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Canabidiol: em favelas do RJ, maioria depende de ajuda para tratamento

Repro­dução: © CBD-Infos-com/ Pix­abay

Doações de ONGs são principal fonte do insumo terapêutico


Pub­li­ca­do em 26/06/2023 — 10:04 Por Viní­cius Lis­boa – Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Seis em cada dez moradores de fave­las do Rio de Janeiro que fazem ter­apia com óleo de macon­ha depen­dem. Uma pesquisa fei­ta com 105 moradores de fave­las car­i­o­cas mostrou que a maio­r­ia dos entre­vis­ta­dos depende de doações de orga­ni­za­ções não gov­er­na­men­tais para faz­er ter­apia com óleo deriva­do da macon­ha.

Segun­do o lev­an­ta­men­to real­iza­do pela ONG Movi­men­tos, das 63 pes­soas que usam o óleo, 66,67% recebem o insumo med­i­c­i­nal de ONGs ou insti­tu­ições.

Out­ra for­ma de obter a sub­stân­cia é por asso­ci­ações de pacientes (20,63%), de ami­gos ou par­entes (6,35%), de lim­i­nar (3,17%) ou impor­tação dire­ta pelo paciente (3,17%).

De acor­do com Ricar­do Fer­nan­des, da ONG Movi­men­tos, a pesquisa mostra que nas fave­las tam­bém há pacientes que usam deriva­dos de macon­ha.

“Nos­sa pesquisa mostra que tem um número sig­ni­fica­ti­vo de pes­soas que faz uso do óleo de can­abid­i­ol. Pes­soas de fora da favela vão ficar muito sur­pre­sas com as infor­mações que a pesquisa traz. O uso do can­abid­i­ol ain­da tem um recorte muito elit­ista, por isso o preço é tão ele­va­do”.

Acesso

Mas, muitos não têm condições de pagar pelo remé­dio e pre­cisam ter aces­so de for­ma gra­tui­ta ou sub­sidi­a­da. Fer­nan­des diz que o proces­so para obtenção do remé­dio através do Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS) é buro­cráti­co, o que faz com que muitos ten­ham que recor­rer à aju­da de ONGs e out­ras insti­tu­ições.

Segun­do o estu­do, ape­sar de 60 das 63 pes­soas que usam óleo terem pre­scrição médi­ca, ape­nas seis con­seguiram autor­iza­ção judi­cial para o pro­du­to. Algu­mas unidades da fed­er­ação reg­u­la­men­taram a dis­tribuição gra­tui­ta desse tipo de medica­men­to, facil­i­tan­do o aces­so dos pacientes, como São Paulo, Paraná, Alagoas, Rio Grande do Norte e Dis­tri­to Fed­er­al.

“Isso evi­den­cia as buro­c­ra­cias que exis­tem para que a pes­soa con­si­ga todo esse proces­so através do SUS gra­tuita­mente. Hoje o SUS tem algu­mas for­mas de disponi­bi­lizar o óleo, só que é um proces­so extrema­mente buro­cráti­co, difí­cil e não pos­sív­el para muitas pes­soas das fave­las, diante de suas neces­si­dades físi­cas e das neces­si­dades de doc­u­men­tação para se apre­sen­tar”.

Mes­mo os medica­men­tos obti­dos através das ONGs nem sem­pre são gra­tu­itos. Algu­mas pes­soas têm que arcar com parte do cus­to, como o frete.

“Algu­mas ONGs con­seguem faz­er com que os óleos cheguem às pes­soas de for­ma 100% gra­tui­ta, mas tem ONGs que pre­cisam que as pes­soas se respon­s­abi­lizem pelo menos pela taxa de frete, porque o óleo vem de out­ro pís”.

O óleo de can­abid­i­ol ou de THC é usa­do por 60% dos entre­vis­ta­dos, mas não é a úni­ca for­ma de uso med­i­c­i­nal da macon­ha. Out­ros usos reg­istra­dos são o cig­a­r­ro de macon­ha (18,1%), chás (0,95%) e ali­men­tos (0,95%).

Perfil

O trata­men­to do transtorno do espec­tro autista é o prin­ci­pal moti­vo (52,2%) para o uso dos deriva­dos de macon­ha, segui­do por epilep­sia (12,39%), sin­tomas de ansiedade (12,39%), sin­tomas de depressão (7%) e dores (5%).

Em relação à religião daque­les que usam ess­es medica­men­tos, chama atenção o fato de que 28% são evangéli­cos. “Min­ha mãe é evangéli­ca, da Igre­ja Uni­ver­sal, e hoje recebe o óleo de um pro­je­to do Com­plexo do Alemão. Ela sofria de dores por causa da Chikun­gun­ya que lhe davam deses­pero. Hoje tem uma out­ra qual­i­dade de vida. Ela fala den­tro da igre­ja, que faz uso do can­abid­i­ol, um óleo que vem da macon­ha”, con­ta Ricar­do Fer­nan­des.

Entre as out­ras religiões: 24% são católi­cos, 10% pro­fes­sam religiões de matriz afro-brasileiras e 3% declararam ter out­ra fé. Há ain­da 35% que declararam não ter religião.

A pesquisa ter­mi­na com recomen­dações às autori­dades públi­cas: a reg­u­la­men­tação e for­t­alec­i­men­to das asso­ci­ações que pro­duzem sub­stân­cias derivadas da macon­ha, a aprovação de leg­is­lação fed­er­al que garan­ta a dis­tribuição de sub­stân­cias derivadas da macon­ha pelo SUS, o fomen­to a ini­cia­ti­vas canábi­cas em fave­las e per­ife­rias e a revisão da Res­olução 327/2019 da Agên­cia Nacional de Vig­ilân­cia San­itária (Anvisa), que esta­b­elece os critérios para a con­cessão de autor­iza­ção san­itária para impor­tação, fab­ri­cação e com­er­cial­iza­ção de pro­du­tos deriva­dos de macon­ha para fins ter­apêu­ti­cos.

“O SUS pre­cisa enten­der o quan­to é vital a pro­dução de óleos em grande escala para que as pes­soas pos­sam ter mais aces­so. E tam­bém o for­t­alec­i­men­to das asso­ci­ações que já fazem ess­es óleos, que já têm a lib­er­ação de seus esta­dos e municí­pios para faz­er o óleo, porém não têm incen­tivos e não con­seguem faz­er numa escala que aten­da a toda a pop­u­lação”, afir­ma Fer­nan­des.

Edição: Denise Griesinger

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