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Candidaturas com identidade religiosa crescem 225% em 24 anos

Repro­dução: © Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Nomes evangélicos são os mais recorrentes nas urnas, mostra pesquisa


Publicado em 21/08/2024 — 07:40 Por Pedro Rafael Vilela — Repórter da Agência Brasil — Brasília

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O número de can­didatos a vereador e prefeito que usam de for­ma explíci­ta uma iden­ti­dade reli­giosa em seus nomes de cam­pan­ha cresceu cer­ca de 225% ao lon­go de 24 anos. Em um lev­an­ta­men­to inédi­to, o Insti­tu­to de Pesquisa e Rep­utação de Imagem (IPRI), da FSB Hold­ing, cole­tou dados do por­tal de estatís­ti­cas do Tri­bunal Supe­ri­or Eleitoral (TSE) das últi­mas sete eleições munic­i­pais, entre 2000 e 2024. A pesquisa, com dados exclu­sivos obti­dos pela Agên­cia Brasil, mostra que o rit­mo de cresci­men­to de can­di­dat­uras com viés reli­gioso é 16 vezes maior que o de aumen­to do total de can­di­dat­uras nos pleitos locais.

Em 2000, o número de can­di­dat­uras com iden­ti­dade reli­giosa foi de 2.215, em ter­mos abso­lu­tos. Já em 2024, chegou a 7.206 (+225%). Nesse mes­mo inter­va­lo de 24 anos, o número total de can­di­dat­uras subiu 14%, pas­san­do de 399.330, em 2000, para 454.689 nas eleições munic­i­pais deste ano. Em 2000, o número de can­di­dat­uras com iden­ti­dade reli­giosa rep­re­sen­ta­va 0,55% do total, enquan­to nas eleições deste ano elas rep­re­sen­tam 1,6% do número total de can­didatos inscritos.

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Para chegar a ess­es números, o IPRI anal­isou os nomes de todos os can­didatos e can­di­datas ao lon­go dos pleitos, apli­can­do fil­tros de religiões evangéli­cas, católi­cas e de matriz africana para iden­ti­ficar os vín­cu­los dire­tos com as can­di­dat­uras. Entre as palavras usadas, estão: pai, mãe, pas­tor, pas­to­ra, mis­sionário, mis­sionária, bis­po, bis­pa, após­to­lo, após­to­la, rev­eren­do, irmão, irmã, padre, babalorixá, ialorixá, min­istro, min­is­tra, ogum, exú, ian­sã, ieman­já, obalu­aê, oxalá, omu­lu, oxós­si, oxum, oxu­maré e xangô.

O recorde de can­di­dat­uras reli­giosas, no entan­to, foi reg­istra­do há qua­tro anos, nas eleições munic­i­pais de 2020, quan­do hou­ve 9.196 con­cor­rentes, entre can­didatos a prefeitos e vereadores. No entan­to, nesse mes­mo pleito, havia cer­ca de 100 mil can­didatos a mais, em números abso­lu­tos totais, chegan­do a 557.678 nomes inscritos. A que­da no número total de can­di­dat­uras reflete os efeitos do fim das col­i­gações pro­por­cionais, dis­tribuição de recur­sos do fun­do eleitoral, orga­ni­za­ção dos par­tidos em fed­er­ações e aumen­to de cus­tos de cam­pan­has.

“Os dados deste lev­an­ta­men­to demon­stram um forte aumen­to do ape­lo da religião na políti­ca. Ao lon­go do tem­po, o número de can­didatos que ado­tam denom­i­nações reli­giosas no nome que vai na urna cresceu muito mais do que o vol­ume total de can­didatos nas eleições munic­i­pais”, afir­ma Marce­lo Tokars­ki, sócio-dire­tor do Insti­tu­to de Pesquisa e Rep­utação de Imagem (IPRI).

“Mas é impor­tante ressaltar que isso não sig­nifi­ca nec­es­sari­a­mente um aumen­to dos can­didatos reli­giosos que serão eleitos, porque isso depende, entre out­ras coisas, da atu­ação dos par­tidos e da dis­tribuição de recur­sos de cam­pan­ha”, pon­dera.

Evangélicos à frente

Os nomes de can­didatos com títu­los rela­ciona­dos à religião evangéli­ca são a maio­r­ia esma­gado­ra das can­di­dat­uras com iden­ti­dade reli­giosa apu­radas no lev­an­ta­men­to do IPRI/FSB. Nas eleições deste ano, os ter­mos mais recor­rentes são: pas­tor (2.856), irmão (1.777), pas­to­ra (862), irmã (835) e mis­sionária (247). Jun­tos, eles somam 6.557 can­di­dat­uras, o que dá mais de 91% do total de can­di­dat­uras iden­ti­fi­cadas com algu­ma religião.

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Essa rep­re­sen­ta­tivi­dade é ain­da maior con­sideran­do out­ros ter­mos asso­ci­a­dos aos evangéli­cos que apare­cem em nomes can­di­dat­uras nas urnas, como mis­sionário (48), após­to­lo (23) e min­istro (três).

Ter­mos como pai (106) e mãe (81), nor­mal­mente vin­cu­la­dos a nomes de religiões de matriz africana, apare­ce­r­am nos resul­ta­dos das can­di­dat­uras deste ano, mas em quan­ti­dade mais resid­ual. Nomes católi­cos de can­di­dat­uras, como padre (68), tam­bém apare­ce­r­am na pesquisa ao lon­go dos anos, e no pleito deste ano, de for­ma recor­rente.

Mobilização religiosa

A mobi­liza­ção reli­giosa em cam­pan­ha eleitoral é uma real­i­dade históri­ca no Brasil, que cresceu ao lon­go das últi­mas décadas impul­sion­a­da por novos movi­men­tos reli­giosos que bus­caram ocu­par um espaço de rep­re­sen­tação insti­tu­cional e de poder.

“Des­de a rede­moc­ra­ti­za­ção e a Con­sti­tu­ição Fed­er­al de 1988, com um país que garan­tia maior liber­dade reli­giosa e o plu­ral­is­mo reli­gioso, novos movi­men­tos reli­giosos pas­sam a reivin­dicar mais espaço na relação com o Esta­do e com a políti­ca insti­tu­cional que até então era monop­o­liza­do pela Igre­ja Católi­ca. Era algo que era perce­bido com nat­u­ral­i­dade, ninguém estran­ha­va. A Igre­ja Uni­ver­sal do Reino de Deus (IURD) inau­gu­ra ali, no iní­cio dos anos 1990, um novo modo de faz­er políti­ca, con­vo­can­do evangéli­cos não ape­nas a votar e a dis­cu­tir políti­ca como tam­bém esta­b­ele­cen­do can­di­dat­uras ofi­ci­ais apoiadas pela Igre­ja”, expli­ca a antropólo­ga Lívia Reis, pesquisado­ra de pós-doutora­do no Pro­gra­ma de Pós-Grad­u­ação em Antropolo­gia Social do Museu Nacional da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio de Janeiro (UFRJ) e coor­de­nado­ra da Platafor­ma Religião e Políti­ca, do Insti­tu­to de Estu­dos da Religião (ISER).

Aos poucos, segun­do a pesquisado­ra, esse mod­e­lo pas­sa a ser segui­do tam­bém por out­ras denom­i­nações reli­giosas evangéli­cas, acom­pan­han­do tam­bém um proces­so de par­tic­i­pação políti­ca mais fisi­ológi­co, para garan­tir rep­re­sen­tação insti­tu­cional em par­la­men­tos, aces­so a con­cessões públi­cas de canais de rádio e tele­visão, por exem­p­lo, e espaço de expressão e defe­sa das chamadas “pau­tas morais”, que começam a gan­har mais cen­tral­i­dade a par­tir das eleições de 2010, quan­do o abor­to entra no cen­tro do debate.

“Se, por um lado, as can­di­dat­uras ofi­ci­ais apoiadas por igre­jas evangéli­cas con­tin­u­am ten­do bons resul­ta­dos nas urnas, nem sem­pre elas mobi­lizam nome reli­gioso nas urnas. Por out­ro lado, can­didatos que não são reli­giosos pas­saram a se iden­ti­ficar como cristãos – assim, de modo genéri­co –, para comu­nicar ao eleitora­do o con­jun­to de val­ores com os quais ele se iden­ti­fi­ca ou então para pedir voto em igre­jas de pequeno e médio portes, que não têm suas can­di­dat­uras ofi­ci­ais. Tam­bém é impor­tante lem­brar que, nas eleições munic­i­pais, as dinâmi­cas locais nos ter­ritórios são muito val­orizadas e, muitas vezes, pre­cisam ser com­bi­nadas com uma iden­ti­dade reli­giosa para que aque­la can­di­datu­ra seja vence­do­ra no pleito”, anal­isa Lívia Reis.

Eficiência eleitoral

Em uma ampla pesquisa sobre as can­di­dat­uras reli­giosas nas eleições munic­i­pais de 2020, o ISER anal­isou a dis­pu­ta por vagas em câmaras munic­i­pais de oito cap­i­tais brasileiras: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Hor­i­zonte, Por­to Ale­gre, Sal­vador, Recife, Belém e Goiâ­nia. Os dados pro­duzi­dos foram obti­dos por meio do mon­i­tora­men­to e da análise das mídias soci­ais de can­didatos ao Leg­isla­ti­vo dessas cidades e bus­cou iden­ti­ficar, entre mais de 10 mil can­di­dat­uras a vereador, aque­las que tin­ham algum vín­cu­lo ou iden­ti­dade reli­giosa. No total, foram con­tabi­lizadas 1.043 can­di­dat­uras com iden­ti­dade reli­giosa nas oito cap­i­tais mon­i­toradas.

“Assim, ape­sar de rep­re­sentarem, em média, 10,71% do total de can­di­dat­uras, ao final das eleições os can­didatos com iden­ti­dade reli­giosa pas­saram a ocu­par, tam­bém em média, 51,35% das cadeiras de cada Câmara Munic­i­pal pesquisa­da. Os dados tam­bém demon­stram que can­di­dat­uras que mobi­lizaram a reli­giosi­dade de for­ma dire­ta durante a cam­pan­ha foram mais votadas. Con­se­quente­mente, indi­ca que a mobi­liza­ção de aspec­tos reli­giosos e morais, de difer­entes for­mas, é uma estraté­gia efi­caz para a eleição de can­di­dat­uras”, diz um tre­cho do relatório da pesquisa.

Edição: Juliana Andrade

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