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Campina Grande sedia evolução do maior São João do mundo

Festa reúne milhares de pessoas e movimenta R$ 740 milhões

Cibele Tenório — repórter da Rádio Nacional de Brasília
Pub­li­ca­do em 24/06/2025 — 11:40
Camp­ina Grande
Campina Grande (PB), 14/06/2025 – Apresentação de quadrilha no São João de Campina Grande (PB), na Praça do Povo, centro da cidade. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

O Par­que do Povo, pal­co de uma das maiores fes­tas jun­i­nas do Nordeste, em Camp­ina Grande, na Paraí­ba, espera rece­ber mil­hares de pes­soas neste dia de São João (24) — o ápice da fes­ta — para shows com grandes nomes do for­ró como Wal­donys, Ton Oliveira e Ger­al­do Azeve­do.

O espaço tem capaci­dade diária para 76 mil pes­soas e é fecha­do quan­do atinge a lotação máx­i­ma, o que deve ocor­rer nes­ta terça-feira, feri­ado na cidade. No entan­to, nem sem­pre o autoin­ti­t­u­la­do maior São João do Mun­do foi uma fes­ta pop­u­lar tão gigan­tesca quan­to nos dias de hoje.

Assim como era comum em várias cidades do Nordeste, Camp­ina Grande, situ­a­da no Planal­to da Bor­bore­ma, a uma alti­tude de 580 met­ros aci­ma do nív­el do mar e dis­tante 126 quilômet­ros da cap­i­tal João Pes­soa, man­tinha até mea­d­os dos anos 80 uma fes­ta jun­i­na de caráter comu­nitário, real­iza­da de maneira orgâni­ca pelos moradores, que se reu­ni­am em frente às suas casas com fogueiras ace­sas, ruas dec­o­radas e a apre­sen­tação impro­visa­da de gru­pos de for­ró em pal­hoções.

Em 1983, a prefeitu­ra de Camp­ina Grande assum­iu a fes­ta, mas a cel­e­bração ain­da era mod­es­ta, impro­visa­da em uma pal­hoça na região con­heci­da como Coqueiros de Zé Rodrigues.

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Campina Grande (PB), 15/06/2025 – A banda Cavalo de Pau durante apresentação no palco principal da festa de São João, no Parque do Povo, em Campina Grande. Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução:  Ban­da Cav­a­lo de Pau deu show em Camp­ina Grande — foto — Tomaz Silva/Agência Brasil

Três anos depois, em 1986, o então prefeito Ronal­do Cun­ha Lima decid­iu profis­sion­alizar os fes­te­jos, trans­for­man­do Camp­ina Grande na sede do maior São João do Mun­do. Foi em sua gestão que o Par­que do Povo foi con­struí­do, uma área que à época pos­suía 27 mil met­ros quadra­dos.

Naque­le tem­po, a fes­ta tin­ha um cal­endário esten­di­do, indo além dos dias em que eram comem­o­ra­dos San­to Antônio, São João e São Pedro. “Não existe nada igual no Brasil, porque são 30 dias de fes­ta inin­ter­rup­ta, com a par­tic­i­pação dos campinens­es de todas as camadas soci­ais”, disse um ex-prefeito em entre­vista em 1986.

Hoje, o even­to se estende por 38 dias (de 30 de maio a 6 de jul­ho), atrain­do mais de 3,5 mil­hões de pes­soas e movi­men­tan­do cer­ca de R$ 740 mil­hões. O Par­que do Povo con­tin­ua sendo a are­na prin­ci­pal. Em 2024, o espaço pas­sou por uma expan­são, incor­po­ran­do o viz­in­ho Par­que Eval­do Cruz. Com isso, a área da fes­ta cresceu 7.500 m² e atingiu quase 40 mil m².

Difer­ente do que acon­tece em out­ras fes­tas jun­i­nas pelo país, o espaço do Par­que do Povo é cer­ca­do, emb­o­ra com entra­da gra­tui­ta. A estru­tu­ra lem­bra um grande fes­ti­val de músi­ca, com pal­co prin­ci­pal, pal­cos para­le­los, áreas para apre­sen­tações de quadrilhas jun­i­nas e uma dec­o­ração que encan­ta. O par­que tam­bém con­ta com uma ampla praça de ali­men­tação, com restau­rantes reno­ma­dos na cidade e bar­ra­cas de ambu­lantes cadastra­dos, total­izan­do mais de 400 pon­tos com­er­ci­ais. Há, como é comum em fes­ti­vais hoje, a pre­sença de estandes de mar­cas dos mais diver­sos pro­du­tos.

Os patroci­nadores da fes­ta bus­cam chamar a atenção do públi­co com jogos e dis­tribuição de brindes entre um for­ró e out­ro.

Quem já se diver­tiu no Par­que do Povo no pas­sa­do estran­ha a pro­porção que a fes­ta tomou. É o caso do casal de aposen­ta­dos Valmir França e Carmem França, moradores de Recife, que decidi­ram retornar a Camp­ina Grande 30 anos depois do últi­mo São João pas­sa­do na cidade. “Eu acho que está tudo bem orga­ni­za­do, é uma estru­tu­ra muito bem mon­ta­da, mas 30 anos atrás, quan­do a gente veio, não tin­ha nada. É uma difer­ença enorme”, afir­mou Valmir.

Out­ro per­son­agem que pres­en­ciou as trans­for­mações do São João de Camp­ina Grande ao lon­go dos anos é o empresário José Ven­tu­ra Bar­bosa, dono da Bode­ga do Ven­tu­ra, restau­rante que, des­de 1994, tem pre­sença garan­ti­da no Par­que do Povo.

“Quan­do eu come­cei aqui, a gente ven­dia em bar­ra­cas de lona de 5x5 met­ros, depois de 10x10. A fes­ta cresceu e cresce­mos com ela. Hoje, para ter essa estru­tu­ra aqui com dec­o­ração e móveis, para erguer isso aqui o inves­ti­men­to bási­co é de R$ 50 mil”, pon­dera.

Vendas em alta

O inves­ti­men­to, segun­do ele, vale a pena. O restau­rante, que serve comi­das típi­cas e tem o bode como car­ro-chefe no cardá­pio, tem capaci­dade para rece­ber 160 clientes. A fes­ta segue até o fim de jun­ho, mas Ven­tu­ra diz que as ven­das estão mel­hores do que no ano pas­sa­do. Pro­va dis­so é que sua equipe pre­cisou de reforço, com 15 con­tratações para o perío­do da fes­ta jun­i­na.

Entre os fun­cionários que inte­gram a equipe está Kainã Gar­cia, autônomo que tem tra­bal­ho garan­ti­do até 6 de jul­ho como garçom na Bode­ga do Ven­tu­ra. Seu últi­mo tra­bal­ho havia sido no mes­mo local, no São João de 2024.

Com a escassez de tra­bal­ho tem­porário e sem per­spec­ti­va de algo fixo, ele garante que con­ta com o din­heiro do São João como cer­to. “A gente brin­ca aqui que, em janeiro e fevereiro, a gente já pode pedir din­heiro empresta­do porque sabe que vai poder pagar em jun­ho.” E não poder cur­tir a fes­ta, para ele, não é prob­le­ma: “Entre gan­har din­heiro e gas­tar, a gente pref­ere gan­har!”

Out­ra mudança sig­ni­fica­ti­va ao lon­go dos últi­mos anos foi a musi­cal. O for­ró, emb­o­ra ain­da seja o gênero pre­dom­i­nante em Camp­ina Grande, ago­ra divide seu reina­do com out­ros rit­mos. A pro­gra­mação deste ano na cidade incluiu des­de a músi­ca eletrôni­ca do DJ Alok, o bre­ga de Priscila Sen­na e Raphaela San­tos, o calyp­so de Joel­ma, o trap de Matuê e o rap de Hun­gria, que se apre­sen­tarão até o fim da pro­gra­mação. Há quem reclame da per­da de hege­mo­nia do for­ró e tam­bém dos cachês mil­ionários pagos a artis­tas com renome nacional, mas há out­ros, prin­ci­pal­mente os mais jovens, que aprovam a incor­po­ração de novos rit­mos.

“Eu acho que o São João é uma fes­ta pop­u­lar, tem espaço para o que é músi­ca pop­u­lar no ger­al, não impor­ta o gênero. Seja rockpopreg­gae, não impor­ta”, argu­men­ta o admin­istrador Mateus Ernesto.

Nos pal­cos menores da fes­ta, espal­ha­dos pelo Par­que do Povo, artis­tas e músi­cos locais com cachês bem infe­ri­ores aos das grandes estre­las dis­putam a atenção do públi­co.

Campina Grande (PB), 15/06/2025 – Quadrilha infantil se apresenta na festa de São João, no Parque do Povo, em Campina Grande. Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução; Cri­anças par­tic­i­pam de quadrilha na Paraí­ba  — Foto — Tomaz Silva/Agência Brasil

Música

Jun­to com os cole­gas do Trio For­rozão Sem Fres­cu­ra, a can­to­ra Jus­sara Damião, morado­ra de Queimadas, municí­pio da região met­ro­pol­i­tana de Camp­ina Grande, começou seu show chaman­do os pre­sentes para dançar, sem esque­cer de agrade­cer à prefeitu­ra de Camp­ina Grande.

Segun­do ela, os cachês pode­ri­am ser mel­hor divi­di­dos, mas mes­mo assim esta­va feliz pela agen­da cheia. No total, o trio fará oito apre­sen­tações no Par­que do Povo até o fim da fes­ta no começo de jul­ho.

“As coisas podi­am mel­ho­rar um pouco, mas todo ano pelo menos dão opor­tu­nidade pra gente. Aqui em Camp­ina Grande somos mais val­oriza­dos do que na nos­sa cidade”, expli­cou.

Entre moradores de Camp­ina Grande e tur­is­tas de todo o Brasil que vier­am à cidade para cur­tir a fes­ta, há aque­les que veem o even­to para além da diver­são e de seu taman­ho gigan­tesco. São avós e pais que ten­tam pas­sar para netos e fil­hos o val­or da tradição e da reafir­mação da iden­ti­dade nordes­ti­na que pul­sa mais forte nes­ta época do que em qual­quer out­ra ao lon­go do ano.

Quem cir­cu­la pelo Par­que do Povo encon­tra casais, gru­pos de ami­gos e muitas famílias. Elas estão pre­sentes nos shows e nas arquiban­cadas durante as apre­sen­tações das quadrilhas jun­i­nas mul­ti­col­ori­das que deix­am o públi­co de olhos vidra­dos. A biólo­ga Juliana Soares, que cresceu em uma casa onde o São João sem­pre foi lev­a­do a sério, fez questão que a fil­ha Maria Lau­ra, de cin­co anos, par­tic­i­passe da quadrilha jun­i­na infan­til que se apre­sen­tou no Quadrilhó­dro­mo, local para as apre­sen­tações das quadrilhas den­tro do Par­que do Povo.

“Quan­do a gente vem com cri­ança, a gente quer pas­sar isso tam­bém, pas­sar essa tradição pra frente, para que ela [a cri­ança] ten­ha orgul­ho de ser nordes­ti­na. Que pos­sa sem­pre diz­er: ‘Eu vim do Nordeste, eu amo min­ha cul­tura, eu amo a min­ha raiz”.

*A equipe via­jou a Camp­ina Grande a con­vite da Petro­bras

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