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Canadense e antropóloga denunciam agressão em área de conflito em MS

Repro­dução: © Ruy Sposati/Cimi

Jornalista e a esposa estão na região para produção de documentário


Pub­li­ca­do em 24/11/2023 — 19:49 Por Alex Rodrigues — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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O jor­nal­ista canadense Renaud Philippe, 39 anos, e sua esposa, a antropólo­ga brasileira Ana Car­oli­na Mira Por­to, 38, afir­mam ter sido agre­di­dos por um grupo de home­ns enca­puza­dos e arma­dos enquan­to tra­bal­havam no sudoeste do Mato Grosso do Sul, doc­u­men­tan­do o con­fli­to fundiário que envolve comu­nidades indí­ge­nas e pro­du­tores rurais.

Segun­do o casal, a agressão ocor­reu em Iguate­mi (MS), na tarde da últi­ma quar­ta-feira (22). Philippe e Ana par­tic­i­pavam de uma assem­bleia do povo guarani kaiowá, a Aty Gua­su, em uma área reivin­di­ca­da como ter­ritório tradi­cional indí­ge­na na cidade de Caara­pó, municí­pio a cer­ca de 140 quilômet­ros de Iguate­mi.

Agên­cia Brasil teve aces­so ao bole­tim de ocor­rên­cia reg­istra­do na Del­e­ga­cia de Amam­bai. De acor­do com a antropólo­ga, ela e o mari­do decidi­ram deixar o even­to indí­ge­na e ir até uma aldeia de Iguate­mi onde pre­tendi­am fil­mar. O casal esta­va acom­pan­hado por um morador da comu­nidade, iden­ti­fi­ca­do como Joel, e pelo engen­heiro flo­re­stal Rena­to Farac Gala­ta, 41 anos, que Ana e Philippe con­hece­r­am na assem­bleia indí­ge­na.

Após deixar Joel na aldeia, Ana, Philippe e Gala­ta decidi­ram ir até a área urbana de Iguate­mi para com­er algo antes de começarem as fil­ma­gens. No cam­in­ho, encon­traram uma equipe do Depar­ta­men­to de Oper­ações de Fron­teira, da Polí­cia Mil­i­tar (PM), que os abor­dou. Em depoi­men­to, Gala­ta men­cio­nou que os poli­ci­ais dis­ser­am que estavam ape­nas patrul­han­do a região, sem men­cionar nada que pre­ocu­passe o trio.

Ain­da em seus depoi­men­tos, Ana Car­oli­na, Philippe e Gala­ta con­taram que, quan­do retor­navam à aldeia, se depararam com uma bar­reira de car­ros blo­que­an­do a estra­da. Segun­do Ana, havia dezenas de home­ns jun­to aos veícu­los, muitos deles enca­puza­dos e exibindo armas. A antropólo­ga lem­brou que um dos home­ns se aprox­i­mou do car­ro do trio e os aler­tou para que deix­as­sem o local, pois ali “ficaria perigoso”.

Impe­di­dos de prosseguir, Ana, Philippe e Gala­ta der­am meia-vol­ta. Segun­do a ver­são do jor­nal­ista canadense, parte dos descon­heci­dos os seguiram e, ao alcançá-los, os fiz­er­am descer do car­ro e se deitar no chão. Philippe con­tou que aler­tou os home­ns mas­cara­dos que era jor­nal­ista e que esta­va na região a tra­bal­ho, o que não evi­tou que ele e os demais pas­sas­sem a ser agre­di­dos.

Philippe diz ter rece­bido vários chutes nas costas e coste­las. Ele tam­bém afir­ma que um dos agres­sores cor­tou um pedaço de seu cabe­lo com uma faca, ameaçan­do faz­er o mes­mo com Ana. De acor­do com o trio, enquan­to parte dos home­ns mas­cara­dos os agre­di­am, out­ros vas­cul­havam seus per­tences pes­soais.

No bole­tim de ocor­rên­cia, por roubo, con­s­ta que foram lev­a­dos os pas­s­aportes de Ana e Philippe, além de cartões bancários, um crachá de iden­ti­fi­cação de jor­nal­ista inter­na­cional, duas câmeras e lentes fotográ­fi­cas, bate­rias, dois celu­lares, uma bol­sa e out­ros obje­tos.

Ana, Philippe e Gala­ta afir­mam ter sido ameaça­dos de morte caso não deix­as­sem a região no mes­mo dia. Lib­er­ta­dos, os três encon­traram uma equipe do Núcleo de Defe­sa dos Dire­itos dos Povos Indí­ge­nas, da Defen­so­ria Públi­ca estad­ual, que real­iza­va uma inspeção próx­i­ma ao local onde o trio afir­ma ter sido agre­di­do.

Conflitos

Para enti­dades indí­ge­nas, a agressão se insere no con­tex­to de vio­lên­cia con­tra as comu­nidades indí­ge­nas de Mato Grosso do Sul, esta­do mar­ca­do pela dis­pu­ta por ter­ras entre indí­ge­nas e pro­du­tores rurais.

Segun­do a Artic­u­lação dos Povos Indí­ge­nas do Brasil (Apib) e lid­er­anças reunidas na Aty Gua­su, no mes­mo dia (22), dois indí­ge­nas foram sequestra­dos por descon­heci­dos, tam­bém na cidade de Iguate­mi.

Moradores da Ter­ra Indí­ge­na Pyeli­to Kue, local­iza­da em uma área já iden­ti­fi­ca­da como ter­ritório tradi­cional indí­ge­na e que os guarani kaiowá ten­tam ampli­ar, os dois indí­ge­nas foram encon­tra­dos horas depois, feri­dos. A Apib afir­mou que, por segu­rança, não divul­gará os nomes e out­ros detal­h­es que per­mi­tam a iden­ti­fi­cação deles.

Em um vídeo divul­ga­do nas redes soci­ais, Phillipe con­ta que, ao deixar a Aty Gua­su para ir à aldeia em Iguate­mi, o trio tin­ha ouvi­do que dois guarani kaiowá havi­am sido sequestra­dos naque­le mes­mo dia. “Está­va­mos indo para uma nova retoma­da depois de ouvir que algu­mas pes­soas foram sequestradas […] O que acon­te­ceu foi que umas 30 pes­soas, a maio­r­ia [usan­do] algo na cabeça, vier­am até nós, com cam­in­honetes e armas e sim­ples­mente bat­er­am em nós. E levaram tudo. Min­ha câmara, pas­s­aportes, celu­lares, tudo”, disse o jor­nal­ista canadense.

“Vimos a rai­va de uma maneira que nun­ca tín­hamos vis­to antes”, acres­cen­tou a antropólo­ga, asse­gu­ran­do que um homem, “tremen­do de rai­va”, colo­cou uma faca jun­to a seu ros­to. “E enquan­to está­va­mos apan­han­do, a Polí­cia Mil­i­tar pas­sou e eu fiz assim [um gesto com as mãos jun­tas] para eles, [como que pedin­do] “por favor, façam algu­ma coisa, mas não fiz­er­am nada”.

Em nota, a Defen­so­ria Públi­ca do Mato Grosso do Sul con­fir­mou que está acom­pan­han­do o caso dos profis­sion­ais “agre­di­dos em uma área de retoma­da” de ter­ras. Já a Defen­so­ria Públi­ca da União (DPU) infor­mou que uma defen­so­ra fed­er­al tam­bém esteve com as víti­mas e rela­tou que Ana, Philippe e Gala­ta sofr­eram várias lesões e estavam bas­tante assus­ta­dos.

Pou­cas horas antes, a DPU tin­ha encam­in­hado um ofí­cio para a Del­e­ga­cia de Amam­bai, pedin­do que fos­sem inves­ti­gadas as denún­cias de que “segu­ranças pri­va­dos estari­am efe­t­uan­do dis­paros com armas de fogo” próx­i­mo à ocu­pação indí­ge­na.

Ain­da segun­do a DPU, emb­o­ra Ana, Philippe e Gala­ta ten­ham reg­istra­do o bole­tim na del­e­ga­cia, a Polí­cia Civ­il deixou a inves­ti­gação a car­go da Polí­cia Fed­er­al (PF), já que “o fato ocor­reu em um con­tex­to de dis­pu­ta de ter­ras envol­ven­do comu­nidades indí­ge­nas da região de Iguate­mi e em razão deste con­fli­to”.

A PF con­fir­mou que está inves­ti­gan­do as denún­cias e afir­mou que já real­i­zou “diligên­cias nas local­i­dades próx­i­mas à aldeia” para onde as víti­mas se diri­giam quan­do foram ata­cadas.

Já a Polí­cia Mil­i­tar con­fir­mou que uma equipe chegou a abor­dar Ana, Philippe e Gala­ta antes destes serem agre­di­dos, mas não rece­beu nen­hum pedi­do de apoio na região de Iguate­mi. Quan­to à acusação de que mil­itares teri­am pres­en­ci­a­do o trio ser agre­di­do sem nada faz­er, a cor­po­ração desta­cou que, no bole­tim de ocor­rên­cia, nen­hu­ma das víti­mas men­cio­nou este fato.

Con­sul­ta­da pela reportagem, a embaix­a­da do Canadá disse que foi infor­ma­da de que um cidadão canadense foi agre­di­do no Mato Grosso do Sul. “Fun­cionários con­sulares no Brasil estão em con­ta­to com os indi­ví­du­os e prestam assistên­cia con­sular. Dev­i­do a con­sid­er­ações de pri­vaci­dade, nen­hu­ma infor­mação adi­cional pode ser forneci­da.”

Edição: Car­oli­na Pimentel

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