out­ro bebê. A média é de 40 recém-nasci­dos pre­matur­os inter­na­dos no IFF/Friocruz por mês.

Como doar

Para se tornar doado­ra, a mul­her deve lig­ar para o ban­co de leite do IFF/Fiocruz, no número gra­tu­ito 0800 026 8877, e se cadas­trar. São solic­i­ta­dos os últi­mos exam­es pré-natais. Ao faz­er o cadas­tro, a mãe recebe ori­en­tação sobre como extrair e col­her o leite, disse Danielle. Ime­di­ata­mente após a cole­ta, o leite deve ser con­ge­la­do em fras­cos de vidro ester­il­iza­dos que a mãe recebe do ban­co de leite humano e eti­que­ta­dos. O mate­r­i­al pode per­manecer con­ge­la­do por 15 dias. “A mãe colo­ca o nome dela e a hora da cole­ta na eti­que­ta”. Na sem­ana seguinte, rep­re­sen­tantes do IFF recol­hem o leite con­ge­la­do na casa da doado­ra e deix­am mais fras­cos e eti­que­tas.

As mães não devem fumar, nem faz­er uso de bebidas alcoóli­cas ou dro­gas ilíc­i­tas. Serão doado­ras durante o tem­po que quis­erem. Não há restrição quan­to ao vol­ume doa­do. O leite doa­do aos BLHs e Pos­tos de Cole­ta pas­sa por rig­oroso proces­so de seleção, clas­si­fi­cação e pas­teur­iza­ção até que este­ja pron­to para ser dis­tribuí­do com qual­i­dade cer­ti­fi­ca­da a bebês inter­na­dos em unidades de ter­apia inten­si­va neonatais.

As mul­heres em fase de ama­men­tação que se inter­essem em doar ou tirar dúvi­das podem entrar em con­ta­to com o Ban­co de Leite Humano (BLH) do IFF/Fiocruz pelos números 0800 026 8877, (21) 2554–1703 ou (21) 9 8508–6576 (what­sapp).

No próx­i­mo dia 23, o ban­co de leite humano do IFF/Fiocruz pro­moverá um even­to de cel­e­bração com as mães doado­ras e mães dos recém-nasci­dos pre­matur­os inter­na­dos na UTI Neona­tal da insti­tu­ição. Durante todo o mês de maio, a unidade está real­izan­do o Cur­so de Acon­sel­hamen­to em Aleita­men­to Mater­no para os seus profis­sion­ais de saúde.

Edição: Graça Adju­to

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