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Campeãs em desmatamento, terras privadas têm 62% do Cerrado nativo

Repro­dução: © Joéd­son Alves/Agência Brasil

Concentração do bioma nessas propriedades preocupa ambientalistas


Pub­li­ca­do em 15/09/2023 — 12:02 Por Lucas Pordeus León* — Envi­a­do Espe­cial — Cav­al­cante (GO)

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De todo o Cer­ra­do ain­da nati­vo exis­tente no Brasil, 62% estão em pro­priedades pri­vadas, segun­do lev­an­ta­men­to do Insti­tu­to de Pesquisa Ambi­en­tal da Amazô­nia (Ipam) que atua tam­bém no Cer­ra­do. Como o Códi­go Flo­re­stal per­mite ao dono da ter­ra des­matar até 80% do Cer­ra­do, essa con­cen­tração da veg­e­tação nati­va do bio­ma em ter­ras pri­vadas tem pre­ocu­pa­do ambi­en­tal­is­tas.  

Dados de satélite anal­isa­dos pelo Map­Bio­mas mostram que 85% do des­mata­men­to do Cer­ra­do de 1985 a 2022 ocor­reram em ter­ras pri­vadas. Atual­mente, esti­ma-se que o bio­ma ten­ha ape­nas 48% da sua veg­e­tação nati­va orig­i­nal.

Além dis­so, o avanço do agronegó­cio prin­ci­pal­mente nos esta­dos do Tocan­tins, da Bahia, do Maran­hão e do Piauí indicam que o des­mata­men­to deve seguir alto no Cer­ra­do. Ness­es esta­dos, as áreas de pecuária e agri­cul­tura cresce­r­am 252% e 2.199%, respec­ti­va­mente, entre 1985 e 2022, ain­da segun­do o Map­Bio­mas.

Como ape­nas 12% do Cer­ra­do nati­vo estão em unidades de con­ser­vação e ter­ras indí­ge­nas, teme-se que os pro­pri­etários pri­va­dos usem seu dire­ito de des­matar e acabem com a maior parte do bio­ma nati­vo que ain­da res­ta.

Out­ros 13% do Cer­ra­do nati­vo foram iden­ti­fi­ca­dos como “vazios fundiários”, que são áreas sem infor­mação disponív­el. Ess­es dados foram sis­tem­ati­za­dos pelo Ipam a par­tir do Sis­tema de Gestão Fundiária (Sigef) e do Cadas­tro Ambi­en­tal Rur­al (CAR).

A dire­to­ra de Ciên­cia do Ipam e coor­de­nado­ra do Map­Bio­mas Cer­ra­do, Ane Alen­car, desta­cou que é pre­ocu­pante que a veg­e­tação nati­va do bio­ma este­ja tão con­cen­tra­da em ter­ras pri­vadas dev­i­do ao baixo nív­el de pro­teção legal do Cer­ra­do.

“Entre­tan­to, o mer­ca­do tem sido cada vez mais cobra­do por uma pro­dução livre de des­mata­men­to e com menor impacto ambi­en­tal. Essa cobrança pode ser ali­a­da impor­tante para reduzir a pressão sobre os remanes­centes (de Cer­ra­do Nati­vo) den­tro de imóveis rurais”, pon­der­ou.

Para a espe­cial­ista, o papel do Poder Públi­co é o de fis­calizar o cumpri­men­to das regras, além de mel­ho­rar os pro­ced­i­men­tos para autor­iza­ção do des­mata­men­to, seja fed­er­al, estad­ual ou munic­i­pal, “aumen­tan­do a transparên­cia e gov­er­nança sobre essas autor­iza­ções e evi­tan­do que pes­soas acabem des­matan­do de qual­quer jeito”.

Vida e economia

O dire­tor exec­u­ti­vo do Insti­tu­to Cer­ra­dos, Yuri Salmona, aler­tou que a mudança na leg­is­lação para pro­te­ger mais o bio­ma é essen­cial não ape­nas para o meio ambi­ente, mas para a manutenção da vida humana e da ativi­dade econômi­ca do Brasil.

“Dev­e­ria ser uma agen­da encabeça­da por muitos min­istérios e não só o do Meio Ambi­ente. O Min­istério da Fazen­da e demais min­istérios que lidam com plane­ja­men­to dev­e­ri­am estar empen­hados em garan­tir que o prin­ci­pal insumo da econo­mia brasileira, que é a água, seja man­ti­do e, para isso, é pre­ciso man­ter o Cer­ra­do”, afir­mou.

O bio­ma é con­sid­er­a­do o berço das águas por ser a origem de oito das 12 prin­ci­pais bacias hidro­grá­fi­cas do Brasil.

Salmona lem­brou das crises hídri­c­as dos últi­mos anos que chegaram a prej­u­dicar a pro­dução energéti­ca e o abastec­i­men­to de cidades como São Paulo e Brasília.

“Pre­cisamos de muito mais de 20% de veg­e­tação nati­va pro­te­gi­da em cada pro­priedade rur­al. No entan­to, o ambi­ente políti­co não é tão favoráv­el assim para uma mudança. Mas esse enfre­ta­men­to políti­co tem cus­to muito menor do que o da fal­ta d’água, que já é sen­ti­da. Tive­mos redução média de 15,4% na vazão dos rios no Cer­ra­do entre 1985 e 2022”, disse.

Nes­sa quin­ta-feira (14), a min­is­tra do Meio Ambi­ente, Mari­na Sil­va, defend­eu o des­mata­men­to zero no Cer­ra­do. Um estu­do da Uni­ver­si­dade de Brasília (UnB) mostra que o bio­ma perde veg­e­tação nati­va cin­co vezes mais rápi­do que a Amazô­nia.

 

*O repórter via­jou a con­vite do Insti­tu­to de Pesquisa Ambi­en­tal da Amazô­nia (Ipam)

Edição: Graça Adju­to

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