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Carnaval: blocos infantis propiciam desenvolvimento de crianças

Repro­dução: © Arqui­vo pes­soal

Veja dicas de cuidados para evitar sustos durante a diversão


Pub­li­ca­do em 10/02/2024 — 09:36 Por Bruno de Fre­itas Moura — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Na casa da odon­to­pe­di­atra Thayse Bran­di, uma roti­na toma con­ta durante os dias de car­naval. Ela e a fil­ha, Valenti­na, de 8 anos, reser­vam um tem­po para pen­sar em fan­ta­sia e se aprontarem para blo­quin­hos infan­tis. “Sem­pre vamos com­bi­nan­do. Antiga­mente eu escol­hia. Ago­ra faze­mos isso jun­tas”, con­ta a morado­ra do Rio de Janeiro.

Em 2024, pelo segun­do ano segui­do, mãe e fil­ha têm mais um par­ceiro de folia. É o Luc­ca, caçu­la da família, de 1 ano e 1 mês de idade, que acom­pan­ha a mãe no sling – mal­ha que man­tém o bebê amar­ra­do ao colo do adul­to.

Carnaval: blocos infantis propiciam desenvolvimento de crianças. - Thayse Brandi sempre leva os filhos para blocos infantis. Foto: Arquivo Pessoal
Repro­dução: Thayse Bran­di sem­pre leva os fil­hos para blo­cos infan­tis. Foto: Arqui­vo pes­soal
Thayse, que já fre­quen­ta­va blo­cos antes de ser mãe, acred­i­ta que a pre­sença dos fil­hos nos blo­quin­hos faz bem para o desen­volvi­men­to deles.

“A cri­ança aprende muito pelo que ela viven­cia, não só pelo que é dito para ela. Então, ela vê a gente viven­cian­do esse momen­to com mui­ta ale­gria, com mui­ta descon­tração, com mui­ta har­mo­nia. Eu acho que é impor­tante para a cri­ança ver isso”, avalia.

Direito de brincar

Brin­cadeira e diver­são são dire­itos de todas as cri­anças, inclu­sive garan­ti­do pelo Arti­go 227 da Con­sti­tu­ição. E o car­naval é um ambi­ente propí­cio para exer­cê-lo, segun­do espe­cial­is­tas.

“É uma man­i­fes­tação cul­tur­al, fes­ta interg­era­cional, democráti­ca e cole­ti­va. Os blo­cos são uma for­ma de garan­tir os dire­itos das cri­anças a essa par­tic­i­pação cul­tur­al de uma for­ma mais pro­tag­on­i­za­da. Um espaço volta­do para elas. Uma liber­dade de cri­ação de fan­tasias, danças e canções”, descreve à Agên­cia Brasil a pro­fes­so­ra da Fac­ul­dade de Edu­cação da Uni­ver­si­dade Fed­er­al de Juiz de Fora (MG) Ana Rosa Mor­eira.

Blocos filhotes

Para tornar os blo­cos car­navale­scos ambi­entes cada vez mais ade­qua­dos à cri­ança­da, a tradição momesca pas­sou por algu­mas adap­tações. Um exem­p­lo foi o blo­quin­ho que surgiu no car­naval car­i­o­ca.

Do blo­co Largo do Macha­do, Mas Não Largo do Copo surgiu, em 2011, o Largo do Machad­in­ho, Mas Não Largo do Suquin­ho, que ani­ma parte da zona sul car­i­o­ca nas segun­das-feiras de car­naval. Os dois fazem uma brin­cadeira com o nome do bair­ro onde se con­cen­tram, o Largo do Macha­do.

A ped­a­goga Car­la Wendling, fun­dado­ra da atração mir­im, lem­bra que foi uma recla­mação da neta, de 5 anos, que despon­tou a ideia de cri­ar um blo­co fil­hote.

“Eu lev­ei a min­ha neta, e ela falou ‘vó, que músi­ca cha­ta’, porque o blo­co tradi­cional só toca march­in­ha e sam­bas autorais. Então surgiu a ideia do blo­co infan­til”.

Depois dis­so, foi cri­a­do o blo­quin­ho com repertório de canti­gas de roda com rit­mo de march­in­has.

Carnaval: blocos infantis propiciam desenvolvimento de crianças. - Thayse Brandi sempre leva os filhos para blocos infantis. Foto: Arquivo Pessoal
Repro­dução: Car­naval: blo­cos infan­tis prop­i­ci­am desen­volvi­men­to de cri­anças. — Thayse Bran­di sem­pre leva os fil­hos para blo­cos infan­tis. Foto: Arqui­vo Pes­soal — Arqui­vo pes­soal

“Foi muito bacana. Além dis­so, a músi­ca dá essa questão do desen­volvi­men­to. Não só a questão de desen­volvi­men­to da lin­guagem, como o [desen­volvi­men­to] motor e a social­iza­ção”, anal­isa a pro­fes­so­ra infan­til e pres­i­dente do blo­co que foi apadrin­hado pelo car­tunista Ziral­do.

Memória afetiva

Ana Rosa, que é psicólo­ga e faz parte do con­sel­ho da Aliança pela Infân­cia, ONG cri­a­da para faz­er o dire­ito de brin­car se espal­har por várias partes do país e class­es soci­ais, tam­bém enx­er­ga nos blo­quin­hos fer­ra­men­tas de desen­volvi­men­to infan­til.

“Nesse espaço dos blo­cos, a gente aca­ba orga­ni­zan­do um ambi­ente de brin­cadeira onde a cri­ança pode man­i­fes­tar a ale­gria dela, a par­tic­i­pação dela a par­tir da dimen­são lúdi­ca. O brin­car é extrema­mente potente como uma for­ma de lin­guagem, tam­bém de se apro­pri­ar da cul­tura, de se rela­cionar com o mun­do”.

A psicólo­ga encon­tra no ambi­ente dos blo­cos mirins ter­reno fér­til para o surg­i­men­to de memórias afe­ti­vas nas cri­anças.

“Elas ficam muito encan­tadas com o col­ori­do, o bril­ho, os adereços, toda essa com­posição cul­tur­al. É impor­tante que as cri­anças ten­ham esse con­ta­to dire­to, não sejam ape­nas espec­ta­dores, mas pro­tag­o­nistas. Isso, cer­ta­mente, gera memórias afe­ti­vas que estarão pre­sentes na história de vida dela, porque ela viven­cia, ela sig­nifi­ca esse momen­to como um agente ati­vo e não como mero espec­ta­dor”, anal­isa.

Ana Rosa expli­ca que a pre­sença da cri­ança em um ambi­ente de car­naval aca­ba sendo tam­bém uma for­ma de apren­diza­do para a vida.

“É um espaço de apro­pri­ação cul­tur­al e tam­bém de apren­diza­do, respeito, respeito ao out­ro, de tro­cas. É uma exper­iên­cia muito for­ma­ti­va”, con­sid­era.

Cuidados e alimentação

Para que a diver­são de car­naval não seja inter­romp­i­da por sus­tos, o pedi­atra Tadeu Fer­nan­do Fer­nan­des, da Sociedade Brasileira de Pedi­a­tria (SBP), enu­mera alguns cuida­dos que pais e respon­sáveis devem ter com as cri­anças nas jor­nadas de blo­cos.

“Car­naval é época de redo­brar os cuida­dos com a pre­venção de aci­dentes com cri­anças”, diz. Uma dica ini­cial é que a cri­ança seja dev­i­da­mente iden­ti­fi­ca, por exem­p­lo, com uma pul­seira ou colar na qual con­stem dados como nome e tele­fone.

“É uma época de calor, verão, então a ali­men­tação tem que ser leve, à base de suco nat­ur­al de fru­tas, água de coco — especi­fi­ca­mente para os maiores de um ano de idade, hidratar comen­do fru­tas, legumes e ver­duras. Evi­tar os pro­du­tos lácteos porque a dete­ri­o­ração nes­ta época de calor é muito grande”, lista o pres­i­dente do Depar­ta­men­to Cien­tí­fi­co de Pedi­a­tria Ambu­la­to­r­i­al da SBP.

Fer­nan­do Fer­nan­des acres­cen­ta a importân­cia de pro­te­ger a pele com pro­te­tor solar. O pedi­atra aler­ta os respon­sáveis para que fiquem aten­tos a riscos de aci­dentes durante brin­cadeiras de cor­rer e empurrar. Out­ra pre­ocu­pação tem que ser em relação a pro­du­tos quími­cos, como os pre­sentes em sprays de espuma.

“Ess­es sprays podem dar aler­gia na pele e no olho”, cita. “Car­naval é uma época de ale­gria, fes­ta, mas cabe com as cri­anças ess­es cuida­dos impor­tan­tís­si­mos”, con­clui.

Ao colo­car o blo­co mir­im famil­iar na rua, a odon­to­pe­di­atra Thayse toma alguns cuida­dos. Ela faz um tam­pão com algo­dão para os ouvi­dos do Luc­ca, de 1 ano e 1 mês, além de man­tê-lo sem­pre agar­ra­do ao cor­po dela. “Não fico em lugares insu­por­tavel­mente lota­dos, procuro os que não sejam megablo­cos”, rela­ta.

Brincadeira sem fim

Por saber que as brin­cadeiras são uma espé­cie de enre­do para uma infân­cia afi­na­da, Thayse faz com que a har­mo­nia do espíri­to car­navale­sco este­ja em evolução o ano todo den­tro de casa. “A min­ha fil­ha sem­pre teve um con­ta­to com a fan­ta­sia de uma maneira muito con­stante na vida dela. Até os 4 anos de idade, ela anda­va de fan­ta­sia den­tro de casa todos os dias”.

Out­ro ele­men­to pre­sente na roti­na da família é o can­tar. “Quase tudo a gente faz can­tan­do, a hora da comi­da, do ban­ho, de tro­car roupa, todos ess­es momen­tos a gente sem­pre faz can­tan­do de maneira bem lúdi­ca”, con­ta.

Levar essas exper­iên­cias e ativi­dades para o lar é uma for­ma de min­i­mizar a des­pe­di­da de uma man­i­fes­tação cul­tur­al que tem na Thayse uma grande fã.

“Eu acho o car­naval deixa a gente um pouco mais leve para encar­ar mais um ano”.

Além dis­so, fica um pedi­do da mãe foliona. “Dev­e­ria ter mais blo­quin­ho durante o ano, não somente no car­naval”.

Orientações

Por ser um perío­do com mui­ta gente na rua, é impor­tante con­hecer algu­mas ori­en­tações para evi­tar casos de desa­parec­i­men­to de cri­anças. No Rio de Janeiro, a Fun­dação para a Infân­cia e Ado­lescên­cia (FIA-RJ) elaborou uma car­til­ha com dicas aos pais e respon­sáveis. Con­heça algu­mas:

- Faça a carteira de iden­ti­dade de sua fil­ha ou fil­ho ain­da na infân­cia (mes­mo sendo bebê). Um doc­u­men­to com a foto da criança/adolescente e o nome dos respon­sáveis pode facil­i­tar a bus­ca, local­iza­ção e iden­ti­fi­cação.

- Iden­ti­fique a criança/adolescente ao sair de casa. Além de por­tar sem­pre a Carteira de Iden­ti­dade, iden­ti­fique a criança/adolescente com uma pul­seira, crachá ou bor­da­do na roupa con­tendo dados que per­mi­tam sua iden­ti­fi­cação (nome com­ple­to, nome e tele­fone do respon­sáv­el, número do RG ou CPF), mes­mo que este­jam acom­pan­hadas, prin­ci­pal­mente nos casos de pes­soas com defi­ciên­cia. Crianças/adolescentes com defi­ciên­cias ocul­tas (aque­las que não são perce­bidas de ime­di­a­to, como autismo) tam­bém podem uti­lizar um cordão de fita com desen­hos de girassóis como sím­bo­lo nacional de iden­ti­fi­cação da defi­ciên­cia ocul­ta

- Ensine as cri­anças, des­de peque­nas, a saber diz­er seu nome com­ple­to e os nomes dos respon­sáveis.

- Man­ten­ha a criança/adolescente sob super­visão con­stante de um adul­to. É impor­tante man­ter o con­ta­to visu­al com as crianças/adolescentes, um min­u­to de dis­tração pode ser o sufi­ciente para desa­pare­cerem, prin­ci­pal­mente em locais de muito movi­men­to, como em pra­ias, shop­ping e even­tos.

- Cri­ança não toma con­ta de cri­ança. Nun­ca peça a uma criança/adolescente para tomar con­ta de out­ros. Elas não podem ser respon­sáveis umas pelas out­ras, pois todas as crianças/adolescentes pre­cisam de pro­teção e acom­pan­hamen­to de um adul­to.

- Em caso de desa­parec­i­men­to, reg­istre ime­di­ata­mente. Não é necessário esper­ar mais de 24 horas ou 72 horas para que a criança/adolescente seja con­sid­er­a­da desa­pare­ci­da. Pro­cure a del­e­ga­cia mais próx­i­ma.

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Edição: Maria Clau­dia

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