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Casal de mulheres cria projeto para empreendedorismo de minorias

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Hub Diversidade Colorida promoveu feira neste domingo no Rio


Pub­li­ca­do em 18/06/2023 — 16:55 Por Viní­cius Lis­boa — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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As exclusões sofridas no mer­ca­do de tra­bal­ho por Nan­ny Math­ias e sua esposa, Isabel­ly Rossi, obri­garam o casal de mul­heres negras a apos­tar no empreende­doris­mo para sobre­viv­er e con­stru­ir uma vida mel­hor. E o entendi­men­to sobre essas dores viven­ci­adas foi o pon­to de par­ti­da para desen­har um pro­je­to volta­do ao for­t­alec­i­men­to de empreende­dores mul­heres, negros, LGBTQIA+ e pes­soas com defi­ciên­cia, o Hub Diver­si­dade Col­ori­da, que real­i­zou neste domin­go (18) a Feira Diver­si­dade Col­ori­da, no Par­que Madureira, na zona norte do Rio de Janeiro.

Em entre­vista à Agên­cia Brasil, no Mês do Orgul­ho LGBTQIA+, a CEO do Hub, Nan­ny Math­ias, disse que a pro­pos­ta da feira é reunir empreende­dores dess­es gru­pos para cri­ar mais conexões, pos­si­bil­i­tan­do parce­rias, inves­ti­men­tos e tam­bém mais negó­cios.

“A gente gera esse espaço seguro e inclu­si­vo para que as pes­soas pos­sam expor o seu tra­bal­ho, sua arte, seus negó­cios, porque são pes­soas que his­tori­ca­mente são mar­gin­al­izadas e vio­len­tadas pela sociedade, que sofrem exclusão social, edu­ca­cional e profis­sion­al”, disse Nan­ny, que con­ta com a parce­ria da mul­her na real­iza­ção da empre­ita­da.

Essa vio­lên­cia é algo que a própria orga­ni­zado­ra do even­to rela­ta em sua tra­jetória. Ao se matric­u­lar com a mul­her para con­cluir o ensi­no médio, já que a neces­si­dade de tra­bal­har havia empurra­do ambas para a evasão esco­lar, ela nar­ra um episó­dio de les­bo­fo­bia que exem­pli­fi­ca o por quê da neces­si­dade de uma edu­cação que seja segu­ra para mino­rias.

Rio de Janeiro (RJ), 18/06/2023 - Nanny Mathias e Isabelly Rossi, organizadoras e idealizadoras da Feira Diversidade Colorida, no Santuário do Samba, em Madureira, zona norte da cidade. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Nan­ny Math­ias e Isabel­ly Rossi, orga­ni­zado­ras e ide­al­izado­ras da Feira Diver­si­dade Col­ori­da — Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

“Quan­do a gente voltou ao âmbito esco­lar, há alguns anos, eu e min­ha esposa, no primeiro dia de aula, sofre­mos um ataque les­bofóbi­co pelo nos­so pro­fes­sor de história, que que­ria saber quem era o homem da relação. E, não con­tente com a gente diz­er que não tin­ha homem na relação, ele insis­tiu e criou histórias, per­gun­tou quem pagaria pen­são se a gente se sep­a­rasse, quem ficaria com os fil­hos. Ele con­strangeu a gente de for­ma muito vio­len­ta, e quan­do fomos falar com a direção, a direção sim­ples­mente ocul­tou o fato”, disse. O episó­dio, segun­do Nan­ny, foi antes de a LGBT­fo­bia ser crim­i­nal­iza­da pelo Supre­mo Tri­bunal Fed­er­al. “Na del­e­ga­cia, falaram para gente que poderíamos denun­ciar se tivesse uma lei que pro­tegesse a gente, mas não tin­ha”.

No mer­ca­do de tra­bal­ho, ela tam­bém rela­ta exper­iên­cias dolorosas, que impe­di­am que se man­tivesse muito tem­po no mes­mo emprego. “Além de ser uma mul­her lés­bi­ca, sou pre­ta e sap­atão. Ten­ho uma for­ma de vestir e viv­er que é difer­ente. Exigem um padrão das mul­heres, e eu chego que­bran­do isso. Eu tra­bal­hei em uma empre­sa em que as pes­soas que­ri­am saber quem era o meu mari­do, porque eu não dizia que era casa­da com uma mul­her. Me pres­sion­aram tan­to que mostrei a foto, e começaram a diz­er ‘eu já sabia’. Min­ha ger­ente na época disse que min­ha vida pes­soal não tin­ha nada a ver e que não tin­ha pre­con­ceito. Mas, no dia seguinte, ela me demi­tiu”.

Essas exper­iên­cias fiz­er­am a empreende­do­ra pen­sar o pro­je­to tam­bém como uma rede de apoio, já que o fato de ter par­tido para gerir seu próprio negó­cio não a poupou de novos episó­dios de dis­crim­i­nação. “As vio­lên­cias são diárias e em todos os âmbitos. Hoje, eu sofro as do mun­do dos negó­cios”, afir­ma.

“O meu cor­po rep­re­sen­ta muito, sou mul­her e enfren­to machis­mo. Sou pre­ta e enfren­to racis­mo. Sou lés­bi­ca e enfren­to LGBT­fo­bia. Sou do axé e acabo sofren­do intol­erân­cia reli­giosa”.

Rio de Janeiro (RJ), 18/06/2023 - Feira Diversidade Colorida, no Santuário do Samba, em Madureira, zona norte da cidade. Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Feira Diver­si­dade Col­ori­da — Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil

Entre os micro e pequenos empreende­dores que par­tic­i­param da feira deste domin­go há negó­cios de difer­entes setores, como arte­sana­to, gas­trono­mia e moda. Os par­tic­i­pantes foram inscritos tam­bém em um lab­o­ratório de empreende­doris­mo, foca­do em capac­i­tar essas pes­soas.

“São pes­soas que estão no empreende­doris­mo por neces­si­dade em muitas das vezes, pes­soas que não pud­er­am estu­dar para depois empreen­der e estão fazen­do isso ao mes­mo tem­po. Enten­den­do essa neces­si­dade, de tan­tos negó­cios que­bran­do por não saber gerir, a gente criou esse lab­o­ratório, para ger­ar um espaço de inclusão e capac­i­tação. A gente tem uma rede de mais de 100 empreende­dores”, disse Nan­ny, que vê o empreende­doris­mo dess­es gru­pos vul­ner­a­bi­liza­dos como uma ação trans­for­mado­ra no mer­ca­do de tra­bal­ho.

“Infe­liz­mente, o mer­ca­do ain­da tem uma exclusão muito grande de pes­soas pre­tas e LGBTQIA+, e quan­do você é pre­ta e LGBTQIA+, tudo den­tro do mes­mo cor­po, essa exclusão é muito maior. Essas pes­soas, muitas vezes, den­tro dos seus próprios negó­cios, já lev­am men­sagens sobre aqui­lo que elas vivem, viver­am e sobre a exclusão que elas sofrem. Então, elas vão trans­for­man­do, assim como eu, as dores delas em um negó­cio cria­ti­vo. Isso é muito inter­es­sante”.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

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